Capítulo 269 - Mestre de nada
Ferman estava no alto do céu, seu entorno brilhava com uma luz ofuscante. No quinto estalo, finalmente a grande espada desceu. Todo o céu estava repleto de uma incandescência, tudo que puderam ver foi sua espada estendendo-se, sem limites para baixo, como se fosse a arma não de um humano, mas um colosso.
KABOOM!
Tanto céu quanto terra tremeram, o ar era palpável, uma densa onda de poeira varreu para todas as direções, engolfando homens e Orcs. Os sons de gritos de desespero de todos foi abafado pela poderosa onda de choque.
Fernando, que estava no meio do Pelotão Zero, tinha um olhar pálido no rosto, perguntando-se como um ser humano poderia ter tanto poder. Apesar de ainda distantes de Belai, puderam sentir o poder por trás daquele ataque.
Mesmo Dimitri, um Major, sentiu como se fosse uma pétala de dente-de-leão, flutuando em meio às violentas rajadas de ar. Diante de tal nível de poder, não poderia resistir ou mesmo pensar em resistir.
Olhando para Belai, os milhares de Orcs e humanos que lutavam entre si haviam sumido, completamente encobertos pela densa nuvem de poeira. Ferman, que estava no alto do céu, tinha um rosto estático e indiferente, como se tudo abaixo não tivesse relação com ele.
De repente, o Cavaleiro Branco moveu sua grande espada com ferocidade.
Swish! BOOM!
Com um movimento de espada, um vendaval foi criado, descendo até o chão e empurrando toda a poeira para o lado e para longe. Logo tudo abaixo foi revelado, num lado, as tropas de Belai estavam atordoadas e assustadas, mas intactas, já do outro lado, em meio as hordas de milhares de Orcs, um grande fosso com mais de 30 metros de profundidade foi criado, cortando grande parte do exercito.
Os milhares de Orcs que ali estavam alguns segundos antes, não puderam ser vistos em lugar algum.
Arregalando os olhos, Dimitri calculou mentalmente a área atingida, com contas rápidas, deduziu que pelo menos 1.000 Orcs morreram nesse único ataque! Num único ataque de um homem!
“Esse poder… Isso é um Cavaleiro?” O Major disse, com uma voz trêmula.
Ninguém ao redor ousou desdenhar do medo de Dimitri, mesmo eles mal conseguiam sustentar-se em pé, suas pernas tremendo sem parar.
Mas se os humanos, que estavam do lado de Ferman estavam tão assustados e quanto aos Orcs? O óbvio logo aconteceu, sob o poder avassalador que presenciaram, todos os Orcs tinham rostos cheios de terror e começaram a fugir. Alguns próximos ao fosso foram empurrados para dentro pelos que tentavam recuar, caindo para a morte.
O que se seguiu a seguir foi uma cena que faria qualquer um ficar boquiaberto, um poderoso exército de mais de 13.000 debandou. Milhares corriam para todos os lados, da posição que Fernando e os outros estavam, parecia um formigueiro.
Baek, o Mestre do Clã Gazuru, tinha uma expressão mista em seu rosto, um pouco de pavor, um pouco de ódio e um pouco de tristeza, pois sabia que a partir daquele dia, a partir daquele momento, o Clã Gazuru não mais existiria.
O Deserto de Ghash Karn, lar da maioria dos clãs, era cruel e impiedoso. A lei do mais forte prevalecia. O Clã Gazuru sobreviveu por muitos anos impondo sua força sob os mais fracos, dominando-os e usando-os, entretanto, depois dessa derrota, depois de perder metade de seus guerreiros e o restante fugir acovardado, a honra e valor do clã havia sido extinto.
Nenhum dos derrotados hoje voltaria ao Clã Gazuru, iriam pedir refúgio sob outros mestres, então logo a notícia se espalharia e as terras do clã seriam invadidas por rivais, seus pertences tomados e suas fêmeas levadas. Era o completo fim do Clã Gazuru, esse era o cruel mundo dos Orcs, onde só o forte sobrevive, só o forte reina.
Baek tinha uma expressão triste, ele ousou adentrar nas terras dos homens buscando recursos e terras, mas no fim encontrou apenas desgraça. Virando-se, lançou um último olhar para o humano no céu, a única forma de retomar sua honra e ganhar a confiança de seu povo seria derrotando-o, mas ele estava simplesmente assustado demais para ousar, então caminhou para longe, afastando-se. Agora, o antigo Mestre do Clã Gazuru, não era mais um mestre, ou melhor, era um mestre de nada.
Tanto as tropas de Belai, quanto as tropas de Vento Amarelo ficaram paradas, não interferindo na fuga dos milhares de Orcs.
Um dos Tenentes do Salão da Recepção ficou ansioso, vendo o inimigo fugir tão facilmente.
“Major, devemos persegui-los?”
Dimitri ficou em silêncio com a pergunta, então respondeu.
“Não se deve bater em cachorro morto. Além disso, eles recuarem é melhor para nós do que para eles.”
O Tenente ficou em dúvida com a fala de Dimitri.
“Senhor? Por que isso?”
O Major olhou para o sujeito como se fosse um tolo.
“Nós temos sorte, sorte que os Orcs Dobats são ignorantes e burros. Se insistissem nessa batalha… Provavelmente seriam os vitoriosos.”
O Tenente ficou abismado com essa informação. Então como se algo estalasse em sua mente olhou para o céu, apenas para ver Sir Ferman caindo lentamente, como um pássaro com suas asas cortadas, caindo em meio às tropas de Belai e sendo pego pelos soldados.
Naquele momento todos entenderam, o velho homem de branco no céu chamado Ferman havia feito apenas uma bravata, mesmo que ele tivesse a força para matar mil Orcs, isso era tudo, ele não poderia fazer mais nada em seguida, pois sua força se esvaiu por completo.
“Então esse é Sir Ferman, o Cavaleiro Branco. Assim como ouvi nos boatos, sua saúde está muito debilitada.”
“Se os Orcs não fossem tão medrosos, ainda teriam uma chance.”
“Nós vencemos! Finalmente podemos descansar…”
Uma série de comentários soaram em todos os cantos, alguns animados, outros tristes e alguns ainda tinham energia para falar bobagens aleatórias.
Fernando que estava em silêncio, tinha um rosto cheio de desejo, ao saber que o homem no céu era um Cavaleiro, o ápice do Sistema de Habilidades, seu coração acelerou, numa mistura de empolgação, medo e curiosidade.
Diferente dos outros, que estavam comentando sobre tudo ser um ato, ou uma bravata, Fernando zombou em sua mente, cheio de desdém para com esses. Quem ali poderia matar 1.000 Orcs para fazer uma cena e enganar o inimigo? Se fosse assim tão facil, por que eles mesmos não faziam?
Pessoas incompetentes amavam criticar e comentar a respeito de coisas que estavam além de seu alcance.
Depois de algum tempo, as tropas de Vento Amarelo chegaram a Belai. Ambos os exércitos se encararam mutuamente, havia sido uma batalha árdua, onde um lado confiou no outro para alcançar a vitória.
Apesar de ambos terem se ajudado, o povo de Belai estava cheio de gratidão e respeito em relação a esses reforços. Qualquer outro exército teria recuado e fugido ao ver a quantidade de inimigos e suas forças, mas estes não só não recuaram, como lutaram e sangraram ao seu lado, apostando tudo.
General Telles, junto a algumas altas patentes avançou. Apesar de ser um General, o homem estava magro e esguio, tanto devido a idade, quanto por lutar por dias a fio sem descansar.
“Em nome do povo de Belai, eu Telles, dou os meus mais sinceros agradecimentos. Posso saber quem comanda esse exército e de onde vem?” A voz do sujeito soou, cansada e fatigada, mas ainda cheia de poder e autoridade.
Dando alguns passos a frente Dimitri destacou-se, junto a alguns Tenentes do Salão a reboque.
“Eu sou o Major Dimitri, eu e minhas tropas viemos de Vento Amarelo, domínio do General Kalfas, viemos a mando da Cidade Dourada para apoiá-los.”
“Kalfas? Oh, eu lembro dele, é um bom homem, não me admira que seus subordinados sejam tão dignos. Mas você diz que a Cidade Dourada os enviou, mas apenas vocês?” Telles perguntou, sem dúvida. Há muito tempo ele havia enviado um pedido de resgate, mas a Cidade Dourada nunca respondeu.
“Apenas nós.” Dimitri respondeu, de forma seca e ríspida.
Sua fala foi simples e direta, mas continha muitos significados, muitos dos quais não poderiam ser ditos em voz alta.
Telles franziu a testa, compreendendo o que o Major queria dizer e logo deduziu a situação, o mesmo também estava cheio de desagrado em direção a Cidade Dourada. Em suma a Legião dos Leões Dourados havia abandonado Belai, se não fosse o fato de Sir Ferman estar presente, eles nunca teriam mandado alguém e só o fizeram pelas aparências, enviando um pequeno exército que jamais poderia contestar o cerco.
Suspirando, Telles respirou fundo, guardando as mágoas em seu peito. Felizmente um milagre havia acontecido e eles saíram vitoriosos.
Depois de uma breve conversa, convidou Dimitri e seu exército para adentrar em Belai.
As tropas de Vento Amarelo, assim como a Cavalaria Tarky foram recebidos com muito alvoroço e alegria pelo povo comum da cidade. Todos ouviram como com apenas 10.000 homens eles haviam derrotado completamente um grande exército de 15.000 Orcs, era um feito inacreditável.
Depois de uma batalha tão violenta e brutal, as tropas de Vento Amarela sentiram-se felizes em ser acolhidas de forma tão calorosa por Belai.
Vendo as crianças correndo para lá e para cá, até mesmo mulheres grávidas e jovens adultos, Fernando tinha um rosto melancólico pelos que caíram na batalha, mas ao mesmo tempo sentia que não foi tudo em vão ao ver tantos inocentes que foram salvos graças aos seus esforços.
Durante a noite o Pelotão Zero queimou algumas toras de madeira em homenagem aos 60 homens e mulheres que perderam suas vidas. Num silêncio taciturno, todos ficaram diante das chamas, apenas o som do vento gelado uivava na noite fria.
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