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    Com um rosto inexpressivo e um olhar gelado, Fernando olhou diretamente para Noah.

    “Você está entendendo algo errado Noah. Você e os demais me escolheram como líder naquela época e também optaram por me seguir, logo, você deve acatar o que eu decidir. A alocação de recursos é uma decisão minha e isso é inegociável.”

    Noah tinha uma expressão estranha ao ouvir, apesar de Fernando não demonstrar, parecia estar com raiva. Tirando o treinamento, ele sempre era bem mole com seu pessoal, dando bastante liberdade. Mas vendo-o se impor dessa forma pela primeira vez, sentiu que talvez tivesse passado dos limites.

    Virando-se, com ambas as mãos nas costas, Fernando continuou.

    “Escutem bem, todos vocês, não apenas o Noah. Muitas vezes eu tomarei decisões difíceis, algumas dessas vezes eu posso acabar errando, outras sendo egoísta como agora. Independente da situação eu sempre escutarei a opinião de vocês, mas no final, eu escolho como agir, entenderam?” disse, virando o rosto, enquanto varria seu olhar sobre cada uma das pessoas na tenda.

    “Sim, senhor!” Todos responderam em uníssono.

    Ilgner tinha um sorriso calmo. Ao ver seu jovem líder tendo sua primeira dificuldade de liderança, ele riu internamente. Ele sabia que para Fernando se tornar um verdadeiro líder, deveria saber lidar com as mais diversas situações, incluindo subordinados descontentes.

    Vendo a forma como o jovem rapaz estava lidando com isso, sendo rígido e se impondo, ele assentiu satisfeito. Um líder mole demais estava fadado ao fracasso, enquanto um líder muito severo jamais ganharia o coração de seus seguidores, é por isso que sabia que deveria haver um meio termo e Fernando parecia estar se encontrando nesse meio termo.

    Lembrando de seu tempo na Guilda Guarda-Chuvas, recordou-se de sua líder, Rosa. Ela era uma mulher gentil e caridosa, que sempre ajudaria os mais necessitados, mas no fim, quantos daqueles que ela ajudou levantaram-se para tentar vingá-la? Todos esqueceram dela, partiram para seus próprios caminhos e abandonaram a guilda que os tinha acolhido. Ilgner estava decidido a não deixar o mesmo acontecer com seu jovem líder.

    Olhando para Noah, que estava cabisbaixo com uma expressão estranha, Fernando continuou.

    “Noah, se você realmente estiver insatisfeito com minhas decisões, eu posso conversar com o Tenente Raul e aloca-lo para outro esquadrão. Eu não quero forçar ninguém a seguir minhas ordens.”

    Ao ouvir isso, Noah ficou chocado, apesar de saber que tinha passado dos limites, não imaginou que Fernando tinha ficado irritado a esse ponto.

    “Não… Não é isso… eu apenas… Desculpe.” disse, ajoelhando-se.

    Vendo isso, Fernando ficou surpreso por um segundo, mas não insistiu no assunto.

    “Quanto a você Tom, você não tem culpa de nada, muito pelo contrário. Você e o restante do Zero 4 cumpriram seu dever, se vocês não tivessem defendido a área, os Orcs teriam pego nossas tropas com guarda baixa.”

    Ouvindo isso, Tom manteve-se com um rosto complexo, como se ainda não estivesse resignado-se em relação ao que houve.

    “O Simon era um bom homem, ele sabia o que estava fazendo.” Depois de dizer isso, Fernando não tocou mais no assunto. Mesmo ele tinha dificuldades em lidar com as perdas. Apesar de manter uma fachada dura e inflexível, por dentro seu coração remoía sempre que alguém próximo a si perecia.

    “Líder, tem algo que achei estranho nessa batalha.” Tom disse.

    Fernando levantou a sobrancelha, curioso.

    “Os Orcs eram fortes, mas não pareciam tão ferozes quanto os que enfrentamos no Vale de Flaviore. Além disso, eles não tinham aquelas marcas estranhas.”

    Ouvindo isso, Fernando assentiu, ele tinha percebido a mesma coisa.

    Ilgner deu um passo à frente, como se soubesse de algo a respeito.

    “Eu não sei que tipo de Orcs vocês enfrentaram, mas existem muitas tribos e clãs. As três principais tribos são os Urukkans, uma tribo conhecida por ser a mais inteligente entre os da sua raça, são facilmente reconhecidos por sua pele vermelha. Depois vem os Dobats, uma tribo de Orcs com pele verde, são conhecidos pelos seus vastos números, é a maior e mais numerosa tribo, mas também a menos influente, devido ao fato de não serem tão poderosos individualmente quanto as outras duas grandes. E por último, os Marauders, o clã mais poderoso, conhecido como a Raça Guerreira dos Orcs. Apesar de terem uma pele verde como os Dobats, eles tem linhas vermelhas pelo corpo, possuem grande força e tenacidade. Abaixo de cada tribo existem inúmeros clãs e outras tribos menores.”

    Todos ficaram surpresos ao ver quanta informação Ilgner tinha, na maior parte do tempo só o consideravam um louco por treinamento e lutas.

    “Entendo, então o que enfrentamos hoje foram Orcs Dobats.” Fernando disse, com um rosto pensativo. 

    Se eles já estavam tendo problemas com a tribo mais fraca, ele nem queria imaginar o que aconteceria quando encontrassem as mais fortes.

    Depois de discutir por mais algum tempo, todos voltaram a seus postos.

    Ficando sozinho na tenda vazia, Fernando suspirou. Ele sabia que Noah só estava tenso e nervoso com a situação, ele não queria pressioná-lo, mas também não poderia aceitar insubordinação, pois apesar de serem companheiros, também eram soldados.

    Líder é um pé no saco. pensou consigo mesmo.

    Naquela noite, depois de aprenderem a lição, todo o exército reforçou as patrulhas e instalou armadilhas nos arredores do acampamento. Se fossem atacados novamente, seriam alertados de antemão.

    Apesar de muitos estarem inseguros, no fim não houve mais ataques. Na manhã seguinte o acampamento foi levantado e seguiram em frente, rumo ao seu alvo, Belai.

    “Vocês ouviram? Soube que o Nono Batalhão teve muitas perdas no ataque noturno de ontem, dois de seus Esquadrões foram quase que completamente eliminados.”

    “Bem, eu ouvi rumores de que o Nono é composto por muitos novatos, esse é o preço que eles estão pagando por subestimar a guerra. Os Orcs são assustadores.”

    “Por outro lado fiquei sabendo que o Décimo Terceiro Batalhão se saiu muito bem, não só eles tiveram poucas perdas, como mataram mais de cem inimigos. Se não me engano, foram esquadrões de um tal Pelotão Zero.”

    “O que? Cem Orcs? Estão claramente exagerando nos rumores.”

    Na vanguarda, junto com seus Tenentes, Dimitri estava lendo um relatório. Ao ver as baixas e mortes de inimigos do Pelotão Zero, ele ficou surpreso. Afinal, era um mero pelotão, não havia Subtenentes e Tenentes nele, mas mesmo assim eles conseguiram infringir tantas perdas nos Orcs. De repente Dimitri lembrou de algo.

    Esse não é o pelotão daquele garoto? pensou, em dúvidas. Apesar disso, rapidamente deixou o assunto de lado. Havia coisas mais importantes sobre as quais precisava pensar.

    No fim da tarde, o exército de Vento Amarelo chegou a Belai. Ao longe era possível ver fumaça e fogo, bem como ouvir os gritos de guerra da batalha.

    Quando chegaram, viram uma maré de Orcs cercando a cidade. Nas muralhas, arqueiros e magos lançavam magias sem parar. Por outro lado, os Orcs haviam derrubado toras de árvores, usando-as de apoio e estavam tentando dominar as muralhas.

    A batalha nas muralhas era feroz, era possível ver Orcs e humanos sendo derrubados aos montes.

    Reunidos na frente do exército, Dimitri, os Tenentes e o Capitão da Cavalaria de Lagartos Torkis, Boris, estavam reunidos.

    “A cidade parece estar prestes a cair.” Um dos Tenentes do Salão da Recepção disse.

    “Devemos agir antes disso.” Dimitri respondeu. “Se algum dos senhores tiver sugestões de estratégias, apresentem agora.”

    Todos ficaram em silêncio, ninguém queria assumir esse tipo de responsabilidade.

    “Receio que não tenhamos muitas opções, Major.” Ícarus disse, olhando o horizonte.

    Milhares de Orcs se destacaram do arrojado cerco, criando uma forte formação de batalha. Eles marcharam em direção ao exército de Vento Amarelo. Claramente já sabiam de sua vinda e estavam preparados para enfrentá-los.

    Vendo isso, muitos tinham rostos escuros. Por estimativas haviam mais de 30.000 Orcs nos entornos da cidade, enquanto eles eram menos de 10.000.

    Por natureza os Orcs eram uma raça muito superior aos humanos no que diz respeito à estrutura corporal. Eles eram maiores, mais fortes e seguiam ordens sem hesitar, eram soldados perfeitos. 

    Para enfrentar um exército de Orcs, geralmente os humanos usavam seus números, usando duas, três, às vezes até quatro vezes mais soldados para combatê-los. Essa era a estratégia comum adotada, mas agora, em frente a seus olhos, o inimigo tinha o triplo de seus números.

    Mesmo considerando que parte dessas tropas estavam empenhadas no cerco, eles ainda teriam que enfrentar cerca de 15.000 num combate direto.

    “Talvez devêssemos desistir e recuar, a cidade já vai cair de qualquer forma, basta olhar para as muralhas.” A Tenente Balena disse, cheia de medo.

    Zum! Boom!

    Assim que ela disse essas palavras, um grande barulho soou nas muralhas ao longe. Logo todos testemunharam uma cena espetacular. Um homem avançou sem impedimentos pelas muralhas, a cada brandir de sua gigantesca espada, dezenas de Orcs seriam jogados longe.

    Num instante ele percorreu parte da muralha, expulsando um grande número de inimigos. Os homens e mulheres nas muralhas pareciam ter enchido-se de energia e começaram a lutar com intensidade.

    Sob a luta feroz dos humanos, os Orcs foram sendo empurrados para trás, muitos caindo para a morte. Outros que estavam escalando as toras, pararam seu avanço, não conseguindo subir devido a falta de avanço dos que estavam à frente.

    De repente o homem com a grande espada subiu até as muralhas.

    Swish! ZUM!!!

    Com um balançar, um estrondo poderoso ecoou por todos os lados. Muitas das toras e vigas de madeira apoiadas nas muralhas foram estraçalhadas por um poderoso vendaval, bem como os Orcs que nelas estavam.

    Huaaaaa!!!

    Tum! Ta! Tum! Ta!

    Gritos de comemoração foram ouvidos dos soldados que defendiam as muralhas, logo eles começaram a bater com suas armas em suas armaduras, criando uma sinfonia hipnotizante.

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