A cidade de Áurea ainda brilhava.

    Dourada. Como se nada pudesse apagar aquele brilho futurista dela… Nem mesmo as sombras dos becos.

    O sol artificial da manhã iluminava prédios e ruas da região central, deixando poucos lugares cobertos na escuridão.

    Na superfície, a grande cidade de Porto Alegre seguia no mesmo ritmo.

    O tremor de instantes atrás assustou por ser algo extremamente incomum no Brasil, mas não deixou estragos ou vítimas. Só um incômodo que passou rápido, mas não sairia da boca do povo tão cedo.

    Kael Dragan não sentia o mesmo.

    Depois da emboscada daquela estranha organização, quando tentava buscar Emi e Nina na antiga casa em Porto Alegre, ele voltava rapidamente para Áurea, em uma velocidade sobre-humana.

    A culpa pesava sobre seus ombros.

    Ele sabia que tinha demorado demais, e agora, as duas estavam nas mãos daquele maldito grupo, seita ou seja lá o que fossem.

    Ele iria atrás delas.

    Nem que precisasse usar cada recurso e contato que tivesse para descobrir mais sobre aquela organização mistériosa.

    Encontrar a irmã e a mãe de Louie era a prioridade naquele momento.

    Mesmo que precisasse machucar outros pra chegar na localização delas…

    Por isso, trazia consigo o prisioneiro de corpo metálico dentro de uma esfera roxa.

    O som de seus passos ecoavam atrasados em relação a seus movimentos e pensamentos, que estavam a mil naquele momento.

    Ele se movia com confiança, enquanto o inimigo flutuava à sua frente.

    A cidade permanecia em paz, embora ainda inquieta após o tremor ocorrido ali também, instantes antes.

    Ele não estava ali só pra proteger o Louie.

    Sabia que a coisa era maior do que parecia.

    A luta contra aquela organização desconhecida estava só começando.

    E cada passo dali pra frente podia ser o último antes de um confronto direto, que sem dúvidas afetaria muito mais do que apenas Porta Alegre ou Áurea.

    Já na cidade subterrânea, ia na direção do velho prédio — aquele lugar onde ele guardava suas invenções que deram errado.

    E também era onde Louie havia treinado mais cedo, e onde tinha a chave para entrar depois de dar umas voltas em Áurea.

    Mas, de repente, ele desacelerou rapidamente.

    Lá longe, uma figura conhecida corria pelas ruas.

    Era o Louie.

    — O que esse moleque tá correndo por aí? Os jovens de hoje em dia nem conseguem andar normalmente não? — Kael pensou, olhando a silhueta do garoto que se movia rápido.

    Mas algo chamou a atenção dele.

    A expressão do Louie era séria e determinada.

    Parecia até que ele tava numa missão super importante.

    Mais que isso, parecia estar atrás de alguma coisa… ou de alguém.

    O olhar dele cortava as ruas movimentadas devido Áurea feito espadas.

    Só que na frente dele tinha só um beco escuro entre prédios gigantes.

    E se não fosse o Louie que estivesse perseguindo alguém?

    E sim ele que estivesse sendo atraído?

    Nesse momento, as peças começaram a se encaixar na cabeça de Kael — como um quebra-cabeça que finalmente faz sentido.

    O motivo de tentarem segurá-lo tanto tempo…

    E se tudo aquilo fosse pra capturar o Louie?

    Mas em Áurea?

    Era pra ser impossível aquela organização ter entrado ali, a cidade tinha todas suas entradas muito bem monitoradas tirando o túnel, conhecido por um número extremamente baixo de pessoas.

    Para muitos, aquela cidade subterrânea, era a mais protegida e monitorada do mundo.

    Nem um rato entrava nela sem ser percebido.

    Mas outra dúvida tomava a mente de Kael:

    Por que raptaram Emi e a Nina se queriam ganhar tempo?

    Ele levaria muito mais tempo trazendo as duas para Áurea do que enfrentando uns meros peões.

    Kael ficou por um instante martelando essa dúvida em sua cabeça.

    Mas nada daquilo importava agora.

    O que importava era chegar até o Louie.

    E rápido.

    Antes que fosse tarde demais.


    Segundos antes…

    Louie estava completamente focado na perseguição.

    A figura misteriosa — aquela garota de cabelos negros e olhos roxos — tinha desaparecido num beco escuro de Áurea.

    A cidade parecia viva, mas o clima estava estranho, com as ruas cheias de gente se mexendo apressadas.

    Ele não hesitou.

    Foi direto para o beco onde a menina tinha desaparecido.

    Os passos dele ecoavam pelas ruas, mas eram abafados pelo som das vozes ao redor.

    Aquela menina não era só um mistério — podia estar ligada à sua história. Ao que ele era, ao que tinha sido. Talvez até ao que ainda seria.

    Quando entrou no beco escuro, onde tinha perdido a visão dela, Louie foi pego de surpresa.

    Duas pessoas surgiram na frente dele, vestidas com mantos roxos que brilhavam como ametistas.

    Uma era a garota que ele perseguia.

    A outra, uma silhueta com o capuz levantado.

    Mas, naquele momento, o que importava mesmo era que ele estava finalmente ali, na frente dela.

    Era o que ele pensava…

    Mas antes que pudesse reagir ou dizer qualquer coisa, uma força invisível invadiu sua mente.

    Os olhos dele se arregalaram.

    As pupilas, uma azul e outra vermelha, encolheram rapidamente.

    Seu corpo paralisou.

    Seu sangue congelou.

    A mente, completamente confusa.

    Era como se algo tivesse tomado o controle dele a força.

    No começo, Louie até cogitou ser só cansaço.

    Mas rapidamente percebeu que não era.

    Aquilo era intencional. Um poder Kaelum? Alguma tecnologia? Isso ele não sabia…

    Era como se mexesse e mudasse a forma como ele via o mundo, distorcendo seus pensamentos, como se tudo fosse um espelho quebrado. E como se estivessem tirando até mesmo os poucos cacos de vidro que ainda restavam dentro dele.

    Então, uma voz fria e venenosa ecoou na cabeça dele, vinda do segundo encapuzado ao lado da menina.

    — Fica tranquilo, Louie. Você vai estar em boas mãos… Ou talvez não — Diz, soltando uma risada macabra e genuína.

    Quando ele abaixou o capuz, deu pra ver quem era.

    Um homem jovem.

    Cabelos longos, num tom lilás misturado com uma camada branca fina.

    Os olhos rosados, brilhavam com um olhar misterioso e intimidador como uma serpente.

    O sorriso macabro dele era dissimulado, mas também frio e mistérioso.

    Ele continuou encarando Louie com um sorriso sinistro no rosto — cheio de sarcasmo e uma expressão que dava arrepios e… Nojo.

    Seus olhos emanavam uma serenidade perturbadora, além de um toque de superioridade, como se já soubesse o final daquela conversa antes mesmo dela começar.

    — Prazer… Louie Kaede — disse, com a voz arrastada e tom quase cínico. — Me chamo Sethros… Não que isso importa pra uma mera… Casca.

    Enquanto falava, seus olhos se fixaram nos de Louie, que começavam a perder o foco, se embaçando, como se um nevoeiro estivesse se formando em sua frente.

    — Você pode até não saber quem eu sou… Pirralho — continuou, com um meio sorriso — …mas eu sei exatamente quem você é… E vai ser extremamente divertido brincar contigo… Até quebrar…

    Dizia, como se fosse uma criança entusiasmada por ter ganho um brinquedo novo.

    Ele estendeu a mão, e Louie sentiu uma pressão crescendo dentro da cabeça.

    Era como se os pensamentos dele fossem sendo trocados, moldados, apagando quem ele realmente era… Ou quem tentava ser.

    Ele até tentou resistir.

    Mas a pressão era forte demais pra uma mente tão frágil como a dele.

    Alguém que, de repente, tinha perdido tudo — a própria identidade, até mesmo quem era.

    Tinha acabado de recomeçar tudo do zero.

    Sem memórias. Com um passado marcado por dores que nem sabia da existência ainda.

    E ainda assim, jogado no meio de uma guerra que ele não entendia.

    Num mundo que parecia estranho demais, pra ele e pra quase todo mundo.

    Um alvo fácil pra “dominância mental” de Sethros.

    Dominância Mental (Psíquico)

    É uma habilidade psíquica que controla quase totalmente a mente de pessoas emocionalmente frágeis ou instáveis, fazendo-as obedecer e adotar ideias do usuário por longos períodos. Porém, indivíduos com forte vontade, clareza ou propósito podem resistir, e o controle pode ser quebrado por estímulos emocionais intensos ou ajuda externa.

    Louie sentia sua mente se espremer, como se estivesse sendo comprimido até não restar mais espaço para seus próprios pensamentos.

    A sensação de perda de controle era esmagadora. Ele tentou gritar, tentou resistir, mas suas palavras não saíam, e seus músculos estavam completamente imóveis.

    Então, de repente, Sethros fez um movimento rápido com a mão, e uma espada brilhando em dourado surgiu em sua mão, envolta por uma aura mística.

    O poder tinha uma qualidade física, mas ao mesmo tempo em grande parte invisível e intangível.

    Quando ele liberou essa energia, a sensação em Louie foi como uma onda de choque, fria e quente em simultâneo, que percorreu o seu corpo.

    Louie sentia como se seu corpo se apagasse, como se ele estivesse deixando de existir de forma material…

    Então, Louie, Sethros e a menina de olhos roxos desaparecendo em um instante.

    Deixando somente um um vazio completo para trás.

    ? Energia Indefinida (Habilidade Não Descrita de Sethros):

    • Unica forma demonstrada até o momento:

    Uma energia dourada em formato de espada capaz de Teletransportar seres humanos ou objetos.


    Enquanto isso, Kael chegou ao beco onde tinha visto Louie pela última vez.

    Parou por um instante. O ar parecia mais pesado ali.

    Ele tinha sentido uma enorme presença segundos antes ali… mas agora, nada. Louie já não estava maís lá.

    Era tarde demais, se ele não tivesse se perdido em pensamentos as coisas sériam diferentes? Ele teria chego a tempo? Sua mente ardia de culpa.

    Até que seu olhar correu pelo beco, percebendo uma estranha ondulação no próprio espaço logo a sua frente, como se algo tivesse sido arrancado dali à força.

    Como se a matéria simplesmente… Se desmontasse e deixasse de existir naquele local.

    Não era um fenômeno comum. Poucos no mundo teriam poder pra distorcer o espaço.

    Mesmo sendo uma pista sutil.

    Se descobrisse quem era capaz de fazer aquilo, talvez encontrasse a chave pra entender quem tinha entrado em Áurea.

    Kael fechou os punhos, o peso da raiva ainda queimando por dentro. Não ia deixar que levassem Louie assim… não sem lutar.

    Virou-se e seguiu em direção ao prédio principal de comando de Áurea.

    Não disse uma única palavra sequer.

    Levava consigo um prisioneiro daquela misteriosa organização…. E a culpa de ter chegado tarde demais… e não ter protegido todos aqueles que jurou proteger.

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