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    Um longo silêncio tomou conta da linha de comunicação entre a Quinta Divisão e o QG, nenhum dos dois lados expressou qualquer coisa após a proposta de Fernando.

    Wayne tinha uma expressão franzida. Assim como o rapaz havia afirmado, nenhum dos seus planos estava indo conforme o esperado.

    A verdade é que mesmo ele, o Comandante, estava começando a duvidar de que poderiam vencer. Além da desvantagem numérica, que já era um grande problema, ainda haviam perdido dois Generais da Primeira Divisão e o Major Comandante da Segunda, se ele deixasse as coisas como estavam, Dimitri, na Quinta, também logo cairia.

    Ele estava mantendo algumas forças de reserva no QG na espera do movimento inimigo, esperando que o Urukkan e o Marauder se revelassem. Isso porque ele estava esperando neutralizar essas duas ameaças antes de lidar com o problema central, o Lorde Dobat Soberano.

    No acampamento inimigo, dias antes, eles haviam lidado com um Orc Lorde Glutão Intermediário, que possuía a força praticamente equivalente a um Soberano, porém foi necessário que seis Generais trabalhassem juntos para derrubá-lo, com Herin perdendo muito do seu poder de combate por consequência.

    Agora, com menos dois Generais e Herin incapaz de lutar, indo assumir o comando na Primeira Divisão, só restavam ele, Ramon e Zado, sem um dos braços, para lidar com o Soberano. Ele não tinha muita certeza sobre suas chances.

    Mas, apesar disso, sabia que isso também era uma oportunidade. Com o Xamã tendo sido morto no flanco direito e o Marauder dando as caras no esquerdo, significava que as variáveis que ele tanto temia haviam sido removidas ou expostas.

    A única questão é, ele teria tempo suficiente para lutar com o Soberano Dobat e esmagar suas forças centrais? A resposta provável para isso era que não.

    Mesmo seguindo com o plano original, ele duvidava que a Quinta resistiria por tempo suficiente, antes de serem flanqueados pelas tropas inimigas, ou que a Primeira Divisão, composta por Legiões e Guildas não leais aos Leões Dourados, se manteriam de pé por muito tempo após um General ser morto e o outro desertar.

    Do outro lado, Fernando estava ansioso pelo longo silêncio, mas se conteve, numa negociação, a parte que hesitasse estaria em desvantagem. Isso era algo que ele aprendeu depois de sua convivência em Avalon.

    “Quão confiante você está?” Wayne finalmente quebrou o silêncio, após pensar por um longo tempo.

    Herin ficou espantado ao ouvir isso.

    Ele não está pensando em realmente mandar tropas, está? 

    Quando lançassem um ataque total ao exército central Orc, a luta com o Soberano não seria o único fator decisivo. De nada adiantaria derrotarem o líder, se as tropas inimigas se mostrassem superiores, no fim eles seriam engolidos pelos números. 

    Era por isso que no QG, na Terceira Divisão, eles haviam mantido Tropas de Elite, para uma investida rápida e explosiva no momento certo. Somando isso ao poder da Cavalaria da Segunda Divisão e as tropas de Ramon na Quarta, eles mal teriam o suficiente para essa operação. Se Wayne desviasse parte dessas forças para apoiar a Quinta, o resultado dessa batalha seria completamente incerto.

    Ouvindo a pergunta, Fernando suspirou aliviado, isso significava que eles haviam se interessado. Se o QG fosse teimoso e insistisse em não ajudá-los, o fim da Quinta Divisão estaria cravado. Mesmo o plano que ele havia elaborado não resolveria a questão.

    “Sendo sincero, não posso garantir que teremos sucesso, os números dos inimigos não são poucos.” O jovem Tenente disse de forma honesta. “Mas nossas chances são relativamente boas.”

    Quando Wayne ouviu isso, sua testa franzida tranquilizou-se um pouco. A verdade é que ele estava sondando Fernando. Se o jovem fosse arrogante o suficiente para garantir a vitória no flanco direito, ele teria encerrado imediatamente a ligação.

    “Uma Brigada, isso é tudo que posso enviar.” O General Comandante disse, de forma imponente.

    Quando essas palavras foram ditas, todos os membros do QG, que estavam cientes dos planos anteriores, ficaram atônitos. Essa era uma mudança drástica! A perda de uma Brigada seria devastadora para as forças centrais.

    “G-general Wayne, você não pode, isso…” Herin rapidamente contestou, mas ao ver os olhos do velho homem, que o visaram, como se estivesse dando-lhe um aviso, imediatamente calou-se.

    Por mais que Wayne tivesse uma boa reputação e fosse considerado um bom General, isso só era aplicado a situações normais. Em situações difíceis, pessoas no poder não hesitariam em tomar decisões cruéis e sanguinárias. Herin, melhor do que ninguém, sabia disso.

    “É mais do que suficiente.” Fernando respondeu, de forma confiante.

    No fim, após acertar os detalhes da operação, Wayne prometeu que faria o despacho imediato das forças de apoio. Com isso feito, ambos os lados encerraram a comunicação.

    “General Wayne, você tem certeza disso? Mover nossas tropas num momento tão delicado, confiando nas palavras desse garoto, que nem conhecemos direito? Isso é loucura!”

    A verdade é que mesmo Wayne estava incrédulo com sua decisão. Ele realmente estava arriscando todos os seus planos devido a um mero Tenente. Apesar disso, após relembrar as conquistas do rapaz, seja em Belai ou no Acampamento Orc, sentiu que valia a pena correr esse risco.

    Além disso, não foram apenas as palavras do rapaz que o convenceram. Instintivamente, ele sentiu que caso insistisse em se manter nos planos iniciais, o único resultado seria a derrota.

    “Não é necessário olhar para o alto para ver a luz do sol, nem é preciso possuir ouvidos afiados para escutar o estampido do trovão. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível. Não há ventos favoráveis para quem não sabe onde quer chegar, General Herin.” Wayne disse, enquanto voltava seu olhar para o Oeste. “Agora vá, cumpra com sua função.”

    Herin tinha dúvidas ao ouvir as palavras do homem, mas ele havia se decidido e não havia nada que pudesse fazer, só restava confiar em suas decisões.

    No fim, Wayne não era um General simples, era alguém que tinha um prestígio tão grande dentro dos Leões Dourados que havia conseguido levantar uma forte oposição a própria Cidade Dourada e seu representante escolhido, Dimas Ortega.

    “Sim senhor.” 

    Logo Herin partiu, levando consigo alguns Majores, para controlar a situação na Primeira Divisão.

    “General, qual Brigada devemos enviar?” Um Oficial de Inteligência perguntou, em dúvidas.

    Wayne semicerrou os olhos, pensativo. Atualmente a nata das tropas estava no QG, aguardando ordens. Isso incluía a elite das Brigadas Nomeadas, assim como de outras Brigadas importantes e com grandes conquistas.

    “Envie a Brigada Salazar.” disse, após ponderar.

    A elite da Brigada Salazar estava atualmente a postas no QG, enquanto o restante de suas forças estavam na Quarta Divisão. Apesar disso, as tropas estacionadas ali ainda possuíam cerca de 2.000 homens.

    O Oficial de Inteligência ficou surpreso, assim como as pessoas ao redor. O General estaria enviando não só uma Brigada, mas uma Nomeada!

    Para o General Comandante, enviar uma Brigada comum não resolveria os problemas da Quinta Divisão. Se ele planejava correr riscos, faria isso corretamente!

    “Passe a ordem aos Majores e ao restante dos Capitães de Brigada, diga que preparem as tropas, vamos começar a operação!”

    Na Quinta Divisão, Fernando tinha um sorriso no rosto, ao seu lado, o Capitão Mendes estava incrédulo, ao testemunhar toda a negociação com o QG.

    Ele realmente conseguiu? A seu ver, era simplesmente loucura solicitar ajuda do QG nesse ponto, mesmo quando Dimitri havia o deixado no comando, ele não ousou entrar em contato, mas o rapaz havia feito e até ameaçou indiretamente o próprio General Comandante!

    Com as tropas que ele havia conseguido do QG, Fernando sabia que era hora de começar a mover as peças. O tempo estava contra ele.

    Pegando seu Cubo Comunicador, rapidamente entrou em contato com Thom, Theodora e Ilgner.

    “Quanto tempo?” perguntou.

    “Estamos a caminho, logo estaremos em posição.” Theodora respondeu.

    Não muito longe, as tropas do Batalhão Zero e as do Batalhão de Bemir, marcharam em direção ao Leste, no fronte da Sexta e Sétima Brigadas. Ao fazer isso, ele manteve apenas o pessoal essencial do Quartel e das Balistas, o que deixou as tropas comuns ansiosas. 

    Esse tipo de movimentação era estranha e incomum. Por mais critica que fosse a ocasião, nenhum Comandante permitiria tanta vulnerabilidade na área do Quartel, afinal, aquele era o centro de informações e comandos da Divisão.

    Não precisou de muito tempo, até que o Batalhão Zero e o Batalhão de Bemir se aproximassem do fronte, juntos, os dois somavam cerca de 1.000 homens.

    Ao notarem a aproximação das tropas aliadas, a Sexta e Sétima Brigadas, que mal estavam aguentando a enxurrada de ataques dos Orcs, imediatamente comemoraram.

    “Reforços, reforços estão vindo!”

    “Estamos salvos!”

    “Finalmente…”

    As tropas na parte de trás, que estavam se recuperando, gritaram e comemoraram, chamando a atenção de muitos que estavam fazendo a linha de frente, incluindo o Capitão Johnathan, que havia se tornado um ‘barco’ solitário, aguardando a investida Orc em sua posição.

    “O que é isso?” O homem perguntou-se, ao ouvir o alvoroço.

    Em pouco tempo soube das tropas aliadas que se aproximavam.

    O que ele está fazendo? perguntou-se, espantado.

    Johnathan esperava suporte de fogo das Balistas, não de tropas aliadas. Era para isso que ele havia se usado de isca. Os Orcs Lideres e Líderes Inferiores já estavam começando a se acumular naquela área, não demoraria muito para que invadissem.

    As tropas estavam empolgadas e animadas, mas logo toda a agitação parou, quando o Batalhão Zero e de Bemir pararam sua marcha a poucas dezenas de metros da intercessão entre a Sexta e Sétima Brigadas.

    “Em posição!” Theodora falou, na comunicação.

    “O quê? Por que eles não estão vindo?” Alguns exclamaram, sem entender.

    Observando tudo de sua posição, Johnathan estava tão confuso quando suas tropas, então rapidamente entrou em contato com Fernando.

    “Tenente Fernando, qual o significado disso?”

    Do outro lado, o jovem Tenente, estava olhando para as Balistas e seus Operadores, que estavam em posição. Ao lado, Alfie Caiman assentiu, indicando que as armas estavam prontas.

    “Apenas estou cumprindo com minha parte do combinado, Capitão.”

    Ao ouvir isso, a expressão de Johnathan mudou.

    “As Balistas, já estão prontas?” Pelos cálculos dele, ainda precisariam de algum tempo até que estivessem carregadas.

    “É claro.” Fernando respondeu, de forma calma.

    “Então, por que não dispararam ainda? Eu já havia te informado, os Orcs Líderes logo chegarão até aqui! Não temos tempo!” O homem gritou, na comunicação.

    “Acalme-se, Capitão.” O jovem Tenente falou, num tom sucinto, mas confiante. “Eu irei usar as Balistas, mas antes preciso que faça algo por mim.”

    Johnathan ficou sem reação ao ouvir o apelo do jovem. O que ele poderia fazer? Ou melhor, o que o bizarro Tenente que assumiu o comando da Divisão precisaria dele?

    “O-o que você quer?” O Capitão perguntou, sentindo-se estranho, por estar hesitante em fazer uma mera pergunta.

    “Não se preocupe, o que quero que você faça é… que abra um caminho para os Orcs.”

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