Capítulo 366 - Corrida contra o tempo
Olhando para o estranho portal que surgiu próximo ao rapaz, Boris franziu a testa, pousando no grande galho, ao mesmo tempo que apertava sua lança com firmeza.
“É melhor explicar a situação dir-” Antes que o homem pudesse terminar de falar, seus olhos ficaram arregalados ao ver a cena diante dele.
De dentro do estranho portal, uma mão, delicada e branca como a neve, surgiu, então aos poucos, o resto do corpo foi saindo. Logo, uma linda mulher, com cabelos e olhos negros e um corpo curvilíneo e voluptuoso, saiu completamente, pousando sobre o galho da árvore gigante.
O Capitão não conseguia acreditar em seus olhos, de onde aquela mulher surgiu?
Ao observar com mais cuidado, o sujeito alto a reconheceu, era a Subtenente do Batalhão Zero, Theodora!
“Você…” disse, encarando o jovem Tenente, ainda em perplexidade.
Fernando ignorou o sujeito, então olhou para a mulher, que mantinha os olhos fixos nele próprio.
“Bom trabalho.” disse, com uma voz calma.
Theodora sorriu, erguendo o punho direito e colocando-o à frente do peito esquerdo ao mesmo tempo que se ajoelhava.
“É uma honra para essa subordinada ser útil ao seu mestre.” disse, abaixando a cabeça.
O jovem Tenente ergueu a mão direita, aproximando-a e tocando o ombro de sua subordinada.
“Fico feliz que esteja bem.”
A mulher tremeu levemente ao toque de seu líder, então levantou seu rosto, olhando-o nos olhos e sorrindo de forma florescente. Era uma demonstração genuína e brilhante de felicidade.
Era tão resplandecente que Fernando não conseguiu evitar de dar um passo para trás, mas ao se recompor, sorriu também.
O sentimento de ver alguém próximo retornar vivo e bem era algo gratificante, ao mesmo tempo que tirava um certo pesar de seu peito.
“Quanto aos outros…” Theodora disse, seu sorriso diminuindo um pouco.
“Não se preocupe, eu já meio que entendi.” disse o jovem, com um olhar calmo.
Quando pegou o Anel de Aprisionamento e inseriu seu mana, sentiu a presença dos seus companheiros.
Agora era hora de analisar a situação no espaço interno do anel, por isso, Fernando começou a focar sua mente no objeto.
Normalmente, ele evitava a todo custo ver o que Brakas fazia dentro. Não era como se não estivesse curioso, mas sentiu que sua saúde mental seria mais preservada assim. No entanto, com a situação atual, não pôde deixar de verificar.
Quando olhou o espaço interno do anel, sua mente tremeu.
“Você finalmente chegou, mestre. Eu queria cumprimentá-lo antes, mas ao saber que o senhor estava perto, a Medusa quis ser a primeira a falar com o senhor.” Uma voz idosa disse dentro.
Ao mesmo tempo, Fernando viu uma gigantesca criatura, com um grande olho, tentáculos e pele amarelada escura. Ela ocupava boa parte de uma das 5 celas. Cada uma tinha cerca de 6 metros cúbicos.
Este é o Brakas? pensou, assustado.
Da última vez que viu o Beholder, o mesmo já estava enorme, mas dessa vez, a criatura estava um pouco maior e sua cor havia mudado, além é claro, da sensação pesada que emitia.
Mas isso não foi a única coisa que o assustou. Um grande Orc, com tatuagens vermelhas no corpo e rosto, estava preso, enrolado em alguns de seus tentáculos, com uma expressão de medo e pavor.
Um Orc Líder? Que merda é essa?
A mente de Fernando estava confusa e atordoada, mas mesmo assim olhou ao redor. Em uma das celas do Anel de Aprisionamento, Kelly, Lenny e Archie estavam juntos. Os dois primeiros estavam em pé, enquanto o último estava logo ao lado, deitado e inconsciente.
Apesar de parecerem extremamente desgastados e cheios de sangue, não haviam grandes ferimentos aparentes, o que significava que o que quer que tenha acontecido, Brakas havia resolvido. Mas mesmo assim, ambos olhavam para o Beholder de forma desconfiada, principalmente Lenny, que parecia trêmulo.
Diferente da grande criatura redonda e amarelada, os dois não conseguiam sentir a presença da mente de Fernando no Anel de Aprisionamento.
“Espero que você não tenha feito nenhuma gracinha com eles.” falou, em direção a Brakas.
A voz do jovem Tenente soou, fazendo com que Kelly e Lenny olhassem ao redor, espantados ao reconhecerem a mesma.
Ao ver a reação do homem e da mulher, a boca do Beholder abriu-se, expondo seus dentes, como se achasse isso engraçado.
“L-líder!? É você?” A Oficial, do 5° Pelotão do Batalhão Zero, falou.
“Tenente Fernando, nos tire daqui!” O Cabo, do Esquadrão Valorosos, gritou logo em seguida, alarmado.
O jovem pálido suspirou ao ver a reação dos dois, certamente não era fácil ficar na presença de uma criatura monstruosa como Brakas.
“Assim que retornarmos, sejam pacientes.”
Ouvindo a resposta, Kelly acalmou-se, então sentou-se no canto da cela. Por outro lado, Lenny continuou em pé, com um olhar apático.
Ainda com a mente dentro do anel, Fernando deu mais uma olhada, vendo vários pequenos lobos em algumas das celas. Apesar de estar interessado na situação dos mesmos, resolveu perguntar a Brakas a respeito num momento mais oportuno.
De volta ao lado externo, o jovem rapaz olhou para Theodora com um olhar estranho.
“Você se abrigou dentro com os outros?”
“Isso mesmo, líder.” A mulher assentiu.
A expressão de Fernando mudou ao ouvir a resposta, apesar de parecer óbvia.
O Anel de Aprisionamento funcionava com o mana do usuário, o que significava que ao entrar com seu corpo, a conexão seria perdida e você se tornaria um verdadeiro prisioneiro. Mesmo sabendo que eles estavam cercados por Orcs, não conseguia deixar de pensar que isso era loucura.
“Isso foi arriscado, se eu não tivesse vindo e os achado, então…”
“Então todos nós ficaríamos presos dentro até morrer.” Theodora falou. “Mas o líder veio.” Acrescentou, com um sorriso confiante.
Fernando suspirou consigo mesmo ao ver a atitude da mulher. Pensando sobre como as pessoas costumavam chamá-lo de louco por fazer coisas arriscadas ou impetuosas, não pôde deixar de sentir que Theodora não era menos maluca que ele próprio.
De fato, somos membros loucos, dignos da Décima Terceira. pensou, de forma irônica, ao recordar-se dos rumores em Vento Amarelo em relação a Décima Terceira Guarnição.
“Tenente Fernando, espero uma explicação sobre toda essa situação.” Uma voz grossa e cheia de autoridade soou logo atrás, fazendo o rapaz virar-se e olhar para o Capitão Boris. O homem tinha uma expressão zangada e questionadora. Até agora, ele não havia interferido, observando toda a situação.
Coçando a cabeça, o jovem ficou em silêncio por um momento.
“Senhor, esse é um item especial que permite transportar coisas vivas. Minha Subtenente usou para abrigar-se junto aos demais.” falou, mostrando o anel vermelho em seu dedo.
Depois de Theodora se mostrar saindo do portal, era impossível esconder esse fato sem levantar suspeitas.
A expressão de Boris era franzida, enquanto olhava para o estranho anel no dedo do rapaz.
“Um item de aprisionamento?” perguntou, numa entonação de dúvidas.
Fernando se surpreendeu por um momento ao ouvir isso, assentindo em resposta, mas logo lembrou que o sujeito era um Capitão. O mesmo deveria possuir um certo conhecimento, além de ter ido para vários cantos em Avalon, então não era tão surpreendente ele saber sobre o Anel de Aprisionamento.
“Como você tem isso? Uma coisa dessas custa uma fortuna.”
O rapaz se manteve calado. Ele poderia dar uma desculpa, mas preferia não fazer isso, só recorrendo a mentiras caso fosse pressionado.
Sobre o valor, ele já esperava que itens desse tipo não fossem baratos, pois ainda não viu outras pessoas utilizando algo semelhante.
“Tenente, receio que eu tenha que confiscar esse anel e relatar a situação ao General Dimitri.” Boris disse.
Nesse momento, Theodora, que estava logo atrás, moveu-se para frente de Fernando, ficando entre ele e o homem alto, com uma expressão fria.
O próprio rapaz também teve uma mudança de expressão ao ouvir as palavras do Capitão. Não importa o que houvesse, ele jamais poderia entregar o Anel de Aprisionamento.
Se a situação em relação a Brakas fosse revelada, tanto ele quanto o restante dos membros do Batalhão Zero estariam em perigo.
Então com um rosto impassível, olhou para Boris.
“Capitão, eu não me importo se você relatar sobre esse pequeno assunto ao General Dimitri, mas nesse caso, também serei obrigado a dizer para ele sobre como o senhor aceitou meu dinheiro para desobedecer suas ordens.”
Ouvindo o que o jovem Tenente disse, a cor do rosto de Boris mudou, ficando levemente pálida.
“Você…” falou, com alguma hesitação.
Como um Capitão conhecido pela sua boa conduta e rigor, se algo assim chegasse aos ouvidos de Dimitri e seus homens, sua reputação seria fortemente atingida. Além disso, o General não depositaria a mesma confiança nele.
Após ele e sua cavalaria serem transferidos para o comando do velho homem, que utiliza magias de raio, ele viu nisso uma oportunidade de aumentar suas conquistas e reputação.
Diferente de Meridai, onde Lenon tinha muitos homens capacitados, o General Dimitri tinha poucas pessoas poderosas sob sua asa, sendo ele o de mais alta patente, junto a Raul, que havia seguido outro rumo. Sendo assim, se ele conseguisse ser um dos homens da mais alta confiança do sujeito, ao mesmo tempo que aumentava lentamente sua força e recebia mais recursos, poderia talvez um dia se tornar um Major.
No entanto, todos seus planos iriam por água abaixo se o assunto dele aceitar suborno para descumprir uma ordem direta chegasse aos ouvidos do General.
Vendo a atitude do homem, Fernando sorriu consigo mesmo.
“Que tal isso, Capitão, você fica em silêncio sobre o que viu hoje e o assunto sobre a moeda de ouro nunca terá existido.”
Boris ficou perplexo com a proposta do jovem Tenente, não podendo deixar de pensar sobre como o rapaz era atrevido. No entanto, no fim, resignou-se, afinal, ele havia aceitado o suborno em primeiro lugar.
“Muito bem! Esse assunto morre aqui. No entanto, se eu suspeitar que há algo de errado com esse seu item, as coisas não terminarão bem para você, mesmo que eu seja punido no fim.” falou, numa entonação de aviso.
Fernando assentiu de forma relaxada.
Theodora, por outro lado, estava sem palavras ao ver todo o desenrolar da situação. Seu jovem líder havia dobrado alguém de maior patente com algumas poucas palavras. A mulher não conseguiu evitar de sorrir, de forma admirada.
Após acertar a situação, entender o que havia acontecido e resolver tudo que precisava, Fernando havia pedido que Theodora retornasse ao Anel de Aprisionamento.
Até que retornassem, ela precisaria permanecer escondida com os outros. Seria difícil explicar para Dimitri e os Generais como a mulher havia sobrevivido por tanto tempo na região com os Orcs fervilhando por todo o lugar.
No fim, Boris pegou Fernando, voltando a voar e se distanciando do campo de batalha.
…
No acampamento dos Orcs, a batalha continuava intensa, com baixas começando a se tornar mais frequentes entre os Capitães. Muitos dos que estavam lutando no solo tinham que procurar cobertura em um aliado ou voar e recuar para utilizar poções, tanto de cura quanto de mana.
Mesmo os Majores estavam começando a sentir dificuldades de se defender contra a enxurrada de ataques, com seu mana caindo de forma assustadoramente rápida, forçando-os a poluir seu mana com poções uma após a outra.
A situação só piorava toda vez que um Orc Líder aparecia.
Ao mesmo tempo, por mais que pilhas e pilhas de corpos de Orcs estivessem se formando, as patrulhas estavam retornando uma após a outra, fazendo com que os números inimigos não estivessem diminuindo muito.
Dos cerca de 25.000 Orcs iniciais, mais de 4.000 haviam sido abatidos pelos poderosos ataques dos Majores e Capitães, principalmente os proficientes em magias de larga escala, porém, mais de 1.000 haviam retornado ao acampamento, e mesmo que não retornassem, a pressão sobre o grupo não diminuiria, pois ainda haviam mais de 20 mil.
Nesse ponto, todos sabiam que logo chegariam ao limite. Se a batalha não acabasse em breve, eles poderiam acabar sendo subjugados pelos números. Por mais que houvesse tantos Majores nessa operação, não era fácil atacar, enquanto tinha que se defender de milhares de ataques.
Acima do céu, Wayne, Zado, Herin, Dimitri e os dois Generais, de Legiões menores, estavam reunidos, enquanto olhavam para o Orc Lord.
Assim como os Majores e Capitães já haviam entendido que não tinham muito tempo, eles também já sabiam disso. Se não matassem o grande Orc, que tinha mais de 2,5 metros de altura e carregava um grande martelo, eles seriam os derrotados!
Sem dizer uma palavra, Wayne ergueu o braço, abaixando logo em seguida, então dezenas de lanças desceram em direção ao Orc Lord.
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