Capítulo 637 - Dedução
Merda, esses caras realmente querem me ferrar a qualquer custo? Um homem, usando uma espécie de terno formal, pensou, enquanto caminhava pelo Salão da Recepção após sair de uma reunião. Essa pessoa era o Capitão Johnathan Blank, aquele que havia liderado a Sexta e a Sétima Brigada da Quinta Divisão durante a batalha de retomada. Aquele maldito Airan não vai desistir? Mesmo que eu morra, não vou ser subordinado de um velhote desgraçado como esse!
Atualmente sua Sexta Brigada estava passando por sérias dificuldades, devido às altas baixas sofridas na batalha de retomada, o Salão, junto a outros Capitães, estavam o pressionando fortemente para que ele encerrasse as operações e levasse seus homens para outra tropa.
A Brigada que atualmente estava pressionando mais fortemente para isso acontecer era a Brigada Nomeada Macrilan, comandada por Airan Macrilan, um dos homens de confiança do General Herin, que era notoriamente conhecido como seu braço direito.
Apesar de ser uma Brigada Nomeada, não era especialmente famosa e nem tinha grandes conquistas, mas devido ao forte apoio de Herin, continuava a manter sua existência ao continuamente forçar o recrutamento de tropas menores ou que não tinham nenhuma fama e Johnathan e sua Sexta Brigada, que estavam enfraquecidos, eram o alvo da vez.
Ele havia acabado de sair de uma reunião onde alguns membros do Salão haviam o ‘aconselhado’ a desistir de manter sua Brigada. Apesar de dizerem que era apenas uma sugestão, não hesitaram em ameaçar cortar parte do financiamento de suas despesas. Ou seja, se ele não aceitasse, logo suas operações se tornariam insustentáveis.
O que eu faço? Se as coisas continuarem assim, eu vou acabar sob aquele velhote do Airen. Se pelo menos tivéssemos dinheiro suficiente para manter nossas despesas por um ou dois meses, tenho certeza que eles desistiriam…
Mesmo que estivesse servindo sob Wayne atualmente, ele não era realmente parte de suas tropas centrais, na verdade, pertencia a uma Cidade Vassala e havia sido destacado para ser parte dos esforços de guerra contra os Orcs, então como um subordinado provisório, sabia que não poderia contar com a intervenção do General Comandante a seu favor.
Como um Capitão solitário, que outrora era Líder de uma Guarnição de uma Cidade Vassala qualquer, simplesmente não havia ninguém que pudesse apoiá-lo financeiramente.
Se eu servir aquele cara, tenho certeza que ele dará um jeito de se livrar dos meus subordinados em pouco tempo. Johnathan pensou, preocupado.
O homem sabia que o principal motivo para Airen visá-lo não era para absorver suas tropas, mas para conseguir ele próprio, um Capitão, para si.
Para uma Brigada Nomeada conseguir manter seus status, precisava conseguir algumas conquistas regularmente, mas sendo alguém velho e que não gostava de se arriscar, Airen comumente recrutava Capitães Subordinados e os enviava para lutar em seu nome. Muitas vezes os destacando para missões altamente arriscadas na esperança de obter conquistas relevantes, o que eventualmente levava muitos dos Capitães Subordinados a um fim precoce.
Mas a principal preocupação de Johnathan não era consigo mesmo, mas com seus homens. Atualmente, depois de sofrer severas baixas e com muitos dos sobreviventes se demitindo ou pedindo transferência restaram menos de 80 pessoas em sua Sexta Brigada, o que era um número pífio, mas apesar de ser um número pequeno, ele sabia que Airen não era o tipo de indivíduo que aceitava que outros desenvolvessem ou criassem qualquer tipo de influência sobre seu nariz. Por isso certamente enviaria seus subordinados para uma série de missões com alta taxa de mortalidade, até os desfragmentar por completo.
Enquanto pensava sobre como sair dessa enrascada, ouviu algo.
“Você ai, está fedendo, então espere do lado de fora. Alguém vai te chamar quando a senhora Amélia voltar.”
Não muito longe, uma das recepcionistas estava lançando insultos a um jovem pálido, que estava sentado num banco próximo ao balcão.
“O que está acontecendo?” Muitas pessoas que estavam circulando pelo saguão não puderam deixar de parar para ver a situação.
Vendo que alguém estava sendo tratado de forma tão péssima, Johnathan franziu o cenho.
Droga, esse Salão da Recepção está decaindo dia após dia. Para tratar alguém dessa forma publicamente. Mas tanto faz, já tenho muitos problemas em mãos, eu não preciso… Espera! Essa pessoa, ele é… Inicialmente o homem estava apenas pensando em fingir que não viu ou ouviu nada, mas ao ver quem era a pessoa que estava sendo humilhada, não pôde evitar parar seus passos. Tenente Fernando, do Batalhão Zero?! Por que aquele cara está aqui e por que estão tratando alguém como ele assim?
Vendo o rapaz pálido, Johnathan ficou atordoado, ele pensou que a pessoa sendo insultada seria algum Soldado ou outro indivíduo aleatório, mas realmente era um Tenente de um Batalhão Nomeado e não um qualquer, mas alguém apoiado pessoalmente pelo General Dimitri!
O que no mundo está acontecendo aqui? O sujeito indagou-se, ao olhar para a situação. Mas antes que pudesse pensar muito mais a respeito, algo ainda mais louco aconteceu bem diante de seus olhos.
Boom!
A mulher, que antes estava insultando o rapaz, foi pega violentamente por ele, como uma águia capturando um rato e então erguida, enquanto era segurada pela garganta.
“O que está fazendo, seu lunático! Solta ela agora mesmo! Guardas!” Uma das outras recepcionistas gritou.
Os Guardas, que estavam acompanhando a situação de longe, reagiriam rapidamente quando correram até o rapaz com as espadas em punho.
“Solte-a agora mesmo e nos acompanhe!” Um dos homens falou.
O rapaz pálido não respondeu às palavras do homem, mantendo-se encarando firmemente a mulher com um olhar frio, que causou calafrios aos observadores nos entornos.
“Eu, Fernando Nóbrega, Tenente do Batalhão Zero, fui insultado. Como um alto oficial, pelo regulamento interno da Legião, tenho o direito de executar os infratores, incluindo membros do Salão da Recepção, então estarei cumprindo com meu direito agora mesmo.” declarou, com uma voz gelada.
Todos ao redor, congelaram no lugar ao ouvirem isso. Até o próprio Johnathan não sabia o que dizer ou pensar a respeito. Tanto ele, quanto outras pessoas que estavam saindo, não puderam deixar de parar e observar a situação, com interesse.
Enquanto um dos guardas tentava negociar com o rapaz, algo ocorreu.
“Alto lá, solte essa mulher agora mesmo, ou sofrerá as consequências!” Nesse momento, uma voz feminina, cheia de autoridade, gritou. Quando a própria Amélia apareceu, saindo de um dos corredores principais.
Ao ver a mulher, Johnathan congelou no lugar. Mesmo ele, um Capitão, não queria lidar com uma Administradora, mas o rapaz pálido realmente havia atraído a atenção de uma!
“Essa mulher insultou a mim publicamente. Estou apenas aplicando o meu direito de puni-la.” O Tenente do Batalhão Zero declarou.
Amélia riu alto, cheia de desdém ao ouvir as palavras do rapaz.
“Direito? Quem você pensa que é para dizer isso?” falou, de forma arrogante. “Movam-se, capturem esse insignificante!”
Com a ordem dada, os dois Capitães ao lado da mulher avançaram a passos lentos, como se não estivessem preocupados com as ações do rapaz pálido. Independente se ele tentasse fugir ou reagir, estavam confiantes em subjugá-lo. Por mais que ele fosse um Tenente Nomeado, a diferença entre ele e um Capitão era enorme.
Vendo o desdobramento de tudo isso, Johnathan ficou perplexo.
Mesmo que ele tenha o apoio do General Dimitri, acho que ele está muito ferrado dessa vez… Enquanto o homem estava pensando, de repente, o rapaz pálido lançou um olhar em sua direção, o que o fez travar no lugar, quando ele abaixou rapidamente a cabeça, temendo ser envolvido em tudo isso. Espero que ele não se lembre de mim…
Como se respondesse a isso, uma mensagem imediatamente chegou a seu Cubo Comunicador.
“Como vai, Capitão Johnathan? É bom revê-lo.”
Merda, merda! Eu tenho que sair desse lugar, não posso me envolver com esse lunático! Após pensar isso, o homem rapidamente se preparou para sair, enquanto ignorava a saudação do rapaz, mas a próxima mensagem o fez parar em seus passos.
“Está fugindo? Entendo, então é assim que paga alguém que salvou sua vida.”
Travando no lugar, Johnathan apertou os punhos com força, numa mistura de vergonha e raiva. Por mais que odiasse, tinha que admitir que ele e o restante de seus homens só haviam sobrevivido graças as estratégias malucas de Fernando durante a batalha de retomada.
Se o Batalhão Zero não tivesse chamado a atenção das tropas inimigas ao criar o chamariz por meio daquele corredor, enquanto, ao mesmo tempo, Fernando ordenou um bombardeio de apoio usando as Balistas Explosivas, muito provavelmente sua Brigada e as demais na linha de frente teriam sido totalmente dizimadas.
“O que você quer?!” perguntou, por meio de uma mensagem.
“Não permita que eles me matem por ao menos dois minutos. Se fizer isso, pode considerar nossa dívida paga.”
Lendo essa mensagem, Johnathan ficou confuso. Mesmo que Amélia fosse uma Administradora Júnior, ela não poderia ordenar a morte de um Tenente Nomeado sem motivos.
“Do que você está falan…” Antes que o homem pudesse enviar a próxima mensagem, um som agudo foi ouvido.
Crack!
E-ele não poderia ter…
De repente, o rapaz pálido largou o corpo da recepcionista que havia o insultado, após quebrar seu pescoço. Ao ver isso, a expressão de Johnathan escureceu.
Mesmo que soubesse que o rapaz era um louco após presenciar com seus próprios olhos a estratégia do corredor de sangue, usada contra os Orcs, jamais imaginou que seu nível de insanidade chegaria ao ponto de ousar derramar sangue dentro do Salão da Recepção em frente a uma Administradora Júnior!
“Você perguntou quem eu sou. Eu sou Fernando, Tenente do Batalhão Zero dos Leões Dourados!” O rapaz pálido exclamou, com a voz alta.
“Parem ele, matem esse lunático!” Amélia gritou, de forma frenética.
Após dizer isso, o jovem Tenente lançou duas magias, ferindo as outras duas recepcionistas.
Os dois Capitães Combatentes, que antes estavam calmos, correram em sua direção furiosamente.
Johnathan olhou para aquilo tudo em descrença. Se ele apenas ignorasse o pedido do rapaz, poderia apenas sair daquele lugar e sua dívida já não faria mais sentido, pois o Tenente seria definitivamente morto.
Ele estava seriamente pensando em fazer isso, porém, quando olhou na direção dele e viu sua expressão resoluta, não pôde evitar apertar os punhos com raiva.
Esse merdinha, ele nem sequer pisca! Como ele pode estar tão certo de que eu vou me meter nessa confusão só por causa de uma dívida passada? pensou, cheio de raiva.
Diferente de Fernando, que não só possuía uma Tropa Nomeada, como tinha o apoio de um General, ele próprio não tinha nada disso, era apenas um simples Capitão Estacionário de uma cidade qualquer que foi jogado no moedor de carne da guerra e tinha que torcer para conseguir sair de lá vivo com seu pessoal. Se ele enfurecesse um Administrador do Salão de Garância, sua situação que já estava péssima se tornaria ainda pior.
“Morra!” Um dos Capitães Combatentes gritou, quando varreu com sua espada, com a intenção de partir o rapaz pálido ao meio. Ao lado, o outro Capitão Combatente seguiu de perto, pronto para fazer seu movimento caso o alvo desviasse ou defendesse. Simplesmente não queriam permitir qualquer oportunidade de sobrevivência ao rapaz.
Apesar da morte iminente bem diante de seus olhos, a expressão do jovem Tenente não mudou, pelo contrário, havia um ar de calma e frieza em sua face.
Ting!
Quando a lâmina do Capitão estava há apenas meio metro de distância, um som agudo soou, quando outra espada parou o ataque.
“O quê?!” O Capitão Combatente exclamou, quando viu um homem caucasiano, com cicatrizes no rosto, parando seu ataque.
“É melhor esquecer sobre tocar nesse cara. Pelo menos não enquanto eu estiver aqui.” Johnathan exclamou, com uma voz aparentemente irritada.
Vendo a insígnia de Capitão Comandante, ambos os homens hesitaram, afastando-se alguns passos.
“Como sabia que eu ia te defender?” Johnathan perguntou, com a voz baixa, em direção ao rapaz pálido, que ainda mantinha um rosto calmo.
“Eu não sabia.” Fernando respondeu, como se não fosse nada de mais.
“Você… é realmente pirado!”
Isso fez o sujeito, que já estava irritado, ficar ainda mais frustrado.
Vendo a reação do homem, o jovem Tenente deu de ombros.
“Eu não tinha certeza se me ajudaria. Mas pela pouca interação que tivemos durante a última ocasião, eu tive a vaga sensação de que você faria isso.”
“Por quê? Nós nem nos conhecemos direito.” Johnathan perguntou, olhando de canto de olho para ele, enquanto observava seu rosto.
“Se você fosse um covarde ou alguém que não tem honra, teria simplesmente abandonado a Sexta Brigada e as demais naquele dia e recuado. Mas você não só não fez isso, como ainda tomou para si o comando da Sétima que perdeu seus Comandantes. Alguém assim não é do tipo que foge das suas responsabilidades.” respondeu, com uma voz calma, mas cheia de confiança em sua afirmação.
Ouvindo isso, a expressão de Johnathan mudou, quando sentiu uma estranha sensação. O sujeito não pôde evitar sorrir levemente com a resposta inusitada.
Mesmo quando foi enviado de sua cidade natal para a guerra, ninguém se importou com ele ou lhe deu algumas palavras de conforto. E até quando fez de tudo para manter sua posição na batalha de retomada, ninguém, com exceção de seus subordinados, o agradeceu ou o elogiou. Mas agora um Tenente, alguém que em tese estava abaixo dele, estava falando de forma tão grandiosa a seu respeito.
Isso lhe causou um certo incômodo e satisfação ao mesmo tempo. O rapaz havia realmente apostado sua vida meramente confiando em suas deduções a seu respeito.
“Você é realmente um desgraçado maluco, mas até que eu gosto disso.”

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