Capítulo 335 - Benefícios
O anúncio pegou todos de surpresa, muitos tinham olhos arregalados de espanto com as palavras do jovem Tenente.
Seja o pagamento à família dos mortos ou o aumento para as tropas, cada uma dessas coisas era algo impensável de acontecer em outros lugares. Mesmo se servisse diretamente sob um Capitão, talvez não recebesse tantos benefícios.
Deve-se saber que geralmente um trabalhador comum em Avalon ganhava de 1 a 5 moedas de prata por mês, com exceção daqueles com profissões que exigiam habilidades especiais e grande conhecimento ou pessoas que trabalhassem para lugares ricos.
Além disso, as próprias tropas das Forças de Reserva do Batalhão Zero ganhavam apenas 5 moedas de prata por mês, enquanto os soldados da Força Principal ganhavam 20 moedas. Apesar de não ter sido anunciado, devido a última batalha, não existia mais a possibilidade de manter a Força de Reserva por falta de membros, por isso, para alguns, seus salários iriam quintuplicar, já outros, ganhariam um quarto a mais. Um aumento de 5 moedas, mesmo que parecesse pouco, era extremamente significativo.
Não só isso, mas o Batalhão Zero, diferente de outros lugares, bancava as despesas básicas dos soldados, como a alimentação, e até fornecia alguns equipamentos básicos e uma certa quantidade de poções. Algo que seria impossível de acontecer em outros locais, onde cada soldado era responsável por si mesmo.
Isso acontecia devido ao sistema adotado por Fernando, na qual os líderes controlavam todos os espólios obtidos por suas tropas, no lugar de dar pequenas porcentagens. Isso era vantajoso para a maioria, pois os gastos com reparos, troca de equipamentos e outros itens, muitas vezes eram excessivos, fazendo-os ter que gastar seus salários para isso. Dessa forma, além de não precisarem mexer no que ganhavam mensalmente da Legião, ainda poderiam receber premiações por suas contribuições.
“Líder…”
Theodora e Ilgner, que estavam ao lado direito e esquerdo do Jovem Tenente, o olharam atordoados. Do ponto de vista dos dois, seu líder tinha ficado louco.
Apenas as despesas com mantimentos e itens de necessidade básica, totalizavam em média, mais de 4.500 moedas de prata por mês, afinal, o batalhão voltou a ter por volta de 500 pessoas. Somado a isso, acrescentar um aumento de mais 5 moedas para Soldados, Cabos e Oficiais, junto a uma indenização que seria paga todo mês às famílias dos mortos, era uma despesa colossal!
As tropas abaixo, pelo anúncio ser tão fora de curva, acharam que o Jovem Tenente estava fazendo algum tipo de piada de mal gosto. No entanto, ao ver seu olhar varrer sobre eles, entenderam que estava muito sério sobre isso.
“M-meu salário vai dobrar? Isso é incrível!” Um membro das Forças de Reserva exclamou, cheio de excitação.
“O Tenente não está mentindo? É mesmo possível fazer isso? Nunca ouvi falar de um batalhão oferecendo tantos benefícios.” Outro soldado comentou.
“Se eu morrer, minha família não vai passar fome… Eu nunca consegui um tratamento como esse antes. Minha lealdade pertence ao Batalhão Zero!” Outro gritou, cheio de ânimo.
Nesse ponto, todos caíram na real e logo muitos outros seguiram o exemplo, gritando e aplaudindo em comemoração. O som dos aplausos soou por todos os lados, enquanto as tropas riam e expressavam sua felicidade com as mudanças.
O clima tenso de momentos atrás, foi rapidamente substituído por uma forte agitação e conversas.
Theodora, Ilgner e o restante do alto escalão do Batalhão Zero, que até então estavam cheios de dúvida sobre a decisão de Fernando, ficaram estarrecidos com a mudança de situação.
“Tenente Fernando, eu vou segui-lo para onde for!”
“Eu seguirei o Batalhão Zero até os confins desse mundo!”
“Viva o Batalhão Zero!”
O Jovem Tenente observou em silêncio, enquanto as tropas abaixo clamavam por seu nome e pelo do batalhão.
Vendo as pessoas contentes e felizes, a expressão de Fernando se tornou um pouco mais amena e seus lábios curvaram-se levemente em um sorriso quase imperceptível.
Mesmo que por muitas vezes ele estivesse disposto a tomar decisões cruéis em relação aos seus inimigos, sua atitude era o completo oposto em relação a pessoas próximas e aqueles abaixo dele. Se pudesse, ele faria o seu melhor para fornecer uma vida agradável àqueles que o seguiam.
Movendo o pulso levemente, Fernando sacou sua espada Lumeris, então levantou-a para o alto.
“Para os meus inimigos, tudo que eu darei é o fio da minha lâmina.” gritou, olhando para todos abaixo, fazendo-os se calarem e voltarem sua atenção para ele. “Já para meus aliados, darei uma vida digna com tudo que estiver ao meu alcance. Hoje, vocês escolheram ficar ao meu lado e farei o possível para que não se arrependam!”
As tropas abaixo sentiram seus pêlos arrepiarem-se e seu corpo tremer de emoção. Muitos haviam se juntado ao Batalhão Zero apenas pelo momento, outros porque não tinham para onde ir e alguns apenas para obter conquistas e fama, mas no fim, sentiram que tudo isso não significava nada.
Eles entenderam que o Jovem Tenente não estava apenas tentando fisgá-los com benefícios rasos, mas estava realmente preocupado com seu bem estar. Isso era algo que jamais tiveram em qualquer outro lugar e jamais haviam visto tal tipo de pessoa em um cargo de liderança.
Até mesmo na Terra, muitos líderes eram insensíveis em suas decisões, adotando um sistema que exigia cada vez mais de seus funcionários, em troca de benefícios que eram muitas vezes incompatíveis com a função. Além de que, por natureza, a maioria dos seres humanos só se importavam verdadeiramente com si próprios e suas ambições.
Devido a Avalon ser um mundo hostil, com uma alta taxa de mortalidade, e viverem em um sistema militar que privilegiava os melhores e mais aptos, era comum os líderes se tornarem mais frios e verem seus subordinados apenas como números, demonstrando preocupação e apego apenas com aqueles mais próximos ou quem demonstrasse grande potencial.
Quanto mais alto a patente e mais homens comandavam, mais nítida era a mudança em sua personalidade e modo de pensar. A maioria dos que lideravam eram frios ou egoístas por natureza. Por isso, toda essa situação era tão surpreendente.
Pela primeira vez em suas vidas, muitas dessas pessoas tiveram um sentimento forte de pertencimento em seus corações. O sentimento de que talvez o Batalhão Zero não fosse apenas mais um lugar onde lutariam por estranhos pelo dinheiro, mas realmente porque queriam.
“UNIDADE!” Um homem gritou, empunhando sua espada.
“UNIDADE!” Muitos outros começaram a gritar em uníssono, enquanto lavantavam suas armas ou batiam elas contra seu escudo ou amadura.
“UNIDADE, UNIDADE…”
Vendo isso, Fernando saiu, deixando as tropas à vontade para comemorarem e descansarem.
Pouco tempo depois, em seu quarto, sentou-se em frente à mesa. Enquanto contemplava as duas Pulseiras de Armazenamento sobre a madeira, sua expressão era um misto de ansiedade e ao mesmo tempo alívio.
Uma das Pulseiras era com o montante de dinheiro que conseguiram dos cofres e do saque aos membros da Guilda Fúria. Na outra, era a que Ferman havia deixado antes de partir.
Parte do saque da guilda havia sido distribuída para os Oficiais e Cabos de acordo com as contribuições de suas tropas, para que estes decidissem como deveriam investir o dinheiro e equipamentos, ao mesmo tempo que pudessem premiar os soldados, sob seu comando, que mais se destacaram na batalha.
Mesmo que grande parte do saque, principalmente equipamentos e outros itens, ficasse na base de comando, para que administrassem os recursos sem a interferência direta de Fernando, na qual era informado sobre através de relatórios, uma soma considerável ainda iria para os cofres do Batalhão Zero, o qual ele tinha acesso total.
Atualmente, Fernando tinha pouco mais de 31.000 moedas de prata em sua posse, o que era suficiente para manter as despesas do batalhão por cerca de seis meses, caso fosse mantido por volta de 4.500 moedas de gastos mensais. No entanto, com a nova reformulação do pagamento e indenizações, os gastos estimados haviam subido para mais de 7.600 moedas mensais, diminuindo a reserva de dinheiro para apenas quatro meses.
Muitas pessoas em Avalon não formavam famílias por causa do modo de vida. Por causa disso, a indenização não atingiu um valor mais elevado.
Se alguém soubesse que um mero Batalhão estava gastando um valor tão exorbitante com suas tropas, essa pessoa certamente ficaria incrédula. Por sorte, somente Fernando e os membros centrais sabiam dessa informação.
Nesse momento, a salvação de Fernando eram as duas pulseiras. Ele já sabia quanto tinha na pulseira de armazenamento destinada ao saque da Guilda. Mesmo após a distribuição de itens e dinheiro para os Cabos e Oficiais, no fim, ele ainda havia recebido 35.000 moedas de prata da Guilda Fúria.
Agora entendo porque dizem que guerras são lucrativas… pensou consigo mesmo, cheio de emoção.
Com uma única batalha, ele havia conseguido dobrar sua reserva de dinheiro, isso sem contar com a venda de itens retirados dos membros da Guilda Fúria. Mesmo após a distribuição de itens para os soldados, ainda deveriam sobrar muitos, afinal, a guilda tinha bem mais membros do que o Batalhão.
Apenas com uma das Pulseiras a sua frente, seus problemas financeiros estavam momentaneamente resolvidos. No entanto, ainda havia mais uma a checar, a que o Cavaleiro Branco o presenteou antes de partir.
Fernando não se sentia bem em receber um presente de Ferman por ajudá-lo com suas Veias de Mana, pois ele também havia recebido muito. Sem a ajuda do Cavaleiro Branco, ele não teria alcançado seu atual nível de força, tornando sua luta contra Kifon menos mortal, muito menos seria capaz de fugir de uma penalidade mais severa por parte de Belai com tanta facilidade.
Apesar disso, era como dizia o ditado ‘Cavalo dado não se olha os dentes’, mesmo que estivesse relutante, acabou por aceitar.
Com um rosto decidido, pegou a Pulseira de Armazenamento que Ferman lhe deu. Era branca, com detalhes incrustados ao longo de sua superfície, como se fossem pequenos grãos de areia. Apenas por sua aparência, Fernando sabia que não era um item comum.
O jovem focou sua mente na pulseira e mesmo que pensasse estar mentalmente preparado para ver o que tinha dentro, não conseguiu evitar de arregalar os olhos, enquanto todo seu corpo tremia.
O espaço interno da Pulseira Branca era gigantesco, com centenas de metros quadrados. Deve-se saber que não havia um limite sobre o quanto alguém poderia guardar numa pulseira, afinal, ao guardar uma dentro da outra, em teoria, o espaço interno seria infinito. Mas na prática, não era exatamente assim.
Para acessar o espaço interno de armazenamento de uma pulseira, era necessário foco e concentração. Supondo que houvesse dez pulseiras, uma guardada dentro da outra, cada vez que alguém acessasse uma das pulseiras seria como uma ‘camada’. A cada camada, a quantidade de esforço mental e foco aumentaria, chegando a um ponto em que a visualização seria difícil, senão impossível. Não só isso, mas o espaço interno poderia ficar instável, podendo deteriorar ou danificar parte dos itens guardados. Além é claro, de ficar confuso e difícil de achar algo. A quantidade do mana utilizado também seria maior, apesar de não ser tão significativa.
Era por isso que Pulseiras de Armazenamento com um grande espaço eram tão valorizadas, com um único pensamento e sem esforço, poderia-se retirar qualquer item da ‘primeira camada’.
A pulseira que Ferman deixou tinha algumas centenas de metros quadrados, apenas em termos de valor, ela por si só valeria algumas milhares de moedas de prata. Porém, nesse momento, Fernando não estava arrepiado por causa disso, mas sim, pelo conteúdo.
“Isso é…”
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