Capítulo 626 - Companheiro
BOOM!
Uma enorme onda de choque espalhou-se, quando muitos dos Soldados ao redor recuaram alguns passos, mesmo usando seus escudos para amortecer o impacto.
“Isso… não pode ser!” Milani exclamou, boquiaberta.
Jogado ao chão, quase inconsciente, estava Gregor, em meio a uma cratera. Não muito longe, estavam seu escudo e lança, que haviam sido enviados voando com o impacto.
Em frente a ele, de pé, numa posição relaxada, mas imponente, estava Ilgner, com seus dois machados fincados no chão.
“Alegre-se, Tenente Gregor, do Batalhão Barreira. Hoje você foi derrotado por Ilgner, O Bravo! Hahahaha!” O sujeito loiro falou, rindo alto, ao repetir ironicamente as palavras do homem, antes de seu confronto.
Deitado no chão, imóvel, com o corpo trêmulo, o sujeito ruivo rangeu os dentes, frente a essa humilhação. Ele havia sido completamente derrotado!
Mesmo que não tivesse conseguido usar tudo que tinha, não mudava o fato de que uma derrota ainda era uma derrota.
“Ajudem ele, rápido!” Milani falou, em direção aos Soldados de elite, que rapidamente atenderam as suas ordens, apressando-se em levantar o homem.
Ao redor, todos os candidatos que conseguiram observar a luta, tinham rostos cheios de perplexidade.
“Um Subtenente do Batalhão Zero realmente venceu o Tenente do Batalhão Barreira? Isso é algum tipo de brincadeira?” falou, sem acreditar no que estava dizendo.
“Merda, isso realmente está acontecendo?!” Outro falou, enquanto coçava os olhos.
Muitos acreditavam que Gregor derrotaria Ilgner sem qualquer dificuldade, mas o resultado havia sido o completo oposto!
Dando alguns passos, com um rosto calmo e impassível, Fernando aproximou-se do sujeito ruivo e Milani.
“Parece que você não vai poder me enfrentar dessa vez, Tenente Gregor. É uma pena.” O jovem Tenente falou, com uma voz calma e despreocupada, como se já esperasse por esse resultado. “De acordo com nossa aposta, os Batalhões Barreira e Rosa Negra me devem dez moedas de ouro.”
Mesmo que soubesse que o sujeito ruivo era alguém impressionante, por ser um Tenente Nomeado de longa data, tinha certeza que Ilgner sairia vitorioso e esse era o motivo pelo qual havia se arriscado em fazer tal aposta.
Milani e o outro Tenente ficaram pálidos ao ouvirem isso e mesmo Gregor, que mal havia se levantado com a ajuda dos Soldados, não estava melhor. Os três estavam tão envergonhados que sentiram vontade de enfiar suas cabeças na terra.
“E-eu não tenho esse valor agora, mas…” Antes que o sujeito ruivo pudesse concluir, Fernando o interrompeu.
“Está dizendo que vai voltar atrás em suas palavras?” perguntou, com um olhar frio.
A aposta havia sido feita na frente de muitas pessoas, se boatos sobre Gregor e Milani se recusando a cumprir com sua promessa se espalhassem, seus Batalhões Nomeados seriam grandemente prejudicados, assim como suas próprias reputações pessoais.
“N-não, absolutamente não é o caso, apenas preciso de algum tempo…” Gregor se explicou, gaguejando. “Se concordar, traremos o valor até amanhã.”
O Tenente Nomeado realmente nunca cogitou perder, então sequer havia avaliado as consequências de uma derrota. Mesmo se ele e Milani dividissem o fardo, ainda eram cinco moedas de ouro para cada! Não era um valor fácil de pagar para eles e provavelmente teriam que reduzir e muito seus gastos operacionais para conseguir levantar essa pequena fortuna.
Olhando para o sujeito ruivo, que outrora adentrou em seu Batalhão de forma orgulhosa e arrogante, mas que agora estava humilhado e derrotado, agindo com humildade e hesitação, Fernando suspirou consigo mesmo.
Parece que não há nada que não possa ser resolvido com uma boa surra… pensou achando a situação engraçada.
Apesar de sentir alguma vontade de provocar os dois Tenentes Nomeados por tudo que falaram antes, se conteve. Ser excessivo nesse momento só criaria novos inimigos, o que ele não queria.
Mesmo que Gregor estivesse envergonhado, havia sido uma luta justa e direta e pelo que Fernando havia analisado de sua personalidade, não parecia que o homem era do tipo mesquinho que se vingava por algo assim. No entanto, se ele o pressionasse e o humilhasse, as coisas poderiam ser diferentes.
“Tudo bem. Vocês podem ir, tragam o valor da aposta junto ao pedido formal de desculpas em no máximo dois dias.” declarou, com aparente indiferença.
“M-mesmo?” Milani falou ao lado, incrédula. Afinal, eles estavam falando de dez moedas de ouro!
Se os Tenentes resolvessem não honrar o pagamento, não havia nada que Fernando pudesse fazer após eles saírem dali, já que não havia obrigatoriedade em quitar uma aposta que não havia sido firmada por escrito. Mas mesmo assim o rapaz pálido estava lhes permitindo partir.
Anteriormente, tanto Milani, quanto Gregor, acreditavam que Fernando e seu Batalhão era inferior e não tinham o direito de se comparar a eles, verdadeiros Batalhões Nomeados, construídos com anos de esforço. Mas agora, após ver a força de seus subordinados, nenhum deles ousava duvidar da capacidade do Batalhão Zero, tendo entendido que haviam errado.
Em resposta a pergunta da mulher com mechas de cabelo verdes, o jovem Tenente apenas fez um sinal com a mão, como se estivesse espantando moscas, para que se apressassem e saíssem dali.
Vendo isso, tanto a Tenente da Rosa Negra, quando o Tenente do Batalhão Barreira ficaram cheios de vergonha, mas rapidamente se apressaram junto aos Soldados e o outro Tenente comum, atravessando a multidão com passos apressados.
Observando os dois Tenentes Nomeados partindo, Fernando suspirou consigo mesmo. Pelo que analisou, ambos não pareciam ter vindo a mando de Herin, mas apenas tinham sido usados pela Administradora Júnior do Salão, Amélia.
“Merda, o Batalhão Zero é realmente incrível! Eles realmente conseguiram derrotar um Tenente Nomeado apenas com seu Subtenente! O quão incrível seu próprio Tenente é?” Um dos observadores comentou, cheio de empolgação.
“Eu vim apenas em busca de informações depois de provar aquela tal Sopa Revitalizante, mas agora estou pensando seriamente em me juntar a esse Batalhão!” Outro falou, com a voz trêmula, por tudo que havia observado.
Uma série de comentários e discussões semelhantes estouraram por todos os lados, com muitos dos candidatos impressionados com tudo que haviam visto.
“Aquele Subtenente não é um pouco forte demais?” Uma garota comentou, o que imediatamente chamou a atenção de Ilgner, que sorriu em sua direção, enquanto balançava seus longos cabelos selvagens. Mas suas próximas palavras o fizeram ter uma mudança de expressão. “Pena que ele é tão feio com esse nariz enorme…”
Theodora, que estava ao lado, não pôde evitar dar uma risadinha.
“Tsk!” O bárbaro loiro estalou a língua, erguendo seus machados, parecendo chateado.
Fernando também sorriu levemente, mas logo sua expressão acalmou-se. Ao olhar para as inúmeras pessoas espalhadas pelo pátio de treinamento.
“Agora que isso está resolvido, vamos começar a trabalhar.” ordenou, em direção aos dois Subtenentes.
“Sim, senhor!” Theodora e Ilgner responderam, quando se dirigiram na direção de onde os Oficiais estavam.
Emily e os outros Cabos também começaram a organizar a multidão.
“Ei, afaste-se!” Um dos Soldados gritou, ao barrar um dos candidatos, mas o homem insistiu, levantando a mão e acenando para Fernando.
“Fernando. Lembra de mim?” Uma voz soou, da multidão, o que fez o rapaz pálido voltar-se em sua direção. “Sou eu, Arslan!”
Ao ver o homem, a expressão do rapaz pálido mudou por um momento.
…
Dentro de seu escritório, Fernando estava sentado em sua mesa, com o queixo levemente apoiado em suas mãos entrelaçadas.
A sua frente, um homem de cabelo loiro escuro de corte militar, com algumas cicatrizes leves em seu rosto, o encarava, parecendo preocupado. Ao seu lado, em pé, estava uma mulher em torno dos trinta, com olhos azuis e cabelos loiros claros.
Arslan Strauss, o outrora Oficial com quem Fernando realizou a missão na cidade Mil Flores quando saíram de Vento Amarelo. Não fazia tanto tempo que ambos tinham se visto, mas muita coisa parecia ter mudado.
“Eu lamento pelo que aconteceu com o Tenente Icarus.” O jovem pálido falou, com uma expressão calma, mas levemente sentimental.
Mesmo tendo conhecido o velho homem por pouco tempo, sentia grande admiração pelo sujeito. Não à toa ele era Tenente da Primeira Guarnição, que em termos de qualidade geral e reputação, era comparável a Décima Terceira. Sua morte durante a batalha de retomada de Garância havia sido um grande choque para ele.
“Não se preocupe, a morte faz parte da vida de um militar. O Tenente sempre esteve preparado para isso.” Arslan falou, desviando levemente seu olhar para baixo.
Apesar de ser um subordinado, o rapaz pálido sabia que o Tenente Ícarus tratava o rapaz como uma espécie de discípulo pessoal, então certamente sua perda não havia sido tão simples quanto apenas perder um superior.
“Ahem!” Fernando limpou levemente a garganta, sem saber o que falar. Consolar alguém definitivamente não era seu forte. Além disso, apesar de considerar Arslan um conhecido, não era tão próximo do homem. “Então, o que o traz aqui hoje?”
Ouvindo a indagação, Arslan rapidamente se recompôs, olhando para o jovem Tenente em seus olhos.
“Na verdade, acredito que já saiba minha motivação. Afinal, estou aqui por indicação do General Dimitri.”
Ouvindo isso, o rapaz pálido ficou surpreso. Ele havia feito uma solicitação ao General, pedindo por mais tropas e o velho homem tinha garantido que lidaria com isso.
No entanto, como não ouviu mais nada a respeito, deduziu que Dimitri também estava com dificuldades em alocar novas tropas a eles. Mas algo nas palavras do sujeito chamou a atenção de Fernando.
“Indicação? Então o General não fez um pedido formal, mas uma recomendação?”
Arslan assentiu em resposta.
“O General Dimitri valorizava muito o Tenente Ícarus, então não quis nos obrigar a desmanchar nosso Batalhão de forma abrupta, então nos deu algum tempo para pensar a respeito.”
“Se está aqui hoje, então parece que já se decidiu.” Fernando deduziu.
O homem com cabelos loiros riu de forma emotiva, uma risada que não parecia um riso genuíno.
“A verdade é que… não há muito o que pensar sobre. Não sobrou muito das tropas da Primeira Guarnição que acompanharam o Tenente e entre os poucos que restaram, a maioria já se transferiu para outras unidades.”
Ouvindo isso, o jovem Tenente pareceu entender. Sem Ícarus, simplesmente não havia como manter um Batalhão, já que havia um vão de poder. Além disso, o velho homem não havia trazido Subtenentes, o que significava que Arslan, que recentemente havia sido promovido a Sargento, possuía a mais alta patente entre os remanescentes da Primeira Guarnição em Garância.
Ou seja, mesmo que eles não se juntassem ao Batalhão Zero, seria impossível se manterem como um Batalhão independente, então deveriam escolher para onde iriam agora.
“Em quantos vocês são?” Fernando perguntou.
“Um pouco mais de dois Esquadrões.” Arslan respondeu, envergonhado.
Mesmo que houvesse mais tropas da Primeira Guarnição, apenas alguns poucos escolheram acompanhá-lo.
Ouvindo isso, o jovem pálido ficou pensativo.
Atualmente, o Batalhão Zero havia acabado de iniciar um processo de recrutamento e havia centenas de pessoas do lado de fora. Então era praticamente certo que eles conseguiriam reformar os Pelotões que estavam em desfalque, então de certa forma, não estavam mais precisando de mão de obra. Sendo assim, não era exatamente necessário que ele aceitasse Arslan e seu povo.
No entanto, ao pensar com cuidado, Fernando sentiu que entre recrutar pessoas desconhecidas e aqueles que haviam vindo de Vento Amarelo, a segunda opção parecia muito mais confiável. Ademais, ele conhecia o sujeito e sabia que o homem era alguém integro.
Sua maior preocupação no recrutamento de novos Soldados era justamente permitir que pessoas ruins se infiltrassem em meio aos candidatos, mas com Arslan e seus homens preenchendo parte da lacuna, as chances disso acontecer diminuíam consideravelmente.
Depois de uma breve consideração, Fernando se decidiu.
“Posso te oferecer a mesma patente que possui atualmente, Sargento, mas qualquer um de seus homens que queiram ocupar posições de destaque terão que seguir o caminho normal e passar por uma seleção apropriada.”
Ouvindo isso, Arslan sorriu, o rapaz pálido estava basicamente os aceitando.
“Isso não é um problema!” garantiu, concordando com os termos. “Provavelmente, a única que tentará é ela, a Oficial Camille.” disse, apontando para a pessoa ao seu lado.
A mulher loira rapidamente levou o punho ao peito, em sinal de cumprimento e respeito.
“É um prazer conhecê-lo pessoalmente, Tenente Fernando!” declarou, com a voz alta, cheia de disciplina, mas também havia uma pitada de medo no olhar da mulher.
A verdade é que ela já havia ouvido falar do rapaz há muito tempo. Seu nome era bem conhecido por ela desde o conflito entre as Guarnições de Vento Amarelo, onde muitos haviam morrido devido a um simples Recruta.
Após isso, ouviu muitos dos feitos dessa pessoa e de sua subida meteórica em patentes, assustando-a completamente.
Na verdade, não era incomum que pessoas fossem consecutivamente promovidas em tempos de guerra. Mas isso normalmente ocorria ao longo de anos, mas Fernando havia conseguido escalar até a posição de Tenente em menos de um ano em Avalon. Alguém assim definitivamente não era normal!
O jovem Tenente olhou para a mulher de cima a baixo, analisando-a. Isso fez a Oficial sentir-se estranha, principalmente pela aparência esquisita do rapaz.
Usando a mão direita, atrás de Arslan, ela beliscou o sujeito, para demonstrar seu desconforto.
Sentindo a leve dor em suas costas, o homem loiro deu um leve pulinho de surpresa, quando entendeu.
“T-tenente?” Arslan perguntou, sem jeito.
Somente ao ouvir a voz do Sargento, é que Fernando percebeu que estava sendo excessivo.
“Desculpe por isso.” falou, com um rosto calmo, então olhou para a mulher novamente. “Você pode se candidatar a um cargo, mas não temos vagas para Oficiais e não quero ofender, mas a régua do Batalhão Zero é um pouco maior que a de outros lugares. Então tenha isso em mente.”
Em outra situação, Camille teria certamente achado que o rapaz estava a menosprezando. Mas após ver a Cabo chamada Emily enfrentando uma Tenente Nomeada, e os outros quatro Cabos lidando facilmente com uma magia combinada de dois Tenentes Nomeados, ela sabia que esse não era o caso.
“E-eu entendo.”
Com tudo acertado, Fernando levantou-se.
“Você pode se mudar com seus homens amanhã, também deixarei meu pessoal informado e irei preparar a papelada. Se tiver qualquer dúvida, procure minha tesoureira, Lina, ela responderá qualquer pergunta que tenha.”
Vendo o rapaz preparando-se para sair, Arslan rapidamente se levantou.
“Na verdade, Tenente, há mais um assunto que fui encarregado pelo General Dimitri.”
“Hm? Do que se trata?” O jovem Tenente perguntou, curioso.
“Bem… é melhor ver por si mesmo.” Ao dizer isso, Arslan enviou uma mensagem aos seus homens do lado de fora.
Pouco tempo depois, no lado externo do escritório, Fernando, Camille e Arslan estavam parados. Em frente a eles, um gigantesco homem magro estava envolvido em correntes, com um saco preto na cabeça, privando-o de ver qualquer coisa, como se fosse uma besta. Ao redor, vários Soldados seguravam cada ponta da corrente com força, como se temessem que o gigante tentasse algo.
“Eu não sei bem do que se trata, mas o General Dimitri me pediu para trazê-lo… Não sei quem é essa pessoa ou que tipo de prisioneiro se trata, mas é melhor ter cuidado, ele é bem perigoso.” O homem loiro avisou, tendo aparentemente tido alguns problemas ao lidar com o sujeito.
Vendo isso, Fernando sorriu.
“Prisioneiro? Acho que você entendeu algo errado, Arslan, ele não é um prisioneiro.” falou, aproximando-se do homem, então, sem hesitar, puxou o pano preto de seu rosto, revelando sua face. “Esse é Alastor, seu futuro companheiro.”
Ao ouvir isso, todos no local ficaram sem palavras.
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