Capítulo 428 - Barganha

Tanto Wayne, quanto Herin, ficaram sem palavras ao ouvir o nome da pessoa que alegava estar na posição de comando provisório da Quinta Divisão, principalmente por se tratar de um nome familiar.

“O-o que, mas que diabos você está dizendo? Por que um maldito Tenente de um pequeno Batalhão Nomeado estaria no comando da Quinta Divisão? O que Dimitri está pensando, ele ficou louco?” Herin exclamou, absorto em irritação e incredulidade.

Normalmente, mesmo que um General não pudesse comandar, sempre haveria Majores que poderiam assumir a liderança em sua ausência, ou no mínimo Capitães. Raramente a cadeia de comando seria comprometida ao ponto de alguém de três patentes abaixo precisar ir à frente.

Enquanto Herin estava irritado e confuso, Wayne, por outro lado, tinha uma expressão pensativa.

Quem é esse garoto, afinal?

A primeira vez que ele havia ouvido falar de Fernando foi quando foi até Belai para a premiação pela vitória na defesa da cidade.

Inicialmente não havia pensando muito a respeito do jovem, mas os relatórios que indicavam as contribuições do então Pelotão Zero, o fizeram notá-lo. Depois disso, o rapaz continuava a se destacar, seja ao recusar sua recomendação para a Academia, quanto em sua realização na descoberta da localização do acampamento inimigo, que havia sido fundamental para que o ataque a Garância fosse realizado.

“Abra a comunicação, quero falar diretamente com ele.”

“Sim senhor!” O Oficial de Inteligência assentiu, transferindo o pedido de comunicação, colocando-o no viva-voz.

Assim que a ligação foi conectada, uma voz calma soou do outro lado.

“General, fico feliz que possamos conversar.” A voz jovem disse.

Ao ouvir isso, Wayne franziu a testa.

“Tenente Fernando, poderia me explicar exatamente o que está acontecendo? Por que você está no comando provisório da Quinta Divisão?”

Suspira.

“Bem, foi algo que simplesmente aconteceu, por necessidade.” Fernando respondeu, sem dar muitos detalhes.

“Absurdo, por que um mero Tenente precisaria assumir o comando? Por acaso todos os Majores e Capitães estão mortos ou o quê? Traga agora mesmo alguém qualificado para explicar o que está havendo!” Herin exclamou.

Do outro lado do campo de batalha, na Quinta Divisão, Fernando, que estava no Quartel, observando o mapa de batalha, franziu a testa ao reconhecer a voz.

“Eles não estão mortos, mas com certeza não é graças a você, certo, General Herin? Não bastava ignorar nossos pedidos de ajuda e pedirem para movermos os alvos das Balistas enquanto estamos cercados, mas precisavam até mesmo bloquear a comunicação? Você tem certamente as qualificações, senhor.” Fernando falou, num tom irônico.

Desde que assumiu o comando provisório da Quinta Divisão, o jovem Tenente havia sido informado pelo Capitão Marco Mendes que a comunicação parecia ter sido bloqueada e também que o General Herin era um dos principais responsáveis pelo setor de logística do QG, e que o QG havia enviado reforços para a Primeira Divisão, então ouvi-lo lançar criticas depois do que ele havia feito com a Quinta Divisão era algo bem hipócrita em sua visão.

“O-o quê?! Como um lixo como você ousa…”

“Já basta!” Wayne disse, interrompendo Herin. “Tenente, vá direto ao assunto. Como você assumiu essa posição, e mais importante que isso, fale sobre o Lorde Urukkan.”

“Muito bem…”

Então logo Fernando fez um breve resumo, de como Dimitri e os outros Majores enfrentaram o Xamã, depois do confronto a criatura havia escapado em direção as Balistas, para destruí-las. Mas que um de seus homens haviam conseguido acertar o monstro, matando-o. Entretanto, obviamente, ele havia enfatizado o fato do Orc estar extremamente enfraquecido e também ocultou certos pontos, tudo para chamar o mínimo de atenção para si e Alfie.

“Isso…” Mesmo que o jovem tentasse, propositalmente, diminuir o foco em si, o fato de matar um Lorde Urukkan não era algo tão simples.

Após isso, o jovem continuou, falando sobre como Dimitri havia liderado os Majores para tentar derrubar o último Lorde e o deixou no comando.

Depois de ouvir tudo, a expressão de Wayne era uma mistura de curiosidade e perplexidade, principalmente sobre um dos pontos do relatório.

“Que tipo de mudanças seu subordinado fez na Balista?”

Mesmo que Fernando quisesse ocultar essa parte, para evitar chamar mais atenção do que tinha, simplesmente não pôde evitar. Afinal, era uma parte fundamental de seus planos, as Balistas eram uma de suas únicas moedas de barganha.

“Isso é absurdo, claramente foi ele quem ignorou as ordens de disparo que enviamos, e ainda teve a coragem de adulterar as Balistas…” Herin falou, muito mais surpreso pelo atrevimento do jovem em falar tão abertamente sobre suas transgressões, do que sobre as conquistas que conseguiu.

“Nenhuma grande modificação, senhor, meu subordinado apenas fez algumas modificações simples, melhorando algumas Runas, o que fez a velocidade de disparo e precisão aumentarem um pouco.”

Ouvindo isso, a expressão de Wayne mudou levemente. Ele, melhor do que ninguém, sabia o quão ruim era a precisão das Balistas que havia adquirido. Eram armas de guerra de terceira mão que ele havia negociado com seus contatos. Mas mesmo sendo armas de terceira, ele havia precisado usar grande parte de suas economias pessoais e até levantar fundos com alguns apoiadores para comprá-las. 

Então quando ele disse que conseguiram acertar o Lorde Urukkan com as Balistas, ficou imediatamente desconfiado. Mesmo o melhor dos operadores teria dificuldade em acertar um alvo fixo com dez metros de diâmetro. Muito menos um pequeno alvo que estava em movimento.

“E quanto a velocidade de disparo?” O General sondou, ainda desconfiado.

“Bem, as Balistas agora podem disparar num intervalo de três a cinco minutos, senhor.”

Quanto Wayne ouviu isso, sua boca abriu, ficando sem palavras. Mesmo Herin e os oficiais de inteligência tiveram reações similares. Isso era simplesmente metade do tempo de disparo! Como exatamente algo assim eram apenas modificações simples?!

Com uma diminuição no tempo de disparo como essa, era como se o número de Balistas tivesse dobrado! As cinco Balistas da Quinta Divisão, seriam equivalentes a dez!

Após mais algumas perguntas, Wayne descobriu sobre toda a situação do flanco direito. Ouvindo sobre quão ruim as coisas estavam lá, ninguém do QG ficou surpreso. Na verdade, todos imaginavam que as coisas estavam ainda piores. Era surpreendente o quanto a Quinta Divisão estava resistindo nessas condições.

“Então, Tenente Fernando, qual o motivo de você entrar em contato, tenho certeza que não foi apenas para dar esse relatório.”

Inicialmente Wayne ficou muito animado ao saber sobre a melhoria das Balistas, se eles conseguissem mantê-las, seria um grande trunfo na batalha, mas ouvindo sobre quão ruim estava o estado atual da Quinta Divisão, não achava que eles conseguiram trazê-las de volta.

“É bem simples, General. O motivo para que eu entre em contato, é que quero que vocês lancem um ataque na retaguarda dos nossos inimigos do Leste.”

Quando o General Comandante ouviu isso, sua expressão diminuiu. Mesmo que ele reconhecesse que era impressionante que a Quinta Divisão resistisse tanto, não mudava o fato que não poderiam usar tropas essenciais para isso, mesmo as Balistas não eram motivo suficiente.

Supondo que mandassem algum reforço, o panorama da batalha não mudaria, afinal a diferença de números era simplesmente muito grande e Wayne sabia disso. Sua ideia era a mesma de Herin, concentrar o máximo de forças na batalha do centro. Contanto que vencessem ali, a vitória seria deles.

“Tenente Fernando, você é um rapaz inteligente, deve saber que isso é impossível. Nosso objetivo é vencer essa batalha.”

Na Quinta Divisão, Fernando sorriu ao ouvir a declaração de Wayne.

“É por isso mesmo que vocês devem atacar o Leste, senhor.”

“Quanta bobagem! Você só está desesperado. Talvez até a questão das Balistas seja mentira. Dimitri pode te-lo feito falar em seu nome e inventar tudo isso.” Herin falou.

“Se esse fosse o caso, poderíamos simplesmente abandonar as Balistas e bater em retirada. O que acha que a Horda de Dobats faria, nos perseguir, ou…”

“Você! Que absurdo está falando, seu Tenentezinho de merda!” Herin gritou, furioso, na comunicação.

O plano original era que os flancos segurassem as tropas inimigas, enquanto o exército do centro pressionaria sua contra parte. Contanto que o centro vencesse, eles poderiam destruir o flanco inimigo individualmente depois.

Porém, o que aconteceria se um dos flancos aliados abandonasse sua posição antes da hora? A resposta para isso era bem simples. Como formigas atraídas pelo açúcar, os Orcs iriam flanquear o exército central, impedindo qualquer chance de vitória!

“Eu acredito que a batalha ao centro não está indo como o esperado, a Primeira Divisão também não deve estar indo muito melhor, estou certo?” Fernando indagou, com confiança em sua voz.

Ouvindo isso, seja Herin ou Wayne, nenhum deles conseguiu contrapor suas palavras. No exército central inimigo, um Orc Lorde Soberano Dobat estava dificultando seus planos e no flanco esquerdo, eles haviam perdido seus dois Generais aliados, com um sendo morto por um Marauder, enquanto outro fugiu. Devido a isso, as demais Legiões e Guildas estavam ameaçando se dispersar. Se mais pressão fosse imposta a Primeira Divisão, eles duvidavam que essas tropas estrangeiras iriam manter posição até o fim.

Ao não ouvir resposta alguma, Fernando sorriu. Na verdade, tudo que ele estava dizendo eram suposições sem base alguma. Mas vendo que nenhum deles o contestava, percebeu que estava certo.

“No lugar de apostar todas suas fichas na Primeira Divisão, por que não apostar na Quinta? Mesmo depois de sermos usados de isca e abandonados, ainda estamos aqui, lutando. General, se você realmente quer vencer essa batalha, ajude a Quinta Divisão!”