Capítulo 16: Ecos do Abismo
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À sua frente, uma passagem aberta para a rua brilhava com a luz da liberdade, vista de um dos andares altos do prédio.
— É bom ver a luz depois de tanto tempo… — murmurou Louie, observando a abertura no cimento. — Me desculpem, mãe, mana e Kael, mas eu ainda tenho algo pra fazer antes de voltar pra casa…
Seus olhos percorreram o corredor escuro, levemente iluminado pela claridade que vinha da abertura do prédio.
— Tem alguém… que eu preciso encontrar — disse, com uma breve lembrança da menina de olhos roxos. — E não importa quem esteja no meu caminho, eu vou esmagar tudo o que me impeça de alcançar meus objetivos!
Com a determinação renovada, Louie avançou pelo corredor — antes escuro, agora banhado pelo sol que entrava pela passagem — pronto pra encarar qualquer desafio que surgisse.
Louie continuava caminhando pelo corredor — antes escuro, agora levemente iluminado pela luz solar que entrava pela parede destruída.
Conforme avançava mais para dentro, a escuridão voltava a dominar o ambiente.
Até o ponto em que nem mesmo o próprio Louie conseguia se ver.
— E agora? Tá escuro pra cacete… — suspirou Louie. — Ô, falta que uma lanterna faz, hein…
Continuou andando assim, passando a mão direita pela parede, sem conseguir ver um palmo à frente.
— Difícil vai ser encontrar um jeito de descer pro andar de baixo nesse breu. — lamentou, caminhando de forma meio desleixada. — Pela altura que eu tava em comparação ao chão da parede quebrada, devo estar por volta do décimo andar.
De um instante para o outro, passou de um olhar descontraído e caminhar relaxado para um tipo de raiva passageira.
— Vai levar um tempo até encontrar alguém. — Inconscientemente, alterou a voz ao falar. — Já que nem achar a porra da escadaria pra descer dessa pocilga eu consigo!
Respirou fundo, acalmando o surto repentino e breve de raiva.
— Bom… pensando pelo lado bom, eu tô sozinho aqui. — disse Louie, soltando uma leve risada. — Imagina que merda levar um ataque surpresa do absoluto nada nesse escu—
CRASH!!!
Sem aviso algum, o concreto abaixo de seus pés cedeu.
Louie reagiu no mesmo instante, por puro reflexo.
Impulsionou o corpo para trás, na diagonal à direita. Foi um salto rápido, porém mal calculado.
THUD!
Acertou as costas em cheio numa das paredes de concreto, que rachou com a batida.
— Mas que merd… — parou de falar no instante em que olhou para frente.
O chão onde estava segundos antes agora exibia um gigantesco buraco, aberto com uma precisão absurda.
Estendia-se por uns dez metros ao longo do grande corredor escuro.
— Entendi… mas que boca maldita, hein… — Louie entrou em posição de defesa, olhos fixos na grande abertura. — “A precisão e o momento foram perfeitos demais pra algo natural. Isso claramente foi um… ataque surpresa.”
Continuou olhando fixamente para o buraco, como se esperasse, a qualquer momento, outro possível ataque — ou alguém saindo dali.
— “Não sei dizer qual poder exatamente foi… mas, pelo jeito que o cimento cedeu, não parece ter sido por impacto.”
Então, com movimentos leves, saiu calmamente da posição de defesa, caminhando lentamente até a beira do buraco.
Ao chegar à sua frente, olhou para aquele poço sem fim que parecia tomado pela mais pura inexistência de luz.
— Parece ser bem fundo, hein… provavelmente leva até o térreo. — disse, levando a mão direita ao pescoço. — Do jeito que esses buracos foram feitos, parecem até… um convite.
Com um olhar consideravelmente tranquilo, vendo a situação em que se encontrava, Louie, frente a tudo aquilo… bocejou.
— Então deve ter alguém lá embaixo, hein… Bom, de alguma forma ou outra, eles sabem exatamente onde eu tô. — Ele relaxou as mãos para baixo. — Não acho que seja muito vantajoso ficar em uma luta à distância mesmo.
Louie encarou o convite sem excitação.
— Pode até ser arriscado, mas se eu realmente quero encontrar a garota dos olhos roxos, essa também é a rota mais rápida. — Um sorriso se formou em seu rosto. — Então finalmente vamos ver do que eu sou capaz!
E assim, com um sorriso confiante no rosto, Louie saltou rumo ao desconhecido.
Enquanto despencava em queda livre pelos escuros andares do prédio abandonado, o vento fazia seu cabelo preto com mechas brancas dançar desordenadamente no ar.
O breu ao redor parecia um buraco negro, engolindo toda a luz do local.
E, por fim, com um impacto brutal, ele pousou no chão do térreo, forçando toda sua superforça nas pernas. O prédio inteiro estremeceu com sua chegada.
O chão à sua volta estava rachado, e o vento que o acompanhou escapou pelas frestas do velho prédio abandonado.
Ao se erguer, Louie rapidamente olhou ao redor. Mesmo que escuro, a luz que entrava por pequenos buracos era suficiente para iluminar uma parte da sala que havia desabado.
Graças a isso, ele via claramente dois homens de presença marcante naquela sala em ruínas.
— Que bela chegada dramática, hein… — uma voz ecoou pela sala.
Vinha de um sujeito alto, musculoso, com cabelos vermelhos em formato de moicano e olhos levemente rosados. Usava uma blusa branca simples.
— Mas me diz uma parada, moleque… como é que tu saiu daquela cela do Tecnicista? — disse ele, estreitando os olhos. — Falaram pra gente que tu nem sabia controlar teu poder.
Louie encarou o homem, sem medo ou excitação.
— Tecnicista? Quem é esse aí?
Antes que o homem com cabelo moicano pudesse responder, o outro guarda se aproximou calmamente.
Era mais baixo e magro, com cabelos pretos espetados e olhos verdes brilhantes como duas esmeraldas. Vestia um estiloso terno preto, impecavelmente limpo, acompanhado de uma gravata vermelha milimetricamente ajustada ao pescoço.
— Gorthok, é deselegante falar assim com um convidado direto do mestre Sethros — disse ele, com um tom educado até demais para a situação.
Louie cerrou os dentes, os olhos fervendo de raiva.
— “Convidado?” — pensou, apertando os punhos. — “Eu fui literalmente sequestrado! Da onde isso é um convite?!”
Suspirou Louie, tentando manter a calma perante a raiva.
— “Então, o nome do idiota de moicano é Gorthok… que nome ridículo. E essas vozes… eu não as ouvi muito bem, mas não são as mesmas dos caras que levavam comida pra mim na cela? Será que são apenas eles aqui?”
Gorthok resmungou, voltando-se para o parceiro.
— Mas, Vorgath, aquela cela foi cara pra cacete! Tinha até diamante misturado, meu irmão! Diamante! Imagina só o surto que o Tecnicista vai dar quando descobrir que a criação dele foi destruída por um moleque que mal consegue limpar a própria bunda direito!
Vorgath ajeitou a gravata com calma.
— Paciência. Não adianta ficar chorando por isso agora. — disse Vorgath, calmamente terminando de ajeitar a gravata. — Nós já íamos trocar de prédio mesmo, lembra? O mestre Sethros mandou a gente se reunir com ele no outro edifício, levando o pirralho junto. Ele está com a terceira refém. Disse que a base onde estava a segunda foi atacada… provavelmente o próximo alvo é aqui.
— Não é possível! Tu tá falando uma coisa importante assim pra mim só agora?! — rosnou Gorthok, cuspindo saliva de tanta irritação. — Tá de sacanagem?!
— Eu ia te avisar, mas você tava ocupado demais arrumando essa cabeleireira deselegante na sua cabeça…
Gorthok abriu a boca para retrucar, mas antes que qualquer palavra escapasse, Louie avançou.
Em um impulso repentino, movido pela superforça, cravou os pés no chão e disparou em direção a Gorthok como um míssil hypersônico.
O soco acertou o guarda em cheio no peito, lançando-o por vários metros e atravessando várias paredes do prédio, como se fossem feitas de puro isopor.
A fumaça e a poeira subiam devagar, atrasadas, como se Louie já tivesse sumido antes mesmo de elas conseguirem acompanhá-lo.
Vorgath observou a trilha de destruição deixada pelo impacto, depois voltou os olhos para Louie e suspirou.
— Não é nada elegante atacar alguém no meio de uma conversa, sabia?
Louie estalou o pescoço, com um sorriso debochado nos lábios.
— Por que você não enfia essa sua elegância no rabo? — respondeu, sarcástico. — Eu não tenho tempo pra ouvir dois marmanjos discutirem sobre irresponsabilidade e cabelos.
Das paredes em ruínas, Gorthok emergiu. Seu moicano vermelho agora estava coberto por uma armadura espessa de argila em volta do peito, moldada como uma carapaça.
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★ Manipulação de Argila (Elemento Natural)
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› O poder de Gorthok permite controlar, moldar e transformar argila em diversos estados — inclusive extraí-la de estruturas como o concreto ao redor. Pode criar armaduras, armas, escudos ou deformar o ambiente para prender e esmagar o inimigo, tornando-o extremamente versátil e perigoso, especialmente em ruínas urbanas como aquela. ‹
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— Tu é meio estressadinho, né não? — provocou Gorthok, batendo com força no próprio peito. — Teus pais nunca te deram educação, foi?
Louie soltou uma leve risada e respondeu com um grande sorriso no rosto, cheio de ironia.
— Meu pai eu não sei, mas minha mãe provavelmente me ensinou sim… — disse, enquanto seus olhos perdiam, por um segundo, o brilho na lembrança em branco. — Mas, infelizmente, eu não me lembro.
Ele avançou um passo, firme, entrando em posição de combate. Seus músculos se tensionaram, e faíscas sutis e inconscientes percorriam suas mãos.
— E que sabe como é… tô tendo um dia meio difícil…
Louie sabia o risco. Era visível a força que Gorthok e Vorgath carregavam, a vantagem do terreno, número e experiência, tudo estava ao desfavor dele. Mas, naquele momento, hesitar não era mais uma opção.
E recuar… estava fora de questão.
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