Capítulo 615 - Novo vassalo
Mesmo Verônica estava perplexa.
Por quê? Por que ele está fazendo isso? pensou, sem entender.
Ela havia tentado assassiná-lo e matou dois dos seus Soldados, mesmo que o rapaz pálido a executasse ali, a mulher sabia que não teria o direito de reclamar. Além disso, ela própria estava ciente de todo o mal que havia cometido.
Em Avalon, muitas vezes as pessoas teriam que sujar as mãos para sobreviver e estar vivo por mais um dia, mas a assassina sabia que havia sujado muito mais do que as mãos.
Vendo o Contrato de Vassalo, Verônica apenas o encarou por um breve momento e então, sem hesitar, esticou a mão, tocando-o, inserindo seu mana.
Ela não sabia por que o rapaz queria alguém como ela para ser sua serva, mas no seu ponto de vista isso era irrelevante. Seja trabalhar para a Família Lopes ou para essa pessoa, sentia que isso não seria diferente. Contanto que ela pudesse viver, era tudo que importava.
Logo a Matriz do Contrato quebrou-se em fragmentos, quando percorreu o braço de Verônica, afundando-se lentamente em sua pele.
Fernando ergueu uma sobrancelha, surpreso com decisividade dela. Ao mesmo tempo, a observou por alguns instantes. Ao notar a falta da reação, confirmou que a garota não havia assinado nenhum outro contrato. Caso contrário, ambos entrariam em conflito e o seu seria imediatamente rejeitado.
Logo atrás, Lincon estava extremamente confuso, sem entender.
Por que esse desgraçado vai poupá-la? Ainda mais assinando um contrato com ela?! Ele é louco?
Para ele, era muito mais fácil apenas matá-la. Por que alguém criaria problemas para si mesmo dessa forma? Isso não fazia sentido para ele.
Após todas as Runas entrarem em sua pele e o Contrato de Vassalo ter sido firmado, Verônica levantou-se da cadeira, então ajoelhou à frente do rapaz pálido, apoiando seu braço em seu joelho.
“Eu irei servi-lo, meu senhor. Obrigado pela oportunidade!” declarou com a cabeça baixa.
Fernando não respondeu, mas apenas assentiu. A partir daquele dia a mulher era sua nova vassala e suas vidas estariam conectadas.
O rapaz sabia que mesmo que estivesse com um pouco de pena dela, esse não era o único motivo para sua decisão ao oferecer um contrato.
Atualmente, ele estava com uma extrema falta de mão de obra e por mais que Verônica tivesse sido sua inimiga, a mulher era extremamente habilidosa e sentiu que seria útil para algumas tarefas.
Sob o Contrato de Vassalo, mesmo que a mulher cogitasse traí-lo em favor da Família Lopes, não conseguiria fazer muita coisa antes de ser destruída.
Enquanto a mulher negra permanecia ajoelhada, Fernando estava distraído a sua frente, enviando algumas mensagens, com um rosto pensativo.
Vendo isso, Verônica aproximou-se dele, então, sem cerimônias, colocou ambas as mãos na fivela de sua calça, desabotoando-a.
Essa ação repentina pegou o jovem Tenente de surpresa quando ele agarrou sua mão com força.
“O que você pensa que está fazendo?” perguntou, com a voz irritada.
A mulher pareceu ficar um pouco surpresa e assustada.
“E-eu, apenas queria servi-lo… é por isso que me manteve viva, certo?”
Ouvindo isso, Fernando ficou perplexo por um momento, mas logo suspirou internamente.
Essa mulher… pensou, com um olhar estranho em seu rosto.
Estava claro que Verônica pensou que ele a usaria como algum tipo de brinquedo para a satisfação de seus desejos.
“Não sei o que você passou ou que tipo de vida levava, mas a partir de hoje você serve a mim, Fernando Nobrega. Nenhum subordinado meu precisa fazer esse tipo de coisa.” declarou, com um rosto inexpressivo, enquanto soltava a mão da garota.
Verônica ficou chocada e, ao mesmo tempo, confusa. Ouvir aquelas palavras com sua voz fria e imponente a fez recuar, ao mesmo tempo que sua expressão mudou.
“E-entendido, meu senhor.” disse.
Mesmo que não demonstrasse externamente, sentiu-se aliviada. Apesar de ainda achar que se tratava de apenas uma bravata e o rapaz eventualmente a procuraria em alguma noite fria.
Não muito distante, Lincon tinha uma expressão de desprezo em seu rosto.
“Quanta baboseira.” cochichou.
Fernando voltou seu olhar para o homem, mas ele abaixou rapidamente a cabeça, disfarçando.
O jovem Tenente revirou os olhos para isso. Lembrando-se de como o sujeito era tão agressivo e valente antes, mas agora sequer ousava encará-lo diretamente, o fez querer provocar o homem, mas se conteve. Afinal não tinha tempo para isso e sentiu que seria muito baixo de sua parte.
Além disso, apesar de não gostar do ‘passatempo’ do Beholder, tinha que admitir que suas ações eram extremamente efetivas e ‘educacionais’ para lidar com psicopatas como esse.
“Aproxime-se.” ordenou, em direção ao assassino baixinho.
O sujeito ergueu o rosto, quando olhou de forma desconfiada para trás. Lá, Brakas o observava silenciosamente. Vendo-o olhar em sua direção, o Baiholder deu um largo sorriso, o que fez o sujeito apressar-se e andar até o rapaz pálido.
Movendo o pulso, Fernando tirou novamente o livro Conceitos Básicos sobre a Magia de Eletricidade, de autoria de Lincon Coralle.
“V-você…” Assim que viu o livro, o homem baixinho, com rosto de criança, olhou para Fernando com um olhar cruel e sanguinário. A tensão em seu olhar era palpável, como se quisesse desmembrar o Tenente.
Esse era o livro que ele havia pessoalmente escrito e dado para seu discípulo, Kifon, aquele que Lincon mais apreciava e o único que ele havia tomado com seu aluno pessoal.
Mesmo sabendo que Fernando havia o matado, descobrir que ele também tomou posse de seus bens pessoais faziam seu sangue ferver ainda mais.
“Por que está me olhando assim? Você tem algum problema com o fato de eu ter isso?” O jovem Tenente perguntou, com um rosto inexpressivo, observando atentamente as reações do sujeito.
Ele queria saber se a vontade do homem em matá-lo era maior que sua vontade de escapar de Brakas. Se esse fosse o caso, seria impossível usá-lo para lhe ajudar a aprender Magia de Eletricidade.
Apesar de estar fervendo de raiva internamente, no fim, Lincon virou o rosto.
“N-não.” disse, de forma curta e com a voz baixa, resignando-se.
Kifon já estava morto e ele estava aprisionado com aquela coisa. Logo, não havia sentido em demonstrar sua raiva nesse momento, tudo que ele queria era sair daquele pesadelo.
O rapaz pálido manteve um rosto calma, enquanto o analisava silenciosamente. Após um curto tempo olhando-o e não notar mais nenhuma reação hostil, assentiu satisfeito, abrindo o livro.
“Vou te perguntar algumas coisas e preciso que me responda com sinceridade. Se eu achar que está mentindo, não tem acordo e você volta para o Anel de Aprisionamento.” declarou.
“Entendido.” O sujeito baixinho respondeu.
“Nesse ponto, diz que é necessário concentrar carga para gerar tensão elétrica, criando um circuito fechado, só então é possível liberar a descarga por meio da corrente. Mas o que acontece se o corpo não reagir bem à parte de isolamento e criação do circuito?”
Quando Lincon ouviu a pergunta, olhou de forma desconfiada para ele.
Esse cara, ele realmente está tentando aprender Magia de Eletricidade? pensou, surpreso e intrigado.
Lembrando-se de como ele já era tão forte usando Magia de Fogo e Habilidades, não entendia porque se daria ao trabalho de aprender outra coisa, mas logo um leve sorriso, quase imperceptível, surgiu em seu rosto. Essa é minha oportunidade, se eu fizer ele se matar, vou me vingar e…
“Brakas, se esse cara me ensinar algo errado e um acidente acontecer, você deve torturá-lo pelos próximos vinte anos, sem um único dia de descanso.” O jovem Tenente declarou, com um rosto calmo.
“Entendido Mestre. Se isso acontecer, vou fazer com que ele se arrependa.” O Baiholder respondeu prontamente.
Ao ouvir isso, a expressão de Lincon mudou, sentindo um arrepio frio na espinha.
Esse merda, ele por acaso está lendo minha mente?
Obviamente, Fernando não podia ler a mente de Lincon, mas de seu ponto de vista era fácil deduzir o que alguém como ele estaria pensando. Ademais, tudo isso era apenas um blefe.
Brakas e ele estavam ligados pelo Contrato de Vassalo. Se Fernando morresse, o Beholder também morreria. Mas Lincon claramente não sabia disso.
“N-nós temos um acordo, por que eu faria algo assim?!” O sujeito baixinho falou, gaguejando.
O jovem pálido revirou os olhos para afirmação de Lincon, não havia como ele confiar num assassino apenas porque ele disse que era confiável.
Voltando sua atenção para o trecho mencionado pelo rapaz, o sujeito logo entendeu do que ele estava falando.
“Você por acaso está planejando aprender Magia de Eletricidade por conta própria?” perguntou.
Fernando prontamente assentiu, afinal não era um segredo e não era como se o sujeito, que era seu prisioneiro, pudesse espalhar essa informação por aí.
“Tsk. Isso que dá estar em uma Legião medíocre, nem sequer consegue professores para ensinar o básico.” zombou. “Mas as coisas poderiam ser diferentes se você se unisse a Família. Mesmo que tenhamos tido nossos problemas, nunca recusamos talentos.”
O jovem Tenente ficou em silêncio, não se importando com o insulto ou a tentativa rasa de enganá-lo. Ele não era nenhum fanático pelos Leões Dourados e não estava disposto a defendê-los em insultos, mas também não era idiota ao ponto de acreditar que uma Guilda das Trevas iria perdoá-lo após ter destruído uma de suas Guildas marionetes.
Vendo o rapaz quieto, Lincon achou que poderia ter semeado alguma dúvida em sua mente.
“Quanto você recebe por mês, uma moeda de ouro? Nossa Família pode facilmente pagar cinco ou dez vezes mais. Essa mulher pode confirmar isso.” falou, olhando para Verônica de forma ameaçadora, que apenas se encolheu, temendo que o rapaz aceitasse a oferta, já que sabia qual seria seu destino caso isso ocorresse. “Você apenas precisa…”
Antes que o sujeito continuasse, o jovem Tenente lhe deu um olhar gelado.
“Cale a droga da boca e comece a trabalhar.” falou, batendo com a ponta do dedo no livro aberto, não demonstrando qualquer interesse na oferta do homem.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.