Capitulo 355 - Guerrilha
O Batalhão Zero avançou com calma pelas matas da Zona Divergente. Ao contrário do método empregado antes, no qual espalharam um grande número de tropas por uma extensa área, dessa vez Fernando optou por ações mais controladas para não revelar sua posição.
Swish! Crack!
Com movimentos rápidos e precisos, o jovem Tenente esmagou a cabeça de uma besta. Era do tamanho de um cachorro, mas sua aparência era semelhante a um roedor. Ao redor, outras bestas semelhantes estavam sendo mortas pelos outros membros do Batalhão.
“Que droga, achei que os Orcs seriam o único problema por aqui, mas essas coisas continuam aparecendo.” Lance reclamou, enquanto limpava o sangue do seu braço metálico.
“Esses são Surais, dizem que são uma das principais carnes do povo do Sul. Devemos estar perto do ninho deles.” Gabriel disse.
“Então isso é a iguaria local… Aí, estão a fim de um lanchinho rápido?” Ronald disse, levantando a carcaça destroçada de um dos Surais.
Lance e Gabriel fizeram uma cara de nojo enquanto observavam as tripas da criatura escorrendo.
“Qual é cara, você tem problema? Essa coisa parece um rato, não vou comer isso.” Lance disse, com um rosto enojado.
Ronald riu enquanto guardava a criatura em sua Pulseira de Armazenamento.
“Então sobra mais pra mim.”
Fernando observou, balançando a cabeça, os dois sujeitos que estavam enojados. Perto da comida que ele havia visto em um restaurante certa vez, isso não era grande coisa.
“Vamos continu-” Quando o jovem Tenente estava prestes a dizer algo, o som de seu Cubo Comunicador soou.
“Encontramos um grupo de Orcs Dobats, entramos em combate, são cerca de dez.” A voz de Lina soou a partir do Cubo.
Ouvindo isso, a expressão de todos no local mudou.
“Vocês continuem, eu vou lidar com isso.” Fernando disse.
Ronald, Gabriel e Lance se entreolharam, então avançaram com os soldados em direção ao ninho dos roedores.
Boom!
Correndo pela mata, Fernando franziu a testa ao perceber que seus Passos Tirânicos eram mais difíceis de utilizar nesse ambiente do que imaginou. Para pequenos impulsos não era um problema, mas se tornava extremamente complicado de usar para longas distâncias com muitos obstáculos e um chão irregular.
Apesar disso, não demorou mais que um minuto para chegar ao local designado para os Esquadrões de Cíntia e Lina.
“Hah!”
Assim que chegou, viu uma cena que não esperava. Um único Orc solitário estava brandindo seu machado desesperadamente enquanto Lina e um grupo de soldados o cercavam, atacando de todos os lados.
Baque!
Logo o Orc caiu no chão, não muito longe dos cadáveres de vários outros Orcs.
Lina percebeu a chegada do jovem Tenente, então sorriu.
“Você está atrasado líder, já cuidamos de tudo.”
Vendo isso, Fernando ficou impressionado. O pequeno grupo de cerca de trinta homens haviam lidado de forma tão fácil com dez Orcs.
Nesse ponto ele percebeu que seu pessoal não era mais simples novatos inexperientes.
“Onde está Cíntia?” perguntou, ao ver parte de seu esquadrão no local, mas sem indícios da garota.
Assim que terminou de falar, uma figura surgiu detrás de um grande arbusto arrastando o corpo de um Orc morto. Logo atrás, um punhado de soldados seguiam de perto.
“Esse aqui tentou fugir.” disse, jogando o corpo no chão. “Não perdemos nenhum.” A garota falou, olhando para seu jovem líder.
Fernando ficou em silêncio enquanto olhava para o par de garotas. Lembrando-se do passado, na qual Lina era uma garota chorona e medrosa e de Cíntia que era uma mulher frívola que tentava depender dos homens usando sua aparência, não conseguia associar minimamente essas duas figuras ao que eram. Ambas as garotas agora faziam parte da elite do Batalhão, pessoas com quem ele podia contar.
Acho que não sou só eu que estou mudando… pensou consigo mesmo.
“Er… Líder…” Lina disse, ficando com o rosto levemente vermelho ao ser encarada por tanto tempo por Fernando.
“Oh, bom trabalho.” O jovem Tenente disse, ao perceber que havia se deixado levar. “Mandem a Equipe de Logística coletar os corpos e limpar o sangue, não deixem vestígios.”
Depois de dizer isso, preparou-se para partir se posicionando para usar seus Passos Tirânicos, mas foi interrompido por Cíntia.
“Tenente, ou melhor, Fernando.” A mulher disse, olhando para o rapaz.
Olhando para ela, perguntou-se o que queria.
“Naquela época, quando nos conhecemos, eu era uma pessoa imatura e egoísta. Me desculpe por culpá-lo pelo que aconteceu conosco naquele dia. Eu achei que havíamos passado por um inferno com goblins, mas pensar que vocês enfrentaram essas coisas ainda naquele tempo…” Cíntia disse, chutando o grande Orc morto no chão.
Só de pensar em encontrar essas coisas no tempo em que eram meras recrutas que mal sabiam empunhar armas, tanto Cíntia quanto Lina imaginaram que seu destino teria sido muito pior.
“Está tudo bem, todos nós erramos.” Fernando disse, forçando um sorriso, mas então pensou em algo. “Mas os Orcs que enfrentamos naquele dia eram bem piores. Eram Marauders.”
As duas garotas se entreolharam, sem saber o que dizer. Mesmo com a força atual delas, ainda era irritante de lidar com os Dobats, mas pelas palavras de seu líder, um Marauder era ainda mais perigoso.
Depois do confronto entre os Esquadrões de Lina e Cíntia contra os batedores inimigos, a taxa de encontros aumentou terrivelmente. Fernando não teve escolha senão estreitar o espaçamento entre as tropas e diminuir a área de contato. Além de manter apenas as elites na vanguarda, para impedir que qualquer inimigo escapasse e baixas desnecessárias de pessoas menos preparadas ocorressem.
Assim, um dia rapidamente se passou. As tropas do Batalhão Zero estavam exaustas, principalmente aqueles da parte da frente que lutaram em batalhas de guerrilha o dia inteiro.
Além dos Orcs, os confrontos com bestas estavam se tornando cada vez mais comuns. Até então, eles estiveram em territórios outrora dominados pelos humanos, mas com a falta das ‘limpezas’ que as cidades humanas faziam, os animais e bestas começaram a aumentar seus territórios e números.
Durante a noite foi proibido que qualquer fogo fosse aceso e todos tiveram que se alimentar de carne seca e outros alimentos pré-feitos. Com os confrontos mais frequentes com batedores Orcs, qualquer luz na escuridão da noite revelaria sua posição.
Para os soldados experientes isso não era um problema, afinal, a Magia de Visão Escura era algo comum e que todos sabiam que deveriam aprender. No entanto, muitos membros da Unidade de Logística e alguns novatos acabaram tendo dificuldades por não dominá-la tão bem.
Ao lado de uma grande árvore em meio a escuridão, Fernando, Ilgner, Tom, Gabriel e Noah se reuniram.
“Como estão as comunicações? Alguma informação sobre a equipe de infiltração?” O jovem Tenente perguntou, com um rosto calmo.
Gabriel balançou a cabeça em negação.
“Enviamos Trayan e Leo à frente com uma das Redes de Mana móvel. A comunicação está estável, mas ao que parece, Theodora e os outros ainda não acharam o acampamento inimigo.”
Nesse momento, Ilgner deu um passo à frente.
“As coisas não podem continuar assim. O inimigo certamente já deve ter notado nossa presença ou das outras Tropas de Exploração depois de tantas baixas. Mesmo que não saibam nossa localização exata, é questão de tempo até deduzirem ao verificar as áreas de onde os batedores não retornaram.”
Ouvindo isso, Fernando e os demais ficaram em silêncio. Até o momento eles haviam tido sorte de enfrentar grupos pequenos de Dobats com alguns poucos sendo mais fortes que o comum, mas a situação mudaria completamente assim que os Orcs Líderes começassem a se mover.
Durante a quebra do cerco de Belai, Fernando, Theodora e Ilgner tiveram que lutar juntos com suas vidas em jogo para enfrentar um único deles de frente, mesmo que a criatura já tivesse sido severamente ferida por Raul.
Apesar de suas forças terem aumentado desde aquela época, o jovem Tenente ainda não estava confiante de enfrentar uma daquelas coisas. No mínimo ele e Ilgner teriam que lutar juntos e mesmo assim suas chances não eram altas.
Diferente das outras Tropas de Exploração, não havia ninguém no nível de Capitão no Batalhão Zero, por isso a situação era tão crítica mesmo que a força geral seja alta devido as poções.
“Não há muito o que ser feito, vamos continuar com o plano.” Fernando disse depois de pensar um pouco. Mesmo que soubessem que os Orcs logo iriam localizá-lós, só poderiam depender de Theodora e os outros para concluírem essa missão. “Noah, você assume o próximo posto.”
“Entendido.”
Desde que eles reduziram as tropas frontais para menos pessoas, o jovem começou a rotacionar aqueles que lidavam com os batedores Orcs e Bestas, assim ninguém iria ficar muito exausto e poderiam reagir a tempo se uma grande ameaça surgisse.
Depois de discutirem, o grupo dispersou-se. Enquanto alguns foram descansar, outros assumiram suas tarefas na frente. No entanto, seja Fernando, Ilgner ou qualquer um dos outros, nenhum deles percebeu um par de olhos verdes no topo de uma das árvores, observando-os silenciosamente.
…
Si! Si! Si!
Com cautela, quatro figuras avançaram de forma silenciosa em meio às matas escuras. Então recostaram-se ao lado de uma das árvores. Era a Equipe de Infiltração do Batalhão Zero.
Archie e Kelly estavam respirando pesadamente, enquanto Lenny, com seu Físico de um Usuário de Habilidades, estava relativamente melhor.
Agachada enquanto dava a volta na árvore, Theodora mantinha seus olhos voltados para a escuridão. Depois de algum tempo em silêncio, retornou.
“Eles mudaram de caminho.” A mulher disse. Nesse momento foi possível ver pela fraca luz da lua, que atravessava as árvores, a pele branca de seu rosto encharcada de sangue.
Desde que se infiltraram no território dos Orcs, o grupo havia tentado se manter invisível o máximo possível. No entanto, conforme avançavam, a quantidade de Orcs perambulando pelas matas aumentava, tornando impossível não se deparar com eles.
Ao todo, o grupo já havia tido três batalhas com os Orcs, e da última vez quase deram de cara com um grupo grande, obrigando-os a fugir por suas vidas.
“O que faremos? Até agora não temos a menor ideia de onde fica o acampamento deles.” Lenny disse.
“Se encontrarmos mais grupos como esse último, vai ser difícil se esconder…” Archie disse, também com receio.
Mesmo Kelly, que era a mais destemida, estava mostrando sinais de vacilar.
Ouvindo tudo isso, Theodora sorriu.
“Na verdade, eu já sei onde eles estão.”
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