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    Karol ficou estupefata ao ouvir isso.

    “M-montarias?” perguntou, sem acreditar.

    “Isso mesmo.”

    “Mas eu nunca nem andei a cavalo, como você espera que eu suba nessas coisas.” disse, apontando para os Lobos Prateados, que eram tão altos quanto cavalos. Sua aparência por si só já era assustadora.

    Mesmo sabendo que simples Lobos Prateados já não eram uma ameaça para ela, Karol ainda se lembrava da primeira vez que lutou contra um, pois havia sido a primeira vez que  tirou uma vida. Sempre que lembrava daquele dia, das suas mãos pintadas de vermelho e o cheiro metálico que emanava a partir delas, sentia um mal estar.

    Vendo o nervosismo anormal de Karol, Fernando ficou em silêncio, estava claro que ela tinha algum tipo de trauma em relação a criatura. Depois de um tempo falou:

    “Agora que nos tornamos um Batalhão, não dá pra levarmos as coisas adiante da forma que era antigamente. Precisamos de um Esquadrão montado, isso é fundamental para nossa diversidade de estratégias. Escuta Karol, entre todos que confio, você é a única que domina o manejo de lança. Você é a única pessoa que pode assumir essa tarefa.”

    A verdade é que Fernando não queria envolver Karol nas batalhas, mas aos poucos notou a vontade dela de contribuir e se tornar útil. Chegou a um ponto em que sentiu que se a restringisse mais, tentando protegê-la em excesso, isso faria mais mal do que bem. Na realidade, ele só a colocou no Esquadrão de Theodora anteriormente, por sentir que a medusa era a mais capaz de protegê-la. Mesmo sem dizer nada, Theodora parecia entender esse ponto e cuidou dela. Entretanto, isso não poderia continuar, não mais.

    Na batalha contra os Orcs, não só não conseguiu protegê-la, como teve que deixá-la por conta própria. Se não tivesse dado algumas poções Fauser Ivrat, o que permitiu que sua força aumentasse, Fernando nem conseguiu imaginar o que teria acontecido.

    Desde então decidiu por uma abordagem diferente, no lugar de protegê-la, ele a prepararia para proteger a si própria. Talvez um dia ele não estivesse mais lá, se um dia ele morresse em batalha, ou assassinado, quem cuidaria dela? No lugar de deixá-la à mercê de terceiros, era muito mais confiável fazê-la forte.

    Outro ponto importante, é que ele não mentiu quando disse que Karol era a única que dominava lança entre os membros principais do Batalhão. Para montar uma cavalaria, era necessário que seus cavaleiros usassem armas de polo, como lanças, glaves, alabardas e outras armas do tipo.

    “Isso…” Ouvindo as palavras de Fernando e sua seriedade sobre ela liderar uma cavalaria, a deixou estupefata. Era a primeira vez que ele dava uma missão tão importante para ela.

    Vendo-a em dúvida, Fernando aproximou-se de um dos Lobos de Prata, a criatura rosnou.

    O grande olho de Brakas emitiu um brilho feroz, que imediatamente fez os lobos abaixarem a cabeça, enquanto choramingavam.

    Como ele treinou essas coisas? pensou consigo mesmo, sentindo um pouco de pena das criaturas.

    Com um rosto impassível, Fernando aproximou-se sem medo, então tocou a cabeça de um dos lobos, o que parecia ser o maior, acariciando-a.

    O Lobo Prateado levantou os olhos, olhando o humano sem entender, mas não resistiu, permitindo seu toque suave. Então levantou o focinho, cheirando sua palma, até que a lambeu.

    “Viu? Eles não vão te machucar, vê, ele até me lambeu.” Fernando disse, com um leve sorriso. Na Terra ele sempre amou animais, isso o lembrou de um cão vira-lata que criou quando era pequeno. Apesar do tamanho colossal, o Lobo de Prata não parecia diferente de um cachorro que queria o carinho do dono.

    “Eu acho que ele tá só provando seu sabor, isso sim…” Karol disse, receosa.

    “Hahahaha.” Ouvindo isso, Fernando não conseguiu evitar gargalhar. Era raro ele rir com tanta vontade dessa forma.

    Depois de um tempo, Karol aproximou-se, colocou a mão em um dos lobos, o mesmo que Fernando tocou antes. A criatura tinha uma pelagem quase branca.

    Inicialmente ficou com medo, devido ao trauma de antes, mas logo soltou-se. Conforme o lobo mostrava-se obediente e dócil, animou-se, brincando com a criatura.

    “Realmente, não é agressivo.”

    “Eu te falei, ele foi treinado pelo Brakas, afinal.”

    Vendo a mulher que amava sorrindo, Fernando não conseguiu evitar de sorrir também, mas ao lembrar-se que estava pedindo a ela para montar esses animais para lutar, seu sorriso lentamente diminuiu.

    “Mestre, eles não são dóceis realmente… É apenas porque eu os treinei com seu mana, na sua presença eles sempre serão obedientes, assim como aqueles que você ordenar que  não ataquem. Mas se uma pessoa aleatória se aproximar… Vai virar seu jantar.”

    Essa informação fez tanto Fernando quanto Karol congelarem por um segundo, ambos se entreolharam, vendo o susto no rosto um do outro, então começaram a rir.

    Karol, que estava enxugando as lágrimas dos risos, lentamente acalmou-se, então seu semblante pareceu estar decidido.

    “Tudo bem Fernando, eu farei isso.”

    Vendo-a séria e preparada, Fernando começou a ficar receoso.

    “Você não precisa fazer isso se não quiser, eu posso conseguir outro lanceiro para assumir a posição.” 

    Com sua nova posição como Tenente, conseguir um bom lanceiro para treinar um novo esquadrão montado não seria tão difícil.

    “Não, eu já me decidi.” Karol disse, então aproximou-se de Fernando, tocando seu rosto com a palma da mão. Seu próprio rosto lentamente chegou perto, tocando sua testa na dele, seus olhos fixaram-se um no outro. 

    Os olhos cor de mel de Karol sempre fizeram-no sentir-se hipnotizado, antes que percebesse, seus lábios se tocaram. A maciez e leve rugosidade de seus lábios sempre faziam o coração de Fernando tremer, não importa quantas vezes a beijasse. Mas o mais destacado e inesquecível era o sabor de morango que emergia quando a língua dela invadia sua boca.

    Depois de alguns segundos, ambos começaram a ficar sem fôlego, o que os fez parar. Só então perceberam os olhares atentos do Beholder, que os observava com seus múltiplos olhos. Assim como os dez Lobos Prateados, que não pareciam entender o que estava acontecendo. Tanto Karol, quanto Fernando, ficaram vermelhos de vergonha ao perceberem isso.

    “Mestre, isso é algum tipo de ritual de pré-acasalamento dos humanos?” Brakas perguntou, seu grande olho mostrava um semblante de curiosidade.

    A pergunta indecente fez ambos, que já estavam envergonhados, ficarem tão vermelhos quanto duas beterrabas.

    Irritado, Fernando mandou o Beholder de volta para o anel. Deixando-os a sós.

    Depois de um curto período de silêncio constrangedor, Karol tornou a falar.

    “Eu estou certa sobre isso. Fernando, eu não sou mais a mulher inútil que você precisa proteger. Pelo contrário, eu quem devo protegê-lo, para isso eu vou ficar mais forte, vou me tornar sua lança!” disse, movendo o pulso, logo sua lança prateada surgiu. Ela a rodou em sua mão com habilidade, então a ergueu, plantando o cabo no chão com ferocidade.

    Ouvindo isso, Fernando não sabia o que dizer. Lembrando-se da Karol que chorou até adormecer no passado, não conseguiu associá-la mais a mulher que estava a sua frente. Ele sabia, assim como ele, esse mundo estava obrigando-a a mudar e se adaptar.

    Ambos ficaram em silêncio, enquanto seus olhos se encontraram, seus olhares diziam mais que mil palavras.

    No fim, Fernando saiu, deixando-a cuidar dos Lobos Prateados. Como ele deu autoridade para ela em frente aos lobos, as criaturas a reconheciam como sua dona.

    “Quando ficará pronto o próximo lote?” Fernando perguntou mentalmente, focando-se no Anel de Aprisionamento.

    “Dentro de três meses, mestre.” A voz envelhecida do Beholder soou em sua mente.

    Essa informação fez Fernando franzir o testa.

    “Isso é muito tempo.”

    “Não há outra forma, os filhotes da matilha atual acabaram de nascer, vai levar algum tempo para crescerem.” Brakas disse, então depois continuou. “Se o Mestre estiver com tanta pressa, posso acelerar seu crescimento com alguns métodos, mas será necessário mais recursos. Além disso, existe um efeito colateral, o tempo de vida da próxima matilha vai ser metade do atual. Normalmente Lobos Prateados vivem de 10 a 15 anos, então essa matilha vai viver de 5 a 7 anos apenas.”

    Fernando ficou em silêncio após ouvir isso. Atualmente o que ele menos tinha era tempo. Sabia que os métodos que Brakas iria usar talvez fossem cruéis e inumanos, ele como a pessoa que permitia isso tudo, era o mais cruel de todos. Mesmo sabendo disso tudo, uma expressão decidida formou-se em seu rosto.

    “Faça.” disse, de forma simples. Era uma ordem curta, mas que carregava um peso enorme em sua mente.

    “Entendido…” A voz do Beholder soou a partir do anel, ficando em silêncio após isso.

    Depois de resolver as questões com Karol e Brakas, Fernando se juntou aos outros, para acompanhar o processo de seleção dos novos membros do Batalhão.

    “Como está indo?” perguntou a Noah, que estava organizando vários papéis sobre a mesa.

    “L-líder!” Lina disse, assustando-se, ambos estavam focados em sua tarefa.

    “Ja analisamos mais de 100 pessoas. Ainda faltam cerca de 250.” Noah respondeu, carrancudo.

    “O que houve de errado?” Fernando perguntou, ao notar sua expressão.

    “A maioria se saiu bem no teste de personalidade, só recusamos três até agora. Contanto que alguém não seja um psicopata, deve passar facilmente. O problema está nos relatórios que Ronald e Gabriel entregaram, os atributos da maioria é…”

    Mesmo sem que Noah terminasse a explicação, Fernando já sabia o que ele quis dizer. Mas não ficou surpreso. Boa parte dos que fizeram o teste eram civis avalonianos, enquanto outra parte eram pessoas sem grande talento dos mais diversos locais que migraram pro fronte em busca de oportunidades. Além de alguns sobreviventes da batalha contra os Orcs que estavam descontentes com seus batalhões. As chances de pessoas talentosas estarem entre eles eram muito baixas.

    “Apenas siga com a triagem como combinamos.” Fernando disse, com um rosto calmo.

    “Certo…”

    Nesse momento, Cintia entrou na sala, com um rosto ansioso.

    “Fernand-, quer dizer, líder.” Cintia disse, impaciente. 

    Apesar de Cintia ainda não se dar tão bem com Fernando, ela o respeitava muito. Além disso, ele a tirou das garras da morte, então o mínimo que deveria dar-lhe era respeito e gratidão.

    “O que houve?” Fernando perguntou, curioso pelo estado da mulher. 

    “Tem algumas pessoas q-” Antes que Cintia pudesse terminar, foi interrompida.

    “Oh, então esse é o quartel do Batalhão Zero? Um pouco decepcionante. Os rumores exageram um pouco.” Uma voz soou a partir da entrada, revelando duas figuras, que adentraram no local de forma impetuosa.

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