Índice de Capítulo

    Uhhhhh!

    Após cerca de meia hora de voo, o sopro do vento gelado da noite contra seus rostos e a escuridão total da floresta abaixo fizeram Fernando sentir-se inquieto, como se algo ruim pudesse saltar a qualquer momento da mata e agarrá-los. Mesmo com sua Visão Escura ativa, ele não conseguia perceber nada abaixo devido às altas e densas copas das árvores.

    O jovem Tenente também sentiu-se cansado, pois esse estava sendo o voo mais longo que ele havia feito. Mesmo com seu controle refinado, hora ou outra sua velocidade vacilava, obrigando Raul e Lerona a desacelerarem.

    “Aguente mais um pouco moleque, logo iremos sair do raio de patrulha da cidade e poderemos descer.” O sujeito moreno disse, com a voz calma, sabendo que o Tenente já deveria estar próximo de seu limite.

    Mesmo que Fernando tivesse um controle mais fino que o dele, o sujeito sabia que a diferença qualitativa do mana de um Tenente e um Capitão era alta. Ou seja, a quantidade de energia gasta por um Tenente era muito maior, o que lhe dava uma menor autonomia de voo.

    O próprio Fernando ficou surpreso ao olhar para Raul.

    Esse cara, ele mal aprendeu Magia de Voo e já consegue se manter por tanto tempo? pensou, surpreso com a estabilidade e facilidade do sujeito em se manter.

    Apesar de poder facilmente reabastecer seu Mana com a Pedra, o jovem Tenente sabia que não poderia usar isso de forma desnecessária, ainda mais na frente de Raul e Lerona, que eram dois Capitães extremamente inteligentes e perspicazes.

    A Capitã ruiva viu que Fernando estava começando a suar frio e se voltou para o sujeito moreno.

    “Vamos descer agora.” declarou, com firmeza.

    Ouvindo isso, Raul franziu o cenho.

    “Garotinha, eu estou no comando dessa missão, então eu digo quando iremos ou não fazer algo.” falou, sem se importar.

    Garotinha? Lerona pensou, surpresa com a ousadia de Raul. Ela já não estava tão longe de seus quarenta anos e talvez fosse até mais velha que ele. Mesmo assim, o sujeito se atrevia a chamá-la dessa forma.

    Apesar disso, ela não se enfureceu. Como alguém que se criou no meio militar, ela estava acostumada a esse tipo de tratamento. Lidar com homens arrogantes e burros já fazia parte de seu arsenal de técnicas e o sujeito moreno parecia o tipo mais problemático.

    “Ou descemos agora, ou ele precisará beber Poções de Mana.” afirmou, com uma voz incisiva.

    Como estariam numa viagem longa, precisariam ao máximo evitar poluir seus manas com Poções, mantendo seu uso apenas em situações de emergência. Logo, se Fernando bebesse uma Poção de Mana apenas meia hora depois de saírem de Garância, isso os prejudicaria e muito a longo prazo.

    Tch! Essa sua babá é irritante, moleque. Talvez ela devesse trocar suas fraudas também.” Raul falou, sem qualquer etiqueta. “Estamos descendo!”

    Lerona apenas ignorou o comentário, sabendo que havia vencido, então diminuiu sua velocidade, acompanhando a do Tenente.

    Enquanto isso, o próprio Fernando apenas sorriu ironicamente, sem se atrever a se meter no embate dos dois Capitães.

    Essa vai ser uma viagem longa… pensou, suspirando.

    Algum tempo depois, os três pousaram numa clareira na floresta. O grupo mal tocou seus pés no solo, quando sons de chiado e zumbido começaram a soar de todo lado.

    Ao ver isso, Raul franziu o cenho.

    “Que porcaria… Esse é um território de Espigões! Se protejam!” gritou.

    Assim que o sujeito falou isso, vultos rápidos apareceram de todos os lados circulando em torno dos três, mal lhes dando tempo de sacar suas armas.

    Swish! Swish!

    Várias pequenas criaturas redondas e cinzentas, do tamanho de bolas de tênis, pularam de um ponto ao outro, numa velocidade assustadora, então várias delas saltaram ao mesmo tempo, em direção aos Humanos que invadiram seu território.

    Com um balanço largo, Raul cortou três coisas em pleno ar, enviando metades de seus corpos para todos os lados.

    Ao lado, Lerona varreu com sua lança, perfurando cada uma das coisas que saltavam de um lado ao outro, usando as árvores como apoio. Flashes de luz de sua lança logo inundaram por todas as direções.

    Swish! Perfura! Perfura!

    Vendo os dois Capitães se movendo em uma velocidade sobre-humana, Fernando ficou estático, observando com atenção.

    Ele já havia visto Capitães lutando antes, mas ainda, sim, não pôde deixar de admirar as técnicas de ambos, que eram tão distintas uma da outra. Enquanto Raul tinha um estilo mais bruto que dependia de força e poder, Lerona parecia usar movimentos rápidos e precisos, cheios de técnica.

    Enquanto estava distraído observando, de repente, uma das coisas, que passou pelas costas de Raul, pulou em sua direção.

    Sem hesitar, Fernando atacou com sua espada Formek, num movimento de estocagem.

    Perfura!

    Crehh!

    A coisa saltou diretamente para sua espada, atravessando seu pequeno corpo nela e ficando presa a lâmina, então passou a se contorcer de dor, com seus espinhos recolhendo-se e se expandindo, lamentando-se.

    Nesse momento, Fernando finalmente pôde observar aquilo com calma, aproximando seu rosto. Parecia uma espécie de bola maciça feita de micro-espinhos móveis, que ficavam flexíveis ou rígidos conforme a vontade da coisa.

    Raul que estava prestando atenção, deu um leve sorriso ao ver isso.

    “É melhor não deixar esses espinhos te furarem. Ou você está ferrado!” falou, rindo alto, enquanto cortava as coisas uma após a outra.

    O senhor Raul claramente deixou aquilo passar de propósito… Ele não poderia ao menos tentar disfarçar? Fernando pensou, suspirando.

    Mesmo sabendo que o sujeito tinha o objetivo de treiná-lo, não gostava muito de seus métodos, tendo péssimas lembranças a respeito. Principalmente ao se lembrar de como ele havia o enganado uma vez para consumir veneno ou quando o espancou quase até a morte.

    Após algum tempo, os três finalmente terminaram de lidar com as coisas, deixando um chão repleto de corpos cheios de espinhos.

    Fernando tinha um rosto calmo, quando guardou sua lâmina.

    Vendo a atitude despreocupada dele, Raul franziu as sobrancelhas. Não era esse tipo de reação que ele queria.

    “Não baixe a guarda moleque. Essas coisinhas parecem inofensivas, mas houve um tempo que Espigões já foram responsáveis por derrubar tropas inteiras. E cuidado onde pisa, mesmo depois de mortos eles ainda são perigosos.”

    Ouvindo isso, o jovem Tenente assentiu.

    “Não estou subestimando isso, mas depois de observar seus padrões de movimento, não acho que seja tão difícil lidar com essas coisas.” declarou, com uma voz calma.

    Ele nunca tinha ouvido falar de Espigões e não viu nenhuma dessas coisas desde que entraram na Zona Divergente, porém duvidava que algo assim seria capaz de eliminar uma tropa inteira.

    Lerona logo interveio:

    “Ele está falando a verdade. O caso de um Esquadrão eliminado por essas coisinhas é bem conhecido. Eles não consomem carne Humana e a toxina deles não mata, mas paralisa alguém por dias, tornando aqueles afetados presas fáceis para outras criaturas. O indivíduo fica acordado o tempo todo e é devorado ainda consciente, então não é uma morte tranquila.” explicou, destacando o quão cruel seria o fim de alguém afetado por isso. “Quando se está numa formação compacta, se torna praticamente impossível defender-se deles. Foi por causa desse caso que as Legiões passaram a adotar formações mais abertas em florestas.”

    Ouvindo tudo aquilo, Fernando ficou impressionado, não imaginando que coisas tão minúsculas pudessem ser tão impressionantes ao ponto de fazerem Legiões inteiras mudarem sua forma de agir, então agachou-se, cutucando alguns dos corpos com a ponta de sua espada.

    Uma toxina que paralisa alguém por dias. Parece perigoso, mas também pode ser útil. pensou, quando, sem hesitação, moveu o pulso, recolhendo todos os corpos para uma Pulseira de Armazenamento.

    “Ei pivete, o que você vai fazer com isso? Se estiver pensando em usar em suas espadas, é melhor não. Um simples arranhão ou toque descuidado disso e você está na merda.” Raul alertou.

    “Nada demais, apenas vou levar como um souvenir.” afirmou, de forma despreocupada.

    Desde que havia chegado em Avalon, o rapaz pálido sempre tinha a mania de reunir e guardar materiais que parecessem valiosos ou que lhe chamassem a atenção, ao ponto que ele já tinha diversas Pulseiras cheias de coisas aleatórias.

    Apesar de sentir que estava se tornando um acumulador, Fernando ainda mantinha esse hábito, já que tinha várias Pulseiras a seu dispor e acreditava que algo dali poderia ser útil algum dia.

    “Bem, tanto faz, vamos andando. A partir daqui, vamos manter um ritmo apertado. Por sinal, garoto, você não aprendeu nenhuma outra Habilidade de Movimento além da que te ensinei?”

    “Outra Habilidade de Movimento? Por que eu faria isso?” perguntou, com uma expressão estranha. De seu ponto de vista, uma já era suficiente.

    Ouvindo isso, Raul balançou a cabeça, parecendo decepcionado.

    “Você não está exatamente errado, mas não é bem assim que funciona. Habilidades de Movimento são divididas em três tipos, cada uma com uma função específica, sendo elas Explosão, Agilidade e Cadência. As do tipo Explosão são mais adequadas para impulsos rápidos e explosivos, indo de um ponto ao outro em intervalos curtos. Apesar de poderosas e rápidas, são o tipo mais previsível, já que é muito difícil de alterar a rota de impulso. Por sinal, os Passos Tirânicos entram nessa categoria.” explicou, enquanto caminhava. “O segundo tipo é Agilidade, Habilidades desse tipo focam em movimentos erráticos, leves e versáteis, ideal para emboscadas ou para confundir o oponente, é muito usada por Usuários de Habilidades que se especializam em assassinatos e espionagem. E por fim, Cadência, que envolve técnicas de passos constantes e rítmicos. É muito útil para percorrer longas distâncias sem gastar muita energia ou mana, mas não é muito adequada para combate.”

    Fernando ficou impressionado ao ouvir tudo isso. Mesmo que ele estivesse se esforçando para aprender mais sobre Habilidades ou Magias e tivesse lido em alguns livros a respeito mencionando que havia vários tipos, nenhum deles entrava em detalhes, o que lhe causava um certo incômodo. Sendo assim, a explicação de Raul sanava várias das suas dúvidas.

    Lerona também ficou impressionada, mesmo que o sujeito fosse bruto e sem educação, parecia ser um bom professor.

    “Que estranho, não encontrei nenhuma informação sobre isso.” disse, levando a mão ao queixo, intrigado. Da forma que Raul havia dito, não parecia ser um grande segredo ou algo tão importante.

    “Hahaha! Garoto, você realmente espera encontrar informações importantes sobre Habilidades no território dos Leões Dourados? Isso não vai acontecer tão fácil! Eu precisei visitar o domínio de outras legiões e o mercado negro para aprender a maior parte do que sei.” falou, cheio de orgulho.

    Ouvindo isso, Lerona olhou para o sujeito com um olhar de desaprovação. Que tipo de Capitão de uma Legião se orgulharia de frequentar lugares como o mercado negro?

    “Que foi? Tá com fome?” O sujeito moreno falou, ao notar seu olhar.

    “Humph!” A mulher ruiva apenas o ignorou, enquanto tentava manter a calma.

    “Então, para uma viagem como essa, uma Habilidade de Movimento do tipo Cadência seria a mais adequada? Mas não é um desperdício ter múltiplas habilidades semelhantes?” Fernando perguntou.

    De seu ponto de vista, mesmo que cada tipo tivesse seus prós e contras, no fim, todas tinham funções parecidas. Usar mais de um slot de Habilidade nisso parecia um grande desperdício.

    “É por isso que eu disse que você não está exatamente errado. Alguns Usuários de Habilidades preferem manter apenas um tipo e refiná-la ao máximo, outros optam por aprender um tipo de cada, para usá-la em cada situação específica.”

    “E qual é a melhor opção?” Fernando indagou, pensativo.

    “Isso é algo que nem eu tenho certeza. Você terá que decidir qual vai ser sua estratégia por conta própria.” Raul respondeu, dando de ombros, fazendo o rapaz pálido imergir em pensamentos. “Enfim, foi uma boa pausa, mas precisamos nos apressar. Com ou sem Habilidade de Cadência, vamos colocar essas pernas para funcionar! Se não quiserem ficar para trás, é melhor se esforçarem!” Ao falar até aí, o corpo dele começou a emanar uma densa névoa vermelha, quando explodiu em velocidade.

    BOOM!

    “O que esse idiota…!” Lerona finalmente explodiu, cheia de raiva.

    Mesmo que estivessem em meio a um Armistício e provavelmente não teriam patrulhas Orcs na região, eles definitivamente não eram o único perigo da Zona Divergente!

    Apesar de indignada, ativou uma série de incrementos físicos, quando olhou para Fernando.

    “Se mantenha perto de mim.” Após dizer isso, disparou na direção em que Raul fora.

    Eles não iam me dar tempo de recuperar meu Mana? pensou, suspirando, quando usou seus Passos Tirânicos, seguindo a dupla de Capitães.

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