Índice de Capítulo

    “Bem-vindo de volta, Major.” Uma voz masculina, jovem e calma soou.

    O Major usuário de Magia de Gelo abriu os olhos, assim que o fez, olhou em volta, como se estivesse tentando entender a situação em que estava e procurando possíveis ameaças. Essa reação fez o jovem Tenente ficar impressionado.

    Não é à toa que ele é um Major Combatente… pensou.

    Uma pessoa normal, ao acordar num lugar estranho, ficaria normalmente assustada, confusa e talvez até reagisse de forma violenta, mas o Major não o fez.

    Após confirmar que estava em um local seguro e reconhecer o rosto de Fernando, o velho homem sentou-se na cama, então colocou a mão na barriga, que antes estava completamente aberta. Ao notar que não havia mais o ferimento, ou sequer um indício mínimo disso, sua expressão mudou.

    “O que é isso? Um Mago de Cura Sênior me salvou?” O homem perguntou, confuso. Ele não sabia de ninguém assim na Quinta Divisão, havia apenas um Mago como esse em todo o exército de Wayne, mas ele estava no QG.

    A expressão de Fernando manteve-se impassível, pois já esperava esse tipo de questionamento.

    “Sinto muito, Major, mas não há nenhum Mago de Cura desse nível aqui.” disse, de forma sincera.

    O homem olhou para o jovem Tenente de forma desconfiada ao ouvir isso. Então seu rosto pareceu chocado.

    “Usaram uma Poção de Cura Avançada em mim?!” exclamou, chocado.

    Uma poção tão cara, como a de Cura Avançada, não era algo simples. Geralmente apenas pessoas muito ricas ou influentes tinham acesso a algo assim. 

    Uma única Poção de Cura Avançada custava cerca de 15 moedas de ouro a preço de mercado, a menos que alguém tivesse um fornecedor ou contatos no Mercado Negro, dificilmente encontraria mais barato que isso.

    Sendo um Major Combatente, ele conseguiria comprar algo assim se economizasse seu salário por cerca de meio ano, mas não era o tipo de gasto que alguém como ele poderia se dar ao luxo de pagar.

    Olhando para o rapaz diante dele, ficou confuso. Mesmo que o jovem fosse extremamente talentoso, era apenas um Tenente, não deveria ter acesso a itens tão caros. Então logo pensou em algo.

    O General Dimitri? Somente o homem poderia ter algo desse nível. Mesmo que ele fosse um General recém-nomeado, antes disso o sujeito havia servido como braço direito de um General renomado por anos, logo era completamente capaz de possuir itens desse valor, mas porque ele gastaria com um mero Major Combatente como ele?

    Fernando tinha uma expressão complicada e estava prestes a tentar falar algo, quando o homem levantou-se.

    “Entendo, e pensar que fui ousado o suficiente para criticar o General Dimitri no passado, e mesmo assim, ele me presenteou com um recurso tão valioso.” O homem disse, sentindo-se envergonhado.

    Ao ouvir isso, o jovem Tenente ficou confuso e, novamente, tentou dizer algo.

    “Não senhor, eu…”

    Quando estava prestes a tentar explicar, foi interrompido.

    “Ah! Agora eu entendo, Dimitri deixou esse recurso tão importante com você, o jovem gênio que ele está cultivando. Nesse caso, você usou em mim, um salva-vidas que lhe foi dado.” Compreensão atingiu o velho Major, quanto mais pensava nisso, mais sentiu que fazia sentido. Então olhou para o rapaz com um olhar penetrante e cheio de gratidão. “Eu já estava pronto para aceitar minha morte, só lamentava não poder morrer em batalha… Mas você realmente me salvou, eu agradeço, Tenente, ou melhor, Comandante Provisório.”

    A expressão de Fernando era completamente estranha enquanto ouvia o sujeito, sem saber o que dizer, então suspirou.

    Inicialmente ele não sabia como explicar a situação atual, então havia decidido ser franco com o homem e dizer que havia o curado com um método especial e que sua vida havia sido reduzida graças a isso, mas ao vê-lo criando um ‘álibi’ muito melhor que o dele, acabou se conformando e mantendo-se em silêncio.

    Ele não sabia muito bem o quão milagrosa essa Poção de Cura Avançada era para que o sujeito tivesse tal reação, mas entendeu que deveria ser muito melhor que a Intermediária que o salvou no passado.

    Lembrando-se das palavras de Brakas, que afirmou que o homem teria, na melhor das hipóteses, mais três ou quatro anos de vida, e no pior dos casos alguns meses, não pôde evitar de sentir um leve gosto amargo na boca. Entretanto, isso durou apenas um instante, mesmo sabendo que estava sendo cruel, decidiu aproveitar a oportunidade.

    Talvez seja melhor manter-se ignorante do que saber que vai morrer em breve a qualquer momento. pensou, tentando se consolar. 

    Somado a isso, pensou que o homem era um soldado, alguém que vivia nos campos de batalha, mesmo que sua vida não fosse diminuída, nada garantia que ele não morreria no dia seguinte.

    Ahem!

    “Senhor, com todo respeito, não usei essa poção em você por bondade, mas necessidade.” Fernando falou, com um rosto impassível.

    Ele normalmente não tinha problemas em inventar mentiras, mas dessa vez mesmo ele sentiu-se incomodado, mas rapidamente engoliu seus sentimentos pessoais.

    Ao ouvir isso, a expressão de gratidão do Major usuário de Magia de Gelo diminuiu, entendendo.

    “Qual a situação?” O homem perguntou, tentando se situar, já que não sabia há quanto tempo esteve inconsciente.

    Logo o jovem Tenente deu uma explicação de forma resumida sobre tudo que aconteceu.

    Ao ouvir que o rapaz não só conseguiu reforços do QG, como até mesmo havia até mesmo ajudado o General e os outros Majores a finalmente derrubar o Lorde Intermediário, o sujeito sentiu-se chocado.

    Somado ao que o rapaz havia feito antes, na luta contra o Lorde Urukkan, o homem não pôde deixar de sentir-se intimidado. Mesmo que ele fosse um Major e o rapaz fosse nada além de um mero Tenente, o jovem havia sido o fator crucial na morte de dois Lordes num mesmo dia!

    Que tipo de monstro o General Dimitri está criando? pensou.

    “Eu entendo, farei o meu melhor.” afirmou.

    Quando o Major levantou, moveu o pulso, tirando uma nova camisa e armadura.

    “Er, senhor, quanto a questão da Poção…” Fernando falou, tentando insinuar algo.

    O homem ficou levemente surpreso, mas logo entendeu. O rapaz recebeu um recurso tão valioso do General, então estava logicamente preocupado de que isso se espalhasse.

    Não só Dimitri ficaria furioso por ele usar isso quando sua própria vida não estava em perigo, como as pessoas começariam a ficar ávidas sobre as posses do rapaz, afinal, um mero Tenente carregando algo que valia 15 moedas de ouro não era algo que deveria ser levado de forma leviana. Mesmo dentre as tropas aliadas, poderia haver muitos indivíduos gananciosos.

    “Não se preocupe, o assunto morre aqui!” O Major afirmou, então, estendeu a mão. “Eu me chamo Silvester, esse favor não será esquecido, jovem.”

    Fernando ficou um pouco surpreso com a colaboração do homem, então assentiu, apertando sua mão.

    Na batalha dentro do corredor, a expressão do Capitão Mendes era tensa, com leves indícios de pânico, quando viu, de forma horrorizada, um dos Capitães que ele trouxe com ele, sendo facilmente morto pelo Orc Líder que até então estava na retaguarda. 

    O corpo do homem estava esparramado no chão, partido em dois. Enquanto isso, um enorme Orc, mais alto que os demais e com um colar de ossos no pescoço, mantinha-se próximo, de forma arrogante.

    No último instante, quando a criatura atacou, Mendes tentou defender seu companheiro, apenas para ser rebatido com força bruta. Foi então que notou, a força desse Líder Dobat não era simples, a criatura estava muito próxima de se tornar um Lorde!

    Mesmo estando em alerta contra aquele Orc em específico, não imaginou que seria tão forte, então ele se reagrupou com os demais.

    As expressões dos outros Capitães também eram tensas. Anteriormente haviam seis deles contra sete Orcs Líderes, o que já era uma desvantagem, mas agora, com menos um deles, seria uma batalha de cinco contra sete.

    “Eu vou lidar com o maior, vocês cuidam dos demais.” Mendes declarou, depois de um breve momento de silêncio.

    “Não acho que seja uma boa ideia.” Um dos outros Capitães Combatentes disse. Mesmo sem ter lutado diretamente contra a criatura, ele e os demais podiam sentir o quão ameaçadora ela era.

    Aparentemente parecia que eles estariam no lado pior, numa luta de quatro contra seis, mas aquele que estaria em maior risco seria aquele que enfrentasse esse monstro.

    Apesar de serem todos Capitães ali, nenhum deles, incluindo Mendes, eram um gênio ou alguém extremamente poderoso. Enfrentar um Orc que estava prestes a se tornar um Lorde era um ótimo jeito de adiantar sua própria morte.

    “Apenas façam como eu digo.” Mendes insistiu.

    Ouvindo isso, nenhum dos outros insistiu. Todos ali eram soldados, Combatentes, treinados especificamente para cumprir ordens, dispostos a lutar e morrer por suas missões. Sendo assim, mesmo que eles morressem, precisavam fazer sua parte!

    “Azat!” (Matem!) Augak ordenou, ao notar a falta de ação dos Humanos.

    Swish! Swish!

    Os seis Orcs Líderes avançaram ao mesmo tempo.

    Quatro dos Capitães avançaram também do outro lado. Mesmo estando em desvantagem numérica, todos eles eram homens e mulheres experientes, que haviam cumprido muitas missões complicadas, de vida ou morte. Para eles, essa era apenas mais uma ocasião como essa.

    Boom! Ting! Swish!

    A luta que havia parado recomeçou de forma ainda mais intensa que antes. Anteriormente, ambos os lados estavam em igualdade, com uma leve vantagem dos Orcs, mas agora, os Capitães Humanos estavam sendo empurrados.

    Alguns Capitães lançaram magias, enquanto outros erguiam barreiras elementais, para atrasar os Orcs Líderes.

    Aproveitando-se da confusão, Mendes voou por entre os inimigos, avançando diretamente para o maior Orc.

    Os outros Orcs Líderes notaram essa ação estranha do Humano, mas nenhum deles tentou impedi-lo. Na verdade, alguns até sorriram de forma zombeteira, como se estivessem vendo um coelho correndo para a boca de um lobo sanguinário.

    Augak obviamente viu o Humano chegando, mas sua expressão era indiferente, enquanto se mantinha apoiado em seu enorme machado de guerra. Sua expressão de indiferença não era arrogância ou prepotência, mas porque tinha uma confiança absoluta em sua própria força.

    Mendes sentiu seu sangue bombear, então apertou sua espada de duas mãos com força imbuindo-a com um pesado e denso mana de Terra, ao mesmo tempo, usou todas as Magias de Incremento que dominava, na esperança de que pudesse contrapor a força do seu oponente.

    O Capitão avançou com tudo que tinha, mas ao ver o rosto calmo e até entediado do Orc Líder inimigo, sentiu que algo estava errado.

    Essa coisa é tão forte assim, para nem me considerar um oponente?! 

    Mendes já havia ajudado a matar um Lorde Dobat Recém Ascendido no passado, numa caçada junto a alguns Majores e um General, então ele já tinha experienciado a força de um monstro assim e sabia quão absurdamente forte era. Mas o inimigo em frente a ele não deveria ser tão poderoso, já que ainda estava no limiar de um Líder. Porém, vendo os olhos da criatura o seguindo, seu corpo arrepiou-se.

    De repente, a confiança que tinha começou a vacilar, seus olhos voltaram-se para o machado de guerra que a criatura segurava. Imagens de seu corpo sendo partido em dois inundaram sua mente como um turbilhão.

    Apesar disso, de todo o pressentimento de morte, o Capitão não retrocedeu. Sua mente, treinada para agir como um soldado, não o permitiam falhar.

    Pouco antes de chegar ao inimigo, os pés do Capitão pousaram no chão, quando correu o trecho final a pé. Ele, como alguém que usava Magia de Terra, só poderia exercer toda sua força ao estar em contato com o solo, enquanto isso os vários Orcs comuns se afastaram, não se atrevendo a intervir nessa luta, abrindo um caminho diretamente para o Líder.

    Ta! Ta! Ta!

    Cada pisada do Capitão fazia todo o solo tremer, e mesmo o solo ao redor de Augak começou a se mover, como se estivesse vivo. Apesar disso, os olhos dele não desviaram do Humano, então ergueu seu machado com uma única mão.

    BOOOM!

    O enorme machado de guerra e a espada de duas mãos colidiram ao mesmo tempo, enviando uma grande quantidade de mana para todas as direções. Os Orcs comuns ao redor foram enviados voando devido ao choque.

    Treme! Treme!

    Ainda segurando sua espada em mãos, a expressão de Mendes era de incredulidade, enquanto seus braços não paravam de tremer enquanto via o sangue derramar-se.

    Mas, ao contrário do que esperava, o sangue não era seu próprio, mas do inimigo!

    Ao olhar para frente, viu a expressão outrora arrogante do grande Orc com colar de ossos escurecer-se quando a criatura, com um enorme corte em seu ombro direito, sangrava. Mas o mesmo não parecia incomodado com o ferimento no ombro, e sim com um fino buraco que havia atravessado seu braço esquerdo.

    No último instante, pouco antes das lâminas se chocarem, o Capitão notou algo passando por ele, não tinha tanta certeza do que havia sido, pois estava extremamente focado, tudo que viu foi um pequeno clarão vermelho.

    Graças a esse estranho acontecimento, o Orc Líder, que estava prestes a enfrentá-lo, assustou-se, usando o cabo do machado para defender-se da espada, enquanto recuava de forma desesperada.

    Mesmo protegendo-se do ataque de Mendes com o cabo do machado, o golpe atingiu o ombro do Orc, ferindo-o superficialmente, contudo, a criatura havia saído relativamente intacta.

    Vendo isso, e sentindo seus braços tremerem apenas por efeito de uma defesa colateral do Orc, Mendes imediatamente soube que ele não tinha a menor chance! Se não fosse aquele estranho brilho vermelho, ele teria sido morto!

    De onde isso veio? Mendes perguntou-se, chocado.

    “Desculpe o atraso, Capitão Mendes, estamos aqui para apoiá-lo.” Uma voz soou em sua comunicação.

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