Capítulo 220 - Plano
“Quer mesmo tentar?”
Ao ouvir a voz fria e sem emoção do jovem pálido atrás dela, a Subtenente parou por um momento. Então lentamente puxou a velha coberta, enrolando-a em torno de seu corpo e se levantando.
“Por que está fazendo isso?” A mulher perguntou, olhando o jovem em seus olhos. No campo de batalha, matar um inimigo rendido ou subjugado não era algo incomum.
Fernando devolveu o olhar da mulher, mantendo um rosto calmo.
“Você já me deu o que queria, não tenho motivos para matá-la.”
Ouvindo isso a mulher tinha um rosto confuso. Ela sentia ódio e medo pelo jovem que fez aquela criatura nojenta agredi-la. Normalmente numa situação dessas ela teria lutado até a morte e tirado o máximo deles que conseguisse, mas sempre que via os olhos frios do garoto as forças em seu corpo se dispersariam, assim como sua vontade de lutar.
Olhando para o pulso vazio em seu braço, bem como seu corpo nu, a mulher deu um sorriso amargurado, então apertou o cobertor e correu para longe, saindo do armazém.
“O que você está fazendo? Vai deixá-la ir mesmo?” Nina Baumer gritou, perplexa.
Fernando tinha uma expressão calma, olhando para a garota de forma relaxada.
“Se quer impedi-la, pode ir.”
Nina congelou ao ouvir isso, mesmo se considerando corajosa e forte, ela não se atrevia a enfrentar uma Subtenente sozinha.
Os outros Oficiais tinham rostos sombrios e hesitantes, ninguém se atreveu a persegui-la.
Na verdade Fernando sabia que isso era um erro, numa batalha ser misericordioso com o inimigo era ser cruel consigo mesmo. Ele havia experimentado isso em primeira mão com Jean Armand.
Apesar disso sentiu que era o certo a fazer, ou melhor, talvez fosse apenas seu arrependimento.
“Vamos.” disse, saindo do armazém. Todos olharam para o jovem pálido, perguntando-se ‘Quem o nomeou líder?’ apesar disso ninguém o contestou.
Era estranho, todos ali eram Oficiais, alguns muito mais experientes que o jovem em armadura negra, mas ninguém se atrevia a tomar a frente. Sua forma calma de lidar com a situação trouxe uma confiança estranha ao grupo.
“O que fazemos a seguir?” Um dos homens perguntou, olhando para a rua vazia cheia de corpos, nesse ponto o inimigo já deveria ter notado que algo estranho aconteceu.
“Talvez devêssemos nos separar em grupos, se algum de nós conseguir sair da cidade com mantimentos, isso tudo não será uma perda.” O Oficial do Primeiro Batalhão disse, sua voz indicando que estava preparado para morrer nessa cidade.
“Isso não é necessário.” Fernando disse, sem virar para trás, todos olharam em sua direção, imaginando o que o garoto estava pensando.
“Qual o seu plano?” o homem perguntou.
“Nos separar em grupos vai nos fazer ser alvos fáceis, qualquer grupo de soldados vai nos encurralar, um a um.”
“Isso é óbvio, mas seguir juntos é tão perigoso quanto. Se Oficiais inimigos ou mesmo algum oficial superior chegar, estamos acabados. Então eu pergunto de novo, qual é o seu plano?” O homem insistiu, olhando fixamente para o rapaz a sua frente.
Fernando virou o rosto, olhando para o sujeito, então sorriu.
“Correr.”
“…”
…
Alguns minutos depois, o grupo de Oficiais estava correndo desesperadamente pelas ruas da cidade, atrás deles soldados perseguiam com rostos sanguinários.
“Merda! Nós estamos fodidos!” Um dos homens gritou.
Swish!
Ting!
Com ataques rápidos, os Oficiais cortaram e mataram qualquer soldado que aparecesse à frente. Seus passos nunca pararam um segundo, eles sabiam que se parassem estariam mortos.
Apesar de assustados e desesperados, o grupo avançou rapidamente de forma ordenada, eles eram Oficiais, afinal, pessoas que subiram as patentes e lideravam cem homens. Sua força individual era alta, mas a força conjunta de mais de vinte deles era algo que mesmo Sargentos e Subtenentes não se atreveriam a enfrentar sozinhos.
“Onde ele está?” O Oficial do Primeiro Batalhão exclamou, ele se chamava Arslan Strauss, ele era o oficial mais próximo de se tornar Sargento na Primeira Guarnição. Um militar experiente e capaz, mas infelizmente ele havia cometido um erro.
Que merda de plano? Só correr? Como eu fui aceitar isso?
Ele havia confiado no jovem e liderado os demais rumo ao portão da cidade enquanto o mesmo ficou para trás, segundo o rapaz ele tinha um plano. Pensando nisso, Arslan teve um pensamento súbito.
Poderia ser que… Ele nos usou de isca?? Ao pensar nisso, Arslan tinha cada vez mais certeza dessa linha de raciocínio. Com a força do jovem ele deveria ter mais chances de sair vivo se escapasse sozinho.
Com um sorriso irônico, Arslan balançou a cabeça, rindo de si mesmo.
Onde eu estava com a cabeça? Devido a ficar impressionado com a força do jovem, Arslan acabou confiando demais nele. Que seja, se alguém com o talento dele escapar, pelo menos não vai ser uma perda tão grande.
Assim que estava aceitando seu destino, viu um brilho avermelhado no céu.
Boom!
Bang!
“O que é aquilo? Fogo?”
Todos viram um clarão subindo aos céus, seguido por chamas brilhantes e fumaça.
Boom! Boom!
Logo mais sinais de fumaça e chamas surgiram em diversos pontos, ninguém estava entendendo o que estava acontecendo.
“Espera, pode ser que seja aquele cara?” Um dos homens disse, enquanto corria.
Todos ficaram pensativos, para algo assim acontecer só podia ser aquela pessoa. Nesse momento ficou evidente qual era o ‘plano’ do jovem. Ele estava causando caos na cidade para que as forças não pudessem se organizar e encurralá-los.
“Ele… Ele está se sacrificando para que escapemos?” Um dos homens disse, sem acreditar.
Todos ficaram em silêncio.
“Você é do mesmo Batalhão que ele, certo? Qual o nome dele?” Arslan perguntou em direção a Nina.
A mulher tinha uma expressão estranha, mas assentiu com a cabeça.
“Ele se chama Fernando, ele lidera um pelotão nomeado, Pelotão Zero.”
Todos guardaram aquele nome na cabeça, Fernando, líder do Pelotão Zero.
“Se sairmos com vida, irei relatar isso ao meu superior, sua bravura não será esquecida.” Arslan Strauss disse.
Nesse momento todos avançaram com um ímpeto sem igual, alguns usaram magia de fogo, vento e gelo para atrasar os soldados que os perseguiam, enquanto matavam os inimigos que surgiam à frente.
Devido aos incêndios surgindo em diversas áreas da cidade, cada vez menos soldados surgiam no caminho. Grupos seguiam em direção aos incêndios, numa tentativa de contê-los, se eles se alastrassem a cidade viraria um mar de chamas.
Enquanto o grupo avançava em direção ao portão, Fernando estava correndo pelas ruas da da Cidade das Mil Flores. Com um rosto inexpressivo, ele lançou Flechas de Fogo em todas as direções, queimando o máximo de lugares que podia.
Apesar da aparência fria, o coração de Fernando estava apertado. Ele sabia que muitas das casas e comércios que estava atacando talvez fossem de civis inocentes. Mesmo não atacando com força total, apenas o suficiente para espalhar chamas fracas, sabia que haveria mortes.
Cerrando os dentes, Fernando lançou mais uma saraivada de ataques. Apesar do aperto no coração, não havia escolha, ele sempre priorizaria a si mesmo do que a estranhos. Se ele quisesse sobreviver, precisaria fazer isso.
Enquanto estava prestes a lançar mais um ataque, viu uma sombra avançando em sua direção, saltando a partir de um dos telhados. Rapidamente tirou sua espada Formek.
Ting! Bang!
Um ataque pesado o atingiu, mesmo defendendo-se ainda foi jogado em direção a parede.
Com um rosto surpreso, Fernando observou a figura que o emboscou, uma mulher com armadura prateada e cabelos amarrados em tranças. Os olhos gelados da mulher o atingiram, o observando como se fosse um gato encurralando um rato.
“Então é você quem está causando tudo isso.” A mulher disse, levantando a espada.
Sentindo seus braços tremendo do impacto, Fernando sabia que essa mulher não era comum. Com sua força atual, ele deveria ser capaz de lutar em pé de igualdade com um Subtenente comum e até mesmo vencer facilmente os mais fracos.
Olhando no entorno, se preparou para fugir, ele não poderia perder tempo a enfrentando.
“Pensando em fugir? Eu acho que não.” A mulher disse, avançando em sua direção como um turbilhão.
Boom!
Ao ver a mulher sumir por um segundo e aparecer próximo a ele, os olhos de Fernando quase saltaram por um momento.
Uma usuário de Habilidades!! Sua mente estava em choque, mas rapidamente ativou Disparo Neural.
Ting! Swish!
Com um movimento rápido, Fernando defendeu o ataque entrante e cortou com sua espada em direção ao torso do inimigo, mas atingiu apenas o vazio.
Os olhos da mulher mostravam sua surpresa, não só o jovem conseguiu se defender, como até contra-atacou.
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