Capítulo 281 - Dama de Prata
Todos ficaram surpresos ao verem Karol entrando no alojamento com mais de 40 pessoas a reboque.
“Essas pessoas querem se juntar ao Batalhão.” Karol disse, com um sorriso de satisfeita. Hora e outra lançava um olhar a Fernando, cheio de orgulho, como se para mostrar que ela era tão capaz de contribuir quanto os outros.
“E quem são esses?” Theodora perguntou, curiosa.
Nesse momento um homem careca se destacou, seu rosto rígido e olhar calmo o denunciava como um veterano.
“Eu me chamo Ragin, eu era Cabo do 5° Esquadrão da Nona Guarnição de Vento Amarelo. Assim como eu, todos aqui vieram para seguir a Dama de Prata.” O homem disse, de forma convicta.
“Dama de Prata?” Fernando perguntou, com um rosto confuso.
“Ahem.” Karol limpou a garganta, então com um sorriso confiante levantou o queixo, enquanto apoiava a mão na cintura.
“Você… é Dama de Prata?” Fernando perguntou, cheio de dúvida.
Vendo o jovem a olhando de forma tão fixa e séria, as bochechas de Karol começaram a enrubescer. Nesse ponto ela começou a ficar envergonhada com o tal título que essas pessoas deram a ela.
O homem chamado Ragin então começou a contar como seus esquadrões foram praticamente aniquilados na batalha.
“Estávamos como baratas tontas, sem liderança e sem uma cadeia de comando, ninguém nos respondia nos comunicadores. Os Orcs estavam vindo de todos os lados, era praticamente certo que a linha de defesa cairia… Foi então que a Dama de Prata surgiu. Com sua lança, ela varreu os Orcs e nos ajudou a organizar nossas fileiras, então viemos pagar nossa divida.”
Todos ficaram surpresos com isso. Apesar de Karol ter recebido algumas Poções Fauser Ivrat e ter melhorado seus atributos, ainda era um pouco inferior aos outros. Então ter conseguido feitos na batalha suficientes para que as pessoas a seguissem dizia muito sobre seu carisma e habilidade de liderança.
“Heh, então a pequena Karol está crescendo e até conquistou seguidores. Fernando, você deveria ficar de olho, alguém pode acabar roubando-a de você.” Theodora disse, de forma brincalhona.
Fernando não a levou muito a sério como de costume, mas ao ver os olhares cheios de admiração e até alguma coisa a mais dos jovens na multidão, sentiu uma pontada no peito. Isso o fez franzir a testa inconscientemente.
Vendo a mudança de expressão de seu jovem líder, Theodora ficou surpresa, então riu consigo mesma. Há algum tempo Fernando estava vacinado contra suas provocações, então era divertido vê-lo finalmente reagir a algo.
Karol também notou o comportamento antinatural dele.
Ele está com ciúmes? pensou. Isso a fez sentir-se bem consigo mesma. Levando-a a enrolar o cabelo com o dedo, enquanto sorria.
Vendo-a Karol enrolar o cabelo, fez Fernando sentir-se mais estranho ainda. Isso porque ela só brincava com o cabelo quando estava muito feliz com algo.
Interrompendo os pensamentos do casal, Argos se destacou.
“Vocês tem certeza disso? Juntar-se ao Batalhão Zero é o mesmo que indiretamente juntar-se à Décima Terceira. O que significa também que vocês estarão abandonando suas Guarnições atuais.”
O comentário de Argos tocou num ponto crítico para muitos. Tecnicamente, qualquer pessoa era livre para sair de uma legião, ou se transferir para setores da mesma se outros líderes estivessem dispostos a recebê-los. Entretanto, pessoas assim seriam mal vistas por muitos, ainda mais em tempos de guerra. Além disso tudo, teriam que pagar uma multa equivalente a 1 mês de salário.
Fernando não pôde deixar de elogiar o homem por perceber esse problema antes de todos.
Parece que poupá-lo e recrutá-lo foi algo bom, depois de tudo.
Apesar de se considerar alguém relativamente inteligente, Fernando sabia que apenas isso não era suficiente para ocupar o cargo de Tenente. Não só sua força era insuficiente, sua experiência e ponto de vista faltavam em muitas situações.
“Hah, os abandonando? Foram eles que nos abandonaram primeiro!” Ragin disse, com uma expressão furiosa. Atrás dele, muitos dos outros também tinham rostos cheios de desgosto e raiva. “Todos sabemos que eles nos mandaram para o fronte com um monte de novatos para poupar suas forças, isso não é diferente de nos mandar para a morte. Não devemos nada a esses traidores!”
Ouvindo isso, todos do Batalhão Zero tinham rostos calmos. Isso era algo que todos já haviam percebido há muito tempo.
“Quanto à compensação das guarnições, não se preocupem, nós pagaremos do nosso bolso. Contanto que possamos seguir a Dama de Prata, isso não é nada.” Ragin exclamou.
Argos franziu a sobrancelha. Recrutar essas pessoas traria alguns problemas ao Batalhão, mas no geral, os prós eram superiores aos contras.
“Líder, precisamos de mão de obra. Além disso, eles estão dispostos a pagar suas próprias multas.” cochichou, próximo ao ouvido de Fernando.
Geralmente recrutar pessoas de outros postos significava que as pessoas que recebiam estes indivíduos pagariam a multa dos mesmos. Isso era conhecido como ‘roubar talentos’ afinal, apenas valeria a pena gastar dinheiro com pessoas promissoras.
O fato dessas pessoas estarem dispostas a pagar suas próprias multas mostrava o quão descontentes estavam com suas guarnições.
Todos ficaram em silêncio, aguardando a resposta do jovem Tenente.
“Se vocês querem se juntar ao Batalhão Zero, são bem vindos. Além disso, nós iremos arcar com metade de sua compensação.”
Ouvindo isso, todos ficaram estupefatos.
“Líder, isso…” Argos ficou sem palavras. Como ele havia sido poupado por Fernando, mesmo que o mesmo pudesse tê-lo matá-lo, queria oferecer o melhor de suas habilidades e conselhos. Pagar metade da multa de 40 pessoas significava arcar com pelo menos 400-600 moedas de prata, dependendo do cargo que essas pessoas tivessem. Isso era um gasto exorbitante mesmo para um Batalhão consolidado, muito menos para um recém formado.
Fernando o interrompeu, levantando a mão.
“Entretanto, vocês têm que entender uma coisa. Juntar-se ao meu Batalhão Zero, significa que eu estou os contratando, porém também significa muito mais. Isso quer dizer que suas vidas estarão nas minhas mãos e que a minha também estará na de vocês. Isso é confiança, isso é UNIDADE!” disse, enfatizando as últimas palavras. “ Vocês estão dispostos a assumir esse compromisso?”
Todos no local ficaram estupefatos com as palavras do jovem. Principalmente as pessoas das guarnições. Eles nunca conseguiram sequer falar com o Tenente de suas guarnições, muito menos ouvi-los dizer que a vida deles estava em suas mãos. Isso comoveu e deixou muitos deles sentindo que valia a pena servir a esse Batalhão.
“Estamos dispostos!” responderam em uníssono.
Vendo a resposta imediata, Fernando assentiu. Então olhou para Karol.
“Escolha os vinte melhores dentre eles, você vai comandar um Esquadrão, consegue?” perguntou, com um rosto calmo.
Karol ficou surpresa com isso. Fernando sempre tentava protegê-la a todo momento. Mesmo que sentisse que era para seu bem, muitas vezes sentia-se como um fardo. Vê-lo atribuindo-a para liderar um esquadrão, isso era algo que estava além de suas expectativas.
“Eu consigo!”
Vendo a resposta confiante e animada de sua amada, Fernando sabia que isso era inevitável.
No fim do primeiro dia, o Batalhão Zero tinha 130 pessoas. O fato de aceitarem pessoas de outros Batalhões enfureceu muitos. Pois significava que os mesmos estavam dispostos a roubar tropas de outros se fosse necessário.
Entretanto, logo surgiram rumores, falando sobre as condições das tropas que abandonaram seus batalhões. Como o fato da maioria deles ter sido enviado ao fronte sem sequer ter uma cadeia de comando adequada e que sequer haviam Tenentes enviados ao campo de batalha.
Não só isso, mas Fernando, o recém nomeado Tenente do Batalhão Zero, aceitou pagar metade da compensação de recrutar as pessoas que vieram até ele.
Isso fez todos verem o Batalhão Zero sob uma nova perspectiva, não mais como ladrões de tropas, mas como alguém disposto a acolher aqueles que estavam sendo oprimidos.
Num beco escuro, um homem de cabelos compridos e negros estava encostado na parede, era Argos. A frente dele, cinco homens em roupas velhas e desgastadas.
“Feito?”
“S-sim, é claro. Espalhamos tudo que você nos disse. Todos sabem sobre a generosidade do grandioso líder do Batalhão Zero.” O homem disse, num tom de sarcasmo. “Quanto ao pagamento…”
A verdade é que Argos era o responsável pelos boatos positivos sobre o Batalhão Zero. Como alguém acostumado a recolher informações e trabalhar nas sombras, sabia a importância de manter a opinião pública favorável.
Sem dizer uma palavra a mais, lançou uma pequena bolsa cheia de moedas para cada um.
Os homens olharam-se uns para os outros. Um trabalho tão fácil, mas eles haviam ganho 2 moedas de prata cada, isso era quase meio mês de trabalho para uma pessoa comum. Em tempos de guerra, cada pouco de dinheiro era sofrido e difícil de conseguir.
“Se tiver mais trabalhos, basta nos avisar.” Os homens disseram. Vendo que seu empregador não parecia interessado em conversar, foram embora, cheios de sorrisos.
Argos permaneceu no beco, no mesmo local.
“Até quando planeja me testar? Já jurei lealdade a Fernando.” disse, olhando para o fim do beco escuro.
Nesse momento, uma figura curvilínea surgiu dentre as sombras, como se sempre estivesse lá, era Theodora.
“Você também jurou lealdade aos Lobos de Batalha, o que te impede de trair seu novo mestre?” falou, enquanto manipulava sua adaga com uma das mãos, girando-a entre os dedos.
Vendo isso, Argos sentiu um arrepio em suas costas. Ele não havia detectado nada, apenas chutou que havia alguém o espionando e na realidade realmente tinha! Vendo que era a Subtenente Theodora, não ficou surpreso.
A mulher não escondeu sua raiva em direção a ele após tramar contra Fernando anteriormente.
Poderia-se dizer que entre os subordinados de Fernando, ela era a mais fiel e leal, chegando a um nível que Argos considerava quase lunático.
“É diferente agora. Eu servi aos Lobos de Batalha pois fui contratado para isso. Quando cheguei a esse mundo fui treinado por eles e usado por eles, como a maioria das pessoas. Mas minha lealdade nunca foi deles. Mas com Fernando é diferente, afinal, nossas vidas estão conectadas.” disse, de forma calma. Entretanto, suas costas estavam suando frio. Se a mulher quisesse, poderia matá-lo antes que sequer entendesse o que aconteceu.
Theodora sorriu, aproximou-se de Argos, então tocou sua bochecha direita com a mão, deslizou seus dedos suavemente até seus lábios.
“É melhor que seja.”
Após dizer isso, Theodora sumiu entre as sombras, deixando um Argos coberto de suor frio.
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