Capítulo 217 - Enganados
Todos olharam-se com rostos preocupados, a ameaça de ‘não poderem sair mais’ depois que os portões fecharem era bem clara e evidente. Mas eles precisavam de suprimentos, por ora o exército ainda tinha recursos para mais duas semanas, mas se não tomassem cuidado ficariam sem suprimentos quando chegassem ao fronte de guerra.
“Vamos.” Nina disse em direção a Fernando.
Vendo os dois entrarem, os demais seguiram o exemplo.
Inicialmente, a Cidade das Mil Flores parecia como qualquer outra cidade, mas em pouco tempo todos notaram uma certa diferença. A maioria dos soldados de baixa patente eram homens, enquanto as mulheres detinham a autoridade. Não só isso, os cidadão comuns que andavam para lá e para cá tinham uma diferença exorbitante entre eles, os homens vestiam roupas que assemelhavam-se a trapos, enquanto as mulheres tinham vestimentas luxuosas e confortáveis.
“Seu inútil, carregue isso direito!” Uma mulher com roupas pomposas disse a um homem, que carregava um caldeirão pesado, o sujeito tinha um rosto vermelho, como se não suportasse mais carregar aquilo.
“Tsk, eu ouvi que a Legião Pantera era cheia de lunáticas, mas pensar que elas montaram uma cidade como essa…” Um dos homens disse.
“Cale a boca! Você não ouviu que devemos evitar problemas? Estamos no território delas.” Um outro sujeito falou ao lado, apontando para meia dúzia de mulheres com armadura não muito longe, que pareciam estar os vigiando.
Bang!
Nesse momento o homem que carregava o caldeirão desabou no chão, seu corpo tremia incontrolavelmente.
“Seu merda inútil! Vai danificar minha mercadoria!” A mulher em roupas pomposas gritou, tirando um chicote e estalando nas costas do homem.
“Urgh!” O sujeito rugiu de dor, então tentou se levantar, mas suas pernas trêmulas o fizeram desabar de novo.
“Levanta!” A mulher gritou, levantando o chicote novamente.
Quando a ponta estava prestes a acertar as costas do sujeito novamente, uma mão o parou, segurando-o firmemente.
“Ei, você, o que está fazendo?” A mulher gritou, ao ver um jovem pálido em armadura negra interrompendo sua disciplina.
As guardas que estavam não muito longe tiraram suas espadas, prontas para intervir.
“Ei, o que está fazendo?!” Nina gritou em direção a Fernando. Os outros representantes tinham rostos pálidos.
Fernando olhou para Nina, mas a ignorou, depois olhou para as guardas que estavam caminhando até ele. Sem pensar muito largou o chicote, então pegou no braço do sujeito caído, apoiando-o para se levantar.
O homem tinha uma expressão confusa, como se não entendesse o que estava acontecendo.
Quando o sujeito enfim estava de pé, Fernando se abaixou, pegou o caldeirão de ferro e colocou em seu ombro.
“Onde eu coloco isso?”
A mulher em roupas pomposas, bem como as guardas e os representantes tinham olhares confusos.
“Isso…” A mulher tinha um rosto confuso, ela olhou para as guardas que pararam seus passos, que assentiram em troca.
“Bem ali!” disse, a contragosto, apontando para uma loja do outro lado da rua.
Fernando calmamente caminhou até lá, o grande caldeirão de ferro parecia um brinquedo em seu ombro. O que era um grande contraste com sua aparência frágil em relação aos outros representantes.
Entrando na loja, Fernando dispôs o caldeirão sob a bancada apontada pela mulher, então saiu, deixando-a com um rosto confuso.
O homem que ele ajudou também tinha uma expressão estranha, mas agradecida. Fernando assentiu de forma calma.
“Vá embora, rápido.” O homem murmurou de forma quase inaudível. Fazendo com que a expressão de Fernando mudasse, mas ao olhar novamente para o sujeito, o mesmo apenas olhava para baixo.
Quando o jovem se juntou aos outros representantes, caminharam para longe dali.
“Que merda você pensa que está fazendo!” Nina disse, num tom abafado.
“Nada demais.” respondeu, de forma despreocupada.
O rosto da mulher estava vermelho de raiva, o ‘peão’ que ela pensou que seria fácil de controlar, não era tão fácil afinal.
Fernando tinha um rosto calmo, mas seus olhos percorreram o entorno, captando sombras que andavam sobre os telhados. A verdade é que ele sabia que aquela cena de antes era apenas uma provocação, aquela mulher estava deliberadamente fazendo o homem carregar algo que não conseguia apenas para puni-lo na frente deles, esperando alguma reação.
Apesar de saber que era uma forma de provocá-los, ele não era alguém que conseguia ver pessoas sendo maltratadas na sua frente e não fazer nada.
Esse lugar é bem complicado. pensou consigo mesmo.
Apesar dos homens não serem rebaixados ao ponto de serem escravos, eles recebiam salários ínfimos e não tinham qualquer autoridade, o que não era tão diferente de ser escravo.
Logo eles entraram num armazém que vendia alimentos a granel, como esperado, a dona do lugar era uma mulher.
“Vamos levar 10 sacos .” Um dos homens do grupo disse, apontando para um alimento em grão.
“São 5 moedas de prata.” A velha mulher respondeu, num tom sereno.
“O que? Você está brincando? Cada saco desse custa 50 moedas de cobre? Que tipo de preço é esse?!”
Ouvindo isso, a dona franziu a testa.
“Se não quiser comprar, saia do meu armazém!”
Todos franziram a testa ao ouvir isso. Nesse momento ficou evidente que a mesma estava dificultando a vida deles.
Mesmo que a contragosto, todos compraram alguns sacos de alimentos, se fosse em Vento Amarelo, teriam pago no máximo metade do preço. Apesar disso, não tinham escolha, a próxima cidade depois de Mil Flores ficava a dias de viagem, além disso era uma cidade direta sob uma legião que não tinha boas relações com os Leões Dourados.
Tendo comprado tudo o que precisavam, todos estavam prontos para sair da loja e ir embora.
“Hahaha, é como tirar doce de uma criança, homens inúteis.” ouviram a dona falar, ao contar as moedas de prata sob o balcão.
Muitos franziram a testa ao ouvir isso, mesmo sabendo que estavam sendo enganados, esperavam que pelo menos a mulher fingisse que era um negócio justo, mas ela nem se deu ao trabalho.
Alguns estavam furiosos com a dona, vendo isso, Fernando chegou próximo a Nina Baumer, quase cochichando em seu ouvido. “Vamos embora.”
“Q-que merda você está fazendo?” respondeu, pondo a mão em sua orelha.
Fernando ignorou o comentário da mulher e a puxou pelo pulso, saindo rapidamente da loja, outros pareciam perceber algo e saíram também.
Do lado de fora, um grupo de soldados os esperava.
“Vocês estão presos por assassinar a dona desse comércio!” Uma mulher, com voz grave gritou.
“Do que você está falando, acabamos de comprar alguns suprimentos pelo dobro do preço!”
Nesse momento, uma mulher com armadura prateada saiu da loja, arrastando a dona.
“Espera, isso não foi o combinado, eu só tinha que engana-los, mais na-” Nesse momento a mulher em armadura puxou uma adaga e degolou o pescoço da dona na frente de todos, então largou seu corpo no chão, engasgando em seu próprio sangue.
“De forma cruel e sanguinária, vocês mataram a dona do armazém e roubaram seus alimentos, em nome da Legião Pantera iremos capturá-los e fazer justiça!” Uma das guardas disse, com um rosto calmo.
Nesse momento estava claro para todos, a Cidade das Mil Flores nunca planejou deixá-los partir.
“Você está falando sério? Quer mesmo começar uma batalha?! Temos nove mil tropas lá fora!” Um dos homens disse, ele era Oficial de um dos batalhões.
“A Legião Pantera não deixará assassinos impunes! Além disso… A cidade das Mil Flores tem quinze mil soldados, será que seu exército meia boca irá nos enfrentar por um punhado de pessoas como vocês?” A mulher disse, mostrando um sorriso de desprezo.
“Hah!!” Ao perceber que não tinham escolha, um dos representantes atacou a mulher que parecia ser a lider, sua unica chance era toma-la como refem e sair daquele maldito lugar.
A mesma sorriu com desprezo, então sacou sua lâmina.
Ting!
O homem foi jogado longe como um boneco de pano.
“M-merda! Ela tem pelo menos a força de um Subtenente!” O sujeito gritou, caído no chão.
Todos começaram a suar frio, não só tinha um bando de soldados os cercando, como a líder era de nível Subtenente! Todos ali eram meros Oficiais, duas patentes menores, sua força não era páreo!
“M-merda! Eu sabia que não deveria ter vindo!” Nina Baumer falou, com uma voz trêmula. Apesar disso ela estava numa situação melhor que a dos outros, afinal ela era uma mulher, mesmo que fosse capturada, teria um destino muito melhor que dos homens.
Ao olhar para o lado, viu o rosto do jovem pálido do seu batalhão, calmo e pacifico, como se fosse apenas um passeio de verão.
Que droga esse merda tá pensando? Ele pelo menos entende nossa situação? pensou, ao ver o olhar inexpressivo de Fernando. Foi então que o viu mover o pulso e sacar sua espada.
Boom!
O jovem que outrora estava na sua frente, desapareceu, surgindo bem a frente da Subtenente inimiga.
A mulher em armadura foi pega de surpresa, seus olhos arregalaram-se de espanto, então tentou cortar esse rapaz que surgiu a sua frente.
O jovem pálido pareceu prever o que a mulher faria.
Swish!
Olhando para a frente, a mulher passou com seu braço, esperando cortar o garoto em dois, mas mesmo depois de atacar, o mesmo parecia intacto. Então olhou para sua mão, apenas para notar que não havia nada ali! Foi nesse momento que percebeu uma mão decepada no chão, ainda segurando uma espada firmemente.
“Não!” A Subtenente berrou, mas o jovem não pareceu se importar com seu grito de loucura, ele agarrou seu pescoço e a puxou para perto, forçando sua espada em direção a sua garganta.
“Matem todos os outros, vamos sair daqui!” Fernando gritou, seu semblante outrora inexpressivo, agora continha uma ferocidade assustadora.
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