Capítulo 343 - Pequeno Leão
O Batalhão Zero avançou com cautela, investigando os arredores à frente do exército que partiu de Belai. A vantagem de 3 km pode parecer pouca, mas se encontrassem algum grande perigo, suas perdas seriam enormes antes que a ajuda chegasse.
Sabendo disso, Fernando ordenou aos Cabos que selecionassem Soldados ágeis para serem batedores, então os espalhou numa formação de leque. Dessa forma, não importa onde eles fossem atacados, poderiam reagir a tempo.
Obviamente os homens escolhidos sabiam que caso encontrassem inimigos, as chances de sobreviverem eram baixas. Por isso todos avançaram com suas Pedras de Comunicação em mãos, para que pudessem reportar qualquer coisa suspeita.
Com um olhar atento, o Jovem Tenente investigou os arredores, pouco atrás dos batedores. Nesse ponto, eles haviam acabado de entrar numa região cheia de árvores espalhadas ao longo do terreno.
Era uma floresta que se assemelhava à caatinga, no entanto, as árvores eram estranhamente grandes para esse tipo de terreno seco. Seus troncos eram acinzentados e suas folhas tinham a cor marrom.
Parando seus passos e ajoelhando-se ao lado de uma árvore, Fernando tocou sua base, intrigado.
No sul era predominante o terreno árido e quente durante o dia, com baixas temperaturas durante a noite. Ele já havia ouvido falar que mais ao sul ficavam os desertos, territórios dos Orcs. Sendo o mais conhecido o Ghash Karn, onde habitavam os grandes clãs.
Enquanto analisava o ambiente, sentiu alguém se aproximando. Olhando para trás, notou uma figura cambaleante, apoiando-se com sua mão no ombro de alguém.
Eram Wedsnagauer e Alfie Caiman.
Esses dois de novo… pensou, insatisfeito.
Levantando-se, o jovem Tenente aproximou-se para cumprimentá-los.
A verdade é que anteriormente ele havia esquecido da presença dos mesmos. O idoso, que possuia uma longa barba branca, e o homem, com longos cabelos negros, não eram a prioridade do jovem rapaz, mesmo que Ferman pessoalmente tivesse insistido para trazê-los consigo.
No entanto, ambos eram insistentes em puxar conversa consigo, desobedecendo ordens e avançando à frente das tropas recuadas várias vezes para encontrá-lo. Como Fernando havia declarado que os dois eram Consultores Externos contratados para aconselhá-lo, os soldados não ousavam barra-los.
“Vocês deveriam continuar recuados, ao lado da Unidade de Logística.” disse, num tom calmo, mas de ordenança. O jovem não queria o par de homens interferindo na linha de frente.
“Lá atrás? Faz mais de quatro horas que saímos e tudo que as pessoas fazem por lá é reclamar. Estou entediado, rapaz.” O velho resmungou.” Por que não aproveitamos que temos algum tempo e discutimos um pouco sobre Runas? É realmente uma área vasta e incrível, você não vai se arrepender!”
Ouvindo isso, Fernando manteve um rosto inexpressivo. Por algum motivo, Wedsnagauer era extremamente tenaz ao falar a respeito de Runas com ele, mesmo que tecnicamente tenha os acompanhando visando ensinar a Emily.
Vendo o jovem Tenente em silêncio, o velho homem resmungou algumas palavras incompreensíveis, enquanto Alfie Caiman sorria ironicamente ao seu lado.
“Você deve estar curioso, não? Sobre onde estamos agora.” O Mestre de Matrizes insistiu.
Apesar de Fernando fazer ouvidos surdos para o homem, ele não desistiu. “O lugar em que estamos é conhecido como Zona Divergente, ela abrange toda a região de Meridai em diante. Cessando apenas nas terras amarelas dos desertos, território daquelas coisas.”
Ao ouvir isso, o rapaz olhou para o velho com um olhar estranho.
“Zona Divergente? Tem algum motivo pra ser chamado assim?”
Vendo que conseguiu chamar a atenção do jovem, o Wedsnagauer riu consigo mesmo.
“A Zona Divergente é uma área realmente estranha. Mesmo que apresente um clima árido, quente e seco, ainda sim consegue nutrir uma grande variedade de plantas com um solo muito fértil. Não só isso, mas mesmo que tenha características como essa, ainda neva no inverno, assim como ocorre ao norte das grandes muralhas de Meridai. É uma região muito incoerente. Em suma, é a área de transição até os desertos.”
O jovem Tenente ouviu tudo com atenção, com um semblante de curiosidade. Então ajoelhou-se, agarrando um punhado de terra do chão. Era uma terra seca e escura, mas ao focar nela sentiu algo.
“Hoh, você percebeu? Esse é o motivo para a Zona Divergente ser tão cobiçada mesmo sendo perigosa.” O Wedsnagauer falou, com um sorriso estranho. “O subsolo dessas terras é rico em mana e é o motivo para conseguir manter tanta vida, mesmo com as condições desfavoráveis. Devido à abundância de mana, há muitos minérios e materiais raros, assim como uma fauna excêntrica. A maioria das Legiões estabeleceram uma ou outra cidade para explorar seus recursos, assim como aproveitar esse solo fértil para plantar. No entanto…”
Por um segundo, o Mestre de Matrizes parou, lançando um olhar sério para ao longe em direção ao Sul.
“Não somos os únicos que cobiçamos essas terras. Há muitos anos os Orcs desejam tomá-la para si, muito antes da humanidade colocar seus pés nesse lugar.”
“O que quer dizer com isso?” Fernando perguntou, tentando entender melhor o que acontecia naquele local.
“A Zona Divergente já pertenceu a outros donos no passado, aos Altos Elfos. Eles foram donos desse lugar por muito tempo, mas quando a humanidade começou a crescer, se viram num dilema. Haviam humanos atrás e Orcs na frente, eles deveriam se concentrar em qual dos inimigos?” O velho disse, num tom de ironia e até um pouco de raiva. “Obviamente em nenhum. Os malditos orelhudos sabiam que seria difícil de proteger esse lugar, então eles intencionalmente nos atraíram para cá, prevendo que a ganância dos homens não resistiria às riquezas, então de bom grado cederam essas terras. Assim conseguiram com que nós e os Orcs nos enfrentassemos em batalhas sem fim, enquanto eles recuaram silenciosamente para as florestas do leste.”
Fernando ficou surpreso ao ouvir isso. Desde que conheceu os Elfos Negros no Norte, sentiu que eram uma raça realmente poderosa e até um pouco cruel, mas percebeu que em comparação aos humanos, faltava algo, algo importante em qualquer guerra, a malícia. Entretando, quando soube a respeito dos Altos Elfos, na época pensou que talvez houvesse um motivo para eles terem prosperado, enquanto os Elfos Negros se viram encurralados.
Quando o jovem Tenente estava prestes a perguntar mais algumas coisas, foi interrompido, seu Cubo Comunicador brilhou.
“Temos contato a Sudoeste, temos contato!” Uma voz baixa em pânico foi ouvida nas comunicações.
Com um olhar afiado, Fernando preparou-se, pronto para usar os Passos Tirânicos para ir até a localização indicada.
“E-espera, acho que… Não são inimigos! São humanos, parece ser um Batalhão, eles carregam brasões dos Leões Dourados.” A voz do homem soou novamente.
Ouvindo isso, o rapaz ficou surpreso.
Swish! Swish!
Como fantasmas, Theodora e Ilgner surgiram entre as árvores. Ao verem seu Tenente, se aproximaram.
“Líder.” A mulher disse, com um tom de incerteza.
Pelas ordens que receberam, o ponto de encontro deveria estar próximo, mas eles deveriam prosseguir por pelo menos mais uma hora antes que chegassem ao local.
“Eu sei, vamos dar uma olhada.” O jovem respondeu, com um olhar incomum.
Boom! Boom! Swish!
Com duas explosões, Ilgner e Fernando partiram usando suas Habilidades de movimentação, enquanto Theodora tentou segui-los logo atrás, mas não conseguiu acompanhá-los mesmo com sua alta Agilidade. Essa era a diferença entre alguém do Sistema de Habilidades e alguém que não era.
“E lá vão eles… Droga, eu estava quase o fisgando!” O velho Wedsnagauer resmungou, irritado.
Ao seu lado, Alfie Caiman sorriu, acenando com a cabeça em sinal de conforto.
“Não se preocupe Doutor, tenho certeza que você conseguirá. Teremos muitas oportunidades para convencê-lo.”
“Hm, você está certo… Caiman, por sinal, estou com fome, quero meu mingau.”
“…”
…
Chegando ao local onde os batedores estavam, Fernando olhou por um monóculo para as tropas que avançavam em sua direção. Assim como o homem havia dito, eram tropas dos Leões Dourados.
“É melhor chamar o restante do batalhão.” Ilgner disse ao lado, com um rosto de desconfiança.
O rapaz imediatamente entendeu o que ele quis dizer. Com o clima tenso entre a facção de Wayne e Dimas, não era sensato se expor ao perigo. Mesmo que a situação ainda não tenha chegado a um nível crítico, era melhor prevenir do que remediar.
Depois de alguns minutos, as tropas que estavam recuadas chegaram e logo avançaram, em formações, com Fernando, Ilgner, Theodora e Tom à frente. Bianco, que ocupava a patente de Cabo, estava próximo deles, um pouco atrás.
Já o batalhão desconhecido, parou a algumas dezenas de metros, como se observasse a situação. Logo meia dúzia de pessoas saíram em meio às tropas, indo em direção ao Batalhão Zero.
Sem dizer uma palavra, o jovem Tenente parou e levantou o braço direito. Ao perceber a ação, a Subtenente ordenou que as tropas parassem.
Depois de um breve momento, Fernando, junto aos outros quatro, caminhou em direção às pessoas que se aproximavam. Logo os dois grupos conseguiam ver com clareza os rostos uns dos outros.
A área em que estavam era mais aberta, uma grande clareira em meio a mata.
A frente do grupo opositor tinha um homem negro, de olhos verdes e um cabelo escorrido com mechas na altura dos ombros, que caiam do topo para os lados, balançando enquanto andava com tranquilidade. Ao lado dele, tinha um velho homem de armadura e mais algumas pessoas que pareciam ser guardas.
Ambos os grupos pararam a poucos metros um do outro.
“Vocês devem ser o Batalhão Zero, estávamos esperando sua chegada.” O homem negro disse, com um sorriso.
Fernando olhou para o homem com um olhar calmo. Então o Cabo Bianco, cujo tinha um porte físico corpulento, cochichou em seu ouvido.
“Eu já decorei a identificação de alguns dos principais Batalhões da Legião e nunca vi essa.” disse, olhando para a insígnia escrita ‘Amanhecer’ na braçadeira do sujeito desconhecido.
“Vocês nos conhecem, mas quem são vocês?” O jovem pálido perguntou, olhando para o sujeito.
Ouvindo isso, o homem levantou um sorriso no canto da boca.
“Você deve ser Fernando Nobrega, o mais novo Tenente sob as tropas do General Dimitri. Ouvi muito a seu respeito, um herói que nasceu da Batalha de Belai, estava ansioso para conhecê-lo.” O homem declarou, olhando nos olhos do jovem. “Eu me chamo Heitor Sariev.”
Fernando olhou para o sujeito com alguma estranheza, o rapaz à sua frente não parecia muito mais velho que ele, mas as pessoas ao seu redor pareciam respeitá-lo muito.
“H-heitor Sariev?! Esse é o homem conhecido como Pequeno Leão!” Bianco, que estava logo atrás, exclamou perplexo.
O jovem Tenente olhou para trás em dúvida, sem entender o que isso queria dizer.
“Ele é um grande gênio, nutrido na Cidade Dourada, mas não deveria estar aqui. A menos que…”
A expressão contente do homem negro diminuiu levemente ao ouvir isso.
“Sim, eu me formei na Academia Militar a pouco tempo. A patente mínima ao sair da Academia é Capitão, então vocês podem me chamar de Capitão Heitor.” falou, apontando para a insígnia pintada em sua braçadeira que simbolizava sua patente.
Fernando ficou surpreso com isso, não só o homem parecia ter uma idade próxima a dele, como já era Capitão, a mesma patente de Raul e Viktor Yudin.
Esse é um dos tais gênios da capital que o senhor Raul tanto falava? perguntou-se, estupefato.
“Quanto a você, se me chamar de ‘Pequeno Leão’ novamente, vou te cobrir de porrada.” Heitor falou, olhando para o Cabo corpulento.
Vendo isso, o jovem pálido franziu a testa, num misto de estranheza.
“Mesmo que o senhor seja meu superior, peço que não ameace um de meus homens.” disse, com um rosto frio.
Bianco, ao ver a situação que causou, rapidamente se encolheu, ficando em silêncio. Como braço direito de Argos, sabia que deveria ter mais cuidado com o que falava.
Com as palavras do jovem Tenente, um clima frio se instaurou. Mas rapidamente foi quebrado por uma risada.
“Hahahaha, eu estou só zuando. Não me leve tão a sério.” Heitor Sariev disse, rindo. Então avançou, esticando o braço em sinal de cumprimento. “Eu estava ansioso para conhecê-lo, Fernando, do Batalhão Zero.”
O jovem suspirou, achando suspeito o jeito desse homem. Mas avançou com calma, levantando a mão e apertando a dele em reciprocidade.
Ambos apertaram a mão um do outro, com firmeza. Mas o jovem Tenente achou estranha a força incomum do aperto do sujeito à sua frente.
“Eu ouvi que você era a pessoa mais jovem a assumir o cargo de Tenente nos Leões Dourados. Afinal, é incomum que gênios assumam posições antes de se formarem, sempre saindo como Capitães ou Majores. Qual é a sua idade, exatamente?” perguntou, ainda apertando a mão de Fernando.
O rapaz franziu a testa, mas respondeu.
“Eu completei dezenove na noite anterior.”
Theodora, Ilgner e os outros dois ficaram surpresos com isso, não sabiam que seu Tenente estava fazendo aniversário.
“Oh, dezenove, nada mal. Eu tenho vinte, temos quase a mesma idade.” Heitor respondeu, com um sorriso.
Dessa vez Fernando ficou realmente surpreso. O sujeito a sua frente parecia ser jovem, mas não imaginou que fosse apenas um ano mais velho. Tanto seu porte quanto sua aura faziam-no parecer muito mais velho do que realmente era.
“Então, Fernando, do Batalhão Zero, eu quero fazer uma proposta.” disse, olhando o rapaz nos olhos. “Quero provar por mim mesmo a força do herói de Belai, então…”
Após dizer isso, Heitor puxou o braço de Fernando violentamente, acertando-o no rosto com sua testa.
Bang!
“O-o que voc-” Theodora gritou, sacando sua espada de sua pulseira. Mas antes que pudesse fazer algo, o velho que estava um pouco atrás do homem negro, apareceu na sua frente, bloqueando não só ela, mas também Ilgner e Tom.
Os olhos do idoso cravaram neles, como uma águia observando uma ninhada de ratos.
Um… General! Os três pensaram ao mesmo tempo. Mesmo sem terem cruzado ataques, sabiam de forma instintiva que esse homem não tinha uma força menor que um General.
Fernando, que teve seu rosto acertado, foi jogado para trás, caindo na terra seca. Balançando a cabeça, apoiou-se no chão, então sentiu uma enxurrada de sangue quente fluindo de seu nariz.
“Deixa eu me apresentar novamente. Sou Heitor Sariev, e assim como você, estarei fazendo parte das Tropas de Exploração. Vai ser um… Prazer trabalhar com você.” disse, com um sorriso.
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