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    Todo o acampamento estava em alarde após as notícias de que o General Zado havia voltado ferido, fazendo com que os quatro Batalhões das Tropas de Exploração ficassem em alerta máximo para possíveis ataques inimigos.

    Porém, se mesmo um General foi ferido a ponto de obrigá-lo a fugir por sua vida, ninguém ali estava confiante de que poderia parar o que quer que fosse.

    Fernando, que mal havia saído da reunião, voltou apressadamente. Chegando ao local, viu Zado sentado, completamente ensanguentado e sem uma parte de um dos braços. Dois magos especializados em Magia de Cura estavam cuidando dos ferimentos.

    “General…” Fernando disse, de forma complexa.

    Mesmo que não gostasse da maioria dos Generais, por tomarem decisões arbitrárias, tinha que admitir que essas pessoas eram o pilar de sustentação da Humanidade nesse mundo violento. Então ver um deles em tal estado era além de deprimente, era assustador.

    Se nem mesmo os Generais poderiam escapar de acabar nessa situação, quem dirá o restante deles.

    “Tenente Fernando.” Heitor falou, com um rosto sério e sem qualquer sinal da amistosidade de antes. “Você não precisa se envolver, pode voltar para o seu posto.”

    Os outros dois Capitães olharam, de forma incisiva, para o jovem, o que o fez franzir a testa com a situação estranha.

    O que o jovem Tenente não sabia, é que se não fosse a aparição de Zado ferido, o grupo estaria se preparando para lidar com ele, sob a suspeita de ser um espião.

    “Espere.” A voz do velho homem soou, fazendo com que todos no local se voltassem para ele. “Você também sabe Magia de Cura, certo? Ajude a curar meus ferimentos, esses dois inúteis estão demorando muito.” Zado falou, olhando para os dois Magos, um homem e uma mulher, que estavam suando profundamente, enquanto tentavam fechar a ferida em seu antebraço direito.

    O corpo de um General não era como o de uma pessoa comum, a densidade e qualidade de mana em seus corpos eram muito superior e mais refinado. Magos Intermediários, como os dois, teriam muita dificuldade de recuperar o tecido e fechar o ferimento. 

    Afinal, o que um Mago de Cura fazia era usar o processo natural do próprio corpo e acelerá-lo, e isso consumiria muito mana, mas mais do que isso, a quantidade e qualidade de energia que as células de um General precisavam era enorme.

    Para curar um General de forma adequada, o ideal era no mínimo alguém ser um Mago Avançado, mas um Mago desse nível, ainda mais especializado em cura, dificilmente estaria servindo em Batalhões das Tropas de Exploração.

    “Sim, senhor.” O jovem Tenente assentiu, aproximando-se.

    “G-general, mesmo que o Tenente saiba Magia de Cura, nós somos especializados nisso. Alguém inexperiente só vai nos atrapalhar.” O homem disse, de forma desconfortável.

    Havia um fundo de verdade em sua fala. Misturar múltiplos tipos de mana poderia fazer com que um atrapalhasse o outro. Entretanto, o principal fator é que se ele pudesse curar um General, seu prestígio e valor seriam enormemente engrandecidos. Logo, quanto menos pessoas envolvidas, mais mérito ele teria.

    “Calado.” Zado disse, com seus olhos arregalados olhando para o homem, causando-lhe arrepios. “Anda logo, tá esperando que eu sangre até a morte?” O velho falou, encarando o jovem Tenente.

    Apesar de falar dessa forma, Fernando sentiu que o velho parecia muito bem e não estava correndo qualquer risco de vida, mas apressadamente preparou-se para ajudar.

    Os dois Magos, que estavam com suas mãos próximas à ferida do homem, não pareciam contentes, mas rapidamente abriram espaço para o rapaz.

    Olhando para o modo que as duas pessoas estavam inserindo seu mana no corpo do homem, o rapaz pálido ficou surpreso. Diferente dele próprio, que precisava de contato direto, essas pessoas conseguiam fazê-lo apenas aproximando suas palmas.

    Será que eu também consigo? pensou, erguendo sua própria mão e tentando imitar os dois.

    Heitor, Amanda e Banjo se entreolharam, a preocupação era visível em seus olhos. Se Fernando de fato fosse um espião, esse era o melhor momento para agir.

    Durante o processo de cura de alguém, seria muito fácil inserir um mana ruim ou mesmo imbuído de algum tipo de substância fatal. Para um espião, assassinar um General inimigo, dependendo do objetivo de sua infiltração, era a maior honra que poderiam conseguir. Mesmo que fossem mortos depois, grande parte não hesitaria.

    Os três Capitães queriam parar isso, mas tendo em vista que o próprio Zado foi quem ordenou, se viram sem opções. Além disso, não havia quaisquer provas sobre suas suspeitas, eram meras conjecturas de suas partes.

    Assim? O jovem pálido pensou, enquanto sua mão emanava um mana branco e denso. Entretanto, pouco tempo depois, franziu a testa, sentindo que os efeitos não eram tão bons quanto deveria ser.

    Novato idiota. O Mago de Cura pensou, com desdém. 

    Mesmo que o rapaz também fosse um Mago Intermediário como ele, sentiu que jamais poderia se comparar a si, que estudava e praticava Magia de Cura há anos. No campo de batalha o homem sabia que era um inútil, mas se tratando apenas de Cura, ele se considerava alguém extremamente habilidoso para o seu nível.

    A Maga, uma jovem de cabelos negros, que tinha algum talento para a cura, também sentiu-se estranha ao ver a forma desleixada e rústica do jovem, era como se ele mal soubesse o que estava fazendo.

    “Você tem que condensar mais seu mana, também use-o para sondar o corpo e entender os pontos críticos no qual deve focar. Você deve fazer de forma constante, mas sem pressa, caso contrário, pode danificar as células do corpo.” A mulher disse, baixinho.

    Fernando ouviu aquilo com surpresa, pois não estava esperando que a mulher percebesse sua dificuldade e até o ajudasse com alguns conselhos.

    Tsk.” O Mago estalou com a língua de forma desdenhosa, então tirou um frasco de Poção de Mana, tomando-o.

    Se o rapaz não fosse um Tenente e também alguém que comandava um Batalhão Nomeado, ele certamente não se conteria de lançar algumas palavras de zombaria.

    O jovem pálido fingiu não notar a atitude do homem e assentiu com a cabeça em direção à mulher, fingindo fazer como ela disse, mas na realidade estava estudando a diferença entre seu método e o dela. Mesmo que houvesse semelhanças no processo, como sondagem e análise de ferimentos, na prática, algo parecia diferente.

    Zado franziu levemente a testa, não esperando que o rapaz fosse tão inexperiente, mas não se importou de ser usado de cobaia. 

    Do jeito que os dois Magos estavam indo, não iriam conseguir curar todos seus ferimentos e seus manas iriam se esgotar antes disso. No pior dos casos, decidiu que tomaria uma Poção de Cura Avançada, o que estava evitando, já que eram caras e difíceis de comprar, então não custava nada deixar o rapaz tentar.

    Após ouvir os conselhos da garota, Fernando concentrou-se no corpo de Zado. Toda a região abaixo de seu cotovelo havia sumido, como se tivesse sido arrancada por algo. Além disso, havia fraturas em suas costelas e em diversas outras partes do corpo.

    Ao ver isso, surpreendeu-se, já que o homem estava agindo normalmente. Qualquer pessoa comum em tal estado estaria gritando de dor.

    O General Zado seria um bom Usuário de Habilidades… pensou, ao ver o quanto o homem era tolerante à dor. Mas afinal, o que feriu tanto ele?

    “General, talvez devêssemos recuar até que o exército chegue, esse lugar não é seguro.” Heitor disse, como se estivesse pensando o mesmo que Fernando.

    “Não precisa.” Zado falou, de forma irritada. “Eles não virão terminar o serviço, se é isso que vocês estão pensando.”

    Heitor e os outros Capitães ficaram num silêncio constrangedor com as palavras do homem. O General não era conhecido por ser alguém delicado ou que media o que dizia.

    “Além disso, já comuniquei Herin com um pergaminho, os outros devem chegar a qualquer momento.”

    Ao ouvir isso, todos na cabana do QG soltaram suspiros de alívio. Se eles tivessem que lidar com uma investida Orc com menos de dois mil homens, estariam em maus lençóis.

    Enquanto os outros estavam se preocupando com assuntos mais importantes, Fernando estava imerso no processo de cura.

    Então é assim. disse, após entender mais ou menos como funcionava o processo de cura a distância que os dois Magos estavam usando. Comparando com as anotações de Gallia, sua compreensão aumentou muito. Mesmo que superficialmente fossem iguais, havia diferenças óbvias.

    A verdade é que Fernando não havia aprendido a Magia de Cura de forma convencional, por isso seus métodos eram diferentes dos outros. Ao mesmo tempo que ele usou as anotações de Gallia, também usou conceitos que Brakas lhe ensinou. De certa forma, seu estilo de cura era uma mistura de Magia Humana e Magia Beholder.

    Enquanto a Magia de Cura Humana era focada em usar do mana para curar com segurança de forma menos invasiva, preservando a qualidade geral das células do corpo, bem como a longevidade das mesmas, a magia de Brakas era completamente oposta. 

    A forma de cura do Beholder era muito mais agressiva, bombardeando quantidades massivas de mana e obrigando as células a consumir a energia para gerar uma regeneração forçada. Mesmo que ambos os métodos tivessem um mesmo final, o processo era completamente diferente.

    Os Humanos eram criaturas muito mais frágeis que Beholders, se esse tipo de método fosse usado com frequência, o tempo de vida útil de suas células seriam drasticamente reduzidas. Depois de alguém sofrer inúmeros ferimentos e ser curado diversas vezes, o resultado seria apenas um, uma queda considerável na expectativa de vida!

    Perceber isso fez com que Fernando ficasse levemente preocupado. Felizmente, ele não havia absorvido muito dos ensinamentos do Beholder, caso contrário as consequências seriam severas. Ser curado por esse método por algumas vezes não era um problema, mas se usado com frequência geraria uma série de complicações.

    Não é muito efetivo. pensou, após testar apenas o método Humano de cura. Mesmo que fosse muito mais seguro e metódico, exigia uma qualidade de mana muito maior para ter os mesmos resultados que a Cura de Brakas.

    Além disso, mesmo que fosse muito melhor poder curar alguém de uma distância maior, sentiu que os efeitos não eram tão bons. Quanto maior a distância, mais energia seria dispersa durante a transferência contínua. O processo também parecia mais lento, pois dependia menos da quantidade e mais da qualidade do mana.

    Em comparação, o método que ele criou, usando os conceitos de ambas as raças, usando leves e moderados bombardeios de mana, ao mesmo tempo que apenas acelerava a recuperação natural do próprio corpo, era muito mais efetivo e não traria riscos a pessoa ferida.

    “Hah!” A Maga, como se não suportasse mais, desabou, com as pernas fracas. Seu rosto estava completamente encharcado de suor frio.

    O Mago, que estava ao seu lado, olhou aquilo com desdém, tentando emanar confiança e calma, entretanto, a verdade é que logo ele próprio seria o próximo.

    “Senhor, se me permite, posso tocar seu braço?” Fernando perguntou, de forma educada.

    “O quê? Do que você está falando? Não há necessidade de tocar o paciente. Isso é coisa de amador!” O homem disse, perdendo finalmente a paciência.

    Fernando fez ouvidos surdos a isso, não estava interessado em discutir com alguém como o sujeito.

    Heitor, Amanda e Banjo, ao ouvirem as palavras do jovem Tenente, franziram a testa. Por que ele precisaria tocar o General apenas para curá-lo?

    Zado também teve uma mudança de expressão, seus olhos arregalados observavam o jovem em silêncio. 

    Qualquer um em sua posição se sentiria desconfortável ao ser encarado pelo homem, mas  Fernando manteve um rosto calmo e inexpressivo.

    Vendo isso, o próprio General ficou surpreso.

    “Muito bem, faça.”

    “G-general!” O Mago disse, em protesto.

    Banjo, nesse momento, aproximou-se. Mesmo que não demonstrasse, seus olhos estavam fixos na nuca de Fernando. Se ele sentisse que o jovem iria tentar algo, estava pronto para matá-lo imediatamente.

    Heitor e Amanda trocaram olhares de compreensão, ao entender as ações do homem magro.

    Os olhos de Zado percorreram a sala. Mesmo sem que alguém dissesse algo, percebeu imediatamente o alto nível de atenção dos Capitães.

    Esse garoto? pensou ao perceber que Fernando, que estava se aproximando mais, ao receber sua permissão, era o foco.

    Na verdade, mesmo os dois Magos ao lado sentiram-se pressionados com o clima estranho.

    A única pessoa indiferente a tudo isso era o jovem Tenente, que estava impassível.

    “Irei começar então.” Fernando disse, tocando o ombro do General. Então, logo Zado sentiu uma sensação gelada invadindo seu corpo.

    “O-o que…”

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