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    Apenas analisando os efeitos e resultados, sua cura parecia perfeita, mas não era exatamente assim e Fernando sabia disso.

    Se havia um problema com o método de cura que ele havia desenvolvido, ao misturar as magias e estilos de Beholders e Humanos, é que ele pegava os pontos positivos de ambos os lados, mas da mesma forma também era obrigado a atender suas exigências.

    Seja quantidade de mana gasto ou qualidade, ambos eram imprescindíveis. Para pessoas comuns isso seria um grande impeditivo e até uma falha grave, mas para Fernando que tinha algo que outras pessoas não possuíam, isso não era problema, afinal, ele tinha a Pedra de Mana!

    “O-o que… é isso?” Zado falou, surpreso, ao sentir um leve arrepio na pele quando o jovem pálido o tocou.

    “Tenente Fernando!” Banjo gritou, ao ver a reação do General, sacando e erguendo sua espada, com seus olhos se enchendo de crueldade.

    Por uma fração de segundos, os olhos frios do Tenente moveram-se para o lado, sentindo a ameaça em suas costas, mas apesar disso, não se mexeu minimamente.

    Os dois Magos de Cura ficaram chocados quando viram o Capitão atacar o rapaz pálido, comandante do Batalhão Zero. O homem que estava ajudando a curar, rapidamente caiu para trás, afastando-se.

    Entretanto, os outros dois Capitães, Heitor e Amanda, tinham olhos frios, como se esperassem que isso acontecesse.

    Bang!

    “Que diabos você está fazendo?! Quer tanto assim morrer?” A voz de Zado soou, seus olhos encarando o Capitão magro com olheiras, que agora estava esparramado na terra, sem conseguir mover um dedo sequer, enquanto uma poderosa pressão o esmagava contra o chão.

    “G-general, ele…” Banjo tentou dizer algo enquanto olhava para Fernando.

    “General?!” Ambos, Heitor e Amanda, gritaram ao mesmo tempo, confusos.

    Ao contrário de todos no local, o único calmo e impassível era o jovem Tenente, que ainda estava abaixado ao lado direito de Zado, tocando seu ombro.

    A verdade é que há algum tempo Fernando havia notado a atitude estranha dos Capitães em relação a ele. Por mais que disfarçassem e conversassem de forma amistosa, havia um clima pesado no ambiente que não poderia ser escondido.

    Mesmo não sabendo o porquê desse tipo de tratamento e desconfiança, tinha certeza que seria morto se agisse de forma imprudente. Então, apesar de sentir Banjo em suas costas, assim como o ataque vindouro, não reagiu, pois se o fizesse seria o mesmo que se declarar culpado, seja lá do que for. 

    Além de que, se o fizesse, não conseguiria contrapor um Capitão de qualquer forma, então era mais sensato apenas se manter firme.

    Zado, que estava erguendo seu braço esquerdo, o único que havia restado, tinha uma expressão complexa. Seus olhos varreram sobre Banjo no chão, depois Heitor e Amanda, para finalmente descansar sobre o jovem pálido, que continuava a se concentrar no processo de cura, como se nada estivesse acontecendo ao seu redor.

    Esse moleque… O velho homem pensou, semi-cerrando os olhos.

    O General sabia muito bem porque Banjo havia atacado e o motivo dos outros Capitães não intervirem. Os três estavam desconfiados do rapaz e esse era o único motivo pelo qual ele não havia matado o homem de cabelo espetado em seu ataque, apenas o prendendo no chão.

    Na realidade, ele próprio tinha suas suspeitas sobre o Fernando, mas sentiu que as coisas não eram da forma que os três imaginavam.

    “Não há nada de errado acontecendo, então abaixem suas bolas.” O General disse, com uma carranca, desfazendo sua magia sobre Banjo.

    A verdade é que ele tinha se surpreendido por um momento quando o rapaz o tocou, pois sentiu um leve calafrio que durou apenas um instante, por isso que reagiu daquela forma. Mas ao sentir o mana vibrante e pulsante do jovem, que estava rapidamente curando seus ferimentos, sabia que não havia qualquer intenção de prejudicá-lo.

    O que é isso? Ele é apenas um Tenente, mas a qualidade desse mana… Não está tão longe de um Mago Avançado! O velho pensou, perplexo.

    Os dois Magos de Cura, tanto o homem que desprezou o jovem Tenente, quanto a mulher que lhe deu dicas, ficaram sem palavras enquanto viam todo o processo de cura.

    “I-isso é impossível… Nem mesmo nós dois juntos…” O homem disse, gaguejando. A mulher, ao seu lado, também estava atônita.

    Ele nem sabia o básico agora pouco, então como? perguntou-se, internamente.

    Até mesmo Heitor, Amanda e o próprio Banjo, que o atacou antes, estavam estarrecidos. Eles pensaram que o jovem queria prejudicar o General, mas na realidade ele estava, sozinho, o curando?

    Notando a mudança na postura de todos e também a atmosfera estranha, Fernando entendeu que talvez estivesse passando do limite. O que ele estava usando atualmente era um pouco do mana da Pedra de Mana, que era muito puro e de alta qualidade, integrando-o às suas Veias para suprir a falta de quantidade.

    Entretanto, isso claramente não deveria ser algo que alguém que estava no nível de Mago Intermediário deveria ser capaz de fazer, então limitou o mana que estava vindo da Pedra e, pouco tempo depois, tirou uma Poção de Mana para beber, fingindo cansaço.

    Somente quando todos viram isso, e notarem a expressão de dificuldade do rapaz, é que soltaram um suspiro de alívio. Se ele de fato fosse capaz de curar inteiramente um General, ele não seria uma espécie de monstro?

    “Desculpe, General, só consigo ir até aqui.” Fernando disse, parecendo estar mais pálido que o normal, suor escorrendo de sua testa.

    Para os outros parecia que suas condições eram devido à exaustão, mas na realidade todo esse suor era de nervosismo. Ele havia feito uma aposta, na qual sua vida estava em jogo, e o menor dos seus deslizes poderia colocá-lo numa situação sem saída.

    Zado, que estava o encarando em silêncio, parecia ter uma miríade de pensamentos passando por sua mente.

    Mesmo que o rapaz não tivesse feito muito sobre suas fraturas internas e ferimentos superficiais, ele havia conseguido estancar o sangramento e fechar a ferida em seu cotovelo. Só isso já era um feito incrível para um Mago Intermediário, afinal seu corpo não era simples.

    Um General, independente se era do Sistema de Magia ou de Habilidades, era alguém que havia passado décadas refinando e aprimorando seu mana e corpo, ao ponto em que já não poderia, há muito tempo, ser considerado um Humano normal.

    Quanto maior o poder, mais mana e qualidade de mana seriam necessários para mantê-lo. Se as pessoas comuns fossem como lâmpadas, os Generais eram como grandes e reluzentes faróis, suas existências consumindo gigantescas e exorbitantes quantidades de energia.

    Para reparar o corpo de pessoas de grande poder como essas, um Mago de baixo nível era insuficiente, no mínimo teriam que usar muitos deles. Apenas os Magos Avançados e Sêniors, especializados em cura, tinham as qualificações para sozinhos tratarem um Major ou General.

    Era por isso que sempre que um Mago Avançado especializado em Cura surgia, muitos brigariam para recrutá-lo, pois estes eram recursos indispensáveis em grandes batalhas!

    “Hm… É suficiente, você fez bem, Tenente.” Zado disse, com uma expressão calma.

    “Apenas cumpri com minhas obrigações, senhor.” Fernando disse. Logo após, seus olhos frios se voltaram para Banjo, então, encarou brevemente os dois Magos de Cura ao lado, voltando a observar o homem magro. “Receio que esse não seja o momento ideal, mas gostaria de uma explicação sobre o que houve agora a pouco, Capitão Banjo.”

    Apesar da cordialidade, a entonação e frieza na voz de Fernando fizeram todo o ambiente ‘esfriar’.

    “Isso será resolvido em breve, Tenente, pode se retirar agora.” Zado disse, com calma. Sua atitude em relação ao jovem estava muito mais amena que antes.

    Os olhos frios do jovem moveram-se, deixando de encarar Banjo para observar a Amanda, indo logo em seguida na direção do Heitor. Não importa o que estava acontecendo, os três pareciam envolvidos. Independente de quem se tratasse, qualquer um que ameaçasse sua vida era um inimigo!

    Brasileiros unidos uma ova. Fernando pensou, ao recordar das palavras amistosas de Heitor. Mesmo sabendo que não poderia confiar em qualquer um, ainda ficou levemente decepcionado.

    Desde Vento Amarelo, ao lidar com o Primeiro Instrutor, Bob William´s e posteriormente com Jean Armand, ele havia entendido que se quisesse ter uma vida longa em Avalon, teria que ter cuidado ao lidar com superiores, por isso estava tentando seu melhor para manter um perfil baixo. 

    Entretanto, cautela não era o mesmo que covardia. Se tinha pessoas deliberadamente tentando prejudicá-lo, ele não estava interessado em deixar as coisas baratas.

    Após a saída de Fernando, Zado também liberou os dois Magos. Com seus níveis de mana e falta de foco, não havia muito que pudessem fazer a partir dali, então manteve apenas os três Capitães.

    “Então é isso.” O General falou, com alguma curiosidade, ao ouvir o relatório dos três homens. “De fato, isso é estranho, tão poucas baixas numa situação como essa… Mas não necessariamente quer dizer que ele seja um espião, vocês cretinos são muito precipitados. Principalmente você, Heitor, seu tempo treinando na Cidade Dourada parece ter sido o mesmo que dar caviar a uma droga de cachorro de rua.”

    Ouvindo isso, os três Capitães ficaram em silêncio. Ao serem repreendidos por um General, nenhum deles ousava contrariá-lo.

    “Considerando que aquela pessoa esteja o ajudando, não é tão estranho seu desempenho.” Zado disse, lembrando do Mestre de Runas. “Além disso, tenho certeza que aquela pessoa não está ligada a Dimas. Inicialmente eu não o reconheci, mas agora tenho uma vaga noção de sua origem.”

    Com exceção de Heitor, os outros dois pareciam confusos com essas palavras.

    “Agora vão, tirem suas bundas incompetentes daqui, logo Herin e os outros chegarão, preparem-se para recebê-los.” O General disse, de mau-humor.

    Depois que os três Capitães saíram, o velho homem olhou para seu braço direito, ou o que tinha restado dele, sendo apenas do cotovelo para cima. Ele começou a refletir sobre a estranha sensação que sentiu quando o jovem Tenente iniciou a cura.

    “Aquele garoto… não é tão simples.”

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