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    A Subtenente o olhou nos olhos até o fim, até que seu olhar perdeu o último fio de vida. Ao ver o rosto vazio e olhar nebuloso, Fernando sabia que ela estava morta.

    Nesse momento ele estava se sentindo estranho, ela era sua inimiga, estava tentando matá-lo. Além disso, ele próprio já matou inúmeras pessoas até esse ponto, mas mesmo sabendo disso tudo, a sensação ruim em seu peito não se dispersava, apenas ficava mais e mais pesada.

    A mulher a sua frente deveria ter cerca de 30 anos, era uma mulher forte, jovem e bonita. Se ainda estivesse na Terra ela teria uma vida tranquila e pacífica. Mas agora ela estava bem a sua frente, morta pelas suas próprias mãos.

    Por que eles tinham que se matar? Apenas porque as legiões acima deles diziam isso? Por que esse mundo era assim? Uma série de pensamentos inundou sua mente. Uma mistura de fúria e tristeza estavam o inundando.

    “AH!!” Fernando gritou em plenos pulmões, então socou a parede.

    Depois de alguns segundos, sua respiração descontrolada lentamente se acalmou. Com uma expressão de culpa ele lentamente puxou sua espada que estava cravada no corpo da mulher, então cuidadosamente segurou seu corpo e a colocou no chão.

    A expressão dela ainda se mantinha leve, como se estivesse tranquila. Com a mão esquerda Fernando fechou seus olhos.

    Tac! Tac! Tac!

    “Por aqui, eu ouvi um grande barulho nessa área!”

    Ouvindo as vozes e sons de passos, ele sabia que deveria sair daquele lugar. Levantando-se, deu um último olhar para a mulher, ele não sabia seu nome, nem quem ela era, mas prometeu a si mesmo que não esqueceria seu rosto pelo resto da vida.

    Fernando não sabia porque se sentiu tão emotivo, talvez por ter visto a morte dela de tão perto, ou talvez porque foi a primeira vez que matou uma mulher numa batalha. Ele não sabia a resposta.

    Boom!

    Quando os guardas chegaram, havia apenas um corpo no chão, assim como uma leve brisa cruzando o ar.

    Em outro ponto da Cidade das Mil Flores, o grupo de Oficiais avançou a passos largos. Os incêndios em torno da cidade estavam ficando mais intensos, o que fez cada vez menos inimigos os perseguirem. Então eles finalmente avistaram os portões pelos quais entraram.

    “Estamos quase lá!” Arslan Strauss gritou, aumentando a moral do grupo.

    Nina Baumer parou por um momento, cortando com suas espadas de forma transversal em formato de X, lançou duas Lâminas de Vento em direção aos soldados inimigos na parte de trás.

    Apesar de terem esperança e estarem animados, o grupo já estava no fim de suas forças. Dos 26 Oficiais que entraram na Cidade das Mil Flores, agora só restavam 12 deles.

    Alguns foram mortos pelos inimigos após serem cercados ou se atrapalharem e serem apanhados pelos perseguidores, mas a maior parte pereceu quando um Tenente inimigo apareceu.

    Após verem uma mulher com insígnia de Tenente surgindo em uma esquina, o coração de todos havia caído. Naquele momento eles sabiam que estavam acabados.

    Mesmo sem trocarem palavras, parte do grupo que não estava carregando suprimentos avançou em direção a Tenente. Seu objetivo era claro, ganhar tempo para que os demais escapassem.

    No final, os que ficaram foram mortos em menos de um minuto. Apesar disso, ganharam tempo suficiente. Felizmente a Tenente inimiga era uma maga focada em magia de fogo, velocidade não era seu forte, então não perseguiu.

    Mesmo animando a todos, Arslan tinha um rosto complicado, ele queria ter ficado para trás, mas era um dos que estava carregando suprimentos e não poderia se dar ao luxo de morrer.

    Entre o grupo, apenas dois homens não carregavam suprimentos. Alguns pareciam desprezá-los por não terem ficado para lutar, mas ambos aguentaram a vergonha e humilhação, tudo pelo desejo de sobreviver.

    Merda, ainda bem que o Fernando deixou a Caixa de Suprimentos comigo! Nina agradeceu o jovem internamente. Se não fosse por isso, provavelmente ela teria que ficar para trás e lutar, seu corpo seria nesse momento um cadáver frio, ou melhor, em chamas.

    Talvez ela pudesse fazer como os dois patifes descarados, e continuar com o grupo, mas sabia que seu orgulho não permitiria isso.

    Quando estavam a apenas 100 metros dos portões, notaram pelo menos cinquenta guardas bloqueando-os. Não só isso, mas havia Oficiais e Cabos entre eles. Ao notarem isso, a expressão de todos afundou. Com apenas 12 deles seria impossível derrotar tantos inimigos rapidamente, eles seriam cercados pelos que vinham atrás!

    A expressão de todos estava escura, todos sabiam o que estava prestes a acontecer, eles iriam lutar brevemente até serem mortos. Não havia outro caminho, nem outra saída. Mesmo sabendo disso, todos continuaram em frente.

    Nina Baumer suspirou.

    Depois de tudo, parece que essa cidade é meu caixão. Ela pensou, rindo, numa mistura de desespero e loucura. Será que pelo menos ele…

    Olhando ao longe, havia fogo e fumaça em vários pontos da cidade, mas a algum tempo não havia novos focos de incêndio.

    Balançando a cabeça, Nina deixou esses pensamentos de lado, mesmo que o garoto tivesse provado ser forte, não havia como sobreviver ao chamar tanta atenção.

    “Preparem-se para o contato!” Arslan gritou, levantando sua espada, o plano era forçarem sua passagem, se pelo menos alguns deles escapassem com vida já seria uma vitória.

    Quando o grupo estava prestes a se chocar com os guardas, um clarão cruzou os céus.

    BOOM!

    Chamas irromperam na frente dos portões, gritos dos guardas e soldados se espalharam, enquanto muitos deles correram, com seus corpos em chamas. Pelo menos metade dos cinquenta guardas foi atingido nessa explosão.

    “O-o que diabos?” Arslan falou, sem entender.

    Nesse momento, uma figura surgiu, aparecendo de uma das ruas laterais. Um jovem pálido, com armadura negra e um rosto inexpressivo.

    “Fernando!” Arslan e Nina exclamaram ao mesmo tempo. Os demais também estavam surpresos.

    “Em frente!” Com um rosto sério, Fernando gritou, enquanto sacava sua espada e corria em direção aos inimigos.

    Todos entenderam, o jovem havia deliberadamente atacado apenas parte dos portões, mas ele não queimou tudo, ou então o mar de chamas teria os impedido de atravessar. Se quisessem partir, teriam que passar pelos 25 inimigos restantes.

    O rosto de Nina nesse momento era complicado, apesar de uma chama de felicidade estar queimando em seus olhos por ter mais uma chance de viver, ela também estava confusa.

    Ele não era um usuário de Habilidades? Como sua magia é tão forte? É comparado a um mago de primeira linha! Como isso é possível?

    Apesar das dúvidas, Nina jogou esses pensamentos para o fundo de sua mente, a única coisa que precisava fazer agora era lutar.

    Bang! Baque! Ting!

    Ambos os grupos se encontraram, atingindo-se ferozmente.

    Fernando era como um vendaval, na mão direita ele segurava sua espada negra Formek e na mão esquerda sua espada vermelha Lumeris. Um tilintar agudo irrompeu de suas lâminas. Sejam espadas, armaduras ou carne, tudo à sua frente foi destroçado, sendo cortado como manteiga. Ele estava usando sua habilidade Vibração em ambas as armas.

    Cada vez que cortava um dos homens, sua expressão mudava, apesar disso se manteve firme. Nesse momento ele finalmente entendeu de onde vinha aquele sentimento estranho em seu peito. Tanto aquela mulher de antes, quanto esses homens, nenhum deles queria realmente lutar.

    Era diferente de quando lutou contra Bob William´s ou a Guilda Massacre, ele sentiu que aquelas pessoas mereciam morrer. Mas e essas pessoas, elas mereciam? Ele não sabia a resposta. Talvez sim, talvez não, independente da resposta, seu corpo não parou por um momento, ele queria viver e pra isso precisava matar!

    Os outros Oficiais não ficaram para trás, eles atacaram com violência, mesmo estando com metade dos números, sua habilidade geral era muito superior.

    Sendo massacrados, os guardas entraram em pânico e começaram a se dispersar e correr para todos os lados. Fernando e seu grupo não os perseguiu, mas foram em direção aos portões gigantes.

    Assim que chegou em frente às gigantescas portas de metal, Fernando usou toda sua força para tentar empurrá-las, mas não se moveram no mínimo.

    “Temos que destrava-las primeiro!” Arslan gritou, apontando para uma guarita no topo da muralha.

    Fernando não parecia disposto a esperar, então com sua Vibração ainda ativa, cortou ferozmente com sua espada.

    Zim!

    Para sua surpresa, seu ataque não só não cortou, como ele até mesmo recebeu um rebote. Todos seu braço ficou dormente ao ser ricocheteado.

    “Não adianta, todo portão e muralha de cidade é feito com materiais resistentes e reforçados com runas de defesa. Levaria muito tempo para desgastar a energia das runas com ataques.” Arslan explicou.

    Sem perder tempo, um dos homens correu em direção à guarita, logo sons de correntes puderam ser ouvidos, o portão estava começando a abrir.

    “M-merda!” Um dos Oficiais gritou, quando todos olharam para trás viram uma figura familiar, a Tenente que eliminou metade do grupo estava flutuando lentamente acima das casas em direção a eles.

    “Quem é?” Fernando perguntou, com um rosto tenso.

    “Aquela maldita é uma Tenente! Se não sairmos logo todos vamos morrer!” Nina falou, em pânico.

    Ao ouvir isso, o rosto de Fernando ficou pálido, mesmo ele não se atrevia a enfrentar uma Tenente, a disparidade de força era simplesmente muito alta.

    Apesar de estar longe, a mulher levantou a mão e começou a criar uma bola de fogo.

    Quando viram isso, todos lembraram-se da cena de Fernando queimando aqueles guardas de antes num único ataque. Eles sabiam que agora seriam eles as vítimas.

    Rangendo os dentes, Fernando levantou a mão, então começou a formar uma Lança de Fogo, sua magia mais poderosa. Porém, dessa vez ele começou a reunir o máximo de mana em sua palma que pôde, ele queria fazer algo que já viu antes.

    Certa vez ele viu Tom lançar uma magia de Bola de Fogo muito mais poderosa do que ele normalmente poderia, durante a batalha com Bob William´s e seus homens, ao perguntar como ele havia feito aquilo, Tom explicou que ele simplesmente fez uma espécie de ‘sobrecarga’ usando todo seu mana e a atirou.

    Apesar de não entender exatamente como fazer aquilo, Fernando tinha uma ideia aproximada.

    Reunindo todo o mana em sua palma, ele começou a aumentar o poder e energia da Lança de Fogo, conforme fazia isso, sentiu que a lança iria explodir e matá-los, apesar do risco, não havia alternativas melhores.

    “Precisamos ganhar tempo, atirem tudo que tiverem!” Arslan gritou, ele era um soldado focado em magias de incremento físico e batalhas de curta distância, então não havia muito o que fazer. Porém havia dois ou três no grupo entre os que sobreviveram que tinham magias de longo alcance.

    Nina era uma dessas pessoas, levantando sua espada, começou a formar um pequeno ciclone na ponta da sua lâmina, o vento uivou. Então ela lançou seu ataque. O ciclone correu pelos céus, então se transformou em uma espécie de lâmina de ar rotativa, correndo em direção a Tenente inimiga.

    Outros dois do grupo fizeram o mesmo, um lançando magia de fogo, enquanto o outro atacou com magia de gelo.

    A Tenente inimiga bufou com desdém, movendo a mão uma parede de fogo surgiu, bloqueando facilmente os ataques. Enquanto em sua outra mão, uma grande bola de chamas já estava pronta.

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