Capitulo 181 - Argos

Enquanto todos estavam alinhados, prontos para uma batalha, Fernando levantou a mão, indicando que se acalmassem. Então ficou silenciosamente encarando a mata, até que uma figura surgiu, depois outra, outra e outra, totalizando mais de vinte pessoas.

Um homem se destacava entre as demais pessoas, ele tinha longos cabelos negros, rosto levemente afeminado e olhos penentrantes.

“Você é o Cabo Fernando?” O homem de cabelos negros disse, olhando-o de cima abaixo, como se estivesse analisando-o.

Fernando se surpreendeu, mas assentiu.

“Você deve ser Argos, Cabo do Esquadrão Lazuli. Vocês chegaram antes do previsto.”

O homem não respondeu, mas olhou para as pessoas amontoadas próximos a base da montanha.

“Cabo Fernando, ouvi muito falar de você. A senhora Gallia parece o favorecer muito também. Mas isso não quer dizer que você pode desrespeitar ordens diretas, essas pessoas, o que significa?”

Fernando suspirou consigo mesmo, sabendo que esse momento chegaria. Suas ordens eram de eliminar qualquer um que se aproximasse da mina, mas de seu ponto de vista essa ordem era idiota e ele não a seguiria cegamente.

Então, calmamente explicou a situação para o Cabo Argos, sobre como a Guilda Massacre tentou reivindicar a mina, sobre como eles os emboscaram e depois capturaram os prisioneiros e resgataram as pessoas capturadas.

Os membros do Esquadrão Lazuli tinham diversas expressões, mas a maioria continha ceticismo. Até mesmo Argos levantou uma sobrancelha ao ouvir o relatório.

“Então está dizendo que seu esquadrão emboscou um Pelotão com cem homens da Guilda Massacre e matou ou capturou todos eles, inclusive seus Subtenentes?” O tom de Argos era normal, mas apenas a descrição já fazia a situação soar absurda.

“Hm, isso mesmo.” Fernando assentiu com um rosto inexpressivo.

Cospe!

“Ridículo! Líder, esse sujeito e seu esquadrão de quinta estão tirando com nossa cara. Vamos capturá-los e mandá-los para a prisão!” Um homem gordo com dentes grandes falou.

Fernando levantou uma sobrancelha ao ouvir o comentário, mas não disse nada, ele queria saber qual seria a resposta de Argos.

“Não seja precipitado, Bianco, o Esquadrão Zero é nosso aliado sob o comando da Tenente Gallia. Como veteranos, devemos auxiliá-los e não prejudicá-los.”

Ouvindo isso, Fernando ficou surpreso, o sujeito parecia alguém razoável e calmo.

“Tendo dito isso, Cabo Fernando, ainda é difícil de acreditar em sua história. Além disso, mesmo que seja verdade, essas pessoas… Elas precisam morrer.” Ao dizer isso, o olhar penetrante de Argos ficou mais intenso, ele parecia um falcão olhando sua presa ao observar as pessoas amontoadas na base da montanha. 

A opinião de Fernando sobre o mesmo ser sensato desmoronou tão rápido quanto foi construída.

“O-o que você esta dizendo?! São pessoas inocentes! Por que elas precisariam morrer?!” Karol gritou, cheia de raiva. Mesmo o restante do Esquadrão Zero não conseguia acreditar nessas palavras.

Argos não pareceu afetado pelas palavras de Karol, em sua visão ela não parecia nada além de um soldado comum, que não merecia resposta.

“Enfim, estaremos assumindo a situação a partir de agora, Cabo Fernando, você e seu esquadrão podem retornar a cidade.” Argos disse, uma espada fina apareceu em sua mão, então ele calmamente caminhou em direção às pessoas.

Nesse momento, Fernando entrou em sua frente, olhando-o de lado.

“Qual o significado disso, Cabo Fernando? As ordens são claras, mate qualquer um que se aproximar. Se você tem receio de sujar sua consciência, não se preocupe, nós faremos isso por você. Agora se retire.”

Ainda encarando-o, Fernando balançou a cabeça.

“Eu não tenho receio em matar, Cabo Argos, pelo menos não mais… Porém, apenas quando necessário e visando aqueles que merecem.” Depois de dizer isso, Fernando moveu o pulso, quase uma centena de corpos de homens da Guilda Massacre apareceram ao redor, chocando todos os membros do Esquadrão Lazuli.

Ao ver os corpos, uma expressão de surpresa apareceu pela primeira vez no rosto de Argos, enquanto o restante dos membros do seu esquadrão tinham rostos perplexos.

“Além disso, você entendeu algo errado aqui, Cabo Argos. Temos a mesma patente, sua autoridade não é menor que a minha, logo não preciso acatar ordens de me retirar ou de entregar esses civis a você.”

“I-isso… Isso… Você não, você.” O homem gordo chamado Bianco queria contestar, mas ao ver os corpos ao redor, suas palavras se embaralharam.

Argos se manteve em silêncio, seus olhos penetrantes encaravam Fernando, enquanto seus cabelos esvoaçavam ao vento da brisa noturna.

“Você tem toda razão, Cabo Fernando, então faça como quiser.” disse, guardando sua lâmina.

Fernando ficou surpreso com o quão rápido o homem mudou de ideia, já que parecia firme em sua decisão anteriormente. Independente do motivo, ele suspirou aliviado, seria complicado explicar para Gallia se acabasse tendo uma luta com o Esquadrão Lazuli.

Depois de resolvida a questão, Fernando guardou os corpos novamente dentro das Pulseiras de Armazenamento. Enquanto Argos levou seus homens para a mina, ficando de guarda lá.

Como era noite, seria insensato partir com um bando de pessoas comuns e prisioneiros, então Fernando e os outros optaram por passar a noite.

O Esquadrão Zero, os civis e os prisioneiros ficaram na base da montanha, enquanto do outro lado, perto da mina, o Esquadrão Lazuli montou seu próprio acampamento.

Durante a noite, Fernando ordenou que Theodora e Simon ficassem de olho nos homens de Lazuli, apenas por via das dúvidas. Felizmente, ambos respeitaram o espaço um do outro e nada aconteceu.

Na manhã seguinte, cinco esquadrões comuns chegaram para reforçar a defesa da mina. Junto ao Esquadrão Lazuli e os novos esquadrões, as defesas totalizavam mais de cento e vinte homens.

Argos se reuniu com os Cabos desses esquadrões, enquanto Fernando foi convidado por cordialidade. Os sete Cabos estavam reunidos.

“O nosso colega, Cabo Fernando, conseguiu manter a defesa da mina e repelir o ataque de mercenários contratados, é graças a ele que podemos ter um tempo fácil agora.” Argos falou, com um tom educado e calmo. 

Isso impressionou Fernando, mesmo com o desentendimento da noite passada, o homem não tentou caluniá-lo ou criar problemas, pelo contrário, até o elogiou. Era o extremo oposto das pessoas com autoridade que encontrou até então.

Talvez eu apenas tenha azar de esbarrar em pessoas mesquinhas…

“Impressionante, a Tenente Gallia certamente tem bons olhos, depois do senhor Argos, achou outro talento incrível.” Um velho homem disse num tom bajulador.

“Para um recém esquadrão nomeado, é de fato impressionante.” Outro homem completou.

“Eu acredito que é o mínimo que devemos esperar de um esquadrão nomeado, se fosse o Cabo Argos, tenho certeza que o resultado seria o mesmo ou até melhor.” Uma mulher disse, era a única Cabo mulher no local.

Os outros olharam para ela com olhos de desaprovação, claramente a mulher queria estreitar laços com Argos. O líder do Esquadrão Lazuli tinha uma beleza que fascinava qualquer mulher comum.

Fernando manteve-se em silêncio, como se não tivesse ouvido a alfinetada. Na verdade, ele não parecia sequer se importar, o que rendeu alguma admiração dos outros Cabos no local, devido sua calma.

“Aliás, quantos mercenários eram? E a qual guilda medíocre eles pertencem? Devemos informar ao QG da Décima Terceira e caçá-los até o último!” A mulher esbravejou, cheia de bravura.

Apesar da ação arrogante da mulher, todos queriam saber mais informações, então olharam para Fernando. Vendo que não havia alternativas, ele suspirou consigo mesmo.

“Foi um pelotão de uma guilda chamada Guilda Massacre.”

Quando ouviram essas palavras, a atmosfera fervilhante silenciou-se.

“Hahaha, esse Cabo Fernando sabe fazer uma boa piada.” Um dos homens disse, rindo, logo os demais riram também.

“Não é uma piada…” Ao ouvir o complemento, as risadas cessaram, então todos olharam estranhamente para o jovem Cabo.

“Cabo Fernando, você sabe do que está falando? Sei que você é novo no cargo, mas deveria saber o que significa um pelotão, certo? Um pelotão é composto por cem homens, ou seja, cinco esquadrões.”

“Eu sei.” A resposta simples deixou todos incomodados.

“Além disso, a Guilda Massacre… Ela é uma guilda comparável a uma guarnição.” Outro dos homens completou.

“Garoto, não invente histórias, um relatório falso é passível de punição!” A mulher disse.

“Cabo Fernando, por que não traz um dos prisioneiros para interrogarmos, assim nossos colegas não terão dúvidas.” Argos disse.

Os outros rapidamente concordaram. Fernando se perguntou o que o sujeito queria com isso, afinal, ele já tinha visto uma prova muito mais definitiva. Apesar de pensar isso, deu de ombros, então ordenou que Leo trouxesse um dos prisioneiros.

O prisioneiro estava resistente no começo, mas ao ver Fernando, seu rosto ficou imediatamente pálido e rapidamente colaborou. Os Cabos fizeram uma série de perguntas, cada qual deixou-os mais perplexos.

“Então você está dizendo que realmente vieram como um pelotão e foram emboscados, derrotados e depois capturados?!” Um dos homens perguntou, de forma cética.

“Isso é claramente mentira, capturaram alguns bandidos aleatórios e estão fazendo eles mentir, olha para a cara desse verme quando olha para o Cabo Fernando. Parece que viu um fantasma, claramente foi torturado e ameaçado.” A mulher falou em tom de deboche.

Fernando que sempre se manteve calmo com as indiretas, começou a se irritar.

“Está dizendo que eu estou mentindo?” Quando fez essa pergunta, um clima frio se instalou no local, o tom levemente gelado de Fernando causava calafrios.

A mulher deu dois passos para trás, mas ao ver Argos ao lado, se encheu de coragem

“Estou!”

Crack!

Com um passo na direção da mulher, uma rachadura se espalhou pelo chão, surpreendendo a todos. A mesma se assustou com aquilo. Cada passo de Fernando causava uma sensação de medo.

“O que você está tentando fazer?!”