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    Diogo teve uma mudança de expressão ao ouvir isso.

    “Você quer dizer que… todos estão se preparando para um fracasso nas negociações?” perguntou, levemente surpreso. Mesmo que não tivesse ouvido nada a respeito, como um comerciante que estava presente na Zona Divergente há alguns anos, ele conseguia facilmente entender as disposições politicas das Legiões, Guildas e Grupos Comerciais e as consequências de suas ações.

    Se todos estavam se preparando para um fracasso nas negociações conjuntas entre Humanos, Orcs, Altos Elfos e Anões, isso significava que um conflito, muito maior e mais violento, surgiria. Por hora a guerra envolvia apenas os Humanos e Orcs, mas se os Altos Elfos e Anões se envolvessem, tudo escalaria para um nível totalmente novo. Além disso, ainda havia a ameaça dos Elfos Negros no Norte, o que tornava toda essa situação ainda mais sensível.

    Pensando nisso, Diogo percebeu o que Fernando queria ao pedir para segurar a venda. Afinal, o Armistício terminaria em cerca de dois meses, nessa hora, se o Conselho Superior não chegasse a um acordo, os preços dos Cristais explodiram!

    De certa forma, pensar que uma guerra ainda pior aconteceria era algo assustador, mas para ele, um comerciante, não era algo exatamente ruim. Era como um velho ditado, ‘enquanto uns choram, outros vendem lenços’. Apesar da guerra trazer enormes consequências terríveis e mortes, também era uma enorme oportunidade para lucrar!

    Mesmo se um tratado de paz fosse selado, as Legiões, Guildas e Grupos Comerciais continuariam comprando Cristais e os estocando loucamente até esse momento, então os preços ainda estariam em alta quando o momento dos acordos chegasse. O que significava que eles teriam uma pequena lacuna onde poderiam vender tudo por um valor astronômico antes que os preços começassem a cair!

    Esse garoto… ele realmente pensou tão longe? Além disso, ele está apostando que a guerra continuará e se tornara ainda maior? O homem se perguntou, intrigado, tanto pela dedução criativa do rapaz, quanto pela crueldade dedutiva em seus pensamentos. Um rapaz tão novo parecia ter uma visão comercial/militar invejável para até mesmo alguns Generais ou comerciantes veteranos. Esse pivete, ele é detestável, mas tenho que admitir que ele tem um modo de pensar bem interessante.

    Percebendo que Fernando não era tão simples quanto havia imaginado quando chegou em Garância, o sujeito com barba por fazer ficou pensativo.

    “Se isso for verdade, acredito que podemos esperar. No entanto, é algo arriscado, se errarmos o tempo de venda, podemos ter um grande prejuízo.”

    O jovem Tenente assentiu, já ciente desse detalhe.

    “É claro que há um risco, mas tenho certeza que o Gerente Sênior Diogo saberá o momento certo de vender os Cristais. Afinal, alguém como você, que está habituado em fazer negócios, deve ter uma boa visão situacional e leitura de momento, certo?”

    Ouvindo isso, o sujeito franziu a testa, já que o rapaz estava claramente tentando atingi-lo por meio do seu ego. Apesar disso, não negou, quando sorriu com arrogância.

    “Se você estivesse negociando com comerciantes de terceira categoria, teria dificuldades nessa questão.” disse, olhando de soslaio para Rani, que franziu a testa com a indireta nada sutil. “Mas como eu estou envolvido, não precisa se preocupar, esse negócio está em boas mãos. Agora que eu sei dessa informação, posso garantir em nome das Lojas Etéreas que irei extrair o máximo de lucro possível!”

    Vendo a confiança do homem, Fernando sorriu secamante.

    É claro que irá, alguém ganancioso como você é o melhor para esse tipo de trabalho. pensou, rindo consigo mesmo. Mesmo que tivesse acabado de conhecer o homem, conseguia entender mais ou menos que tipo de pessoa ele era.

    Com tudo acertado, o jovem Tenente e o Gerente Sênior levantaram-se, quando apertaram as mãos. De repente, o sujeito com barba por fazer puxou a mão do rapaz para mais perto, aproximando-se de seu ouvido.

    “Foi uma experiência interessante negociar com você, Tenente Fernando. No entanto, recomendo que tenha mais cuidado ao jogar certas cartas na mesa, ou você pode receber uma resposta desagradável.”

    O rapaz pálido franziu levemente a sobrancelha ao ouvir essas palavras.

    “Está me ameaçando, Gerente Diogo?” falou, quando apertou a mão dele com mais força. Desde o início, ele sentiu que o homem era apenas uma pessoa normal, com quase nada de mana em seu corpo. Mesmo assim, essa pessoa ousava ameaçá-lo dentro de seu território?

    Sentindo o forte de aperto de mão, o homem teve uma leve mudança de expressão, mas não demonstrou dor, pelo contrário, sorriu ainda mais.

    “Absolutamente não, estou apenas… dizendo o óbvio. Nunca mais cite o nome daqueles desgraçados do Caldeirão do Dragão na minha frente, garoto.”

    A expressão de Fernando ficou fria quanto a forma ameaçadora do homem de falar.

    “E se eu não quiser?” falou, quando apertou ainda mais a mão do homem.

    Vendo isso, Lina e Rani, que achavam que tudo tinha acabado bem, ficaram assustadas.

    Crack! Crack!

    A mão de Diogo começou a dar leves estalos, enquanto o rapaz a apertava o suficiente para causar dor, mas não ao ponto de quebrá-la.

    Em resposta a isso, o Gerente serrou os dentes com força, mas seu sorriso não diminuiu.

    “Então, algo de ruim pode acontecer.” falou, quando usou a outra mão livre para estalar os dedos.

    Assim que fez isso, um enorme barulho começou a soar.

    Tum! Tum! Tum!

    De repente, toda a sala começou a tremer. Na verdade, era como se todo o prédio estivesse balançando.

    O que está acontecendo? Um terremoto? Fernando perguntou-se, enquanto olhava ao redor.

    Vários comunicados e mensagens começaram a soar na comunicação interna do Batalhão, o que indicava que de fato isso estava ocorrendo em todo o lugar.

    Lina tinha uma expressão assustada e confusa, enquanto Rani também parecia afetada, mas muito mais calma, como se soubesse a causa disso.

    O jovem Tenente percebeu a atitude incomum da garota loira, quando um pensamento veio a sua mente. Lembrando do estalo de dedos do sujeito, ele rapidamente voltou seu olhar para Diogo, que ainda sorria com calma e confiança, olhando-o diretamente nos olhos, como se estivesse no total controle da situação.

    Esse cara, ele… Um pensamento assustador logo veio a mente de Fernando. Esse homem tinha um Mago de nível General ao seu lado! Só alguém assim poderia afetar todo o prédio tão facilmente dessa forma! Não só isso, como essa pessoa estava, de alguma forma, ouvindo ou vendo tudo que acontecia naquela sala!

    Percebendo isso, o jovem pálido começou a suar frio.

    “Acho que agora você entendeu, certo?” Diogo perguntou, com um olhar profundo.

    Em resposta a isso, Fernando franziu o cenho, fazendo o possível para não transparecer qualquer medo ou hesitação. Se havia um Mago de nível General envolvido, então não havia nada que ele pudesse fazer.

    “O que você quer? Os Cristais?” perguntou, com uma voz fria, enquanto amolecia o aperto da mão do homem. Mesmo que ambos os lados tivessem assinado um contrato, se eles levassem sua cópia e os Cristais, então de nada valeria toda essa negociação! “Garância tem muitos Generais, tem certeza de que quer fazer isso?”

    Diogo riu ao ouvir as palavras do rapaz pálido, quando finalmente teve sua mão liberta e rapidamente a recolheu, dando um passo para trás.

    “Não entenda errado, Tenente. Não sou nenhum tipo de bandido que rouba e mata.” O Gerente falou, mas logo um sorriso bizarro se abriu em seu rosto. “Exceto se valer muito a pena… Hahahah!”

    Fernando ficou em silêncio, enquanto o encarava, quando os tremores lentamente diminuíram, até cessarem completamente.

    “Veja isso como uma espécie de lição de negócios. Nem todo comerciante é bonzinho ou ‘honesto’ como eu. Alguns não vão hesitar em usar a força para conseguir o que querem. Se eu quisesse, poderia te roubar e sua Legião não faria nada a respeito… Quem acreditaria que um mero Tenente teria tantos Cristais em mãos? Obviamente, nossas Lojas Etéreas só fazem negócios limpos, então não se preocupe, não vou levar seu contrato ou qualquer outra coisa a força. Mas tenha isso em mente antes de entrar nesse tipo de jogo ou se atrever a usar o nome de um dos nossos concorrentes. Pode ter certeza, eles não seriam tão simpáticos quanto nós.” falou, caminhando em direção à porta.

    Em resposta a isso, Fernando apenas ficou em silêncio, pois tinha certeza que o homem sabia que sua ameaça sobre negociar com o Caldeirão do Dragão era apenas um blefe. Mas, mesmo assim, o Gerente Sênior cedeu a pressão, o que lhe causou alguma estranheza.

    Antes de sair, o sujeito parou, quando se virou, olhando para trás. 

    “Talvez o mundo dos negócios seja mais adequado para você do que balançar uma espada por aí. Caso algum dia canse de brincar de soldadinho, venha até mim.” aconselhou, com uma atmosfera amigável, novamente, completamente diferente de antes. “Ah, e Rani ficará em Garância como uma intermediária até o fim da transação, então a procure caso precise de algo ou se considerar minha proposta.”

    Ao falar isso, o sujeito abriu a porta, saindo. Rani enviou um olhar cheio de desculpas para Fernando, quando rapidamente seguiu o homem, em silêncio.

    Assim que ambos saíram, o jovem Tenente, que tinha uma expressão escura em seu rosto, não perdeu tempo, quando correu até a janela, abrindo-a. Então se inclinou levemente para fora, vasculhando o céu ao redor. Nesse momento, viu algo nos céus acima do Batalhão Zero.

    Apertando os olhos, Fernando focou-se nisso, apenas para notar que era uma figura feminina. Devido à distância, era difícil ver seu rosto corretamente.

    Essa pessoa, ela é uma General? Como ela nos escutou a essa distância? pensou, assustado.

    A figura feminina pareceu notar o olhar do rapaz pálido, quando sorriu levemente, então acenou com a mão, quando começou lentamente a desaparecer no ar, como se fosse uma miragem.

    Vendo isso, Fernando não pôde deixar de engolir em seco.

    Mesmo que Diogo aparentasse ser apenas um civil normal, ele realmente tinha uma Maga tão poderosa sob seu controle!

    Se ele tivesse usado isso a seu favor desde o começo… pensou, percebendo que o homem simplesmente estava tratando toda essa negociação como uma mera brincadeira ou algum tipo de jogo pessoal. Se ele quisesse, poderia facilmente ter o obrigado a assinar o contrato original, o favorecendo ou até algo pior, mas realmente tinha se dado ao trabalho de discutir com tanto afinco a negociação e usar tantas artimanhas.

    “T-tenente… Essa pessoa, ele…”

    Fernando assentiu, com um rosto inexpressivo.

    “Ele é perigoso. É melhor termos mais cuidado ao lidarmos com as Lojas Etéreas a partir de agora.”

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