Capítulo 388 - Diferença entre Batalhões
Pouco tempo depois, os Generais Herin e Ramon chegaram, acompanhados de alguns Majores.
Com isso, todos os membros das Tropas de Exploração, que estavam cheios de medo, finalmente se tranquilizaram.
Mesmo que os Orcs atacassem, com três Generais, alguns Majores e as Tropas de Exploração, eles conseguiriam ao menos reagir.
Os três Generais se reuniram na tenda e não se mostraram mais em público. Isso por si só gerou uma série de boatos e discussões. Alguns até alegaram que Zado estava tão ferido que não sobreviveria até o dia seguinte, enquanto outros afirmaram que ele já havia falecido.
Percebendo os rumores, os quatro líderes das Tropas de Exploração, Heitor, Banjo, Amanda e Fernando, que sabiam que o estado do velho General era ótimo, rapidamente trataram de suprimir os boatos.
…
No acampamento do Batalhão Zero, Fernando estava reunido em uma tenda com Theodora e Bianco. O homem corpulento estava fazendo um relatório detalhado para o seu líder, que estava sentado em uma cadeira, sobre a investigação dos batedores das últimas horas.
“Após explorarmos a região, não conseguimos encontrar um único Orc. Também identificamos que há vestígios de que recuaram para Garância, mas mesmo sabendo disso, não ousei me aventurar mais longe ou mandar os homens.” O Cabo disse, com algum nervosismo.
Devido ao seu bom trabalho recente, o jovem Tenente vinha dando-lhe cada vez mais tarefas, e até o permitiu, um pequeno Cabo, comandar tropas de outros Esquadrões.
Com a saída de Argos, o homem havia se tornado seus olhos e ouvidos, informando-o sobre toda e qualquer tipo de informação.
“Você está certo, seria complicado avançar demais os batedores, é melhor agirmos com cuidado até entendermos o que está acontecendo.” Fernando disse, com um olhar pensativo.
Mesmo sendo inexperiente em muitas coisas, o jovem Tenente sabia que deveria agir com cautela diante das movimentações suspeitas do inimigo.
“Senhor, o Capitão Heitor está solicitando uma reunião.” Um Soldado gritou, a partir da entrada.
O rapaz pálido franziu a testa ao ouvir isso. Heitor, assim como os demais Capitães, haviam traído sua confiança. Não só desconfiavam dele, como até tentaram prejudicá-lo.
Mesmo que tivesse algum respeito por Heitor, que era apenas um pouco mais velho e havia conquistado a posição de Capitão, não era leniente o suficiente para cometer o mesmo erro duas vezes. Ele planejava distanciar-se do homem o máximo possível.
“Diga que estou em meio a uma reunião estratégica, não posso atendê-lo.” falou, de forma levemente irritada.
Os olhos de Theodora voltaram-se para o rapaz com uma pitada de interesse. Para Fernando, que raramente se enfurecia, estar assim, a mulher sentiu que algo importante havia acontecido.
“S-senhor… é que ele já est-” Quando o sujeito estava prestes a dizer algo, uma mão tocou seu ombro, afastando-o, então um homem negro adentrou na tenda.
“Tenente Fernando, sei que deve estar ocupado, mas eu realmente gostaria de falar com você.” Heitor disse, sua expressão brincalhona de outrora estava longe de ser vista.
Os olhos do jovem Tenente estavam calmos, mas a ‘sensação gelada’ estava no ar. Então, virando seu rosto, olhou para Bianco, que rapidamente entendeu a mensagem.
“Estarei me retirando, senhor.” disse, levando consigo o Soldado que estava constrangido por permitir uma entrada não autorizada.
O Capitão observou os dois homens saindo, então olhou para a mulher de cabelos negros, que ficou ao lado do seu comandante.
“É uma conversa sensível, se pudermos falar a sós…” disse.
Theodora estava de pé ao lado de Fernando, que estava sentado na cadeira. Ela olhou fixamente para o homem por um instante, então sorriu.
“Eu sou a serva mais fiel do líder, qualquer informação a ser dita pode ser falada na minha frente. Não há motivos para deixá-lo sozinho com você, Capitão.” falou, dando alguma entonação na última palavra.
Mesmo sem saber o que havia acontecido, a mulher podia sentir que Fernando estava irritado com o homem à sua frente. Se o sujeito tivesse o ofendido, então não havia motivos para que ela o tratasse bem, mesmo que fosse de uma patente tão alta.
Vendo isso, Heitor franziu a testa. A mulher era uma mera Subtenente, mas se atrevia a falar com ele dessa forma. Com um rosto cheio de dúvidas, virou seu olhar para o jovem Tenente, em sinal de indagação.
Fernando, que entendeu o que o homem quis dizer, ficou em silêncio, com seus olhos fixos em Heitor.
“É como ela disse.” falou, sem se dar ao trabalho de se explicar, ele não estava de bom humor para isso.
O Capitão suspirou ao ouvir isso, principalmente ao ver a mudança de atitude do rapaz para com ele.
“Tudo bem, então vou direto ao ponto, você já deve estar ciente disso, então não tem porque enrolarmos. Eu, Banjo e Amanda cometemos um grande erro ao desconfiar de você, então estou aqui em nome de nós três para pedir desculpas.”
Após receber a confirmação de Zado, de que o Batalhão Zero definitivamente não estava sob o comando de Dimas, o rapaz negro soube que estava errado.
A expressão de Fernando se manteve impassível, independente das palavras do homem.
“Capitão Heitor, você realmente acredita que um mero pedido de desculpas vai resolver isso? Que eu vou aceitar de bom grado suas palavras logo após vocês apontarem suas armas para minhas costas?” disse, com uma entonação de voz calma, mas que soava profundamente ‘gelada’.
Theodora, que estava ao lado do rapaz, ficou surpresa ao ouvir isso. Ela sabia que Fernando havia tido algum problema com o homem à sua frente, mas não imaginou que fosse algo tão grave.
Ao saber que o sujeito havia atentado contra a vida de seu mestre, sua expressão mudou e seu olhar voltou-se em direção ao homem. Não havia mais zombaria em sua expressão, mas hostilidade.
Mesmo que fosse um Capitão e fizesse parte dos Leões Dourados, ela não perdoaria aqueles que se atreviam a tentar prejudicar Fernando.
O homem negro parecia já esperar por esse tipo de resposta.
“Eu compreendo que está irritado, Tenente, mas entenda. Eu não sei como era o lugar de onde você veio, mas entre as Legiões, principalmente na região central, não se pode confiar em ninguém. Mesmo um companheiro com o qual você bebe, come, dorme e luta lado a lado, pode, na verdade, ser um espião de uma Legião inimiga ou mesmo de algum adversário político da mesma organização à qual pertence.” Heitor falou, como se estivesse lembrando de algo “Na Cidade Dourada já passei por isso inúmeras vezes, então espero que você entenda porque fiz isso. Até que se tenha certeza, é difícil confiar em alguém.”
As sobrancelhas de Fernando se apertaram levemente. Ele entendia do que o homem estava falando, afinal, ele próprio já lidou com situações assim, como Argos e alguns membros do antigo Esquadrão Lazuli que eram infiltrados dos Lobos de Batalha.
Entretanto, mesmo sabendo disso, sentiu que isso não mudava o fato de ter sido atacado de forma injusta. Sua vida não era tão barata que poderia ser ameaçada de forma tão leviana.
“Me diga o porquê. Por que estavam tão desconfiados de mim e do meu Batalhão? É porque mudamos de rota? Ou tem outro motivo?” Fernando falou, lançando várias perguntas seguidas.
O Capitão suspirou, inicialmente ele não queria falar a respeito, mas tendo recebido a confirmação de Zado, sabia que precisava consertar a situação.
No fim, Heitor acabou falando para o jovem Tenente e mencionou a principal causa de sua desconfiança e dos demais, sendo o principal fator as poucas baixas do Batalhão Zero, bem como sua atuação esplêndida nos últimos dias, algo que estava completamente fora do normal, principalmente de um Batalhão liderado por um novato que era mais fraco que eles próprios.
Para que eles tivessem tantas conquistas com tão poucas perdas, a única explicação lógica que os três Capitães conseguiram chegar é que Fernando havia recebido ajuda externa. Coincidentemente, o exército de Dimas ficava ao Oeste, na mesma posição que o Batalhão Zero cobriu.
A cada palavra de Heitor, mais as sobrancelhas do jovem pálido se juntavam. Por mais que estivesse com raiva e irritado, sentiu que havia lógica em sua argumentação.
O que as pessoas pensariam se um Batalhão, liderado por um mero Tenente, se saísse muito melhor que Batalhões liderados por Capitães? O rapaz sentiu que se estivesse na posição oposta, também ficaria desconfiado.
Assim como o homem disse, o desempenho do Batalhão Zero havia sido muito acima da média. Mas isso só havia acontecido devido a uma série de fatores, sendo o principal deles, o fato de vários membros centrais terem uma força acima da média.
Devido aos fundos que ele havia reunido desde Vento Amarelo após tantas situações de vida ou morte, Fernando teve uma grande margem para investir em seus homens, e os frutos disso finalmente estavam sendo colhidos.
Mas isso não era tudo, o jovem sabia que ele teve sorte. Na missão de infiltração, se ele não tivesse enviado Brakas, teria definitivamente sido um fracasso e seu Batalhão teria sofrido pesadas perdas. Então muito de seu sucesso havia vindo do uso de certos trunfos em momentos certos, algo que não poderia ser alcançado facilmente, afinal, nem todos tinham um Beholder ‘domesticado’ para usar.
Mas o que o próprio Fernando não sabia é que esses não eram os únicos motivos das poucas baixas, muito disso também estava ligado à forma de liderar.
O jovem Tenente costumava sempre estar na linha de frente, e por consequência disso, havia criado-se um certo costume dentro da cadeia de comando do Batalhão Zero, no qual os líderes sempre assumiam posições de risco e tomavam a frente. Por causa disso, a taxa média de baixas dos soldados comuns havia caído consideravelmente.
Em contrapartida, nos outros Batalhões, o oposto acontecia. A cadeia de comando costumava ficar em posições bem protegidas, usando os soldados comuns e baixas patentes para lidar com a maioria das ameaças.
Essa era a principal diferença entre o Batalhão Zero e os demais Batalhões das Tropas de Exploração. Enquanto um lado estava preocupado em proteger seus soldados, o outro os usava como sacrifícios quando necessário.
Após ouvir tudo que o rapaz negro tinha a dizer e de entender o ponto de vista de Heitor e dos demais, Fernando ainda sentiu que eles haviam ido longe demais ao atacá-lo sem verificar a fundo os fatos.
“Então, basicamente, o que está me dizendo é que desconfiaram de mim porque eu não fiz um péssimo trabalho como o de vocês?” falou, com uma voz ‘fria’.
Theodora, ao lado, deu uma leve risada, como se estivesse zombando do homem.
Ouvindo isso, somado a ver a Subtenente rindo dele, a expressão do Capitão mudou, ficando surpreso. Então sorriu, levantando a mão e coçando a cabeça, não parecendo estar ofendido.
“Você está certo. Se seu Batalhão se saiu melhor, é tudo devido a nossa falta de competência.” disse. Então moveu o pulso, tirando algo de sua Pulseira de Armazenamento. “O que foi feito, está no passado. Não espero que confie totalmente em mim novamente, mas espero que ainda possamos nos dar bem. Vou te dar isso como sinal de que estou falando sério.”
Fernando ficou surpreso com as palavras do homem, então olhou para sua palma. Dentro havia uma pequena pedra azul, com as bordas irregulares. Era tão pequena que mal era do tamanho de uma unha do dedão do pé.
Sem que o jovem Tenente dissesse algo, Theodora aproximou-se, arrematando a pequena pedra das mãos do homem sem muita cortesia e depois levando-a para o rapaz pálido.
Hm? O que é isso? O jovem pensou, com curiosidade, ao pegá-la.
Sentindo a pequena pedra na palma de sua mão, sentiu que não passava de uma pedra comum. Por que Heitor lhe daria isso?
“Inicialmente eu não queria me desfazer disso, já que é algo que talvez eu precise no futuro, mas isso é o quanto eu valorizo nossa relação, então espero que possa esquecer sobre o que aconteceu hoje.” O homem negro disse.
Fernando olhou para ele sem entender.
“E o que isso seria?”
Ouvindo isso, a expressão de Heitor mudou.
“Você nem sequer sabe o que é? Hahahaha, você é realmente bem leigo, Tenente Fernando.” disse, com uma gargalhada. “Bem, vou te falar então, já que é meu presente para você. Isso é… uma Pedra de Mana.”
“O-o quê?!” A expressão de Fernando mudou, sua mente congelando em meio a confusão, fazendo-o levantar-se abruptamente.
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