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    Na manhã seguinte, foi anunciado que membros dos Lobos de Batalha haviam emboscado o novo Tenente recém-nomeado, Fernando Nóbrega. A notícia pegou toda Belai de surpresa.

    O fato de alguém se atrever a atacar um novo Tenente em plena cidade, deixou muitos membros da legião enfurecidos. Felizmente a notícia de que o Capitão Raul apareceu no local e eliminou os atacantes acalmou os ânimos.

    Segundo os relatos, os atacantes eram três homens, um de nível Tenente e dois de nível Subtenente. Já era de conhecimento comum nesse ponto que a força de Fernando era de nível Subtenente e que ele só foi promovido a esse cargo por mérito militar e devido aos seus subordinados poderosos. Então o fato dele conseguir sobreviver a isso fez muitas pessoas mudarem um pouco seus pensamentos a respeito do jovem.

    Obviamente, nada ligando Argos ao incidente foi revelado. Esse foi um pedido de Fernando a Raul, dessa forma se houvesse mais membros dos Lobos de Batalha na cidade, pensariam que Argos havia os traido, o que seria uma garantia adicional de que o mesmo não tentaria quebrar o contrato no futuro.

    “Como está indo?” Uma voz calma soou.

    “Tudo nos conformes líder, podemos anunciar a qualquer momento.” Theodora disse, com um sorriso encantador. “A menos que o Cabo Argos pense de forma diferente.” falou, num um leve tom de zombaria.

    Um homem com longos cabelos negros estava ao lado dentro da tenda, com ambos os braços entrelaçados nas costas, tipica posição militar.

    “Eu fiz uma jura de lealdade, cumprirei com minha parte, como acordado.”

    “Heh, será mesmo?” Theodora falou, num tom provocador.

    Fernando estava sentado numa cadeira, lendo alguns relatórios sobre a mesa. Na maior parte eram informações e pontos fortes e fracos sobre o Pelotão Lazuli que Argos havia entregado. Ele ficou muito surpreso com a preparação e pragmatismo do sujeito.

    Quando retornaram ao alojamento, a primeira coisa que fizeram foi capturar os dois Cabos de Argos e fazê-los assinar o Contrato de Vassalo. Inicialmente Fernando pretendia eliminá-los, mas como Argos implorou que os mantivesse vivos, alegando que eram seu braço direito e esquerdo no pelotão, acabou cedendo.

    Depois de ler o último dos relatórios, Fernando amontoou os papéis sobre a mesa, com uma expressão firme e decidida.

    “Vamos começar.”

    Ambos Theodora e Argos deixaram suas desavenças de lado ao ouvir as ordens.

    “Sim senhor!”

    Na tarde daquele mesmo dia, foi anunciado que o Tenente Fernando, com a aprovação do General Dimitri, estava criando um novo Batalhão. A notícia pegou muitas pessoas de surpresa. Era normal que novos Tenentes passassem algum tempo ganhando experiência e conquistas militares antes de começarem a construir suas forças, então criar um novo Batalhão assim que assumiu o cargo foi contra as tradições habituais.

    O novo batalhão foi nomeado de Batalhão Zero pelo próprio Fernando. Muitos ridicularizaram a ação, estava claro que o objetivo do jovem ao fazer isso era num momento em que os membros do Pelotão Zero estavam em evidência, era chamar a atenção e recrutar pessoas. Mas quem iria se arriscar a entrar num batalhão recém-criado quando seu Tenente era um Oficial até um dia antes? Ninguém seria tão tolo, ou pelo menos era isso que pensavam.

    Pouco tempo depois da criação oficial do Batalhão Zero, foi anunciado que o Pelotão Zero estava sendo incorporado, o que não surpreendeu ninguém. Entretanto, o anúncio de que o Pelotão Lazuli também estava se juntando causou surpresa e especulações por parte das tropas de Vento Amarelo.

    “Você ouviu? O Pelotão Lazuli está se juntando ao novo Batalhão Zero, o que você acha, deveríamos nos alistar?” Um jovem, com cabelos castanhos, olhos verdes e uma roupa esfarrapada perguntou, animado.

    “Você é idiota? Se quer se matar, vai sozinho, não me mete nessa.” Um homem mais velho, com cabelos escuros e cavanhaque respondeu ao jovem, suas roupas estavam igualmente esfarrapadas e sujas, haviam até manchas de sangue aqui e ali.

    “Vamos lá, Trayan, é a nossa chance! Não é todo dia que um novo Batalhão surge, ainda mais um cheio de novatos, se nos juntarmos agora no começo, poderemos ocupar posições importantes no futuro!” O jovem disse, animado.

    O homem chamado Trayan levantou as sobrancelhas, irritado.

    “Escuta aqui Leny, eu já disse que nada de bom vem em se envolver com as legiões! Porra, olha pro nosso estado, lutamos por Belai e eles nem sequer nos pagaram um centavo! Estamos completamente falidos!”

    Ambos os homens eram ex-membros da Guilda Valorosos de Belai, entretanto, pouco antes do cerco, quando notícias sobre a horda Orc chegaram à cidade, os líderes rapidamente reuniram os membros mais fortes, esvaziaram os cofres da guilda e fugiram sorrateiramente, abandonando os membros comuns e mais fracos para trás.

    Como uma das guildas da cidade, Belai convocou os Valorosos para a defesa, contratando-os como mercenários. Como os únicos Subtenentes e também os únicos membros do alto escalão que restaram na guilda, Trayan e Leny assumiram o comando, liderando os poucos membros que restaram para a batalha. 

    No fim, após dias lutando e resistindo, os membros da guilda caíram, um a um. Quando a luta acabou e a vitória foi alcançada, dos quase 600 membros, menos de 200 restaram. Para piorar a situação, um dos Tenentes de Belai havia alegado que como os líderes da Guilda Valorosos fugiram antes da batalha, seu acordo havia sido rescindido e não iriam paga-los. Isso fez com que muitos membros, revoltados por terem arriscado a vida e não receberam nada em troca se retirassem.

    No fim, menos de 100 membros restaram, em respeito e lealdade a Trayan e Leny que não haviam fugido como o restante do alto escalão. Entretanto, mesmo que ainda houvesse membros, não ousavam mais assumir o nome Valorosos, pois este agora era associado à covardia. Com os cofres da guilda vazios e sem chances de receberem o pagamento, todos estavam sem perspectivas futuras.

    “Trayan, como você planeja alimentar quase 100 bocas daqui pra frente? Só temos duas opções aqui, nos juntar a outra guilda, o que significa que muitos dos nossos serão recusados nos testes de entrada, ou nos juntar a uma legião. Pense comigo, esse novo Tenente acabou de começar um novo Batalhão, ele não tem mão de obra, não tem contatos e deve ser inexperiente. Além disso, eu ouvi que sua força mal esta na de nível Subtenente, ele só foi nomeado Tenente por causa das suas contribuições e de seus subordinados, se formos expertos podemos até tomar o controle desse Batalhão.”

    O homem de cavanhaque, chamado Trayan, ouviu tudo com uma expressão irritada. Apesar disso, sabia que Leny tinha seu ponto. Por enquanto estavam sobrevivendo com as economias pessoais deles próprios e dos outros membros, mas até quando conseguiriam se manter? Uma semana, duas? Essa era a pergunta que estava o fazendo perder noites de sono.

    “Vamos observar por mais um tempo… Se a situação for favorável podemos tentar negociar com esse novo Tenente.”

    Ouvindo isso, Leny riu, sabendo que havia convencido seu amigo.

    O alojamento temporário do Pelotão Zero, se tornou o local de alistamento do novo Batalhão Zero. Em tempos de guerra, Tenentes e patentes superiores poderiam recrutar civis se houvesse necessidade, Fernando aproveitou-se disso para construir as bases do novo Batalhão.

    Muitos alegaram que era inútil e ridículo recrutar civis, afinal a maior parte dos civis eram Avalonianos, o que por consequência os tornava fracos e sem talento. Esse era o motivo pelo qual a maior parte das legiões investia em cidades próximas a Matrizes do Mundo, onde humanos da Terra chegavam a cada mês ou poucas semanas, dependendo do local.

    Mesmo que levasse tempo e fosse trabalhoso, preferiam treinar o povo da Terra do que gastar com Avalonianos. A cada 100 recrutas vindos da Terra, no mínimo 10 se tornariam pelo menos Cabos ou patentes mais altas caso sobrevivessem. Já entre os Avalonianos, a cada 2.000 apenas 10 se tornariam Cabos ou superiores. Em suma, eram um desperdício de recursos.

    Quando Fernando ficou sabendo disso, ficou estupefato com a forma como a vida humana era avaliada, mas logo entendeu que tudo se tratava de sobrevivência dos mais aptos. Legiões que gastassem dinheiro recrutando Avalonianos acabariam por se tornar mais fracas que aquelas que não o fizeram.

    Apesar das estatísticas negativas sobre os Avalonianos, não se importou com isso, abrindo o recrutamento para qualquer um que se interessasse. Isso foi visto como desespero por muitos.

    “Nada? Ninguém se juntou ainda?” Noah perguntou, irritado.

    Ronald e Lina, que estavam responsáveis pelo alistamento, balançaram a cabeça, em negação.

    “Apenas três pessoas vieram mais cedo, mas ao verem o local vazio, acabaram desistindo.” Lina disse, com uma voz melancólica.

    Bam!

    “Porcaria, isso não vai funcionar!” Ronald exclamou, batendo no balcão furiosamente.

    “O que está acontecendo aqui?” Fernando falou, aproximando-se com Theodora, Argos, Ilgner e Tom a reboque.

    “Fernando, as coisas não estão indo como o planejado. Não recrutamos ninguém ainda. Além do Pelotão Lazuli e Zero, o Batalhão não tem ninguém… Mal temos 100 membros, como vamos recrutar mais 400 pessoas? Se continuar assim, nossa reputação…” Noah disse, roendo as unhas.

    Fernando coçou a cabeça, ao ver o estado de Noah. Vendo-o tão preocupado e aflito, começou a se perguntar se ele era um líder ruim, já que não se importava muito com isso.

    Obviamente, seu objetivo ao começar o Batalhão era aumentar sua força e influência, mas se não conseguisse muita gente também não era algo tão ruim. Preferia poucas pessoas, mas leais, do que uma multidão de gente que poderia ou não esfaqueá-lo pelas costas no futuro.

    “Então não conseguimos recrutar ninguém em mais de seis horas? Líder, você não parece ser muito carismático.” Ilgner disse, rindo.

    “E quem disse que não recrutamos ninguém?”

    Nesse momento, Karol apareceu nos portões, atrás dela uma multidão seguia de perto.

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