Capítulo 631 - Disputa invisível
A verdade é que o jovem Tenente também não estava contente em ter que agir dessa forma. Afinal, conseguir um novo parceiro comercial capaz de absorver esse volume de Cristais seria extremamente difícil, mas se a outra parte estivesse desdenhando tanto deles, não havia como estabelecerem qualquer acordo de confiança.
“T-tenente Fernando, um momento, por favor!” Rani falou apressadamente. “Somos parceiros de longa data, então poderia por favor reconsiderar e…”
Antes que a mulher loira pudesse concluir, Fernando a interrompeu.
“Não há o que dizer, senhorita Rani. Tenho uma boa relação de amizade e respeito por você e seu pai, mas não tenho interesse em negociar quando pessoas como ele estão envolvidas.” disse, olhando para o Gerente Sênior.
Diogo Bublitz ficou estarrecido com a atitude impetuosa e explosiva do rapaz. Mesmo que ele tivesse sido um pouco excessivo na forma de falar, isso era apenas uma velha tática comercial para obter a superioridade numa negociação. Era principalmente usada quando um dos lados era muito mais fraco e menos influente que o outro.
Enquanto ele próprio era um Gerente Sênior das Lojas Etéreas, uma organização comercial que abrangia muitas regiões de Avalon, a outra parte era apenas um pequeno Tenente desconhecido de uma Legião de Médio Porte, simplesmente não havia como compará-los. Sendo assim, por que ele deveria negociar em condições de igualdade em primeiro lugar?
Mas, apesar de pensar assim e ter alguma crença de que todo esse negócio se tratava de uma fraude do rapaz pálido, tinha que admitir que o levante astronômico de Aldric nas Lojas Etéreas estava ligado ao Tenente.
“Você não está indo longe demais, garoto? Eu só estou pedindo para ver os produtos.” O sujeito falou, ainda sentado na poltrona de forma arrogante.
Lina, que estava o lado, parecia confusa, mas levantou-se, aproximando-se da porta e aguardando alguma indicação de Fernando. Já que os membros da Loja Etéreas não pareciam expressar o desejo de partir, ela só poderia observar em silêncio.
O que está acontecendo aqui, afinal? Por que uma empresa comercial tão famosa insiste em negociar com o Tenente mesmo após serem expulsos? pensou, sem entender.
Apesar de ser a Tesoureira do Batalhão Zero, não fazia tanto tempo que havia assumido a posição, então não tinha conhecimento sobre qualquer tipo de negociação feita antes de sua entrada no cargo.
“Longe demais?” Fernando perguntou, com um olhar frio. “Você vem ao meu território, desdenha da minha subordinada, me insulta e esperava algo diferente? Para um suposto Gerente Sênior, você não é muito inteligente.”
Ouvindo aquilo, a expressão de Diogo afundou, quando se levantou.
“Rapaz, você realmente quer fazer isso? Se tornar meu inimigo?”
Nesse momento, Fernando também levantou-se, andando em sua direção e chegando próximo a ele, seu rosto quase encostando no do homem.
“Eu quero? Isso depende muito mais de você do que de mim, Gerente Sênior.”
Ambos, o rapaz pálido e o homem de barba mal feita se encararam como se fossem inimigos mortais.
Vendo isso, Rani tinha uma expressão de desespero.
Acabou, toda a negociação acabou! O papai vai ficar furioso comigo!
Próxima à porta, Lina tinha uma expressão calma, apesar de ainda se sentir levemente incomodada com a situação, isso não era nada se comparado ao que o jovem Tenente havia feito com a Administradora Júnior anteriormente.
Diogo franziu a testa, extremamente irritado, mantendo-se encarando o jovem Tenente, mas ao ver ele não recuar uma única polegada, sua expressão começou a amenizar.
Que moleque detestável! pensou, quando recuou, sentando-se de volta na poltrona. Eu gostaria de dar um jeito nele, mas mesmo se o negócio com os Cristais for uma farsa, não posso sair daqui sem aquilo…
“Tudo bem, você venceu. Eu estava errado, me desculpe por isso Tenente Fernando. Que tal sentarmos e conversarmos corretamente?”
Essa ação repentina do homem surpreendeu não apenas Lina e Fernando, mas a própria Rani.
O jovem Tenente levantou uma sobrancelha.
O que esse cara está tramando? pensou, confuso.
Apesar disso, Fernando também recuou. Mesmo que ele fosse alguém cabeça dura, não era irrazoável. Se o outro lado estava se desculpando, não tinha porque levar o assunto adiante.
Vendo o rapaz também recuar em silêncio, de volta ao seu lugar, Diogo pareceu entender algo.
Parece que é exatamente como os rumores dizem. Esse pivete não lida bem com pessoas hostis, se tornando extremamente agressivo. Mas se eu não o provocar demais, deve ser fácil lidar com ele.
A verdade é que Diogo estava, desde o início, testando Fernando. Se o rapaz se submetesse facilmente a sua autoridade, ele iria mastigá-lo completamente e depois cuspi-lo.
Esse era o tipo de jogo comercial que o homem estava acostumado a jogar, onde cada ação, cada palavra, cada movimento poderia ditar a forma que a negociação iria terminar. Obviamente, ele só se atreveu a fazer isso por se tratar de um parceiro comercial tão ínfimo. Se o outro lado fosse alguém poderoso, ele não seria tão ousado.
“Vamos começar do início, Tenente Fernando. Não estou aqui para brigar, mas para lucrar.” disse, quando moveu o pulso, retirando uma moeda de ouro, movendo-a por entre os dedos. “Acredito que nós somos dois homens de negócios. Se você pode me dar o que eu quero e se eu posso lhe fornecer o que deseja, com ambos de nós terminaremos com nossos bolsos cheios de dinheiro, então por que se importar com coisas supérfluas como um insulto ou dois?”
Vendo a forma de agir do sujeito, que parecia muito diferente de antes, Fernando franziu a testa, cheio de desconfiança.
Esse cara… ele não é alguém simples.
Inicialmente, o rapaz pálido acreditou que o homem era apenas mais um sujeito orgulhoso e arrogante, com síndrome de pequeno rei, já tendo lidado inúmeras vezes com pessoas assim. No entanto, agora entendeu que esse não era o caso. Tudo não parecia passar de uma atuação.
Diferente de Aldric, que era alguém direto e respeitoso e negociava de forma honesta, ou de sua filha, Rani, que era experta, simpática e farejava lucros, o sujeito a sua frente era completamente diferente. Ele era dissimulado, não se importando em mudar seu modo de agir ou falar para obter o que desejava.
Isso imediatamente levantou alguns sinais de alerta na mente de Fernando. Esse tipo de pessoa que se ajustava facilmente conforme a situação, em sua opinião, era muito mais perigosa do que alguém abertamente rancoroso como Herin, por exemplo. Pois era difícil adivinhar o que realmente se passava em sua mente.
Mas, mesmo estando em alerta, o jovem Tenente ficou pensativo, quando decidiu entrar em seu jogo.
“Claro, por que não?” O rapaz pálido respondeu, com alguma indiferença em sua voz. Apesar de estar concordando com o sujeito, deixou evidente que não havia mais tanta boa vontade em sua atitude.
Vendo isso, o homem chamado Diogo assentiu.
“Antes que tente nos expulsar novamente… Representante Rani, entregue a ele.”
A mulher loira tinha uma expressão estranha, mas seguiu o ritmo imposto, levantando-se, caminhou em direção a Fernando, quando moveu o pulso, retirando uma Pulseira de Armazenamento.
“Tenente, esse é o resultado das vendas dos materiais que tratamos antes. Como acordado, uma parte será paga com as Poções e outros itens que você solicitou e a outra parte em dinheiro.”
O jovem Tenente assentiu com calma, recebendo a Pulseira, mas não deu uma única olhada no conteúdo, quando a jogou para Lina, que ainda estava em pé ao lado.
“Confira.” ordenou.
Vendo isso, Diogo deu um leve sorriso.
Esse moleque, apesar de ser irritante, ele não é nada mal. É uma pena que ele é um militar, caso contrário seria um ótimo negociador.
Da mesma forma que o Gerente estava usando Rani como intermediária, para demonstrar superioridade, Fernando entendeu esse ponto e passou a contagem dos valores a sua própria subordinada. Era como se ambos os lados estivessem em um ‘cabo de guerra’ invisível, onde cada um puxava e soltava de acordo com a situação.
Lina pegou a Pulseira despreocupada, fazendo como ordenado. No entanto, quando inseriu sua mente no espaço interno do objeto de armazenamento, sua expressão mudou. Dentro havia dezenas de moedas de ouro e uma série de Poções e itens!
O que é isso? Que tipo de negócios o Tenente está fazendo com essas pessoas?! pensou, completamente alarmada.
Deve-se saber que desde a implementação do novo modelo de divisão de lucros, onde o controle de gastos e despesas do Batalhão Zero havia saído exclusivamente das mãos do Tenente e passado a ficar sob a égide dela própria, como Tesoureira, eles possuíam apenas cerca de 25.000 moedas de prata em suas reservas totais.
Mesmo que Fernando tivesse, de forma adiantada, emprestado 30 moedas de ouro para bancar o início dessa implementação, somando todas as despesas ordinárias e fixas das tropas, o custeamento do Batalhão Zero era atualmente de cerca de 5.400 moedas de prata mensal. Isso sem contar os gastos com os novos alimentos ou com a Maga de Cura que exigiam gastos fora da folha de pagamento. Ou seja, o mês nem havia chegado ao fim e eles já haviam consumido um sexto da reserva dos cofres!
Essa situação financeira terrível, onde eles pareciam andar numa corda bamba constante, fez a garota ter pesadelos durante a noite. A própria Lina não conseguia entender como Fernando não aparentava estar preocupado com isso, não só ele não estava cortando gastos, como havia iniciado um novo processo de recrutamento que aumentaria ainda mais o peso orçamentário!
Inicialmente ela achou que o Tenente estava louco, mas ao ver como ele simplesmente havia conseguido tanto dinheiro em um único instante e conseguiu tanto estoque de Poções, que certamente aliviaria os gastos internos, finalmente começou a entender de onde vinha sua confiança.
“Aqui tem 55 moedas de ouro, senhor e Poções e itens o diversos.” Lina disse, após nervosamente averiguar o interior. Quando se aproximou do rapaz, entregando a Pulseira com as duas mãos, elas estavam levemente trêmulas, como se o item que segurava fosse feito de vidro e pudesse quebrar a qualquer momento, mas a próxima ação de Fernando a surpreendeu completamente.
“Você é a Tesoureira, você cuida disso. Essa soma diz respeito a parte dos saques dos corpos, então deve ir para o Batalhão e ser repartido e as Poções para o estoque.” declarou, abanando a mão, com indiferença.
Ouvindo isso, Lina travou no lugar, como se seu corpo tivesse sofrido um choque.
E-u ouvi errado? Ele ta falando sério? Todo esse valor e itens, realmente… é muito dinheiro! A garota estava completamente perplexa. No entanto, quando Fernando lhe deu um leve olhar de canto de olho, ela finalmente voltou a si, percebendo algo. E-eu sou a Tesoureira do Batalhão Zero! Não posso mostrar fraqueza e atrapalhar o Tenente!
“Entendido, senhor.” falou, quando suavemente guardou a Pulseira sem cerimônias e agiu como se nada tivesse acontecido.
Vendo o rapaz agindo de forma tão casual e entregando tal soma a uma subordinada, fez Rani ficar surpresa. Afinal, eles estavam falando de 55 moedas de ouro e cerca de 15 moedas de ouro em Poções! Além disso, a forma calma e contida da garota também despertou seu interesse.
Ele nem vai perguntar sobre os detalhes? Talvez essa quantia não seja nada para ele? pensou nervosamente, sem entender como um mero Tenente poderia desdenhar de um valor tão astronômico como esse.
Em relação à Rani, o Gerente Sênior tinha um olhar muito mais afiado e percebeu imediatamente o nervosismo disfarçado de Lina. Suas ações não eram diferentes do teatro de uma criança pequena. No entanto, ele também notou que Fernando não estava fingindo, aquela soma realmente não o abalou minimamente!
Mesmo não sendo um Mago ou um Usuário de Habilidades, como alguém que subiu ao topo por meio de negociações, sua leitura de pessoas era extremamente precisa e ele tinha certeza de sua avaliação.
Esse garoto, ele realmente pode ser algo real aqui. pensou, imaginando que Fernando realmente não estava blefando ou tentando aplicar um golpe, mas provavelmente tinha os Cristais que alegou possuir. Após confirmar isso, o homem ficou pensativo, quando reajustou seus planos. Se esse for o caso, preciso fechar esse negócio, não importa o que eu precise fazer!

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