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    No começo daquela tarde, Fernando, acompanhado de Argos e Theodora, foram em direção à filial da loja Etéreas em Belai.

    Mesmo que o Batalhão Zero estivesse oficialmente ‘banido’ da cidade, não foi exigido um prazo para que partissem. Além disso, como faziam parte das Tropas de Exploração que acompanhariam o exército que sairia de Belai, não havia sentido em sair de forma antecipada.

    Aproveitando-se dessa brecha, Fernando decidiu resolver todas as pendências na cidade, e a primeira era o acordo firmado entre ele e o representante da Loja Etéreas, Aldric.

    Adentrando na grande loja, que nesse ponto já estava quase pronta para abertura, o jovem Tenente observou os vários itens expostos. Muitas eram coisas que Fernando havia fornecido ao comerciante, como um grande machado Orc que pesava algumas dezenas de quilos. No entanto, como era uma empresa focada no comércio de poções e itens similares, seu foco não era vender armas, servindo apenas para atrair clientes.

    “Líder, temos que ter certeza de chegar a um entendimento mútuo com o senhor Aldric. Ele é o primeiro grande parceiro comercial do Batalhão Zero. Se falharmos com ele, outros ficarão receosos de negociar conosco no futuro.” Argos disse, em tom de preocupação.

    “É só um comerciante qualquer. Por que se preocupar tanto? Tem vários como ele por aí.” Theodora retrucou, irritada com a preocupação excessiva do sujeito.

    Argos tinha um rosto calmo, mantendo a compostura mesmo com as frequentes dúvidas e questionamentos da mulher.

    “Não é bem assim, Subtenente Theodora. Por mais estranho que pareça, no submundo dos negócios nem tudo se trata de dinheiro, confiança e reputação podem ser muito mais importantes. Uma vez que o Batalhão Zero quebre um acordo, sua reputação ficará prejudicada e muitos comerciantes se negarão a fazer grandes negócios conosco.”

    Ouvindo isso, Theodora franziu a testa. Mesmo que não quisesse admitir, ela era uma mulher inteligente e viu razão no que o sujeito disse. Então ficou em silêncio.

    Vendo isso, Argos sorriu com um rosto triunfante, era difícil fazer a mulher admitir a derrota, mas quando o fazia, sempre dava-lhe uma sensação de realização.

    “Fiquem quietos vocês dois, eu sei o que preciso fazer.” Fernando disse, enquanto caminhava para o fundo da loja, na qual tinha uma escada para o segundo andar.

    Os guardas sabiam bem quem era o jovem Tenente do Batalhão Zero, devido a sua visita anterior a mansão do Velho Gerente, então rapidamente o saudaram.

    “Tenente Fernando, suponho que está aqui para falar com o Senhor Aldric, correto?”

    O jovem assentiu, com um rosto inexpressivo.

    “Só um momento, irei chamá-lo.” Após isso, um dos guardas subiu, enquanto o trio aguardava.

    “Líder, esse lugar não traz algumas lembranças?” Theodora disse, com um rosto sorridente.

    “Lembranças?” Fernando perguntou, sem entender.

    Argos olhou para ambos, tentando compreender a situação.

    “Não se lembra? Naquela vez, em que compramos um certo tônico…” disse, de forma provocadora.

    Ao ouvir isso, o corpo de Fernando congelou. Lembrando de quando foram na Loja Etéreas de Aquilones. Lá, Theodora havia se passado por sua mulher e comprou um tônico para o libido masculino.

    O Jovem Tenente rapidamente virou a cara, ignorando a Medusa. Esse assunto era ‘perigoso’, se Karol ouvisse algo sobre, ele estaria com problemas.

    Theodora não conseguiu evitar de sorrir largamente ao ver a reação de seu líder.

    Essa mulher… Fernando pensou, irritado.

    Por mais que Theodora fosse extremamente leal a ele, não conseguia controlar seu jeito atrevido. 

    Suspirando, balançou a cabeça, deixando isso de lado.

    “Senhor Fernando! Eu soube das notícias sobre seu conflito com a Guilda Fúria. Estava extremamente preocupado, é bom vê-lo são e salvo.” Uma educada e envelhecida voz masculina soou. Logo avistaram um homem no topo das escadas da loja.

    Vendo isso, Fernando assentiu.

    “Eu estou bem, senhor Aldric. Agradeço a preocupação.” disse, com respeito.

    Por mais que o Jovem pálido não fosse alguém prendado e que tivesse tido alguma educação sobre etiquetas, ainda sabia o mínimo para se portar nessas ocasiões.

    “Fico feliz em ouvir isso.” O homem disse, com um sorriso. “Por aqui, vamos conversar na minha sala, será mais confortável.”

    Seguindo Aldric, o trio começou a subir para o segundo andar. Fernando achou vagamente familiar com o layout da loja com a que estiveram antes em Aquilones.

    Ao chegarem em frente a uma porta, o Velho Gerente a abriu e deu passagem ao trio. Era uma sala espaçosa e bem mobiliada, digno de uma grande loja.

    Logo Aldric foi em direção a sua mesa e sentou-se em sua cadeira. Fernando estava numa poltrona para convidados, enquanto Theodora e Argos ficaram ao seu lado. Essa era a etiqueta padrão para esse tipo de negociações.

    “Senhor Fernando, estou extremamente contente que você e seu Batalhão tenham vencido a Guilda Fúria e sobrevivido. No entanto…” O homem disse, hesitante. “A questão do seu banimento de Belai, isso é problemático. Desde que firmamos um acordo e recebi seus Cristais de Orcs, tenho recebido represálias de outros comerciantes locais, afinal, quebrei um acordo tácito na cidade.”

    O jovem Tenente ficou em silêncio ao ouvir isso. Assim como Aldric havia dito, na época os comerciantes de Belai estavam pagando muito menos pelos cristais, devido a um decreto de Dimas, barrando a venda de itens na cidade para a legião. Aproveitando-se disso, estavam comprando os cristais a preços mínimos e revendendo a altos preços em outros locais, fazendo grandes lucros.

    No entanto, com o acordo entre Fernando e a Loja Etéreas, uma grande quantidade de cristais invadiram vários canais de comércio em direção a Meridai e outras cidades próximas, matando grande parte do lucro desses comerciantes. 

    Não só isso, quando o acordo entre o Jovem Tenente e a filial da Loja Etéreas se tornou ‘público’, muitos comerciantes viram a oportunidade de lucrar e passaram a copiá-lo, estabelecendo acordos comerciais com pessoas de alta patente na cidade que possuíam grandes volumes de Cristais. Esse método de exclusividade nas negociações não só garantiam grandes lucros a longo prazo, como era muito mais seguro do que criar um cartel e pressionar as autoridades de Belai em busca de preços mais baixos.

    Isso gerou uma onda de mudanças no comércio da cidade e regiões próximas. Todas as lojas de grande e médio porte, estavam tentando estabelecer conexões com Batalhões, para garantir uma constante de materiais e itens para revenda.

    De certa forma, essa mudança foi extremamente positiva para a cidade e aqueles que foram mais rápidos em conseguir conexões, mas para os mais lentos, só restava ficar observando de fora.

    Devido a isso, muitos comerciantes guardaram rancor da Loja Etéreas, pois ela havia não só quebrado o cartel deles, como aplicado um esquema de negócios com o Batalhão Zero que antes só era feito para tratar de guildas, criando um novo segmento.

    Muitos destes passaram a criar obstáculos à Loja Etéreas desde então, como proibir parceiros de negociar com eles. Além de se recusar a participar de caravanas conjuntas de transporte de mercadorias.

    Isso trouxe muita incerteza a Aldric e aos membros enviados para erguer a filial em Belai. Tudo que os mantinha em frente era a promessa de lucros com o Batalhão Zero, mas com seu banimento, tudo havia ido por água abaixo.

    “Não se preocupe, nós temos um acordo, e até onde puder, irei cumpri-lo.” Fernando disse, com um rosto calmo. “Além disso, mesmo que meu Batalhão tenha sido banido de Belai, não significa que não posso negociar na cidade.”

    As palavras do jovem Tenente fizeram os olhos de Aldric brilhar.

    “Isso significa…” O Velho disse, com alguma antecipação.

    “Quer dizer que podemos manter o acordo de antes. Quanto às negociações, eu cuidarei disso, senhor Aldric.” Argos interveio, com alguma confiança. “Temos contatos na cidade e podemos facilmente realizar nossas negociações por meio deles.”

    “Isso é ótimo!” Aldric disse, em tom de alegria. Com isso, o problema que o assolava desde o dia anterior estava resolvido.

    Vendo o velho contente, Fernando sorriu levemente.

    A verdade, é que em comparação a antes, esse acordo não era tão importante para ele, já que tinha fundos suficientes para durar por algum tempo. Mas de qualquer forma, sabia que não era sábio cortar pontes e deixar aliados à deriva por conta própria. Então se pudesse resolver essa questão, certamente o faria.

    “Senhor Aldric, tem mais uma questão que eu gostaria de tratar.” O jovem disse.

    “Sobre o que seria?” Aldric perguntou, curioso.

    “Eu dei uma olhada na sua loja, ela realmente é incrível e bela, mas você não acha esse lugar um pouco apertado demais para uma Filial da Loja Etéreas?”

    Ao ouvir as palavras do jovem rapaz, a expressão do velho mudou. Se fosse outra pessoa dizendo isso, Aldric consideraria que estava tentando insultá-lo e a sua empresa.

    “Senhor Fernando, o que você quer dizer com isso? Adquiri o melhor galpão disponível na cidade e o reformei para ser uma loja.”

    O Jovem Tenente assentiu ao ouvir isso.

    “É claro, esse lugar não é tão pequeno, mas em relação às lojas no centro da cidade… É no máximo um terço do tamanho, é um pouco deplorável essa diferença. É como se aqui fosse uma vendinha de esquina, enquanto as outras são grandes comércios. Eu realmente achei que a influência da sua empresa fosse maior.”

    O rosto de Aldric escureceu ao ouvir isso. Se Fernando não fosse um parceiro comercial tão importante e o responsável pela sua ascenção na empresa, certamente teria o expulsado nesse momento.

    Argos e Theodora olharam para seu jovem líder, tentando entender o que ele queria ao irritar o homem, nada de bom viria disso.

    Talvez ele queira forçar a outra parte a quebrar o acordo por conta própria? Argos perguntou-se.

    “Caro jovem Tenente Fernando, peço que meça suas palavras ao se referir a Loja Etéreas, ela é minha casa e meu lar. Mesmo que seja o senhor, não vou permitir que falte com respeito.”

    Fernando olhou para o homem com um rosto calmo, sem se importar com o aviso.

    “Não estou insultando sua loja, senhor Aldric, pelo contrário, estou tentando ajudá-lo.” disse, de forma calma.

    “Me ajudar? Como?” Aldric perguntou. Nesse momento, a simpatia de antes já não era mais vista.

    Vendo o homem irritado, um leve sorriso apareceu no rosto do jovem.

    “Quero te dar um local mais digno para trabalhar. Então, que tal alugar a Residência de Guilda do Batalhão Zero em Belai?

    Ao ouvir essas palavras, o rosto de Argos, Theodora e mesmo Aldric mudaram.

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