Capítulo 185 - Devendo um favor
Zzzz! Zzzz!
Fernando acordou com algo vibrando e fazendo um som silencioso, ao olhar para sua Pulseira de Armazenamento, percebeu que vinha de lá.
O que é isso?
Olhando dentro, viu que o Cubo Comunicador brilhava, com um pensamento conectou ele a pulseira.
Autoridade: Cabo Fernando Nobrega, Décima Terceira Guarnição. Vento Amarelo.
Mensagens recebidas: 1
Ordens QG: Em espera.
Negociações: Nenhuma.
Rede de mana: Operante.
Olhando para as informações, percebeu que havia uma mensagem. Isso o surpreendeu, já que nunca havia usado essa função. Com um pensamento, acessou essa parte.
Karius Autierk: Consegui reunir o valor necessário, me traga aquilo.
Quem diabos é Karius? Fernando se perguntou, franzindo a testa, mas seu rosto logo mudou ao lembrar de quem se tratava, o Catador.
Então ele conseguiu… Quanto será que isso vale? pensou, olhando para os restos mortais do Obscuro em sua pulseira.
Logo Fernando se aprontou, descendo para a entrada, alguns dos membros do Esquadrão Zero já haviam levantado e estavam praticando na área de treinamento. Como não queria chamar muita atenção, resolveu sair sozinho.
Algum tempo depois, em frente a uma loja de aparência velha, um jovem estava parado olhando para a entrada.
É melhor esse cara não tentar armar nada contra mim. Depois de conhecer tantas pessoas e adquirir experiência de vida, Fernando já não era o jovem inocente que foi no passado. Pelo contrário, ele agora costumava suspeitar de tudo.
Calmamente empurrou a porta, olhando ao redor, então uma figura disparou em sua direção.
“Cadê, onde está? Deixe-me ver!”
Quando estava prestes a sacar sua arma, notou que era o Catador, mesmo após olhar ao redor não notou mais ninguém, então suspirou consigo mesmo.
“Não saia pulando em direção às pessoas assim, ou pode acabar sendo cortado ao meio.”
Karius estava com os olhos vermelhos e o cabelo desengonçado, como se não dormisse a dias, seu estado era tão confuso que nem prestou atenção no que Fernando disse.
“Tudo bem, você pode ver.” Com um movimento de pulso, retirou a massa negra, esses eram os restos mortais do Obscuro. Ao lembrar de como quase morreu lutando contra essa coisa, um arrepio passou por suas costas.
“Isso… Isso… Incrivel.” Karius disse com uma expressão fascinada.
Assim que estava prestes a pegar, foi interrompido por uma mão que o agarrou.
“Senhor Karius, não está esquecendo de nada? Combinamos que você pagaria o valor de mercado. Você deve saber o quão difícil e raro é o corpo de um Obscuro.” Fernando falou cheio de confiança, mas a verdade é que ele não fazia ideia do valor.
“Eu sei! O que você acha que eu estive fazendo nos últimos dias?? Nem consegui dormir direito, imaginando que você poderia acabar vendendo para outra pessoa.” Karius disse, coçando os olhos vermelhos que pareciam irritados devido a falta de sono.
Ao ouvir isso, Fernando ficou sem palavras, não imaginou que o sujeito estava tão determinado em comprar essa coisa.
“Tudo bem, então deixe-me ver.” disse, indicando que queria ver o dinheiro.
Mesmo parecendo irritado com as palavras arrogantes do jovem, o Catador jogou uma Pulseira de Armazenamento em direção a ele.
Fernando agarrou com uma das mãos, então focou sua mente no interior, assim que o fez, sua expressão mudou levemente. Dentro havia 20.000 moedas de prata, isso era muito mais do que achou que valia.
Apesar de estar incrivelmente chocado, sua expressão externa permaneceu quase inalterada, como se o conteúdo não fosse grande coisa.
“Não é suficiente.” disse, jogando a pulseira de volta, como se estivesse jogando lixo fora. Mesmo que seu coração doesse, sentiu que conseguia espremer mais alguns benefícios.
“O-o que?! Eu me matei para conseguir tanto dinheiro, tive de falar com muitos contatos e pedir favores! O corpo de um Obscuro está entre 20.000 a 25.000 moedas, deveria ser o suficiente!”
Vendo Karius surtando, Fernando sorriu consigo mesmo, era exatamente o que ele queria. Não sabia se era devido a estar tão obcecado, mas o homem parecia não estar pensando corretamente, já que até mencionou o valor real de mercado. Se o Catador tivesse percebido que ele não sabia de nada, poderia até ter o enganado oferecendo 1.000 moedas.
“Exatamente, você está oferecendo o valor mínimo, espera que eu aceite apenas isso?”
“Mas… Eu não tenho mais dinheiro… Já pedi emprestado a todos que conhecia.” Karius respondeu com um rosto de pânico.
Ouvindo isso, Fernando riu internamente, mas do lado de fora fez uma expressão de desgosto. Então suspirou.
“Tudo bem, lembro que fizemos um acordo sobre você me vender itens a 30% do preço de mercado e me oferecer poções raras quando tivesse. Diga, o que você tem a oferecer?”
Inicialmente pensou em pedir Poções de Mana, mas tanto sua Pedra de Mana quanto a Espada Formek estavam com mais de meio milhão de pontos de mana armazenados, então sentiu que não era necessário agora.
“Eu… Espere ai!” Karius gritou, então correu até o fundo de loja. Barulhos de coisas caindo e quebrando podiam ser ouvidos.
O quão desesperado esse cara está?
Logo Karius retornou, então dispôs sobre a mesa uma série de itens.
“Olha, essa é uma Poção Catalizadora, ela serve para desobstruir e melhorar a circulação de mana. Mesmo um soldado comum melhoraria seu controle enormemente ao tomar apenas uma, ela vale pelo menos 100 moedas no mercado..”
Ouvindo isso, o coração de Fernando tremeu, muitos membros do Esquadrão Zero tinham pouco talento em manipular e controlar o mana, então algo assim seria muito útil. Apesar disso, seu rosto manteve-se inexpressivo, como se não fosse grande coisa.
“Err… Também tem isso, é uma criação pessoal minha. Pode não parecer, mas é muito valioso.” apontando para uma pequena bolinha branca minúscula.
“E o que seria?” perguntou intrigado.
“Eu a chamo de Bomba Estática, é como uma bomba de fumaça, que causa efeitos de paralisia e lentidão no corpo de quem respirar seu conteúdo. A fumaça que libera pode atingir até dez metros quadrados de onde atingiu.”
Fernando ficou surpreso ao ouvir isso, sua mente pensando em muitas coisas.
Se tivéssemos um pouco disso, a emboscada a guilda Massacre teria sido muito mais fácil!
Depois desses dois itens, Karius mostrou várias de suas invenções, mas na maioria eram coisas inúteis que não interessaram a Fernando. Por exemplo, uma pílula que depois de ingerida, causava uma sensação semelhante à ‘orgasmo’, ou um tônico que fazia um homem ficar ‘ativo’ por horas.
Em que tipo de pesquisas bizarras esse sujeito anda trabalhando?
Depois que Karius trouxe uma série de itens que não pareciam chamar a atenção do jovem, começou a se desesperar.
“Por favor garoto, me venda isso e eu terei uma dívida com você! Eu realmente preciso desse material.”
Vendo um sujeito na casa dos quarenta anos quase chorar e implorar, enquanto oferecia suas coisas, sentiu-se estranho. Se Simon estivesse ali, ficaria chocado ao ver o arrogante Catador implorar.
Meio que pareço um vilão chantageando alguém aqui…
Suspirando consigo mesmo, Fernando achou que já havia ido longe demais. Na verdade, só o valor de 20.000 já era muito mais que satisfatório para ele.
“Ok, vou fazer isso dessa vez, mas vai estar me devendo. Me dê 50 Poções Catalizadoras e 100 Bombas Estáticas e temos um negócio.”
Ao ouvir isso, a expressão de Karius mudou de quase choro para surpresa e então alegria.
“Sério? Você quer só isso? Sem problemas, temos um acordo então, não adianta tentar voltar atrás!”
Fernando entregou o corpo do Obscuro e pegou a pulseira com os 20.000 e o restante dos itens. Ao ver o rosto obcecado do Catador, balançou a cabeça. Então saiu, deixando o homem imerso em seu próprio mundo.
“Bem, vamos ver se consigo resolver isso agora.” pensou, caminhando lentamente. Em pouco tempo parou em frente a Loja do Ferreiro Negro.
Quando os guardas viram Fernando, ficaram surpresos, depois de se tornar o maior acionista no projeto da Linha Negra, todos os funcionários do Ferreiro Negro conheciam seu rosto. Não só memorizaram o rosto dele, como de todos os outros acionistas, isso era algo fundamental no ramo de trabalho comercial, afinal ofender alguém poderoso ou rico seria muito ruim.
“S-senhor Fernando, é uma honra tê-lo aqui.” O guarda disse, rapidamente abrindo a porta.
“Tem algo em que podemos ajudar?” O guarda perguntou respeitosamente.
“Quero ver o Lian.”
Ouvindo a forma casual que o jovem Cabo chamou o atual Ferreiro Negro, ambos os guardas ficaram sem fôlego.
“S-sim senhor, por aqui.”
Após entrar, Fernando seguiu casualmente o guarda, que o levou para uma sala de espera.
“Ele está numa reunião no momento, mas logo estará acabando.”
Assim que o homem terminou de dizer isso, a porta se abriu. Lian saiu, acompanhado de uma mulher.
“Cabo Fernando, é um prazer vê-lo.” Lian disse, mas Fernando não parecia ouvi-lo, seus olhos frios estavam fixos na mulher ao seu lado.
“Você…”
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