Índice de Capítulo

    Apesar de não ligar muito para os rumores ou para a política desse mundo. Fernando resolveu jogar de forma cautelosa.

    Com Theodora ainda machucada, Fernando assumiu a responsabilidade de tomar seu lugar. Ele e Simon deixaram o grupo e esgueiraram-se para o entorno da vila.

    Observando o local de longe, eles viram algumas das pessoas da vila na entrada, pareciam jovens armados com lanças. Levando em conta o quão perigosa a região era, ele achou normal. 

    No entorno da vila, estacas de madeira de mais de três metros estavam fincadas no chão, ocultando e protegendo seu interior.

    Depois de observarem o local por mais uma hora, não houve qualquer movimentação suspeita. Os jovens guardas na entrada estavam alertas, talvez até com medo. 

    Alguns deles mal haviam saído da adolescência. Tendo no máximo 16-17 anos. O que surpreendeu Fernando, pois além de Alaine, essas eram as pessoas mais jovens que ele havia encontrado.

    “Vamos nos reunir com os outros, não há mais nada a ser visto.” Depois de tanto tempo observando o local, Fernando concluiu que eram apenas pessoas normais.

    “Senhor, devo lembra-lo que os rumores sobre esse povo estar envolvido com os Elfos Negros não é recente. Mesmo eu já ouvi algo relacionado.” Simon expressou suas preocupações.

    Fernando estava ciente disso, mas mesmo que houvesse rumores, ele não planejava recuar. 

    Essa missão era o salvaguarda para que seu Esquadrão Zero pudesse continuar existindo. Afinal, Gallia havia o alertado, que se Viktor Yudin retornasse e eles não tivessem méritos suficientes, o mesmo poderia acabar dissolvendo-os.

    Inicialmente Fernando era o ‘protegido’ de Viktor devido ao seu talento, mas depois de ser jogado na prisão por um mês indiretamente por sua causa, era difícil dizer o que se passaria na mente do Capitão da Décima Terceira.

    “Vamos embora.”

    Vendo que Fernando se mantinha resoluto em prosseguir com a missão, Simon não disse nada. Ele já havia dado seu conselho, no final ele era apenas um subordinado.

    Ao ver Fernando e Simon retornando, o grupo que estava descansando em meio a mata se levantou.

    “E então, como foi Fernando?” Emily perguntou de forma curiosa. Afinal, esse era o primeiro contato deles com pessoas de fora de Vento Amarelo.

    Além de Emily, muitos dos outros demonstraram interesse. Era claro que todos queriam saber da situação além da cidade.

    “Não sei os detalhes exatos, devido ao posicionamento da vila, é difícil observar seu interior. Pelo que pude observar, são apenas pessoas normais. Vamos ter que ver por nós mesmos para ter certeza.”

    “Eu espero que tenham gatinhas por lá, Fernando, se eu me casar com alguma garota, então vou apresentar minha aposentadoria adiantada.” Lance falou em tom de brincadeira.

    “Como se alguém quisesse casar com um paspalho como você.” Emily respondeu.

    “Tá duvidando das minhas habilidades? Não me culpe se eu te fizer se gamar em mim.” Lance falou com o nariz empinado.

    “Ugh, acho que está funcionando, eu sinto o charme me atingindo, de repente senti vontade de apertar esses glúteos.” Ronald falou, se aproximando de Lance.

    “Sai pra lá! Eu não corto pra esse lado!”

    Todos riram das brincadeiras.

    O grupo bateu um papo furado por algum tempo. Fernando não os apressou. Ele gostava desses momentos de descontração.

    Além disso, depois de tudo que passaram, ele sentiu que todos precisavam disso.

    Depois de conversarem e descansarem por cerca de uma hora, o grupo se preparou para continuar.

    Do local que estavam posicionados até a Vila Lunar foram poucos minutos. Logo o grupo chegou próximo.

    Assim que os jovens na entrada da vila viram o esquadrão se aproximando, entraram em frenesi. Alguns deles correndo para o interior para chamar outras pessoas.

    Logo alguns homens adultos e fortes saíram do vilarejo. Ao contrário dos jovens magros e de aparência fraca portando apenas lanças, os adultos tinham mais músculos e estavam mais bem equipados.

    Assim que o esquadrão chegou a frente da vila, Fernando ordenou que parassem. 

    Logo um velho homem, aparentando cerca de 50 anos, com roupas de couro e um corpo relativamente forte para a idade, tomou à frente.

    “Sejam bem vindos a Vila Lunar, presumo que os senhores sejam os enviados de Vento Amarelo. Eu me chamo Liduín, sou o chefe dessa vila.” O velho disse de forma respeitosa.

    Nesse momento Fernando deu um passo à frente, observando todos, inclusive o velho homem, com um olhar inexpressivo.

    “Eu me chamo Fernando Nobrega, Cabo do Esquadrão Zero, Décima Terceira Guarnição de Vento Amarelo.” Fernando falou, em um tom nem arrogante, nem simpático demais.

    “Senhor Fernando então, eu como chefe da vila, dou meus sinceros agradecimentos por prestarem auxílio a nós.” O velho disse de forma humilde.

    “Não é nada demais, é apenas nossa obrigação.” Fernando respondeu educadamente.

    Depois de dizer isso, o velho convidou Fernando e seu esquadrão para descansarem dentro da vila. 

    De início ele ficou hesitante, se apenas entregasse os mantimentos e partisse, a missão já poderia ser considerada concluída, mas por algum motivo a situação dessas pessoas deixou Fernando curioso, e ele não era o único.

    Karol, Emily e as garotas pareciam interessadas em conhecer o lugar.

    Sendo guiados pelo velho homem, todos entraram na Vila Lunar. Assim que passaram pela entrada puderam ver uma multidão de rostos curiosos. Crianças, mulheres, rapazes e idosos.

    Além da curiosidade, uma coisa era comum em todos eles. A desnutrição.

    Todos ficaram abismados com a situação, as crianças estavam praticamente esqueléticas. As mulheres, idosos e jovens não eram muito diferentes. nenhum deles conseguia imaginar quanta fome essas pessoas passaram para chegar nesse estado lastimável.

    Mesmo Fernando, que estava endurecido por esse mundo cruel, se sentiu mal ao ver a situação das crianças de 10-12 anos.

    A única exceção a desnutrição eram os homens adultos, todos estavam fortes e bem alimentados. Fernando franziu a testa ao ver isso. 

    “Vocês devem estar se perguntando porque todos estão tão magros, enquanto alguns poucos estão saudáveis e fortes, certo?” O velho chefe da vila falou.

    Fernando não respondeu, mas lançou um olhar frio ao velho, já que ele era um dos que estava em bom estado de saúde.

    “Eu entendo seus preconceitos, mas vocês tem que entender, apenas os guerreiros mais fortes conseguem sair e conseguir alimento. Além de defender a vila de ataques de bestas. Se deixarmos esses guerreiros passar fome também e ficarem enfraquecidos, então esse será o nosso fim.” O velho falou de forma melancólica.

    “Nós persistimos nos últimos dois meses, na esperança de que Vento Amarelo mandasse ajuda. Já estávamos perdendo as esperanças, mas vocês chegaram. nossas preces foram atendidas.” O velho falou quase chorando.

    Depois de quase derramar algumas lágrimas, o velho se recuperou.

    “Venham, por favor, temos poucas casas na vila, mas iremos providenciar cinco residências para vocês descansarem.”

    “Não, isso não é necessário agora.” Fernando respondeu. Então se aproximou de uma garotinha, seus olhos eram verdes e seus cabelos castanhos. Ela estava tão magra que ele nem sabia como conseguia se manter de pé.

    A pequena garota tremia, não de medo, mas de fome. Seus lábios secos e enrigecidos.

    Sem pensar duas vezes, Fernando moveu o pulso, então um pão recheado com uma garrafa de coura cheia de água apareceu em suas mãos.

    “Coma.”

    Vendo o pão na mão de Fernando, os olhos quase sem vida da menininha se arregalaram. Ela olhou para Fernando, depois para sua mãe e depois para o pão, hesitando se poderia aceitar.

    Sua mãe acenou com a cabeça. Vendo a aprovação de sua mãe, a pequena garota agarrou o pão das mãos de Fernando, colocando em sua boca e mastigando de forma voraz.

    “Devagar. Se você comer muito rápido seu corpo irá rejeitar o alimento.” Fernando falou com calma.

    Ao ouvir isso, a menina parou as grandes mordidas, então passou a beliscar de leve o pão, enquanto dava alguns goles na garrafa de água.

    Vendo isso, Fernando sorriu.

    Karol, Emily e os outros ficaram surpresos, eram raros os momentos em que viam Fernando sorrir de forma tão espontânea.

    Ao olhar em volta, Fernando viu dezenas de olhos famintos encarando o pão nas mãos da garota.

    “Distribuam alimentos.” Ele falou em direção aos seus companheiros.

    Alguns pareciam hesitantes, mas como foi uma ordem de Fernando todos se dividiram em duplas e trios e começaram a distribuir porções de comida para as pessoas da vila.

    Não eram os alimentos da Caixa de Armazenamentos que estavam transportando, mas de seu próprio estoque de mantimentos.

    Enquanto as pessoas do vilarejo se alimentavam, Fernando e o velho entraram numa das barracas.

    “Eu não tenho palavras para responder a esse gesto de bondade, senhor.” Liduín disse, cheio de emoção, enquanto se sentava à mesa, Fernando se sentou do outro lado.

    Agora na sala só com ele e o velho homem, Fernando voltou a manter sua face inexpressiva.

    “Pode me agradecer respondendo qual a relação de vocês com os Elfos Negros.” Fernando falou de forma casual, mas ao ouvir essas palavras os olhos de Liduín se arregalaram.

    “Nós não temos quaisquer relações com os Elfos Negros! Eu dei meu depoimento ao Salão da Recepção na última vez que eles vieram aqui, por que vocês não acreditam?!” O velho homem falou de forma exaltada, batendo com o punho na mesa.

    Fernando se manteve calmo, indiferente as ações do homem.

    “Me perdoe, eu me exaltei.” Liduín falou, depois de perceber o que havia feito.

    “O que você diz não importa, Vento Amarelo acredita que vocês tem alguma relação com os Elfos Negros, deve existir motivos para isso.” Fernando falou num tom firme, tentando conseguir informações.

    O velho olhou nervosamente para Fernando ao ouvir o que ele disse.

    “Então era mesmo por isso… Por isso a ajuda demorou tanto…”

    Fernando se manteve em silêncio.

    “O que houve é… Como estamos numa área muito próxima das terras dos Elfos Negros e nunca fomos atacados, as autoridades de Vento Amarelo sempre se mantiveram desconfiadas em relação a Vila Lunar, mas apesar disso, a ajuda sempre veio. Mas tudo mudou há um ano atrás…” Liduín fez uma pausa.

    “O que houve?” Fernando disse de forma séria.

    “Há um ano, um pelotão de Vento Amarelo foi aniquilado na região próxima. E aquilo foi só o começo. Muitas tropas na região foram mortas e caçadas pelos Elfos Negros, mesmo algumas das tropas que traziam alimentos para nossa vila foram embocasdas. mas apesar disso, os Elfos nunca nos atacaram, nem uma unica vez. Devido a isso alguns Oficiais começaram a afirmar que tínhamos acordos secretos com as tropas élficas, passando informações em troca de proteção.”

    “E isso tem algum fundo de verdade?” Fernando perguntou.

    “Não! Absolutamente não! Jamais trairíamos a Legião dos Leões Dourados!” O homem falou em pânico.

    “Sério? Se eu estivesse na situação de vocês, talvez eu tivesse traído.” Fernando falou casualmente.

    Ouvindo aquilo o velho arregalou os olhos, não acreditando que um Cabo dos Leões Dourados estava dizendo aquilo.

    “Afinal, para deixar um bando de homens, mulheres e crianças nesse fim de mundo, bem na linha de frente com inimigos. O Salão da Recepção nunca esperou que vocês sobrevivessem, certo?”

    Ouvindo aquelas palavras, os olhos do homem ficaram vermelhos e levemente marejados. Ele apertou os punhos com força. Como se seu ponto fraco fosse completamente exposto.

    “Eu vou ser bem claro, eu não me importo com os conflitos entre a Legião dos Leões Dourados e os Elfos Negros, nem me importo se você os traiu ou não. Eu só vim trazer um pouco de comida para um povo esfomeado. Eu não quero problemas, então é melhor você não esfaquear a única mão amiga que recebeu.” Depois de dizer isso, Fernando se levantou e saiu, deixando Luduín sozinho na pequena casa.

    O velho olhou para a saída com uma expressão cheia de conflito.

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