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    Aldric tinha uma expressão estupefata ao ouvir a proposta do jovem.

    “O que o Senhor quer dizer com isso? Ou melhor, por quê?” perguntou, ainda em choque.

    Fernando suspirou ao ouvir isso, ele tinha sido bem claro, mas o velho ainda se fazia de desentendido.

    “Meu Batalhão Zero não pode se manter em Belai, não faz sentido manter a Residência de Guilda sem uso. Como você sabe, ela está em uma região nobre e é altamente requisitada, além é claro, de ser gigantesca. Se você transferir a operação da Loja Etéreas para lá, vai ter um rendimento muito maior.” O Jovem falou, cheio de confiança.

    Fernando não era um comerciante, mas sabia uma ou duas coisas a respeito. Locais com um alto fluxo de pessoas naturalmente vão ter maiores lucros do que os afastados e distantes.

    A expressão de Aldric era séria ao ouvir a estranha proposta do Jovem Tenente. Alugar a Residência do Batalhão Zero e transformá-la na Filial era algo muito atraente, só de imaginar as margens de lucro subindo exponencialmente faziam seus pêlos do corpo arrepiarem.

    “Se o que você diz é verdade, senhor Fernando, qual seria o valor do aluguel?”

    A expressão do Jovem era indiferente, então olhou de canto de olho para Argos. Lidar com valores de mercado em Avalon, não era algo o qual estava apto, por isso era muito melhor deixar nas mãos de pessoas que sabiam o que estavam fazendo.

    Vendo isso, Argos assentiu, entendendo que era sua hora de trabalhar.

    “O custo médio de compra de uma Residência de Guilda bem estruturada, é cerca de 20 a 100 moedas de ouro. Dependendo da localização, tamanho, qualidade das runas e algumas outras variáveis, pode ser mais, ou menos. No caso da nossa Residência de Guilda, estimamos que seu valor seja de 25 moedas de ouro.”

    Quando Fernando ouviu isso, ele tremeu. Não imaginava que o valor da residência era tão alto.

    Lembrando de Lenny e Trayan, que cederam os direitos da residência a ele tão facilmente, não conseguia entender. Se o par de homens tivesse vendido o local, poderiam facilmente viver o resto de suas vidas em paz.

    No entanto, logo Fernando entendeu suas motivações. Eles eram meros Vice-Líderes da Guilda na época, então muitos poderes iriam pressioná-los para vender por um preço muito abaixo do valor de mercado. Não só isso, mesmo que por milagre conseguissem vender pelo preço justo, sem recursos, contatos e um apoio poderoso, não passariam de sacos de moedas de ouro ambulantes, visados por assassinos e organizações sombrias.

    “Sendo assim, podemos estipular o valor em 1%, ou seja, 250 moedas de prata por mês.” Argos continuou.

    1%?… É mais valorizado do que na Terra. Bom, pelo menos, mais do que no Brasil… Fernando pensou, lembrando do passado, de quanto sufoco passava para pagar um aluguel em um lugar ruim. Se o valor fosse tão alto quanto em Avalon, teria passado dias mais amargos.

    Como alguém que foi morar em outra cidade para cursar faculdade, ele pesquisou bastante sobre o mercado imobiliário da região. Sabia que uma casa que era estimada em 300 mil reais, não cobraria 1% de seu valor como aluguel, que seria igual a 3 mil reais. Claro, isso era onde nasceu e onde foi morar, mas compreendia que não deveria haver tanta disparidade entre a base de valores de todas as regiões do Brasil.

    O rosto de Aldric era estranho, visto que era incomum alugar imóveis em Avalon, ou você os tinha ou não tinha. Ele sabia que se tivesse que pagar o valor integral da Residência de Guilda, seria impossível. 25 moedas de ouro não era uma quantia que ele tivesse em mãos, e mesmo que a sede das Lojas Etéreas fornecessem tal quantia absurda, jamais investiriam em uma cidade localizada no atual fronte, que poderia ser perdida a qualquer momento. Mesmo que 250 moedas de prata mensais fosse um valor alto, era ínfimo se comparado ao lucro com a localização do imovel.

    “Senhor Fernando, eu me sentiria honrado em aceitar sua proposta.” Aldric disse, com um rosto animado. A raiva que tinha momento antes tinha se esvaído como fumaça.

    Fernando, que viu isso, tinha um leve sorriso no rosto, achando a situação engraçada.

    Digno de um comerciante. pensou, sobre a mudança rápida de atitude e postura do sujeito.

    “Muito bem, temos um acordo.” O jovem Tenente respondeu. Logo ambos apertaram as mãos, firmando a negociação.

    Argos tirou um papel vermelho de sua pulseira, e ao pedir licença, se sentou em uma poltrona que estava ao lado de seu líder, colocou a folha sobre a mesa e começou a escrever um contrato.

    Era um tipo de papel especial, feito exclusivamente para guardar informações importantes. Nele, a Filial de Belai das Lojas Etéreas estava alugando a Residência de Guilda do Batalhão Zero pela quantia de 250 moedas mensais e precisariam pagar seis meses de depósito adiantado. O acordo seguia a regra padrão de aluguel em Avalon, sendo válido por 1 ano e não poderia haver aumento no aluguel durante esse período.

    Ambos, Fernando e Aldric, deveriam assinar o contrato e, por uma pequena taxa, o registrar no Salão de Belai. Fazendo isso, ela seria reconhecida pelos Leões Dourados. Se um dos lados tentasse quebrar o acordo, o outro poderia exigir o cumprimento junto à Legião.

    “Senhor Aldric, um de meus homens, sob o comando do Sargento Argos, será enviado periodicamente para lidar com as questões do aluguel, bem como de futuras negociações.” O Jovem falou

    “Tudo bem, Tenente Fernando.”

    O coração do Velho Gerente doeu ao retirar 1.500 moedas de prata, mas logo seu humor melhorou ao imaginar o lucro que obteria logo mais. Ao pensar nisso como um investimento de retorno garantido, ficou muito mais fácil lidar com a situação.

    No fim, tanto o Batalhão Zero quanto a Loja Etéreas se beneficiaram. Isso fez o velho pensar que realmente valeu a pena firmar laços com o Jovem Tenente.

    O trio logo saiu da loja, rumando a Residência da Guilda para fazer os preparativos de partida.

    Argos, que caminhava logo atrás de Fernando, tinha uma expressão complicada. Olhando para Theodora, percebeu que a mesma tinha o mesmo tipo de olhar em seu rosto.

    Ambos estavam estupefatos com as atitudes do Jovem. Nenhum deles jamais imaginaram, enquanto iam em direção a Loja Etéreas, que iriam participar desse tipo de negociação, mas Fernando os surpreendia com frequência. Era como se o rapaz tivesse um faro para o dinheiro.

    Andando mais devagar, Argos chegou perto de Theodora.

    “Você acha que o líder era filho de algum grande empresário na Terra?” disse, sussurrando. Essa era a única explicação que o sujeito conseguiu pensar ao ver tudo que o mesmo fazia.

    Ouvindo isso, Theodora sorriu. Mesmo que ela não entendesse muito sobre a Terra, pois tudo que conhecia vinha de relatos e boatos, de uma coisa sabia, Fernando não era alguém rico ou influente no seu mundo original.

    Quando se infiltrou na Matriz do Mundo, misturando-se aos recrutas humanos, tudo que ela pensava era em obter o máximo de informações possíveis. Devido a isso, analisou e investigou o máximo de pessoas que chamaram a sua atenção ao longo do tempo, e claro, Fernando estava incluso nisso.

    Lembrando de suas roupas esfarrapadas e seu jeito humilde no passado, ela sabia que com certeza o rapaz não vivia uma vida luxuosa na Terra.

    “Quem sabe?” respondeu, de forma sarcástica.

    Argos coçou a cabeça, mas não pensou muito sobre isso. Como um Sargento e membro de confiança de Fernando, seu objetivo era garantir o bom funcionamento do Batalhão Zero. Para isso, fontes fixas de renda eram absolutamente necessárias. Com o acordo fechado, eles teriam um fluxo constante de dinheiro, mesmo que não obtivessem tantos lucros em missões ou expedições no futuro.

    Andando pelas ruas de Belai, era possível ver pessoas e soldados andando e correndo para todos os lados. Com o decreto da incursão ofensiva dos Leões Dourados, todos estavam se preparando para a guerra. O exército deveria partir pela manhã, então muitos estavam fazendo seus preparativos finais.

    Não era somente o exército dos Leões Dourados que iria partir. Tropas de Guildas e Legiões menores também estavam estacionadas na cidade, aguardando. Seu objetivo era acompanhar o exército dos Leões Dourados como tropas independentes e obter o máximo de lucro possível.

    Obviamente, o Alto Comando de Belai sabia disso, mas mesmo assim não interviu. Para eles, toda a ajuda era bem vinda, mesmo que não estivessem dispostos a seguir suas ordens.

    Chegando a Residência do Batalhão, Fernando parou seus passos, com um rosto franzido. Em frente aos portões, havia um punhado de gente dispersa, pareciam estar aguardando algo.

    “O que é isso?” perguntou.

    Argos e Theodora se entreolharam, sem entender.

    “Vou averiguar assim que entrar.” Argos falou.

    Quando o trio passou pelas pessoas, o grande portão de entrada abriu-se, chamando a atenção de todos em volta.

    “Deixe-nos entrar!”

    “Queremos nos juntar, nos deixe entrar!”

    “Eu quero me juntar às tropas de exploração!”

    Várias pessoas começam a gritar. 

    Quando viram os soldados saindo, os saudando e se aglomerando em torno do trio, perceberam que eram pessoas importantes, então rapidamente uma comoção começou.

    “Por favor, nos deixe falar com o Tenente Fernando. Eu tenho família em Lanev, preciso saber o que aconteceu com eles. Eu servirei aos Leões Dourados com minha vida, por favor!”

    “Eu preciso ir pro Sul, minha filha estava em Conália.”

    Várias pessoas clamaram.

    Ouvindo suas vozes, e parando brevemente antes de continuar a andar, a expressão de Fernando mudou levemente. Logo, ele entendeu o que estava acontecendo.

    Quando a invasão dos Orcs começou, muitas pessoas estavam trabalhando nas cidades mais próximas à Meridai. Foi somente quando as notícias da queda de várias cidades se espalharam que todos entraram em pânico. Aqueles que tinham família mais ao sul, se apressaram para voltar a sua cidade, mas descobriram que não havia como passar, ficando presas no atual fronte.

    Com as notícias de que as tropas de Belai partiriam, essas pessoas que haviam perdido as esperanças, tiveram uma injeção de ânimo. Para irem em direção aonde suas famílias estavam, elas fariam de tudo. E para conseguir isso, juntar-se às Tropas de Exploração parecia ser o melhor caminho.

    Com o Batalhão Zero sendo designado previamente e publicamente para essa posição, todas essas pessoas se apressaram para os portões da Residência do Batalhão.

    Quando Fernando, Theodora e Argos entraram, os soldados barraram as pessoas.

    “Reúna todos.” Fernando disse, com uma expressão calma.

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