Capítulo 334 - Grande incursão
Naquele mesmo dia, o Salão de Belai anunciou a sentença de Fernando e do Batalhão Zero.
Muitas pessoas acharam a punição branda, enquanto outros apoiavam o jovem Tenente que ajudou a salvar a cidade.
De início, muitas guildas tentaram fazer pressão para que o Tenente Fernando fosse preso de forma definitiva ou mesmo condenado à morte. No entanto, quando foi divulgado que o Cavaleiro Branco, Ferman, havia intervido a seu favor, todas se calaram.
Mesmo que Ferman fosse um Cavaleiro em declínio e que não tivesse mais condições de lutar, sua posição e influência permaneciam. Ninguém ousaria criticar um Cavaleiro de forma aberta, as consequências seriam severas. Além disso, apoiar a destruição de uma guilda com uma má reputação não era digno de sequer manchar o nome de um homem como Ferman.
Tanto Cavaleiros quanto Grandes Magos eram considerados os grandes guardiões da humanidade. Cada um era reverenciado pelas massas e muitos até mesmo chegavam a ser cultuados. Qualquer um que ousasse se opor abertamente a eles, sem ter recursos e um ótimo motivo, sofreria não só uma represália pública, mas até mesmo das Dez Grandes Legiões.
No fim, todos se contentaram com a punição do Batalhão Zero. Afinal, ser banido de Belai, que era um importante ponto de apoio e abastecimento dos Leões Dourados não era algo bom para qualquer batalhão. Mas não só isso, eles até mesmo foram colocados para fazer parte das Tropas Avançadas de Exploração.
As Tropas de Exploração eram um contingente que avançava muito além do exército principal, sendo os primeiros a se encontrar com o inimigo e muitas vezes a entrar em atrito com os mesmos. Seu objetivo principal era detectar a presença do oponente, bem como obter informações a respeito de seus números, formações, objetivos e direção em que se movimentavam. Com base nessas informações, os Generais decidiam suas estratégias e para onde levar o corpo principal do exército.
Diziam que as Tropas de Exploração tinham a pior posição para se estar em uma guerra, pois eram os primeiros a se encontrar com o inimigo e os primeiros a derramar sangue. Se uma tropa, composta por patentes equivalentes e inferiores a Oficiais, encontrassem um Orc Líder, um massacre era garantido de acontecer.
Seguida do anúncio de punição do Batalhão Zero, o porta voz do Salão de Belai anunciou oficialmente a próxima incursão na guerra.
“Por ordens do General Supremo, Dimas Ortega, os Leões Dourados avançarão para o Sul para retomar as cidades perdidas para os Orcs. Os exércitos da Legião deverão avançar a partir de Estrona e Belai como ponto de partida. O exército principal se reunirá em Estrona, onde marchará sob o comando do próprio General Supremo para retomar a Cidade de La Rosa. O Segundo Exército de avanço partirá de Belai, onde se deslocará para se encontrar com as tropas do General Wayne, que os liderará para retomar a Cidade de Garânia.”
As notícias do início da movimentação dos Leões Dourados pegou todos em Belai e cidades próximas de surpresa. Até então, a legião permanecia passiva, apenas focando em defender seu território dos avanços dos Orcs, mas agora finalmente havia chegado a hora de contra-atacar!
Não apenas os Leões Dourados, todas as legiões começaram a se movimentar em larga escala. Milhões de soldados começaram a marchar para o sul. Generais com o nível de Paladino e/ou Mago Sênior estavam à frente de muitos dos exércitos.
No Salão de Guerra da Residência do Batalhão Zero, um clima pesado havia se instaurado.
Fernando, Theodora e o restante dos membros de alto escalão, estavam em cima do palco e haviam anunciado aos membros do Batalhão sobre seu banimento até segunda ordem, bem como as outras punições.
Os soldados abaixo estavam estarrecidos, nunca tendo imaginado que as coisas chegariam a esse ponto. Os mais afetados eram os antigos membros da Guilda Valorosos, suas raizes estavam em Belai, partir dessa forma era algo surreal para eles.
Pegando um papel entregue por Theodora, Fernando franziu a testa quando começou a ler, utilizando o amplificador de voz, o relatório com as perdas. Dos 535 membros da Força Principal, bem como dos 120 das Forças de Reserva, totalizando 655 membros do Batalhão Zero, 109 haviam morrido na luta contra a Guilda Fúria.
Era um número aterrador de perdas para qualquer batalhão, ainda mais perdas estas que sequer foram contra os Orcs, mas contra outros humanos.
No entanto, do ponto de vista dos soldados que estavam acostumados à guerra, o número de perdas foi milagrosamente baixo. Lutar contra uma guilda do porte da Fúria e ter tão poucas perdas era algo fantasioso de se acontecer. Obviamente, o motivo principal para isso era a força das Altas Patentes do Batalhão Zero e todos rapidamente perceberam esse fato.
Todos os membros com uma força considerável assumiram a vanguarda das tropas, os liderando e enfrentando os inimigos mais poderosos, assim como defendendo seus companheiros e os livrando, muitas vezes, da morte. O jovem Tenente, atirando lanças de fogo poderosas e o Bárbaro loiro, com seu ímpeto imparável, também causaram um grande impacto na moral e organização do inimigo, abrindo brechas para as tropas do Batalhão Zero se sobressair.
Mesmo com isso, Fernando estava infeliz. Sabia que haveria mortes decorrentes de sua ordem, mas se possível esperava que não fosse tantas.
“Como Tenente responsável pelo Batalhão Zero, eu sou o único culpado pela morte de cada um dos que pereceram nessa batalha. Também sou culpado pelas consequências da minha escolha e as punições decorrentes dela.” Fernando disse, olhando para os homens e mulheres abaixo.
Os soldados levantaram suas cabeças, olhando para o jovem Tenente. A verdade é que vários estavam descontentes com as ações imprudentes do rapaz, enquanto outros estavam temerosos sobre o futuro do Batalhão Zero com esse revés.
Muitos só haviam se juntado pela esperança de obter glória e riquezas ao servir um batalhão em ascensão, mas não significava que queriam segui-lo para o fracasso.
Noah tinha uma expressão complicada ao ouvir as palavras de Fernando ao assumir toda a responsabilidade. Ele, assim como Ronald, Leo e alguns outros, foram os principais incitadores do ataque a Guilda Fúria.
O próprio Ronald tinha um rosto cabisbaixo, apesar disso não se arrependia.
Mas a pessoa que se sentia mais culpada não era Noah, Ronald ou qualquer outro membro, mas a própria Emily. Seus olhos verdes tremulavam, cada palavra de Fernando era como uma facada em seu coração.
Ela não queria que nada daquilo tivesse acontecido, não queria ser a causa de tal conflito e muito menos das mortes de tantas pessoas. Mas apesar do peso descomunal em seu peito, não havia desânimo em seu rosto.
Eu vou viver. Viver cada dia da minha vida pelo Batalhão Zero, para que aqueles que morreram por minha causa não se arrependam! Então…Me perdoem. pensou consigo mesma, contendo as lágrimas e tentando manter uma postura firme.
Ronald notou o comportamento anti-natural da pequena ruiva, então chegou ao seu lado, tocando suavemente sua palma nas dela.
A garota olhou surpresa. Vendo o rosto de Ronald e o toque suave em sua mão, confortando-a, quase desabou. Mas ela era uma Cabo, uma Cabo do Batalhão Zero, e não poderia perder a compostura na frente das pessoas que arriscaram suas vidas por ela!
Olhando para os soldados abaixo, com um rosto inexpressivo, Fernando continuou.
“Um homem que não recua e não abandona seus companheiros, mesmo que tenha que pagar um pesado preço por isso. Esse sou eu, Fernando Nobrega, Tenente do Batalhão Zero.” disse, olhando para baixo. “Se há alguém que não concorda com a minha liderança, ou não está disposto a colocar sua vida em risco pelas minhas ordens, peço que saia agora. Não haverá consequências e você receberá por seu tempo de serviço.”
As palavras do jovem Tenente surpreendeu a todos no local. Theodora, Ilner e o restante do alto escalão do batalhão, não conseguiam disfarçar suas expressões de surpresa.
O maior temor de qualquer exército em tempos difíceis não eram seus inimigos, o terreno e a falta de recursos, mas os desertores e traidores. Quando um soldado dava as costas e fugia, outros naturalmente o seguiriam, causando um efeito de manada, destruindo completamente a moral de todos e abaixando seus números.
Com o Batalhão Zero sofrendo perdas e sendo destacado para uma posição de risco pouco antes de uma grande incursão, naturalmente causou medo e apreensão no coração de muitos. Somado a isso, a oferta de Fernando soava como uma saborosa refeição de leite e mel colocado à frente de um homem faminto. Este não hesitaria em devorá-la sem pensar duas vezes.
“Líder, o que você está fazendo?”
“Fernando, está louco?”
Várias vozes soaram no Cubo Comunicador do Jovem Tenente, mas ele manteve-se impassível com tudo, varrendo com um olhar indiferente sobre os soldados abaixo.
“Se querem partir, essa é sua última chance. Saiam agora.” repetiu.
Um longo silêncio espalhou-se pelo salão cheio de pessoas. Todos olharam um para o outro, como se aguardassem para ver quem era o primeiro a ir embora.
Não demorou muito para que um homem começasse a caminhar no grande salão, indo em direção a saída. Depois do primeiro, outros seguiram atrás. No fim, cerca de quatorze pessoas partiram.
Após a saída do último, todos aguardaram em silêncio, mas ninguém mais demonstrou interesse em sair.
Agora, o Batalhão Zero era composto por 532 pessoas. Apesar de tudo, suas fileiras ainda estavam completas.
Trayan, Lenny e outras pessoas experientes, tinham expressões estranhas em seus rostos. Se um líder ousasse fazer o que Fernando fez em um momento como esse, ninguém se surpreenderia se mais da metade do batalhão abandonasse o barco, mas no fim, isso não aconteceu, fazendo com que eles ficassem chocados com o resultado.
Mas apesar de surpresos, muitos acabaram entendendo a situação inesperada, que estava acontecendo bem na frente de seus olhos, após refletirem um pouco.
O alto escalão do Batalhão Zero não discriminava com base no talento e dava oportunidades para todos. Eram pessoas rigorosas e exigentes, mas desde que você se dedicasse, seria devidamente recompensado e tratado com respeito.
No final, em um mundo caótico e cruel, se você convidar alguém, que não tem para onde ir, para morar em sua casa, e o tratar com dignidade, não é incomum que este alguém comece a criar carinho e zelo por aquela casa, como se fosse dele próprio. Isso estava começando a acontecer com os membros do Batalhão Zero. O sentimento de pertencimento, apesar de se juntarem a pouco tempo, estava começando a ser plantado em seus corações. O batalhão era seu lar, e a pessoa responsável por tudo isso era aquele Jovem Tenente.
Fernando, que permaneceu em silêncio o tempo todo, assentiu após alguns minutos.
“Hoje, todos vocês passaram por uma batalha de vida ou morte ao meu lado. Lutaram por mim, e agora, mesmo com a oportunidade dada, não me abandonaram ou me traíram. Então eu, Fernando, posso afirmar com convicção que todos presentes aqui hoje são meus aliados, meus companheiros e meus irmãos.” disse, com um rosto decidido. “O que posso fazer por vocês é limitado, mas prometo que os membros do meu Batalhão Zero jamais serão maltratados. Sendo assim, hoje eu quero fazer um anúncio importante.”
Os soldados abaixo ficaram surpresos com a atitude de seu Tenente. O jovem era sempre imprevisível e fora da curva. Todos ouviram atentamente, curiosos sobre o que iria acontecer.
“Primeiramente, em relação àqueles que pereceram em batalha. Se o mesmo tiver família, a mesma receberá o equivalente a um ano de salário de seu ente querido. E a segunda coisa é que, a partir de hoje, o salário de todos, com a patente abaixo de Sargento, deverá aumentar em 5 moedas de prata.”
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