Capítulo 633 - Blefando?

Assim como Fernando havia dito, as Lojas Etéreas estavam sendo imensamente beneficiadas neste acordo, mas ainda assim, o homem estava buscando ainda mais ganhos!

Mesmo Rani, que estava em silêncio, estava com suas bochechas ruborizadas de vergonha quando tudo foi colocado às claras dessa forma. Era como se eles realmente estivessem tentando extorquir o rapaz.

Apesar das Lojas Etéreas terem em mãos um lucro potencial tão grande, Diogo estava tentando enganar um fiel cliente da empresa para arrancar ainda mais dinheiro e isso era algo completamente oposto ao que seu pai lhe ensinou desde pequena. Para ela e Aldric, uma negociação só era uma negociação, quando ambos os lados saiam ganhando e estavam satisfeitos com os resultados.

“G-gerente, acredito que devemos concordar com isso…” A garota loira cochichou, timidamente.

Ouvindo isso, o sujeito de barba por fazer lançou um olhar furioso para ela.

Essa menina tola! Parece que ela não é diferente do Aldric! Gente certinha como essa não devia se meter com negócios! pensou, irritado, mas logo suspirou.

Mesmo se Rani não falasse nada, uma vez que Fernando havia jogado as cartas na mesa, seria difícil conseguir os direitos de exclusividade sobre esse novo item. Ainda, sim, resolveu fazer uma última tentativa.

Ao chegarem na cidade, naquela manhã, Diogo e Rani haviam passado em um dos restaurantes que conseguiram algumas porções contrabandeadas da Sopa Revitalizante e a provaram pessoalmente.

Com o seu sabor quente e viciante, que fazia o paladar saltar de felicidade. O homem tinha certeza que aquilo definitivamente era um potencial negócio extremamente lucrativo. Mesmo ignorando os efeitos como restauração da estamina e efeitos na libido, apenas o sabor exótico e delicioso já seria suficiente para se tornar uma tendência entre os restaurantes renomados.

Se as Lojas Etéreas pudesse monopolizar a comercialização da Sopa Revitalizante ou mesmo obter sua receita, eles receberiam mares de dinheiro, muito maiores até do que essa negociação atual. Sendo assim, ele não poderia desistir tão facilmente!

“Tenente Fernando, veja bem, assim como você disse, o valor do contrato é muito atrativo, mas tem certeza que conseguiria negociar com outro grupo comercial que não o nosso? Você deve saber o quão arriscado é se meter no campo dos Cristais na Zona Divergente e quantos inimigos potenciais se pode adquirir. Acredita mesmo que outra empresa iria se colocar em perigo dessa forma como nós?”

Ouvindo a resposta cheia de confiança do Gerente, Fernando não respondeu imediatamente, mas ficou em silêncio.

A verdade é que ele sabia bem dos riscos envolvidos. Os grandes comerciantes da Zona Divergente não ficariam parados caso soubessem que novos rivais estavam se envolvendo em seu território.

Mesmo que a quantidade de Cristais que ele possuía fossem apenas uma gota num lago em relação à totalidade do que estava sendo obtido e negociado por essas pessoas, o rapaz pálido tinha certeza que esses grandes caciques provavelmente eram pessoas do tipo rancorosas e extremamente gananciosas e não deixariam esse assunto sair barato caso descobrissem.

Mas era justamente por isso que Fernando tinha sido tão ousado ao ponto de oferecer 30% dos lucros, bem como a residência da Guilda em Belai. Mesmo que ele tivesse uma perda considerável, a verdade é que como ele havia sido banido da cidade, a residência não tinha tanta importância e quanto ao dinheiro potencial, de que adiantaria pensar sobre perdas em relação a um dinheiro que sequer chegou em suas mãos? Contanto que ele pudesse garantir que as Lojas Etéreas não o traíssem, estava disposto a abrir mão desse valor.

Somente ao amarrar seus interesses aos deles, é que o jovem Tenente estava confiante de que os detalhes dessa negociação jamais vazariam.

Mas, mesmo sentindo que as Lojas Etéreas eram atualmente a única organização que ele poderia confiar a venda dos Cristais, o rapaz pálido não estava satisfeito com as ações do Gerente em tentar chantageá-lo para conseguir os direitos de exclusividade sobre a Sopa Revitalizante.

Com uma expressão indiferente, Fernando olhou para o homem, quando finalmente pareceu se decidir sobre o que fazer.

“Entendo. Por suas palavras, posso considerar que as Lojas Etéreas não possuem mais interesse em negociar comigo. Quanto a se eu vou ou não conseguir outro parceiro comercial, você não precisa se preocupar com isso, Gerente Diogo Bublitz. Meu pessoal tem conversado com o Caldeirão do Dragão e temos tido um bom diálogo. Talvez eles achem essa oferta mais atraente…”

Quando o jovem Tenente falou isso, tanto Diogo, quanto Rani arregalaram os olhos, em choque.

Não importa quão bom alguém seja em algo, é quase impossível monopolizar uma área sozinho e para as Lojas Etéreas, não era diferente. Mesmo que fossem extremamente influentes e tivessem filiais por toda Avalon, simplesmente estavam longe de serem os melhores na área de comercialização de Poções, Elixires e itens similares.

Na verdade, haviam pelo menos três concorrentes diretos nessa área, sendo o maior e mais poderoso, o Caldeirão do Dragão. Um gigantesco grupo comercial que tinha extensos contratos de venda de Poções, incluindo com várias das Grandes Guildas.

Em termos de patrimônio ou influência, eles estavam alguns patamares acima das Lojas Etéreas e estavam constantemente tentando minar suas forças e roubar seus negócios. Sendo assim, se eles soubessem das suas negociações com Fernando e o Batalhão Zero, não hesitariam em assumi-las, não pelo dinheiro em si, mas para infringir um duro golpe a seus concorrentes.

Esse cara, ele está falando sério, ou está blefando?! Diogo pensou, desde que entrou ali essa foi a primeira vez que ficou desconcertado.

“U-um momento Tenente, vamos conversar adequadamente…” O gerente falou, apressadamente, gaguejando.

“Oh, o que mais há para conversar? Infelizmente não conseguimos chegar a um consenso.” Fernando falou, parecendo arrependido. “Só me resta buscar outras opções… E claro, irei oferecer a eles as mesmas condições. Me pergunto se eles hesitarão tanto em aceitar meus termos.”

“O-o que, isso…” Diogo falou, com sua fala travando no meio do caminho.

Vendo a reação do homem, Fernando mal conseguiu evitar sorrir.

A verdade é que ele não tinha qualquer contato com o Caldeirão do Dragão, mas tinha ouvido falar por meio de relatórios de Argos sobre ser uma empresa comercial relativamente superior às Lojas Etéreas e a sua relação de hostilidade com a mesma, então pensou em usar isso a seu favor.

Rani também estava apavorada ao ouvir esse nome. Na verdade, quando Fernando falou a última parte, sobre ‘oferecer as mesmas condições’ olhando diretamente para si, a comerciante tinha certeza de que isso era uma ameaça diretamente a ela.

Atualmente, a Residência da antiga Guilda Valorosos que haviam alugado de Fernando era um dos grandes motivos pelos quais a filial de Belai estava conseguindo tantos lucros e havia se estabelecido tão facilmente na cidade. Porém, se ela e seu pai a perdessem, principalmente para o Caldeirão do Dragão, estariam definitivamente arruinados!

Mas, mesmo que o rapaz pálido fizesse isso, não teriam o direito de reclamar. Enquanto o próprio Tenente tinha sido leal, como parceiro comercial, oferecendo condições extremamente favoráveis para as Lojas Etéreas, Diogo estava jogando sujo, tentando forçar um negócio tão desvantajoso para o Tenente. Ou seja, eles foram os únicos que desrespeitaram sua relação de confiança em primeiro lugar!

Com um olhar atônito, Diogo começou a respirar pesadamente, irritado.

Merda… esse moleque desgraçado! Ele está brincando comigo? pensou, rangendo os dentes, tendo quase certeza de que era apenas um blefe descarado. Ele estava prestes a dizer algo e tentar forçar novamente o acordo, quando olhou para o lado e viu a garota loira, com mechas de cabelo azuis, o observando como um falcão de olhos arregalados. Era como se estivesse o avisando que deveria ter cuidado com o que diria a seguir. Essa maldita… ela está do lado dele?

Mesmo que ele fosse um Gerente Sênior e tivesse muito mais autoridade que uma mera Representante ou um Gerente de Filial como Aldric, se eles o denunciassem aos superiores por interferir em um negócio da filial de Belai e graças a isso o perdessem para o Caldeirão do Dragão, ele certamente não sairia impune e poderia até mesmo perder seu cargo!

Rani estava claramente dizendo com seus olhos que se eles afundarem e perderem sua filial em Belai, certamente o puxariam para baixo junto!

Após um breve momento de hesitação, o sujeito com barba por fazer suspirou pesadamente. Mesmo que fosse apenas um blefe, ele não estava disposto a correr riscos.

“E-eu entendi, Tenente Fernando… pensando melhor, os termos são adequados, então… Eu irei aceitar as alterações.” declarou, a contragosto.

Ouvindo isso, o rapaz pálido sorriu levemente.

“É realmente bom ouvir que mudou de ideia, Gerente Diogo.” disse, com uma voz calma, mas claramente provocativa, o que fez o sujeito o olhar com ainda mais raiva do que já estava. “No entanto, receio que esse acordo já não seja tão interessante para mim. Posso considerar se reduzirmos o repasse para 25%.”

Os olhos do Gerente quase saltaram de suas órbitas ao ouvir tal absurdo.

“Por que está reduzindo o valor do contrato?!”

Em resposta a isso, o jovem Tenente tinha um olhar calmo, com um leve sorriso.

“Porque eu posso. Você pode aceitar meus termos, ou sair agora mesmo.”

Ao ouvir isso, Diogo encarava o rapaz como se fosse fuzilá-lo com os olhos. Ao mesmo tempo, seu rosto ficou vermelho como um tomate.

Por outro lado, Rani não se atreveu a se opor a mudança. Fernando claramente havia oferecido termos favoráveis de boa vontade, mas o Gerente Sênior havia estragado tudo. Então mesmo se o rapaz pálido reduzisse o valor de repasse, isso era seu direito.

Na verdade, estava claro que o objetivo dele não era realmente acabar com o negócio, mas de enviar um sinal, avisando que eles não deveriam subestimá-lo ou tentar enganá-lo, ou ele reagiria de acordo. Sendo assim, isso se tratava mais de uma punição educativa do que uma vingança genuína.

Sentindo-se pressionado, enquanto observava o rapaz pálido agindo tão tranquilamente, o sujeito apertou os punhos, trêmulo, quando se resignou.

Parece que eu subestimei esse pequeno patife. Vou aceitar a derrota dessa vez, pivete, mas isso vai ter troco! pensou, furioso.

“Se é assim, acho que terei que concordar com a boa vontade do Tenente.” Diogo falou, forçando um sorriso que não parecia realmente um sorriso.

Lina, que observava tudo em silêncio, não pôde deixar de olhar para seu líder com olhos admirados.

Ele realmente conseguiu convencer alguém tão importante a fazer o que ele queria? pensou, chocada. Até então, ela só o via como alguém corajoso e inspirador, mas Fernando também se mostrou um exímio negociante. Ele é tão confiável…

Lembrando-se de quando o conheceu na época ainda eram Recrutas, a garota não pôde deixar de se arrepender.

Se eu tivesse sido mais decisiva naquela época, talvez fosse eu… A garota pensou, com alguma reminiscência, ao lembrar-se de Karol e de que Fernando agora era um homem casado.

No fim, com ambos os lados concordando com os termos, Rani fez a leitura formal do contrato, abordando ponto a ponto e fazendo as modificações solicitadas. Tanto a remoção da exclusividade na negociação da Sopa Revitalizante, quanto a redução do valor de repasse de 25% para as Lojas Etéreas.

Debruçando-se sobre a folha de papel, Fernando inseriu seu mana numa espécie de caneta de pena, quando lentamente colocou sua assinatura em um dos contratos e do outro lado Diogo e Rani fizeram o mesmo com o outro. Logo ambos trocaram os papéis, assinando a contraparte.

“Com isso, nossa negociação está firmada, Tenente Fernando. Por favor, guarde seu contrato adequadamente.” Rani aconselhou, com uma voz educada, mas, ao mesmo tempo, parecendo aliviada por finalmente ter conseguido fechar esse contrato.

Apesar de descontente com o resultado final, Diogo pegou a Pulseira de Armazenamento com cuidado e a guardou.

“Levaremos a mercadoria para a Região Central do Domínio Humano e faremos a venda o mais brevemente possível. Assim que tudo estiver acabado, iremos enviar sua parte, Tenente Fernando.”

“Recomendo que não faça isso, Gerente Diogo.” O rapaz pálido advertiu. “Na verdade, gostaria que fizesse o oposto. Atrase a venda dos Cristais por pelo menos dois meses.”

Ao ouvir isso, o Gerente ficou surpreso.

“O que está dizendo, está louco? Quanto mais esperarmos, menos iremos ganhar!” afirmou, com as sobrancelhas franzidas.

Devido à guerra com os Orcs, uma inundação de Cristais estava circulando em Avalon, então seu preço estava caindo constantemente. Se esperassem muito, sequer conseguiriam vender pelo preço padrão.

“Eu não teria tanta certeza disso… Estou certo, senhorita Rani?”

Anteriormente, quando conheceu a garota, Fernando lhe deu uma dica sobre as vendas e tinha certeza de que ela investigaria a respeito.

O Gerente Sênior não pôde deixar de olhar para ela, com um olhar de dúvidas.

O que está acontecendo aqui? Essa mulher, ela está escondendo algo de mim?

Rani sentiu-se levemente intimidada, mas não negou.

“Atualmente o preço médio dos Cristais tem caído muito devido ao grande volume no mercado. Mas há um movimento contrário acontecendo em segredo. Eu demorei a perceber, mas graças ao que o Tenente Fernando disse no nosso encontro anterior, tudo ficou claro. Alguns grandes grupos comerciais, Grandes Guildas e algumas de Médio Porte, têm secretamente acumulado Cristais. O que indica que estão se preparando.”

“Se preparando? Para o quê?” Diogo perguntou, intrigado. Como a área de Cristais não era algo que ele estava familiarizado, não tinha certeza quanto a qualquer variação nessa área.

Com um olhar calmo, mas, ao mesmo tempo, cheio de peso da situação, a garota loira logo respondeu.

“Para uma grande guerra.”