Índice de Capítulo

    Fernando foi pego de surpresa pela reação exagerada de seu professor.

    “Eu disse que ele é membro da Família Lopes.” reafirmou, com uma expressão séria e, ao mesmo tempo, intrigada.

    Wedsnagauer moveu o pulso, quando Runas sob os pés de Lincon brilharam.

    Swish! Swish!

    O quê?! O sujeito baixinho mal teve tempo para pensar, quando todo seu corpo ficou pesado, assim que inúmeros fios luminosos se prenderam ao redor de seu corpo, fixando-o firmemente na cadeira onde estava sentado.

    Bang!

    Alfie, que estava do outro lado, saltou sobre a mesa, erguendo as mangas de sua roupa, enquanto ajustava seus óculos, com uma expressão terrivelmente fria.

    “O que o senhor acha, Doutor? Um Contrato de Sigilo, ou de Escravidão?”

    “Não tenho certeza, se for de Escravidão, não acho que possamos tirar alguma coisa sem destruir sua mente primeiro. De todo jeito, ele vai ter que sofrer bastante, mas isso não é um problema.” Wedsnagauer respondeu prontamente, chegando ao lado de Alfie. Ambos os homens, lado a lado, observaram o assassino em uníssono, sem dizer uma única palavra, um ar tenso e sombrio poderia ser sentido ao seu redor.

    Sentindo isso, Lincon tremeu por um momento, mas logo se recompôs.

    “O que diabos vocês querem, seus desgraçados?!” exclamou, com uma expressão feroz. No momento, a única coisa que ele temia era o Baiholder, esses dois homens não significavam nada para ele!

    Mesmo que não aparentasse, Lincon havia sido treinado exaustivamente para resistir a inúmeras torturas, então não estava intimidado por essa situação. Na verdade, entre ficar no Anel de Aprisionamento e sofrer algum tipo de tortura por Humanos, ele preferia definitivamente a segunda opção.

    Fernando observou toda essa cena com uma expressão confusa.

    “Professor?” perguntou.

    Somente ao ouvir a voz de seu aluno é que Wedsnagauer pareceu voltar a si.

    “Oh? Fernando? Desculpe por te mostrar esse meu lado.” O velho homem disse, tentando diminuir a intensidade em seu olhar e voz.

    O jovem Tenente ficou em silêncio por um momento, quando sua expressão ficou séria.

    “Pode ser que a Família Lopes esteja relacionada ao fim da Guilda Solus?” perguntou.

    O rapaz sabia que tanto Wedsnagauer, quanto Alfie, guardavam um grande rancor das Guildas das Trevas, bem como do Conselho Superior e das Legiões como um todo, apesar de não saber o motivo exato de tudo isso, sabia que definitivamente algo grande havia acontecido no passado.

    Pela conversa que ele ouviu a partir de Ferman e seu professor, estava claro que a causa principal da queda da Solus havia sido as Guildas das Trevas.

    Ouvindo a pergunta, o Mestre de Runas parecia incomodado, como se não quisesse falar a respeito, mas depois de um instante suspirou, parecendo resignado a relembrar do passado.

    “Acho que não tenho escolha… Fernando, você é meu aluno, meu legado e também uma semente indireta da Guilda Solus e tem o direito de conhecer nossa história.” falou, com uma voz profunda e sentimental.

    “Guilda Solus?” Lincon falou, com uma expressão estranha, mas logo um sorriso cruel se formou em seu rosto. “Então é isso, vocês são sobreviventes daqueles fracassados que a Família destruiu. Vocês querem vingança? Que piada! Hahahaha!”

    Plaft!

    Alfie Caiman deu um tapa no rosto do homem, enquanto o olhava friamente.

    “Um cão sarnento não deve se intrometer enquanto o Doutor fala.” disse, com um olhar altivo.

    “Desgraçado! Voc-” Antes que o sujeito pudesse dizer mais alguma coisa, o assistente moveu o pulso, fazendo um punhado de folhas de papel aparecer em sua mão, então segurou brutalmente o cabelo do homem e começou a empurrar as folhas em sua boca.

    Lincon se debateu, mas com as algemas Ardot em seu pulso, seu Físico estava suprimido e não poderia fazer muito. Além disso, sentindo a poderosa força do homem, percebeu que mesmo que não as estivesse usando, muito provavelmente o resultado ainda seria o mesmo!

    Fernando observou tudo em silêncio, não se importando no mínimo. Se Alfie não tivesse agido, ele próprio teria feito algo a respeito. Vendo que a interrupção foi resolvida, voltou-se em direção ao velho homem, com um olhar sério.

    A verdade é que ele nunca se importou com a Guilda Solus ou qualquer outro conflito que não estava relacionado a ele. No entanto, agora era diferente.

    Não só o jovem Tenente era aluno de Wedsnagauer e tinha uma espécie de ‘dever’ para com o Mestre de Runas, como agora ele próprio tinha a Família Lopes como sua inimiga.

    O rapaz pálido suspirou consigo mesmo, sentindo como se o destino estivesse brincando consigo, o colocando contra a parede ao obrigá-lo a lidar com tal organização.

    “Eu quero ouvir a respeito, professor!” pediu, com um rosto sério.

    Vendo seu aluno ser tão receptivo, Wedsnagauer teve uma leve pitada de reminiscência e carinho em seu olhar, então assentiu, prosseguindo.

    “A verdade é que… Não foi coincidência sermos capturados pela Guilda Fúria e estarmos na prisão naquele momento.” afirmou, quando se virou, colocando as mãos nas costas. “Normalmente, eu e Alfie costumávamos andar por aí disfarçados, fora do radar de nossos inimigos, esperando silenciosamente por uma oportunidade de fazer justiça. Fizemos isso por quase dez anos, sem causarmos problemas, aguardando pacientemente pelo momento certo. Mas algo aconteceu, algo que estava fora dos meus planos… Eu estava ficando sem tempo.”

    O rosto de Alfie Caiman mudou levemente ao ouvir isso.

    O Doutor realmente vai contar sobre aquilo? pensou, surpreso.

    A expressão do rapaz pálido parecia intrigada com isso.

    “Como assim ficando sem tempo?” indagou. Mesmo Ferman, que era muito mais velho, vivia muito bem. Como Wedsnagauer, que era algumas décadas mais jovem, poderia estar ficando sem tempo?

    O velho homem fechou os olhos por um momento, suspirando.

    “Para alçar ao topo, é necessário sangrar e ferir a si mesmo continuamente. Um preço que deve ser pago para estar acima dos demais.” disse, com um semblante pesado. “Pouco antes de me tornar um Mestre de Runas, independentemente da quantidade de esforço posto, eu sentia que não conseguia ultrapassar a barreira final. É por isso que busquei métodos alternativos… Eu era jovem e inconsequente. Usei diversos itens estranhos, perigosos e até proibidos… No fim eu consegui me tornar um Mestre, mas não sem consequências. Não sei ao certo qual deles causou tudo isso, mas algum desses itens mexeu com minha cabeça, como se tivesse me envenenado. Tudo que eu sei é que minha mente já não era mais a mesma, já não estava tão clara.”

    Quando Wedsnagauer falou até aí, Fernando finalmente entendeu do que ele estava falando. Desde que conheceu seu professor, ainda em Belai, percebeu que o velho homem tinha surtos ocasionais, mas sempre acreditou que se tratava de algo relacionado a velhice.

    Ao lado, Alfie tinha uma expressão complexa, mas não comentou nada. Ele, melhor do que ninguém, conhecia a doença do homem.

    “Eu consegui controlar essa condição relativamente bem por muito tempo, mas desde que a Guilda Solus foi… destruída, tudo piorou. Havia períodos bons e ruins. Às vezes se passava dias antes de voltar a mim mesmo. Quando senti que a situação estava insustentável, decidi começar a agir, enquanto me restava lucidez.” O Mestre de Runas falou, parecendo hesitante e envergonhado por falar tão abertamente de sua fraqueza na frente de seu aluno. Mas ao olhar para Fernando, não havia qualquer sinal de julgamento ou pena em seus olhos, o rapaz apenas continuava o observando atentamente, com a mesma expressão de sempre.

    Essa indiferença habitual do jovem Tenente, apesar de incômoda na maior parte do tempo, dessa vez lhe trouxe algum alívio. De certa forma, apaziguou um pouco do sentimento de hesitação no coração de Wedsnagauer.

    A maior aflição de um homem velho não eram as dores nas costas, nas pernas ou qualquer outro sinal da idade, mas a sensação de impotência e incapacidade que chegava com o tempo. Mesmo que seu caso em específico não envolvesse apenas velhice, era algo muito semelhante. Então ver que Fernando ainda parecia confiar nele, mesmo ao ouvir tudo isso, lhe encheu de júbilo.

    “Isso poderia ser algum tipo de Doença de Mana?” Fernando perguntou, com um olhar sério.

    Pelo que ele havia ouvido falar, havia muitos tipos de Doenças de Mana, com muitas delas com sintomas complexos e intrigantes. Mesmo os Magistas não conseguiam categorizar e identificar todas.

    “Bem, tudo indica que sim. Mas infelizmente, nunca consegui encontrar alguém que conseguisse dar um diagnóstico preciso.” O velho homem falou, com alguma indiferença quanto a sua situação, já tendo a aceitado há muito tempo. “Enfim, isso não é importante… voltando ao assunto. Eu e Alfie assumimos falsas identidades e passamos a investigar as Guildas das Trevas que estavam por trás da destruição da Guilda Solus e ouvimos alguns boatos ligados a Família Lopes que nos levaram até Belai. Lá foi fácil identificar quem era sua peça de xadrez na cidade, já que a Guilda Fúria não parecia muito preocupada em esconder isso.”

    Ouvindo tudo isso, Fernando assentiu. Assim como ele disse, seja a Guilda Fúria ou Kifon, ambos agiam como uma espécie de gangue criminosa, cometendo todo tipo de delitos, mas o Salão de Belai fingia não perceber suas ações. Apenas isso já era um grande indicador de que havia algum grande poder os apoiando a partir das sombras e um poder capaz de pressionar um General dos Leões Dourados dessa forma não poderia ser simples.

    “Nós planejávamos coletar informações por um tempo, enquanto nos fingíamos de prisioneiros, mas antes que pudéssemos ter alguma informação relevante. Bem, a pequena Emily foi capturada e… você chegou, colocando todo local abaixo.” Wedsnagauer disse, rindo.

    Fernando coçou levemente o queixo, envergonhado.

    Do jeito que ele fala, parece que sou algum tipo de desastre natural… pensou, constrangido, mas algo logo veio a sua mente.

    “Professor, o senhor disse que a Família Lopes eram uma parte das Guildas das Trevas que destruíram a Guilda Solus. Isso significa que há outras organizações tão poderosas quanto eles?” indagou, com alguma preocupação, afinal saber que uma organização tão sombria agia livremente já era algo ruim, pensar que havia outras, era ainda mais assustador. “Além disso, por que essas organizações destruíram a Guilda Solus em primeiro lugar? Não entendo por que alguém atacaria uma organização focada em Runas, que beneficia toda a Humanidade.”

    Pelo que Fernando havia visto até o momento, os usuários de Runas eram extremamente úteis, não havia sentido em prejudicar tal classe fundamental.

    Ouvindo a pergunta, Wedsnagauer suspirou, olhando para Alfie, que lhe entendeu, dando um passo a frente.

    “A verdade é que no submundo do território Humano, existem inúmeras Guildas das Trevas, mas há três que são consideradas as mais poderosas e influentes e a Família Lopes é parte desse grupo. Enquanto existe o Conselho Superior na superfície, que mantém a ordem com as Dez Grandes Legiões, existe uma contraparte no submundo que também mantém alguma autoridade, estas são as três ‘Grandes’ Guildas das Trevas, conhecidas como o Grande Senado.” O assistente falou, com uma leve pausa em sua voz, como se fosse difícil até mesmo comentar a respeito. “O motivo para terem visado não só nossa Guilda Solus como todas as outras Guildas de Runas, para as Grandes Legiões terem fechado os olhos para nossos pedidos de ajuda foi meramente porque eramos um obstáculo para eles, em todos os sentidos.”

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