Capítulo 210 - Oferta
Pa!
“Ai!”
Com um tapa, Fernando afastou as mãos da garota. Deixando-a perplexa.
“O que você pensa que está fazendo?” Fernando perguntou, com um rosto inexpressivo.
“Eu… Estava tentando…” A garota nem conseguiu terminar a frase ao ver a expressão gelada do rapaz a sua frente.
“Por favor senhor, poupe nossas vidas, eu faço o que precisar!” A menina insistiu.
Vendo isso, Fernando suspirou. Ele detestava aqueles que roubavam dos outros, por isso queria causar um grande susto nesses três, mas vendo o estado lamentável em que se encontravam, percebeu que isso não tinha sentido. Essas pessoas já viviam numa linha tênue, da forma como estavam agindo já estavam acostumados a ter que viver uma vida de miséria.
A garota, em meio ao desespero, levantou-se, então tirou o restante de suas roupas. Caminhou até a parede próxima, colocando ambas as mãos contra a parede.
“Por favor senhor, só permita que meus irmãos vivam, eu imploro.”
Vendo aquela cena, Fernando balançou a cabeça, de repente ele sentiu-se como o criminoso, e não como a vítima.
Vendo o corpo magro e definido da garota, estava claro que ela era uma trabalhadora braçal, seu corpo demasiado magro mostrava que não se alimentava com frequência. A pose sedutora dela fez o corpo de Fernando palpitar por um instante, se ele fosse o jovem inexperiente de antes talvez sucumbisse aos desejos, mas ele já era um homem de uma só mulher.
Olhando sua Pulseira de Armazenamento, Fernando encontrou algumas roupas de Karol, então sem olhar novamente em direção a garota as jogou sobre seu corpo.
“Vista isso.”
Tanto a menina quanto os dois rapazes tinham expressões chocadas com a atitude do jovem pálido.
Algum tempo depois, a garota chamada Liandra ja estava vestida, ao lado de seus irmãos.
“Por que tentaram me roubar? Vocês são trabalhadores, certo? O seu salário não é suficiente? Por que se arriscaram fazendo algo tão idiota?”
Fernando lançou uma série de perguntas.
Os três se entreolharam, sem entender a situação. Pela habilidade do jovem pálido, ele deveria ser um soldado ou talvez um guarda, pessoas assim geralmente não se importavam com gente como eles.
“Algumas semanas atrás a maioria dos trabalhadores empregados pelo Salão foram dispensados, nós estamos incluídos nisso… Apesar de não sermos expulsos da cidade, não temos renda alguma, o Salão envia refeições ocasionalmente, mas é muito pouco…” A garota explicou.
“Nós não tínhamos escolha…” O jovem que o atacou disse.
Fernando franziu a testa ao ouvir isso, ele não tinha ideia de que algo assim estava acontecendo.
Como o Salão teve um corte de repasses da Legião dos Leões Dourados, junto à guerra que se aproxima, eles devem estar cortando gastos em todos os locais… Mas para fazer algo tão cruel… Fernando pensou consigo mesmo.
“Você disse que não tinha escolha, mas está errado, sempre há escolhas. Tentar ferir outros para roubá-los é algo que só idiotas preguiçosos fazem.” Fernando disse, com desgosto. Apesar de entender sua situação, não aceitava sua desculpa.
Os três ficaram em silêncio, não se atrevendo a rebater.
Suspirando consigo mesmo, tirou três moedas de prata, então jogou uma para cada um deles.
“Isso…” A garota tinha olhos chocados, não acreditando nisso.
“As vezes pedir é mais fácil do que tentar tomar.” Fernando falou.
“Você se chama Liandra, certo? Eu admiro como tentou proteger seus irmãos, mas nunca mais faça algo assim, uma mulher tem que ter orgulho próprio. Se quiserem trabalhar vão até a Loja do Ferreiro Negro, procurem por Lian, digam que Fernando os mandou.” Depois de dizer isso, caminhou para longe, deixando os três jovens atordoados no local.
Após resolver a questão, Fernando se apressou para a loja de Karius, ele havia perdido muito tempo.
Toc! Toc!
Batendo na porta, não ouviu resposta alguma, essa era a segunda vez que tentava falar com Karius, desde que entregou os restos do Obscuro para ele, o sujeito havia se enfurnado em sua loja e nunca mais saiu. Fernando até se perguntou se o mesmo ainda estava vivo. Mesmo as mensagens pelo Cubo Comunicador não obtiveram respostas.
Baque!
Forçando a porta, Fernando entrou no local, ele não queria invadir, mas iria partir em dois dias, não havia tempo para ser educado. Depois de usar boa parte do mana da Pedra ajudando Alaine, ele precisaria de um novo estoque de Poções de Mana.
“Quem está aí?!” Uma voz cansada, mas agressiva gritou dos fundos da loja.
Fernando não teve que esperar muito, logo um rosto familiar apareceu, era Karius, o catador, aparentemente algum tipo de mecanismo o avisou de sua intrusão.
“Você… O que está fazendo aqui?” Karius perguntou, sem entender por que Fernando havia invadido sua loja.
Fernando tinha uma expressão irritado ao ver o sujeito se atrevendo a perguntar isso.
“Se você ler as mensagens que mandei, vai saber.” disse secamente.
Karius parecia confuso, mas logo entendeu.
“Bem, eu estava imerso em minhas pesquisas, então desativei meu Cubo.” explicou.
Fernando não parecia muito convencido, mas assentiu.
“O que o traz à minha loja? Trouxe algo bom dessa vez?” Karius perguntou, ansioso. Sempre que o rapaz à sua frente vinha, trazia algo bom. Graças ao corpo do Obscuro, suas pesquisas tinham o levado muito mais próximo ao nível de Alquimista Avançado.
Conversando um pouco com o sujeito, Fernando percebeu que Karius havia realmente se isolado, ele nem sabia da guerra que havia estourado.
“O que, então boa parte das tropas de Vento Amarelo estão partindo para o Sul para parar os Orcs e os Elfos Negros podem atacar a qualquer momento?” perguntou, perplexo. “Que droga, eu passo algum tempo imerso em minha pesquisa e o mundo vira de cabeça para baixo!”
Fernando estava se perguntando a quanto tempo o homem não saia de sua loja para estar tão desinformado.
“Então, o que o traz à minha loja? Se não tem nada para trocar, não vejo como podemos negociar. Além disso, como estava pesquisando não tive tempo de produzir mais Poções de Mana.”
“Hoje eu não vim para comprar nada, estou aqui para te fazer uma proposta.” Fernando disse, sorrindo.
Karius franziu a testa ao ouvir isso, ele se recordava que já havia feito um acordo com o jovem, ele venderia Poções de Mana a preço de custo e o jovem daria preferência a ele ao encontrar materiais raros.
“O que você quer?”
“É bem simples, quero que trabalhe para mim.” Fernando disse, cheio de confiança.
“Como é?” Karius ficou sem palavras ao ouvir isso.
“Preciso de alguém dedicado a produzir poções e outras coisas para mim. É claro que isso não será de graça, eu irei pagar um valor justo mensal e irei fornecer os materiais.”
Karius franziu a testa ao ouvir isso.
“Desculpe, eu recuso. Não tenho interesse em me juntar a ninguém, prefiro trabalhar por conta.”
Apesar de ser recusado, Fernando não desistiu.
“Seu objetivo é um dia se tornar um Mestre Alquimista, certo? Quanto tempo você acha que vai levar trabalhando sozinho?”
A expressão de Karius se fechou com o comentário de Fernando, mostrando que ele tinha noção de que seria uma tarefa árdua e que levaria muitos anos.
“Você só precisa fazer algumas poções e outras coisas, em troca vou te dar um espaço para trabalhar e materiais constantemente.”
“Heh, desde quando um Cabo pode se dar ao luxo de me prometer um espaço para trabalhar?” perguntou num tom irônico.
Fernando não respondeu imediatamente, com um movimento de pulso tirou uma insígnia escrita Oficial Pelotão Zero.
“Um Cabo pode não conseguir prometer isso, mas acho que um Oficial pode.” Fernando disse sorrindo.
“O-o que, como você…”
“Escuta, você não precisa fazer algum contrato vitalício ou algo assim, se você quiser partir alguma hora você é livre para isso. Se trabalhar para mim, irei fornecer muitos materiais e se encontrar algo como aquilo, você será o primeiro a saber.” Fernando disse, se referindo ao Obscuro.
“Você está dizendo que se eu quiser, posso deixar de trabalhar para você?” Karius perguntou, desconfiado.
Fernando assentiu, confirmando.
O sujeito estava desconfiado, normalmente os alquimistas precisavam fazer contratos de exclusividade para a vida toda com seus empregadores. Isso porque a quantidade de dinheiro e materiais para treinar um alquimista eram exorbitantes, ninguém iria querer gastar milhares de moedas com alguém que poderia traí-lo a qualquer momento. Além disso, se o alquimista desenvolvesse alguma Poção ou Item extremamente valioso, o mesmo poderia simplesmente acabar buscando um apoiador mais poderoso e que oferecesse benefícios melhores. Devido a isso, quase ninguém ofereceria contratos temporários.
O motivo de Karius nunca se filiar a nenhuma organização ou patrocinador, é que ele odiava a ideia de ser controlado por alguém, mas a oferta do jovem à sua frente não ia contra seus objetivos.
“Você tem certeza disso? Eu não sou barato de pagar.”
“De quanto estamos falando?” Fernando perguntou, confiante.
Karius levantou um dedo, o que o deixou confuso.
100 moedas de prata por mês? Eu posso pagar por isso. pensou.
“1.000 moedas de prata todos os meses, além disso, quero dois dias da semana livres para trabalhar em meus projetos pessoais.”
“Coff!!” De repente Fernando sentiu-se tonto, ele não imaginou que alquimistas eram tão mercenários!
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