Capítulo 276 - Um acordo
Muitos Subtenentes e mesmo Tenentes ficaram descontentes com a promoção súbita de Fernando. Afinal eles dedicaram suas vidas à legião para atingir suas posições atuais, então era óbvio que seriam contra uma promoção indevida. Fernando não possuía a força de um Tenente, no máximo de um Subtenente.
Depois de ouvir o aviso de Wayne, que sua patente seria revogada caso se mostrasse incapaz, Fernando assentiu, então se virou e saiu. Theodora, Tom e Ilgner o seguiram de perto.
Após a nomeação dos membros do Pelotão Zero, nada mais relevante ocorreu, depois de mais algumas discussões e palestras por parte dos Generais e alguns Tenentes, o evento chegou ao fim.
Apesar do evento ter chegado ao fim, não acabou por ai. Os comerciantes e outros poderes que participaram da reunião rapidamente espalharam os acontecimentos que ocorreram com suas Pedras de Comunicação. Logo toda Belai ficou sabendo das nomeações que houveram nesse encontro.
Um novo General ascendeu, Dimitri. Um novo Capitão, Raul, além destes várias outras nomeações foram comentadas, mas dentre todas, o Pelotão Zero era simplesmente o mais comentado.
Quatro nomeações de altas patentes vindas de um único pelotão, era algo muito incomum. Além disso, a recusa de Ilgner ao cargo de Tenente e posteriormente a nomeação de Fernando em seu lugar causaram acaloradas discussões em toda Belai. Muitos julgaram que ele era incompetente para o cargo, outros disseram que havia conquistas suficientes para ser uma excessão. Independente do que era dito, sendo pró ou contra, todos tinham uma opinião a respeito.
Fernando, que havia acabado de sair do evento, estava caminhando junto aos outros em direção ao seu alojamento provisório. Mas uma figura familiar chamou sua atenção, ao vir em sua direção.
“Bom te ver, Tenente Fernando.” Argos disse, com um sorriso e uma postura respeitosa. Atrás dele, dois de seus homens o acompanhavam, eram os únicos Cabos que sobreviveram do Pelotão Lazuli.
“O mesmo, Oficial Argos.” respondeu, com um rosto calmo.
A sobrancelha de Argos levantou-se com a indiferença do jovem rapaz.
Outros diriam que era devido a promoção do jovem, afinal ele próprio era apenas um Oficial, enquanto Fernando havia saltado diretamente três cargos e abraçado a posição de Tenente. Mesmo que fosse uma nomeação provisória, era algo que qualquer um invejaria. Entretanto, Argos sabia que a indiferença do jovem não era soberba ou orgulho.
Ele sempre foi assim, mesmo no campo de batalha… pensou consigo mesmo. Apesar de seus pensamentos, um sorriso e uma expressão amigável permaneciam em seu rosto.
“Meus parabéns pela sua promoção, e claro, aos Subtenentes Theodora, Thomas e Ilgner também.” Argos disse, voltando-se aos três logo atrás. Afinal, na teoria, todos eram seus superiores agora.
Gabriel e Noah ficaram vermelhos de vergonha, entre os Cabos do Pelotão Zero, eles foram os únicos que não foram promovidos. Vendo que o sujeito nem se deu ao trabalho de cumprimenta-los, sentiram-se envergonhados
“Obrigado.” Fernando respondeu.
Vendo as respostas curtas e diretas, Argos sorriu amplamente, mas estava irritado internamente com a falta de diálogo do jovem.
“Então, Tenente Fernando, dessa vez não vim apenas para cumprimentá-lo, gostaria de discutir algo com você.”
Ouvindo isso, a sobrancelha de Fernando levantou-se. Mesmo que tivesse interagido com Argos muitas vezes, sempre havia permanecido em conversas curtas e diretas. Essa era a primeira vez que o mesmo pedia para conversar.
“Do que se trata?” perguntou, com curiosidade.
Vendo a receptividade do jovem, Argos sorriu mais amplamente, então continuou.
“O Tenente Fernando deve saber dos bloqueios comerciais impostos em Belai por parte dos Leões Dourados. Devido a isso, os comerciantes se aproveitaram e tem oferecido um valor irrisório nos cristais que conseguimos na batalha.” Como alguém que teve contribuições na batalha da ala direita, Argos recebeu alguns cristais.
“Sim, estou ciente.” Fernando respondeu, assentindo. Esse era um problema que vinha causando-lhe dor de cabeça nos últimos dias.
“É por isso que vim falar com você hoje. Consegui um contato, um comerciante das terras centrais. Ele está oferecendo 85% do valor de mercado, mesmo que ainda esteja abaixo do valor, é 35% a mais do que os outros comerciantes estão oferecendo.”
Ouvindo até ai, tanto Fernando, quanto os outros ficaram surpresos. Mas logo a expressão chocada do jovem amenizou-se.
“Entendo, é um bom negócio, mas qual seu objetivo em me dizer isso?”
Ouvindo isso, Argos sorriu, com um rosto composto e calmo.
“Hahah, o Tenente Fernando é realmente perspicaz.” disse, arrumando seus longos cabelos negros. “A verdade é que a quantia de cristais de Orcs que meu Pelotão Lazuli possui é tão pequena, que o mesmo não tem interesse em fechar o acordo.” Argos disse, de forma auto depreciativa.
Ouvindo até aí, Fernando ficou em silêncio, como se pensasse em algo.
“Então você quer que eu assuma o acordo e venda seus cristais junto?”
Clac! Clac! Clac!
Argos bateu palmas de forma cortês.
“É exatamente isso que preciso, Tenente Fernando. Se você puder incluir minha parte no negócio, não me importo em pagar um valor como agradecimento.”
Depois de ponderar por alguns segundos, concordou.
“Muito bem, nos leve até seu contato.”
“Quanto a isso…” Argos disse, olhando para Theodora e os outros. “Só nós dois devemos ir, meu contato está quebrando o acordo que os comerciantes fizeram. Então ele teme que a notícia vaze, se acontecer, ele será o inimigo número um de todos os comerciantes em Belai.”
Ouvindo as palavras do sujeito, Fernando pensou que faziam sentido. Basicamente os comerciantes em Belai haviam se aproveitado do bloqueio comercial para fazer um cartel, onde ninguém deveria aceitar comprar cristais por mais que 50% do valor de mercado.
“Você quer andar por aí sozinho com meu líder? Eu acho que não, sou muito ciumenta, e se você tentar roubar nosso Fernando de nós?” Theodora disse, apesar de parecer palavras brincalhonas, seus olhos revelavam o tom ameaçador.
“Eu não me atreveria, Subtenente Theodora.” Argos respondeu, de forma cortês e com um sorriso simpático, não intimidado pela mulher.
“Heh, tem certeza?” Theodora falou, aproximando-se, com um sorriso frio.
“Ja basta, Theodora.” Fernando disse, impedindo-a de continuar. “Vamos, mostre o caminho, eu seguirei logo atrás. Quanto a vocês, me esperem no alojamento.”
“Líder…” Theodora falou, de forma insatisfeita, mas Fernando a ignorou.
Argos tinha um sorriso hesitante ao ver os olhos ameaçadores da mulher, mas não se importou muito. Dando o mesmo comando aos seus Cabos, seguiu rumo ao norte de Belai.
Argos e Fernando andaram a passos largos pelas ruas da cidade, não rápidos o suficiente para ser considerado como correr, mas não lento o bastante para ser uma caminhada.
Como era noite, não haveria tantas complicações, mas eles se apressaram, pois no momento, Fernando era o assunto de toda Belai, seria problemático se as pessoas o reconhecessem.
Passando por muitas ruas e becos, atravessaram a cidade, depois de algum tempo chegaram a um beco sem saída, no final havia uma porta de madeira, era velha e desgastada.
“Por aqui.” Argos disse, abrindo-a e indicando que Fernando entrasse.
“Certo.” respondeu, então entrou, descendo por uma escada circular.
Olhando para o jovem recém nomeado Tenente, entrando sem hesitar no local, um estranho sorriso apareceu no rosto de Argos.
Tac! Tac! Tac!
Apenas os passos dos dois soou no estranho e longo corredor.
“O comerciante que você conversou é realmente excêntrico, ficar num lugar desses…” Fernando comentou, de forma casual.
“Realmente, mas digamos que ele não é um comerciante comum, ele trata de contrabando e algumas outras coisas complicadas. Então é necessário um local adequado.”
Ouvindo isso, Fernando que caminhava à frente, assentiu.
No final do corredor, uma porta vermelha sólida. Chegando até ela, Argos que estava logo atrás passou por Fernando, então a puxou com força. Abrindo-a. Ambos entraram ao mesmo tempo.
Dentro uma sala escura, com alguma iluminação leve. Bem no centro da sala, um velho homem estava sentado, bebendo de uma taça. O sujeito tinha rugas visíveis nos cantos dos olhos, cabelos castanhos, usava um tipo de blazer vermelho e sua idade ficava em torno dos 40.
“Você demorou.” disse o homem, num tom de desagrado.
“Mil perdões, vim o mais rápido que pude.” Argos disse, num tom calmo, mas modesto.
“É ele?” O homem disse, apontando para Fernando.
“Sim.”
“Entendo.”
Crack!
Levantando-se da mesa, o sujeito jogou a taça no chão, com descaso. Assim que o fez, duas figuras surgiram da lateral esquerda e direita da sala escura. Caminhando até a frente da porta vermelha, que parecia ser a única saída.
Vendo isso, Fernando franziu a testa.
“O que está acontecendo aqui?”
Argos tinha um rosto calmo, entretanto o sorriso aconchegante de antes havia sumido completamente, em seu lugar um semblante sombrio surgiu.
“Não é pessoal Fernando, mas eu meio… Que te vendi pra ele.”
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