Capítulo 362 - Altura
“O quê? Que absurdo!” Herin falou, em negação.
Nesse momento, Zado virou seu olhar para o homem, encarando-o fixamente.
“Eu disse que eu permito.”
Herin parou por um momento, então ficou em silêncio, não insistindo mais no assunto.
Apesar de ser um General prestigiado e conhecido, sendo um dos principais nomes que seguia Wayne, não se atrevia a comprar briga com Zado, um General da velha guarda, conhecido por sua brutalidade. Se ele dissesse que cortaria a cabeça de alguém no final do dia, isso definitivamente aconteceria!
Além de evitar confronto, era uma grande gafe que um General tentasse intervir, em público, nas ordens de outro Oficial de mesma patente sem que fosse algo de extrema importância. Ele percebeu que havia passado do limite.
Apesar de parecer uma situação constrangedora entre Zado e Herin, o mais constrangido, na verdade, era Dimitri!
Era ainda mais vergonhoso quando alguém, que tinha a mesma patente que a sua, comandasse publicamente as suas tropas sem lhe consultar ou receber permissão, e a situação era ainda pior quando se tratava de Generais, que detinham o poder de comandar milhares de homens.
Tanto Fernando quanto o Batalhão Zero estavam sob o comando direto de Dimitri, então nenhum dos dois tinham o direito de permitir ou negar algo assim. Como o mais fraco dos cinco Generais da incursão à Garância, ele sabia que sua autoridade não era das melhores, afinal, haviam Majores sob os outros Generais que tinham uma força equiparável à sua própria. Ele nem sequer tinha um único Major entre suas tropas!
Com um olhar irritado, o velho homem deu alguns passos à frente, ficando entre jovem pálido e Zado. Nesse momento, percebeu que se continuasse mantendo um perfil baixo, perderia a lealdade dos remanescentes de Vento Amarelo. Na verdade, os outros Generais poderiam até mesmo acabar roubando alguns de seus subordinados!
“Eu me encarrego disso, General Zado!” falou, olhando para o homem.
O sujeito devolveu o olhar, mas não respondeu nada, apenas caminhando alguns passos e levantando voo. Após ele, Wayne, Herin e muitos outros usaram suas magias para levitar.
“Boris!” Dimitri gritou. Rapidamente, um sujeito alto e com uma forte constituição se aproximou, era o único dentre o grupo que não saiu. “Cuide do Tenente Fernando.” Após dizer isso, partiu também, elevando-se acima do céu, enquanto deixava arcos elétricos em seu rastro.
“É bom revê-lo, Tenente Fernando.” O sujeito alto e forte disse. Sua altura era de pelo menos um palmo acima do jovem.
“O mesmo, Capitão Boris.” falou em resposta, com respeito.
Boris era o Capitão da Cavalaria de Lagartos Tarky, emprestado pelo General Lenon a Dimitri para a retomada de Belai. No entanto, após a nomeação do seu antigo companheiro para General, Lenon havia oficialmente passado o comando da Cavalaria para Dimitri.
Como um General, já era vergonhoso não ter um único Major sob seu comando, mas também não ter um Capitão, era algo desastroso. Mesmo que em nome houvesse Raul, o Urso Tirânico havia se distanciado, fazendo com que Boris fosse o único Capitão sob sua asa no momento.
Se não fosse o número de soldados que Dimitri carregava consigo e o fato do General Supremo Dimas ter pessoalmente se movido para prejudicá-lo, dificilmente Wayne teria o aceitado ao seu lado, já que não haveria grande valor em manter um ‘General em nome’ que sequer tinha pessoas fortes para comandar.
“Até eu retornar, o Subtenente Ilgner estará no comando.” Fernando disse, olhando para seu alto escalão.
Noah, Tom, Karol e alguns dos outros queriam dizer para ele não ir, mas depois do que houve com os Generais, era impossível.
“Eu cuidarei das coisas por aqui, não se preocupe. Ilgner, o Bravo, nunca falha.” O bárbaro loiro disse, rindo.
O jovem pálido revirou os olhos para a atitude infantil do homem. Se pudesse, preferiria colocar Tom, Noah ou Trayan no comando. Entretanto, sabia que apesar de falar algumas bobagens às vezes, Ilgner era a pessoa mais forte e experiente do Batalhão.
Depois de resolver as coisas, Fernando olhou para Boris e assentiu.
O homem alto e forte aproximou-se do jovem Tenente e sem esforço o levantou no ar, segurando a parte de trás de sua armadura na região do pescoço.
Sendo erguido dessa forma constrangedora, Fernando sentiu-se como uma criança sendo levantada por um adulto, a diferença de tamanho era demais.
Pensando em como algo semelhante já havia acontecido no passado, quando Ferman o carregou pela cidade, sentiu que aquela situação era ainda mais vexatória e evitou até mesmo de olhar para os seus subordinados.
Apesar disso, a vergonha durou apenas um momento. Logo, lentamente, Boris começou a levitar para o alto, o carregando consigo.
A sensação de sentir seus pés deixando o chão, deixou o jovem rapaz desconfortável, e o sentimento só aumentou conforme se distanciava do solo.
Pouco a pouco, os membros do Batalhão Zero foram ficando menores em sua visão e em poucos segundos, os dois homens subiram acima das árvores, fazendo com que fosse difícil ver a situação abaixo, tanto pela altitude quanto pela vegetação, mas a visão ainda era clara o suficiente para ver alguns detalhes.
“Vamos ter que nos apressar, não vão nos esperar, então segure-se.” Boris disse.
Fernando, com as duas mãos livres e as pernas suspensas, olhando para um lado e para o outro, enquanto era segurado pela parte de trás do pescoço, ficou sem reação.
Segurar em quê? pensou.
De repente, olhou para baixo novamente, apenas para ver as gigantescas árvores abaixo ainda menores. Isso, somado à visão suspensa de suas pernas, fez uma sensação gelada subir por sua espinha.
Não pode ser, eu… tenho medo de altura? pensou, com suas mãos suando frio e um mal estar o fazendo engolir em seco.
Swish!
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Boris disparou para frente, começando a voar numa alta velocidade e acelerando ainda mais.
Enquanto via a mata abaixo passando rapidamente, sentiu-se enjoado.
Merda…
…
Os quatro Generais voavam à frente das tropas, e não muito atrás estavam os dois Generais das Legiões menores e os vários Majores e Capitães. Nesse ponto, Boris e Fernando já haviam alcançado a formação.
Apesar do sol já ter começado a se mostrar no horizonte, as nuvens carregadas estavam escuras, enquanto uma leve chuva torrencial começou a cair, tornando a visão difícil. Essa era uma das peculiaridades da Zona Divergente, o clima não era algo fácil e poderia mudar a qualquer momento.
Brum!
Fernando sentiu um arrepio frio na espinha ao ver todo o céu ao seu redor clarear e um trovão cair, ao longe, com ferocidade na floresta, logo após veio um alto estrondo.
Estar voando em meio a trovões era algo aterrador, mas nem Boris ou os outros Majores e Capitães pareciam preocupados.
A chuva forte batia em seu rosto, somado aos ventos gelados, tornava a visibilidade ruim.
O Capitão dos Lagartos Tarky percebeu o desconforto de Fernando.
“A chuva é algo bom para nós, vai maquiar nossos cheiros e obstruir a visão do inimigo.” Sua voz soou perto do ouvido do jovem Tenente. Após uma breve pausa, continuou “Estamos chegando próximo do local.” disse, ao ver os Generais lentamente começarem a diminuir sua altitude.
Swish! Swish!
De repente, várias lanças começaram a disparar de dentro da floresta em direção aos céus.
Ting!
Sem dificuldades, um Capitão defendeu-se do ataque.
Fernando viu aquela cena com preocupação. Olhando para baixo, não conseguia ver um único sinal dos Orcs, que deveriam estar camuflados na mata. A floresta e a pouca claridade já tornava difícil localizá-los, e com a chuva as coisas eram ainda piores.
“Não se preocupe, deve ser apenas algumas patrulhas. Nós vamos atingir seu acampamento antes que eles retornem, então mesmo que tenham nos visto, não é um problema.”
O jovem Tenente ficou aliviado ao ouvir isso.
Em pouco tempo, o grupo começou a descer de forma repentina, apenas Zado seguiu em frente. Logo todos pousaram numa parte da floresta.
“O que está havendo?” Fernando perguntou em sussurro.
Boris olhou para o Tenente, então suspirou levemente. Mesmo que o rapaz fosse talentoso, ainda era simplesmente muito inexperiente.
“Reconhecimento aéreo. Os Orcs Dobats não podem voar, mas vigiam constantemente o céu. Se todo o grupo seguir em frente, vai ser difícil montar um ataque surpresa pois vão nos perceber. Também não podemos montar um ataque sem entender a situação direito, por isso o General Zado foi sozinho coletar informações.”
Ouvindo isso, foi como se um tufão de inspiração o atingisse. Nesse momento, Fernando finalmente entendeu porque os Generais haviam dado essa missão suicida às Tropas Exploratórias. Eles nunca planejaram usar o exército principal para batalhar, seu objetivo sempre foi lançar um Ataque Aéreo de Assalto no inimigo assim que achassem o acampamento!
Bang! Swish! Ting!
Enquanto pensava nisso, diversos movimentos começaram a ocorrer nos arredores. A mente do jovem Tenente estalou, enquanto se preparava para o combate.
No entanto, quando se deu conta, percebeu os vários Majores e Capitães empalando, cortando e matando Orcs em todas as direções. Rapidamente o grupo com mais de vinte Orcs foi massacrado sem conseguir resistir minimamente.
Nas expressões deles não havia qualquer sinal de felicidade, satisfação ou tensão, era como se o que haviam acabado de fazer fosse a coisa mais natural do mundo. Nenhum deles falou, comemorou ou sequer fez um único ruído excessivo.
Vendo aquela cena, Fernando sentiu um leve arrepio. Ele já conheceu e lutou contra ou junto de pessoas mais fortes que ele, mas era a sua primeira vez em um grupo repleto de pessoas poderosas. Naquele pequeno grupo de elite, ele era simplesmente o mais fraco e inexperiente de todos.
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