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    Antes mesmo dos primeiros raios de sol surgirem no horizonte Fernando já havia acordado. Na realidade ele praticamente não dormiu. O frio de gelar os ossos durante a madrugada junto a tensão de um possível ataque frustraram boa parte de sua noite. O único momento que ele se sentiu confortável foi quando ele fez a vigia. Quando ele próprio cuidava da segurança noturna ele se sentia mais seguro.

    Os dois guias já estavam acordados aprontando suas coisas e comendo alimentos que tiraram de suas pulseiras de armazenamento. Karol e Lance que foram os últimos vigias durante a noite também já estavam de pé e começaram a acordar os outros.

    Logo todos já estavam acordados. Muitos aparentavam estar abatidos, devido ao fato de terem lutado tanto e se ferido no dia anterior e ainda terem dormido em um frio tão intenso. O cansaço estava atingindo a todos.

    “Droga! Que noite horrível! Nunca senti tanto frio na minha vida!” Emily reclamou enquanto esfregava as palmas das mãos.

    “Realmente, acho que se eu não estivesse tão cansado nem teria pregado os olhos.” Noah comentou.

    “Esse é o clima da região. A floresta é úmida e abafada de dia e durante a noite a temperatura despenca. Vocês tem que se acostumar com isso. Pra falar a verdade essa é uma das regiões mais favoráveis. Tem áreas que o ambiente é muito mais hostil.” Edmund explicou sobre o clima da região.

    “Waah, eu só queria estar deitada na minha cama quentinha…” Karol disse enquanto bocejava.

    Enquanto todos se aprontavam Fernando e Simon saíram para checar a área circundante. Ainda estava escuro e mal havia começado a surgir raios de luz no horizonte. Mesmo assim o guia Simon se movia como se fosse pleno dia. Fernando estava tendo dificuldade em segui-lo enquanto tropeçava em pedras e galhos ao longo do caminho. Já Simon se movia silenciosamente como se fosse uma mera sombra. Fernando ficou impressionado com isso.

    “Senhor Simon como você consegue ver tão bem nessa escuridão?” Fernando perguntou com curiosidade.

    Simon era um indivíduo calmo e aparentava frieza. Sempre se comunicando o mínimo possível com os recrutas. Porém ocasionalmente ele falava e dava dicas.

    “Magia de suporte. É chamada de Visão Escura. Se usa mana em sua retina para enxergar em locais escuros. É uma magia fraca e simples, mesmo quem tem um baixo talento pode aprender, é algo padrão que todos soldados precisam aprender.” Simon explicou calmamente.

    Fernando assentiu com a explicação de Simon.

    Depois de entender o básico ele tentou por si mesmo. Ao focalizar a magia em seu nervo óptico e retinas era possível melhorar a visão. A maior dificuldade disso era guiar o mana até os olhos, mas para Fernando isso não era um problema. Desde que ele se tornou um Noviço um canal de mana foi criado dentro de seu corpo o que facilitava e muito seu controle e circulação de mana.

    Depois de algumas tentativas e dicas de Simon, Fernando sentiu que estava conseguindo. Seus olhos de repente começaram a formigar levemente e então as árvores e chão escuros de repente começaram a tomar forma e ficar mais nítidos. Pouco a pouco as coisas pareciam mais claras e logo os arredores não pareciam diferentes de quando estava de dia.

    Um leve sorriso se ergueu no rosto de Fernando. Sempre que ele aprendia algo novo ou se tornava mais forte uma sensação de conforto e satisfação o atingiam. Ele sentiu que estava viciado nisso.

    Simon andava a frente de Fernando e ocasionalmente falava algo. Ou dando dicas sobre as perguntas de Fernando ou falando para ele tomar cuidado com o caminho.

    Sinceramente ele achava que era um aborrecimento fazer o reconhecimento da área com um recruta. A cada passo de Fernando ele fazia tanto barulho quanto um elefante desengonçado, não era diferente de levantar uma placa e dizer aos inimigos “Ei! Eu estou bem aqui.”. Mas como guia era seu dever ensinar o que pudesse para esses recrutas. Porém alguns minutos depois dele explicar sobre a magia Visão Escura ele sentiu que os barulhos e tropeços de Fernando diminuíram consideravelmente.

    De repente os sons de passos atrás dele sumiram repentinamente. Ao notar que os passos de Fernando sumiram Simon reflexivamente puxou uma adaga e girou o corpo em alta velocidade se preparando para enfrentar o que quer que tenha atacado o rapaz atrás dele. Porém para sua surpresa quando ele se virou e estava em posição de combate meio abaixado ele viu Fernando o olhando em perplexidade.

    “Err .. algum problema senhor??” Fernando perguntou meio assustado.

    Depois de começar a enxergar melhor com a Visão Escura ele pensou em imitar os passos e modo de se movimentar de Simon, assim como ele havia feito no dia anterior com Edmund. Porém enquanto ele estava distraído treinando os passos  Simon de repente girou no ar na sua frente sacando a adaga, quase o matando de um ataque cardíaco.

    Simon olhou para Fernando e olhou ao redor como se estivesse procurando algo. Depois de constatar que não havia perigos um olhar de confusão surgiu em seu rosto.

    Vendo Simon o oberservando silenciosamente enquanto segurava uma adaga Fernando sentiu seu sangue gelar.

    O que há com esse cara, ele tem uma cara meio assustadora, mas ele não parecia ser uma pessoa ruim..poderia ser que na verdade ele é um serial killer ou algo do tipo? 

    Fernando pensou bobagens enquanto olhava para Simon. Sem obter respostas Fernando apertou o punho da espada. Não é que ele não confiasse no guia, mas se alguém de repente sacasse uma adaga do nada e ficasse quieto lhe olhando qualquer um se sentiria apreensivo.

    Vendo Fernando ficando inquieto Simon endireitou as costas e guardou a adaga.

    “Nada. Vamos.” Depois de dizer isso Simon voltou a caminhar.

    Foda-se! Quem saca uma adaga e te olha em silêncio e depois volta a andar como se nada tivesse acontecido? Esse cara não bate bem das bolas? Fernando pensou meio irritado.

    Enquanto caminhavam Simon prestou atenção a Fernando e percebeu que ele mal fazia sons enquanto se movia. Na verdade ele parecia estar copiando seu modo de se movimentar e melhorando a cada minuto. Ao perceber isso ele ficou surpreso. Ele demorou anos pra gravar na mente e corpo a coordenação motora necessária para andar silenciosamente pela mata. Mas o jovem recruta a sua frente já parecia um veterano depois de um pouco de treino.

    “Que monstro. É como ela disse..” Simon murmurou baixinho. Seus olhos brilhavam com algum tipo de emoção.

    Depois de algum tempo olhando ao redor Fernando e o guia Simon retornaram. Como não encontraram nada ameaçador nas redondezas Fernando instruiu todos a se aprontarem, pois partiriam assim que estivesse completamente claro.

    As pessoas estavam comendo e tomando algum tipo de café, alguns estavam se limpando com paninhos umedecidos que compraram na cidade. Como não havia como tomar banho na mata eles optaram por trazer uma série de acessórios o que se provou muito util. Já que estavam na mata não havia banheiro e seria perigoso parar em algum lugar com água para se banhar.

    Após uma hora o sol já havia se levantado, todos estavam bem despertos e organizados. Depois de cuidarem de todas suas necessidades básicas o grupo partiu.

    Talvez devido a batalha de quase morte no dia anterior todos pareciam mais cautelosos. Ninguém mais falou sobre coisas como obter o primeiro lugar na missão. Afinal eles provaram na pele que um pequeno descuido pode levar a morte nesse lugar selvagem.

    Após uma hora de caminhada ainda não havia sinais de goblins. Eles encontraram alguns javalis e mais nada.

    Em determinado momento Fernando que estava atento aos arredores percebeu uma espécie de planta avermelhada enraizada no tronco de uma árvore. Ao vê-la ele imediatamente reconheceu. Uma Orquídea de Sangue!

    Fernando não era um perito em plantas, mas graças ao livro de Herbologia que ele havia comprado ele aprendeu sobre a flora da região. O livro continha imagens ilustrativas e descrições sobre os usos das plantas. No livro dizia que a Orquídea de Sangue era uma planta rara e valiosa, ingrediente importante para muitas poções. Na verdade ele havia identificado várias plantas e ervas ao longo do caminho, mas não valia a pena parar todos para coletar. Porém essa planta em específico parecia ser muito valiosa ele tinha que pegar!

    “Pessoal, esperem um momento.” Fernando disse enquanto parava e ia em direção a árvore.

    Todos estavam em dúvida, mas pararam. Eles viram Fernando ir em direção a uma árvore e cuidadosamente cortar uma planta avermelhada do tronco. Ele parecia extremamente cuidadoso ao cortar cada raiz. Ninguém sabia o que ele estava fazendo.

    “Fernando, o que é isso? O que você está fazendo?” Karol perguntou curiosa.

    Ouvindo a pergunta Fernando respondeu sem olhar para trás.

    “Essa é uma planta valiosa pelo que li num livro. Acho que podemos vender depois.”

    A reposta de Fernando surpreendeu todos.

    “Você é mesmo bem versado hein rapaz.” Edmund disse sorrindo.

    “Ughh, acho que deveríamos ter sido menos preguiçosos e ter lido os livros que Fernando recomendou..” Emily disse ao lado em tom de arrependimento.

    “Hey Fernando, todos vimos como você usou magia ontem, sabe aquele fogo que saiu da sua mão! Foi bizarro hahaha. Que tal você ensinar pra gente?” Emily perguntou animada.

    Fernando se virou para Emily depois de guardar a planta e viu um olhar de expectativa em seu rosto. Não só ela, alguns outros também pareciam animados com a sugestão. Principalmente Kelly, seus olhos brilhavam como os de um coelhinho faminto.

    “Isso.. não acho que seja adequado, estamos no meio da mata e não sabemos quando podemos ser atacados.” Fernando respondeu.

    Suas palavras foram como um banho de água fria em Kelly, o desapontamento foi evidente em seu rosto. Os outros pareciam levemente desapontados também.

    Vendo isso Edmund riu ao lado.

    “Hahaha, não tem com o que se preocupar. Até agora não encontramos nenhum goblin. O que significa que ainda estamos no território daquele grande grupo que eliminamos na noite anterior. Se querem praticar esse é o momento ideal.” Edmund disse com confiança.

    Fernando estava em dúvida, mas se um guia como ele havia dito então ele iria acreditar. Além disso não é como se ele não quisesse ensina-los, quanto mais fortes eles fossem, mais chances teriam de sobreviver, ele só não ensinou-lhes antes porque não teve a oportunidade. E por mais que Fernando insistisse que lessem o livro eles não levavam a sério.

    “Tudo bem, vamos achar um lugar mais aberto então, não quero começar um incêndio aqui. E só vamos fazer isso por no máximo uma hora e meia. Não podemos perder muito tempo.”

    Fernando concordou com isso não só para melhorar a força deles. Mas também para melhorar o ânimo do grupo.

    Depois de acharem uma clareira Fernando reuniu alguns troncos e os colocou alinhados. Cada um estava diante de um tronco.

    “Vocês precisam pensar na mana como um combustível, imaginem ela vazando de suas palmas e então pensem numa pequena faísca ascendo no centro de sua palma e incendiando esse combustível.” Fernando explicou meticulosamente o jeito que ele usou para aprender o uso da Pequena Bola de Fogo.

    Todos seguiram a risca as palavras de Fernando tentando convocar a bola de fogo em suas mãos. Depois de mais de 30 minutos ninguém teve qualquer resultado. O que deixou todos desapontados. Fernando também estava em dúvida. Ele aprendeu tão facilmente isso que ele não entendia como eles estavam tendo tanta dificuldade. Afinal era uma magia fraca e de baixo nível.

    Assim como ele lembrou da forma como ele aprendeu a Pequena Bola de Fogo ele acabou por recordar o incidente com Kelly. Ele entrou apressadamente no banheiro com a palma da mão em chamas e acabou por vê-la nua.

    Ao olhar a garota branquinha e delicada que estava concentrada em sua palma e associa-la a imagem daquele dia Fernando se sentiu estranho e envergonhado. Como se sentisse seu olhar Kelly levantou o rosto e seu olhar se encontrou com o de Fernando. Vendo o rosto avermelhado de Fernando enquanto a olhava ela se assustou um pouco e baixou a cabeça timidamente. Fernando também tomou um susto e desviou o olhar. Enquanto cabisbaixa Kelly tornou a olhar furtivamente em direção a Fernando.

    Como todos estavam focados ninguém notou a breve interação vergonhosa. Ao perceber isso Fernando se sentiu aliviado e voltou a explicar para distrair sua mente dos pensamentos anteriores, tentando o possível evitar encontrar o olhar de Kelly.

    Assim como Fernando estava falando alguém gritou.

    “Ahhh! Tá pegando fogo, realmente tá pegando fogo!!” Emily gritou freneticamente enquanto no centro de sua palma uma chama queimava vividamente.

    Todos ficaram surpresos ao verem que Emíly realmente conseguiu.

    “Acalma-se! Não precisa entrar em pânico. Sua magia não pode te ferir. Se concentre na sua palma e não deixe a chama cair.” Fernando disse calmamente.

    Ouvindo as palavras de Fernando, Emily lentamente se acalmou. Assim como Fernando disse ela não sentia dor alguma.

    Vendo que Emily estava mais calma e focada Fernando falou.

    “Agora tente arremessar a chama no tronco a sua frente.”

    O tronco estava a cerca de 3 metros a frente dela. Seguindo as instruções Emily moveu o braço e arremessou a chama como se fosse uma bola de baseball.

    Boom!

    A bola de fogo acertou o alvou e estourou em chamas. Sons de crepitação logo foram ouvidos do tronco.

    “Incrível! Eu posso usar magia! Eu sou uma maga agora. Estão vendo? Eu sou incrível, não sou?” Emily disse enquanto pulava de um lado ao outro animada.

    Todos não puderam deixar de sorrir ao ver essa garota brincalhona saltando feliz. Desde que começaram essa missão Emíly sempre parecia abatida e triste. Vê-la sorrindo deixou seus todos contentes. De repente o humor no grupo parecia melhorar muito.

    “Se até uma sem cérebro como a Emily conseguiu, então então vou conseguir!” Karol disse ao lado.

    “Quem você está chamando de sem cérebro? Sua brutamontes!”

    “Fala isso de novo tampinha!”

    Ninguém levou a sério a discussão das duas e cada um continuou focado em aprender por si mesmo.

    No final passaram-se quase duas horas, e apenas Emily, Kelly e surpreendente Tom conseguiram aprender.

    Tom geralmente era distraído e covarde, por isso ninguém esperava nada dele. Porém na última luta ele mostrou alguma garra e não se acovardou como geralmente fazia. Isso melhorou um pouco a impressão dele em relação aos outros. E agora ele também era um dos poucos que dominou a magia Pequena Bola de Fogo.

    “Pessoal, vocês devem tomar cuidado ao usar essa magia. Ela é muito útil, mas vocês devem ter cautela ao usar pra não ferir um companheiro durante as lutas.” Fernando alertou.

    “Ei Fernando. Essa magia é realmente útil. Porém não parece ser igual a que você usou antes.” Ronald disse, ele estava prestando muita atenção em Fernando no confronto com os goblins e notou a diferença. A magia que Fernando usou era rápida e penetrante, já essa apenas causava um pequeno dano em área.

    Fernando não imaginou que alguém notaria a diferença.

    “Isso.. na verdade eu meio que melhorei essa magia. Então a minha é um pouco mais forte. Com o tempo tenho certeza que vocês também conseguirão.” Fernando disse uma meia verdade. Na verdade ele duvidava que eles pudessem modifica-la em breve aí que ele próprio só conseguiu devido ao seu canal de mana e a ajuda de sua professora Gallia.

    Depois de treinarem o grupo se reorganizou e tornou a avançar pela mata. Depois de algum tempo eles finalmente encontraram grupos de goblins. Como eram poucos em números eles resolveram usar esses poucos goblins como alvos de treino para os 3 que aprenderam magia. E como esperado os pobres goblins não tiveram a menor chance. Ao serem alvejados por 3 bolas de fogo os 5 goblins caíram no chão rolando até pararem de se mover.

    Todos ficaram contentes com esse poder de fogo. Se fosse uma criatura grande como os Lobos Prateados certamente esse fogo pequeno não faria muito dano, mas contra pequenos Goblins era fatal.

    Enquanto caminhava atentamente procurando inimigos de repente Edmund parou. Sua pulseira estava emitindo leves ondulações de luz. Então ele olhou para Simon e viu que o mesmo acontecia com ele.

    Fernando e os outros olharam para os dois guias sem entender o que estava acontecendo.

    “Senhor Edmund algum problema?” Fernando perguntou.

    “Sim, acho que temos um problema aqui. Alguém emitiu um pedido de socorro.”

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