Capítulo 227 - Reunião Estratégica
Quanto mais o exército se aproximava das grandes muralhas de Aquilones, mais se sentiam sufocados e oprimidos pelo seu enorme tamanho e magnitude. Ao longe puderam observar muitos soldados patrulhando do lado de fora, organizando e colocando ordem nos entornos da muralha que estava cheia de pessoas aguardando autorização para entrar.
Fernando ficou sem palavras ao ver o tamanho das duas estátuas que ficavam dos dois lados dos portões, cada uma tinha cerca de 60 metros de altura, eram como dois titãs, guardando solenemente a cidade. Ao se aproximar, sentiu-se uma formiga em frente aos dois monumentos.
Essa sensação não era exclusiva dele, todos no exército sentiam-se assim. Os veteranos que já tinham tido sua cota de experiência em Aquilones não puderam deixar de zombar dos novatos.
“Se vocês já estão impressionados com isso, imagina quando chegarem à região interna da região central, talvez tenham um ataque nervoso, hahaha.” Um sargento de um dos batalhões próximos disse com desdém ao ver a reação do Pelotão Zero, que era composto na maioria de novatos.
Fernando fez ouvidos surdos ao sujeito, ele não se importava com coisas bobas como essa.
Theodora, por outro lado, lançou um olhar afiado ao sujeito, apesar de ainda manter um sorriso, seus olhos mostravam uma certa violência, o que o fez sentir um arrepio frio.
Em pouco tempo, o exército de mais de 9 mil homens parou em frente aos portões de Aquilones, a multidão que aguardava na fila os observou, cheios de curiosidade.
“Olha, aposto que são mais tropas indo para o sul.”
“De que região você acha que eles são?”
“Quem sabe? Só sei que as coisas no sul não parecem boas, já vi mais exércitos nos últimos dias do que em meses.”
“Olha para seus brasões, acho que são dos Leões Dourados.”
“Oh, aquela legião de médio porte? Soube que eles têm algum território no sul, depois de Meridai. Que idiotas, espalhando seus territórios por todo o continente.”
Vários tipos de comentários e conversas ocorriam em meio a multidão, algumas descontraídas, outras preocupadas e algumas hostis.
Dimitri e uma coletiva apressaram-se à frente, encontrando-se com a guarda de Aquilones. Algum tempo depois, retornaram.
“Abram passagem! Abram passagem!” Guardas montados em diversos tipos de montarias percorreram em meio a multidão, obrigando-os a abrir um caminho.
Resmungos de descontentamento soavam aqui e ali, mas todos pareciam acostumados à situação. Felizmente a área externa dos portões eram vastas, mesmo que houvesse milhares de pessoas ao redor, não parecia lotado.
Logo Dimitri passou a ordem a todos os Batalhões, para que adentrassem ordenadamente na cidade. Então uma extensa procissão se seguiu, com as tropas marchando em direção aos portões, enquanto a multidão abria passagem.
Nesse momento, Fernando conseguiu ter uma boa visão das muralhas, era como se vários prédios estivessem alinhados lado a lado, era simplesmente gigantesco. E não só era alto, como se estendia por quilômetros, ele não conseguia imaginar como algo desse porte foi construído.
Logo todos adentraram a cidade, apesar de ser denominada como cidade, ao passarem pelos portões viram largas estradas e nenhuma casa nas proximidades. Somente ao longe era possível ver construções, milhares delas. Ao pensar com cuidado, Fernando entendeu, se houvesse uma batalha, era interessante não deixar a área civil próximo às muralhas, para que os civis não fossem envolvidos nos confrontos.
Mas essa linha de raciocínio causou um certo calafrio em seu corpo, com o pensamento de ‘quem ousaria atacar muralhas como essas?’. É como aquele ditado, se há medidas, é porque havia precedentes, esse pensamento causou algum desconforto em seu peito.
As tropas avançaram pelas estradas, mas curiosamente não foram em direção ao centro da grande metrópole, mas seguiram rumo às margens da cidade.
Fernando não ficou surpreso com isso, Raul já havia explicado que a Legião dos Leões Dourados tinha uma base na cidade, seria estranho se uma base militar ficasse em meio a área civil. Era bem mais aceitável que ficasse afastada.
Após seguirem nas estradas por cerca de uma hora, contornando a área residencial e comercial, chegaram a um grande castelo. As palavras ‘Filial Leões Dourados’ estavam estampadas na entrada.
O castelo era realmente gigante, mas não conseguia comportar nove mil homens, então cerca de mil adentrou, enquanto o restante acampou no entorno. Apesar de não terem um teto para ficar abaixo, a maioria não se importava. Só o fato de estarem em uma cidade protegida fazia seus corações que estavam constantemente em alerta, finalmente relaxar.
Fernando estava junto ao Pelotão Zero montando acampamento, quando viu Argos se aproximando. Ele parou rapidamente o que estava fazendo para cumprimentá-lo.
“Oficial Argos.” Fernando disse, acenando com a cabeça, enquanto olhava para o sujeito.
“Oficial Fernando, como vai?” disse, com um rosto sorridente e calmo.
“Tudo ótimo.” respondeu, tentando forçar um sorriso caloroso. Fernando odiava esse tipo de etiqueta, mas pelo bem maior fazia seu melhor para estar nos padrões.
Vendo o sorriso bizarro do jovem pálido a sua frente, a expressão de Argos mudou um pouco. Seu sorriso parecia sinistro e ameaçador.
“Ahem, Oficial Fernando, o Tenente Raul me pediu para buscá-lo. Aparentemente todas as patentes acima de Cabos foram convocadas para uma reunião estratégica.”
Fernando ficou surpreso com isso, mas logo assentiu, talvez essa fosse a última chance que tinham de se reunir, então era normal para que o Major Dimitri passasse suas instruções.
Logo ambos caminharam em direção ao castelo, Fernando ficou incomodado de caminhar ao lado de Argos, por algum motivo ele não conseguia se acostumar ao sujeito. O mesmo sempre agia calmo, tinha uma expressão de que tudo estava sob seu controle, além disso, seus longos cabelos negros balançando ao vento o incomodavam.
Percebendo o jovem o olhando de canto de olho, Argos virou seu rosto, então sorriu em sua direção. Fernando apenas ignorou e focou-se no caminho a frente.
Depois de algum tempo, logo encontraram o Sargento Túlio, junto aos Oficiais Marlon e Nina. Os três aguardavam Fernando e Argos no portão do castelo.
“Vamos, o Tenente já esta la dentro.” Túlio comandou.
Adentrando no castelo, todos seguiram em direção aos salões internos, passando pelos soldados que acampavam na região dos pátios.
Assim que entraram, puderam ver dezenas de pessoas dentro, muitos olharam brevemente em sua direção, então passaram a ignorá-los e a conversar entre si.
“Ei, venham aqui.” Todos puderam ouvir uma voz familiar, era Raul. O mesmo estava acenando com a mão, ao seu lado estava um homem e uma mulher. Ambos tinham uma presença forte.
Fernando e os outros aproximaram-se, apenas para notar o emblema no peito dessas duas pessoas, ambos eram Tenentes!
“Esse é meu pessoal, uma graça, não é?” Raul disse, rindo, enquanto apontava para o grupo heterogêneo. Túlio com seus 2 metros de altura, Marlon com seu corpo musculoso, Nina com seu rosto delicado, Argos com seus longos cabelos negros e Fernando, um garoto levemente pálido.
“Eles são bem a sua cara.” O homem disse, rindo.
“Huh! Aposto que é um bando de desordeiros assim como seu Tenente.” A mulher falou, num tom ríspido.
Raul não pareceu se importar com os comentários.
“Balena minha querida, ainda está ressentida? A culpa foi inteiramente de vocês, aqueles que apontam suas espadas contra minha Décima Terceira, devem pagar o preço.” Raul disse, começando num tom brincalhão, mas a última frase foi dita de forma ameaçadora.
A mulher chamada Balena deu um bufo frio em resposta. Então, olhando novamente para o grupo que Raul trouxe, seus olhos se arregalaram.
“E-esse é o garoto!” A mulher disse, apontando seu dedo para Fernando.
Todos não puderam deixar de olhar para a mulher e depois para o jovem, que parecia tão surpreso quanto os outros.
“Ele é o recruta que causou aquela batalha! O que atacou o Inspetor Jean! Por que ele está aqui?” A mulher gritou, num tom alto, chamando a atenção de todos.
Raul franziu a testa ao ver o comportamento da mulher.
“Eu já disse que isso são águas passadas, esse é Fernando, ele agora é um Oficial de um pelotão nomeado da nossa Décima Terceira, espero que tenha isso em mente. O que houve entre nossa Décima Terceira e sua Segunda foi inteiramente culpa de vocês.” Raul falou, seu tom mostrando que ele não estava contente.
Nesse momento Fernando finalmente entendeu, essa mulher era Tenente da Segunda Guarnição, que junto a Quarta e Oitava haviam entrado em conflito com a Décima Terceira devido às ordens de Jean Armand.
“O quê?! Esse garoto era apenas um recruta há alguns meses!” Balena exclamou, então sua expressão de confusão e surpresa logo foi substituída por raiva e desdém “E pensar que vocês estariam trazendo qualquer um para essa guerra, apenas para preencher os números. O respeito que eu tinha pela Décima Terceira foi pelo ralo.”
Raul não respondeu, mas manteve-se com um rosto sorridente e altivo. Ele, melhor do que ninguém, sabia do potencial de Fernando. Não seria estranho se outras pessoas duvidassem de sua força, afinal o garoto era simplesmente um monstro com aparência de cordeiro.
“Fernando? Arslan parece ter mencionado esse nome. Esse não é o Oficial que conseguiu liderar os demais na fuga da cidade das Mil Flores?” O homem que falou era Ícarus, Tenente da Primeira Guarnição.
Balena ficou em choque ao ouvir isso, foi só então que se lembrou do relatório que recebeu. Na época ela havia ficado incrédula e até achou que estavam exagerando, como poderia um Oficial da Décima Terceira ser tão forte a ponto de capturar e interrogar uma Subtenente e depois liderar o grupo numa matança para fora da cidade inimiga?
Se não fosse pelo fato de um dos seus Oficiais ter sido sortudo de escapar e confirmar o relatório, ela jamais acreditaria nisso.
Nesse momento, Ícarus deu alguns passos em direção a Fernando, olhando em seus olhos.
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