Capítulo 126 - Minha lealdade
Depois de sair da casa do velho Liduín, Fernando deu uma volta pela vila.
Ao contrário de suas expectativas, a vila não parecia ‘morta’, mesmo com a fome. Depois de receberem comida, as pessoas pareciam muito mais animadas.
Fernando viu Karol e Emily brincando com algumas crianças.
As crianças e Emily estavam sentadas no chão em círculo. Enquanto Karol estava em pé dando algumas voltas em torno delas, até que ela discretamente colocou uma garrafa de água atrás de uma delas.
Assim que o garotinho percebeu a garrafa atrás de si, se levantou e correu atrás de Karol, ambos dando voltas em torno do círculo de crianças, até que Karol se sentou no lugar que o garoto estava.
“Agora é sua vez!” Karol disse rindo, as outras crianças e Emily também riram junto.
Fernando não conseguiu evitar abrir um sorriso ao ver a cena.
Quando as duas garotas perceberam Fernando às observando discretamente, acenaram para ele. As crianças repetiram o que as garotas fizeram e acenaram também.
Nesse ponto todos sabiam que ele era o responsável por trazer a comida à vila, então todos respeitavam muito Fernando.
Ele levantou a mão e acenou de volta. Depois continuou andando, não querendo atrapalhar a diversão das duas.
Enquanto andava pela vila, Fernando percebeu que o local era bem pequeno, tinha no máximo cinquenta casas.
Ele estimava que a população da vila não chegava a 150 pessoas. Apesar de ter sentindo um pouco de raiva em relação ao chefe da vila, por não alimentar adequadamente as crianças, mulheres e jovens. Fernando tinha que admitir que entendia as dificuldades dele.
Alimentar cerca de 150 pessoas nesse mundo cheio de animais e bestas perigosas, era algo realmente difícil.
De repente ele se lembrou de algo. Enquanto vinham para a vila, haviam guardado os corpos de muitas das bestas que mataram, já que não tinham tempo de retirar seus cristais.
Fernando pensou em doar a carne dessas bestas para a Vila Lunar, já que não tinha serventia alguma para ele e os outros.
Também havia algum estoque de alimentos nas Pulseiras de Armazenamento dos guardas de Bob William´s. Ele planejava doar tudo ao povo da Vila Lunar. Isso somado a Caixa de Armazenamento cheia de alimentos que eles trouxeram deveria ser suficiente para alimentar todos por um longo tempo.
Fernando encontrou Noah pouco depois da ideia e pediu que ele providenciasse tudo. Como eram muitos animais mortos, eles colocaram tudo em Pulseiras de Armazenamentos que haviam obtido do saque anteriormente, pois os alimentos guardados nelas não iriam se deteriorar facilmente.
“E então, o que descobriu?” Fernando perguntou em direção a Simon, que estava encostado na parede da muralha de estacas.
Apesar de sentir pena dessas pessoas, ele ainda não confiava nelas.
“Estou monitorando a saída da vila, por hora ninguém entrou ou saiu. Se eles quiserem vazar alguma informação a nosso respeito, teriam que fazer durante a noite.”
Fernando assentiu depois de ouvir isso.
“Vou deixar esse assunto nas suas mãos”
Com isso ele continuou caminhando pela vila, por onde passava as pessoas o agradeceram ou se curvaram, mostrando respeito. Fernando ficou incomodado com isso, mas não havia muito o que fazer.
Enquanto observava o comportamento delas, percebeu que era muito incomum. Então resolveu fazer algumas perguntas a uma das pessoas que vieram agradecê-lo pelos alimentos. Um jovem de cerca de 20 anos.
“Senhor, muito obrigado por tudo! Se precisar de algo da Vila Lunar, tenho certeza que o chefe concordara em ajudar.” O rapaz disse de forma humilde.
Fernando assentiu.
“Você se importa se eu fizer algumas perguntas?”
O rapaz ficou confuso com isso, mas concordou. Ele não teria como negar qualquer coisa que o salvador da vila pedisse.
“Há quanto tempo a Vila Lunar existe?”
“Isso… eu não sei exatamente, mas vivo aqui desde que nasci.”
Ao ouvir isso, a expressão de Fernando mudou.
“Todas as pessoas da vila nasceram aqui?”
“Não, às vezes algumas pessoas vêm de fora, dizem que são pessoas rejeitadas pela Legião dos Leões Douradas, mas isso acontece raramente. No máximo uma vez a cada poucos anos, e eles raramente costumam sobreviver muito tempo, já que as caçadas são muito perigosas para essas pessoas fracas.”
Ao ouvir isso Fernando entendeu, devido a localização distante seria realmente raro recrutas expulsos chegarem nesse local passando por tanto perigo, a maioria deveria morrer nas mãos das bestas.
“Você ja viu um Elfo Negro?”
Ao ouvir isso, a expressão do jovem ficou pálida.
“N-não senhor.”
Fernando viu um traço de medo no rosto do rapaz. Mesmo que ele tenha negado, a verdade estava escrita em seu rosto.
Ele ignorou a mentira do jovem e continuou fazendo perguntas, parando apenas quando o rapaz parecia ansioso com os olhares das pessoas da vila.
Apesar de não ter esclarecido tudo que queria, Fernando entendeu muitas coisas com as respostas dele.
Ele entendeu que não era recente a vinda de humanos para Avalon e muitas pessoas nasciam nesse mundo sem saber nada ou quase nada da Terra. O jovem também contou a respeito de boatos que ouviu, que no geral, as pessoas nascidas em Avalon tinham muito menos talento que os ‘vindos de fora’. Por isso eram desprezadas pelas Legiões.
Apesar de querer se aprofundar mais nessas questões, o conhecimento do jovem era muito limitado. Afinal, tudo que ele ouviu foi da boca de terceiros. Eram informações pouco confiáveis, mas mesmo com isso, cada uma delas o deixou surpreso.
Durante a noite, as pessoas da vila ficaram agradecidas com a carne de bestas que o Esquadrão Zero doou, então fizeram uma grande fogueira e assaram carne para todos.
Muitos membros do esquadrão conversavam e riam com as pessoas da vila.
Fernando se sentou em um banquinho de madeira, enquanto comia uma massa frita que trouxe. Apesar de sentir que a sinceridade das pessoas era real, ele ainda ordenou que ninguém comesse qualquer alimento que não tivesse vindo de suas pulseiras.
A aura distante de Fernando fez com que poucas pessoas da vila se aproximassem dele, mesmo que hora e outra algum deles viessem oferecer alimento, ele recusava.
Durante a comemoração, o povo dançou e cantou. Alguns do esquadrão até se juntaram a cantoria, como Lance, Archie e outros.
No final, Fernando se retirou para uma das casas que haviam sido oferecidas. Devido a insistência de Simon e alguns outros, ele acabou ficando com uma casa para si mesmo, enquanto os outros dividiram as residências entre si. Dormindo de 4-5 pessoas por casa.
Fernando estava deitado numa cama, na pequena casa escura, iluminada apenas por algumas velas que ele mesmo trouxe, já que a vila não tinha qualquer coisa do tipo.
Então ouviu a porta sendo aberta lentamente. Karol entrou, fazendo o máximo de silêncio possível.
“Não precisa andar nas pontas do pé, ainda estou acordado.” Fernando disse com um sorriso, achando engraçado.
“Ah é, então vou fazer algum barulho.” Karol se jogou na cama, rindo.
“O que achou desse lugar?” Fernando perguntou, enquanto passava a mão nos cabelos de Karol.
“Apesar de ser bem primitivo, realmente gostei, eu me diverti muito com as crianças.”
Ao ouvir sobre as crianças a expressão de Fernando ficou um pouco estranha.
“Você não acha estranho, que em Vento Amarelo raramente vemos alguma criança?”
Karol pensou um pouco, então concordou.
“Realmente, é estranho. Por que você acha que isso acontece?!
“Eu ouvi um rumor hoje cedo, mas é difícil dizer se é verdade. Aparentemente a cidade de Vento Amarelo deveria ser a fortaleza final do norte, por isso que tem tantas tropas estacionadas. Então poucos civis são permitidos viverem lá, para evitar que a população aumente demais e cause problemas com alimentação, o Salão proibiu que as pessoas tivessem filhos sem autorização.” Mesmo sendo um rumor, Fernando pensou que havia sentido.
Karol ficou surpresa ao ouvir isso.
Ambos conversaram mais um pouco, mas logo Karol acabou dormindo.
Fernando queria conversar um pouco mais, ou talvez fazer algo além… mas ela acabou dormindo.
Ele não a culpava, com essa viagem extenuante que deixou todos com os nervos à flor da pele, era realmente normal estar com a mente e corpo exaustos.
Fernando então sentiu vontade de usar o banheiro, ele ouviu que havia casinhas externas para isso.
Ele se levantou bem devagar, para não acordar Karol. Então caminhou em direção a porta. Quando saiu havia apenas escuridão para todos os lados, com apenas algumas tochas iluminando ao longe, na direção dos portões.
Apesar da escuridão, isso não representava um problema para ele, com sua Visão Escura ativa, era fácil enxergar tudo que estivesse próximo.
Quando estava a poucos passos do banheiro, Fernando sentiu algo.
Com um movimento de pulso, sua Kilrayzer apareceu em sua mão.
Swish!
Virando-se rapidamente, ele estava prestes a cortar em direção a onde sentiu uma presença, mas sua espada parou a poucos centímetros da pessoa.
“Oi, líder.” Theodora disse com um sorriso brincalhão.
Fernando franziu a testa ao ver quem era.
“O que você está fazendo?! Eu poderia tê-la machucado por engano!” Fernando falou, irritado.
Ignorando as palavras de Fernando, Theodora se aproximou dele, envolvendo seus dois braços em torno de seu pescoço.
“Líder, eu já me decidi.” Theodora falou num tom sedutor.
“Decidiu o que?” Fernando respondeu, incomodado com os braços dela em volta de seu pescoço.
“Eu, Theodora Crass, sou sua. A partir de hoje, você pode me usar da forma que quiser.” Depois de dizer isso, ela beijou Fernando.
Fernando queria afastá-la, mas achou difícil fazê-lo. No fim, Theodora vagarosamente tirou seus lábios dos dele, deu um passo para trás e se ajoelhou.
“Minha lealdade é toda sua.”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.