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    Deitado no saco de dormir dentro de sua tenda que estava escura devido a não ter nada sendo usado para iluminar, Fernando tinha os olhos grudados no teto. Mesmo que sua mente e corpo estivessem cansados, não sentia a menor vontade de dormir.

    Pensando sobre as muitas coisas que haviam acontecido nos últimos tempos, sua cabeça doía.

    “Droga!” disse consigo mesmo, lembrando de como se sentiu abalado ao ver a foto da neta de Damon. 

    Dias antes, ele havia matado uma Mandazia que tinha assumido a exata forma da garotinha. Aquilo já havia sido o suficiente para deixá-lo instável, mas saber que era um familiar de um de seus homens tornou tudo ainda pior.

    Uma Mandazia era uma Criatura das Trevas que assumia a forma dos seres vivos dos quais se alimentou. Ele não sabia ao certo se a coisa havia assumido a forma da garota após matá-la, ou se o fez ao encontrar seu corpo após o ataque dos Orcs, mas independente do que fosse, não tornava a situação mais fácil de lidar.

    Fernando até pensou em contar a Damon, mas rapidamente descartou a ideia. O velho homem já estava desolado, seria crueldade e sem sentido falar sobre isso, pois essa informação não o ajudaria em nada.

    Suspira!

    Olhando para o espaço vazio ao seu lado, sentiu um certo mal-estar.

    Além de toda a situação ruim, ele ainda havia tido uma discussão com Karol, o que o fez ficar ainda mais confuso. Mesmo que ele fosse um Tenente e comandante de um Batalhão Nomeado, respeitado por muitos, no fim, ainda era um rapaz de dezenove anos.

    Ela era a única e primeira mulher que ele amou, então antes dela, nunca havia tido outro relacionamento, logo sua experiência em conflitos amorosos era basicamente nula.

    O que eu deveria fazer? pensou.

    No momento em que estava pensando sobre, ouviu um farfalhar a partir da entrada da tenda.

    “Quem está aí?” Fernando perguntou, levantando-se e movendo o pulso, retirando sua espada Formek, pronto para lidar com o que fosse. Ninguém nunca entrava em sua tenda sem permissão, e mesmo se fosse uma emergência o chamariam pelo lado de fora.

    No entanto, sua expressão mudou quando ativou sua magia de Visão Escura e viu a figura que havia entrado, era Karol!

    A mulher aproximou-se, olhando-o nos olhos e sem dizer uma palavra. Então, abaixou-se na sua frente, sentando-se em seu colo, de frente para o seu rosto, numa posição elevada.

    “O que voc-” 

    “Calado!” Karol disse, usando o dedo indicador para silenciar seus lábios.

    Fernando queria dizer algo, pois estava sem entender as ações de sua esposa, afinal, ela parecia bem irritada com ele anteriormente.

    Mas mesmo confuso, o jovem rapaz obedientemente acatou as ordens. Enquanto suas palavras eram absolutas em tudo que se referia ao Batalhão, o mesmo não era válido para sua esposa naquela pequena tenda.

    A Cabo não disse mais nada, apenas o olhou em silêncio, enquanto estava em seu colo. 

    Cruzando os braços e segurando na ponta do tecido de cada lado de sua camisa preta e justa, puxou-a para cima, revelando seu corpo nu, cheio de curvas.

    Fernando, que viu aquilo, sentiu seu sangue correr mais rápido, enquanto sua respiração acelerava. Sem demora, guardou sua espada e também tirou sua camiseta.

    Lentamente, as mãos da mulher deslizaram sobre o peito do rapaz, subindo até seus ombros e depois envolvendo-se em torno de seu pescoço.

    Inclinando suas costas e quadris para frente, levou seus lábios até a orelha dele. O ar quente, da respiração, tocou suavemente em seu ouvido esquerdo, fazendo com que o jovem sentisse um leve arrepio.

    Ao mesmo tempo, conseguiu sentir o calor dos dois seios próximo ao seu rosto.

    “Me abraça.” Karol disse, próximo ao seu ouvido.

    Sem precisar ouvir o pedido por uma segunda vez, Fernando apertou o corpo de sua esposa contra o seu.

    Gemido!

    “Não tão forte…” Ela sussurrou, sentindo as mãos ásperas e braços fortes envolvendo-a firmemente.

    “Desculpa.” Fernando disse, de forma apressada. 

    Devido ao seu treino constante e conforme seu Físico se fortalecia, ele precisava tomar cada vez mais cuidado com sua força. Felizmente, sua esposa não era uma mulher comum, mas alguém que tinha nível 15 de Físico, caso contrário, poderia tê-la machucado acidentalmente.

    Os dois não disseram nada, apenas ficaram num longo silêncio, sentindo o corpo quente um do outro.

    “Me desculpa.” A voz de Karol soou, finalmente quebrando o silêncio na pequena tenda. “Eu prometi te apoiar, mas acabei voltando em minhas próprias palavras.” falou, de forma levemente melosa, enquanto apoiava sua cabeça em seu ombro.

    Fernando não respondeu imediatamente, deixando-a desabafar o que sentia.

    “Não sou como você e os outros… sou fraca e idiota. Sempre que sinto que estou próxima de te alcançar, você se afasta, me deixando para trás. Eu não gosto disso.” disse, algumas lágrimas desabrochando em seus olhos e descendo por suas bochechas. “Eu vou mudar, vou ser mais forte, não quero ser um fard-.”

    “Você está errada.” A voz calma do jovem soou, interrompendo Karol. 

    A mulher ficou levemente surpresa, então afastou seu rosto do ombro dele, olhando-o nos olhos.

    “Por que você diz isso?” perguntou, sem entender.

    Fernando devolveu o olhar, então sorriu, levantando sua mão direita e tocando seu rosto, enxugando o rastro de lágrimas em sua bochecha.

    “Você não é fraca, nunca foi.” afirmou, com uma certeza e confiança que fizeram sua esposa vacilar. “Você é gentil e bondosa. É por você estar ao meu lado que eu consigo me manter no caminho certo, e mesmo que eu cruze a linha, você me puxa de volta. Você é minha bússola, minha guia, minha companheira, a mulher que eu amo.” falou, com assertividade.

    Karol, que ouviu aquilo, vendo o seu rosto sério e palavras convictas, sentiu uma sensação quente em seu peito, ao mesmo tempo, também estava envergonhada. 

    Para outros, poderia parecer uma declaração de amor leviana, mas ela sabia que o jovem à sua frente não era o tipo que fazia isso.

    O próprio Fernando também sabia que suas palavras carregavam uma verdade que o assustava. Em um mundo tão cruel, onde a vida valia tanto quanto a terra no chão, perder-se no caminho errado era tão fácil quanto respirar.

    Não era à toa que muitas das pessoas que vinham para Avalon se tornavam assassinos, bandidos e todo o tipo de criminoso. Num lugar onde a moral não importava tanto, mas a força e poder, era comum que o sentimento de bondade e compaixão se apagassem até que não restasse nada. Para alguns, sobreviver era tudo que importava.

    O jovem sabia que poderia muito bem ter acabado dessa forma se não tivesse encontrado tantas pessoas boas nesse mundo. Sua professora, Raul, Ferman, todos que o seguiram desde Vento Amarelo e, mais importante que isso, Karol, a mulher que ele jurou amar e proteger.

    “Você é tão bobo às vezes.” A voz da mulher soou, envergonhada. Ela era alguns anos mais velha, mas às vezes sentia que seu marido era mais maduro que ela própria.

    Fernando queria dizer algo, mas antes que pudesse, sentiu o par de lábios quentes tocar os seus. Então, sem perder tempo, deslizou suas mãos pelo corpo suado da garota, erguendo-a com facilidade.

    Naquela noite, mesmo estando em uma tenda pequena e desconfortável, sobre o chão duro de terra, coberto por apenas um pouco de tecido, um homem e uma mulher exalaram seu amor um pelo outro. Seus corpos quentes e suados estavam entrelaçados entre si, ao som da melodia natural de suas respirações.

    Na manhã seguinte, antes do sol nascer, Fernando acordou. Olhando para o lado, Karol havia partido. Isso o deixou surpreso, já que era raro que ele acordasse depois dela.

    Checando a hora em sua Pulseira de Armazenamento, percebeu que já eram quase 5:00 horas da manhã. Nesse horário, todos os Cabos e outros membros da cadeia de comando deveriam estar em seus postos preparando-se para desmontar o acampamento.

    Quão cansado eu estava? pensou, ao perceber o quanto havia dormido. Mas apesar disso, não se arrependeu, pois se sentia muito mais leve.

    Durante a noite, após ter sua esposa em seus braços, eles conversaram por algum tempo. No fim, Fernando acabou contando sobre a Mandazia e a neta de Damon.

    Inicialmente, ele não queria preocupá-la com esse tipo de coisa, mas devido à insistência de Karol, acabou se abrindo com ela.

    A mulher também não esperava isso e finalmente entendeu o motivo da expressão que Fernando havia feito quando viu a foto da família do Sargento Damon. Nesse momento, ela se sentiu ainda mais culpada por dificultar as coisas para ele no caso dos bebês Ciclopes.

    Vestindo sua armadura, o rapaz aprontou-se. Por mais que não se importasse muito com sua aparência, como Tenente, precisava manter-se minimamente apresentável.

    “B-bom dia, Tenente!” Um soldado o cumprimentou assim que saiu da pequena tenda.

    Fernando franziu levemente a testa ao ver o homem cumprimentá-lo sem sequer o olhar nos olhos.

    “Bom dia.” respondeu de volta.

    Nesse ponto, ele percebeu que sua tenda era a única ainda montada. Não só isso, mas vários dos soldados em volta pareciam lançar olhares em sua direção, assim como alguns pareciam cochichar.

    Como se algo estalasse em sua mente, Fernando finalmente entendeu.

    Não pode ser… né? pensou, imaginando algo.

    Durante a noite, ele e Karol talvez tivessem se excedido um pouco em alguns momentos. Isso, somado ao silêncio da noite, culminou num único resultado: todos ao redor acabaram ouvindo sua ‘noite quente’.

    Naquele momento, os soldados que dormiram próximos à tenda do Tenente, pela primeira vez viram seu rosto pálido ficar tão vermelho quanto suco de beterraba.

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