Escuridão do túnel cercava tudo.

    Louie e o homem de cabelos grisalhos seguiam em silêncio, só o som dos passos ecoando leve pelas paredes úmidas.

    O ar ali dentro era estranho…

    Pesado, meio abafado — mas, ao mesmo tempo, era fresco e confortável.

    Como se aquele lugar não pertencesse ao mesmo mundo de onde tinham vindo.

    Cada passo deixava pra trás o que Louie conhecia.

    Cada metro avançado parecia puxá-lo pra longe da vida que ele achava que levava.

    E no meio do medo, da incerteza…

    Tinha uma parte dele que — por mais absurda que fosse a ideia — estava começando a se sentir curioso com tudo aquilo.

    Assustado, sim.

    Mas também… Ansioso.

    Ansioso não só pelo descobrimento de quem é, mas também de um mundo completamente novo.

    Do outro lado do túnel, a escuridão foi dando lugar a uma luz baixa e azulada… e então, como se o chão tivesse sumido sob seus pés, ele se deparou com algo que jamais imaginaria:

    Uma cidade.

    Enorme.

    Ali, debaixo da terra, debaixo do grande rio Guaíba.

    Escondida do mundo, das pessoas… de tudo.

    Luzes, estruturas gigantes, passarelas cruzando os céus como arco-íris, veículos flutuando, painéis brilhando — era como outro planeta abaixo do solo.

    Louie deu um passo à frente, boquiaberto.

    E mesmo sem entender nada, sabia que aquilo não deveria ser visto por Muitos…

    — Essa… é Áurea. — disse o homem, a voz dele ecoando de leve pelas paredes do túnel.

    Louie não conseguia tirar os olhos da cidade à sua frente.

    Parecia coisa de outro mundo.

    Ele foi caminhando devagar, guiado pelo homem de cabelos grisalhos, enquanto observava tudo ao redor com um brilho nos olhos.

    “Áurea”

    Uma cidade escondida sob as águas escuras do Guaíba e uma parte de Porto Alegre, mas que parecia muito mais viva, moderna e cheia de energia do que qualquer lugar que ele já tinha visto.

    As construções ali não eram normais.

    Pareciam feitas de algum tipo de metal misturado com cristal — refletiam a luz suave que vinha de postes espalhados por toda parte. Uma luz que ia de azulada a dourada, parecia um show de mágica imenso.

    Louie andava em silêncio, ainda tentando entender tudo aquilo.

    O lugar era bonito demais para ser real.

    As ruas largas pareciam recém-criadas, com desenhos geométricos rachando o chão de um forma artística e detalhada.

    Luzes flutuavam no ar, brilhando com leveza, como se ignorassem a própria gravidade.

    Acima deles, o imenso céu sobre a velha cidade…

    Ou melhor, o que parecia um céu.

    Era uma cobertura imensa de vidro e metal,

    No meio disso, uma lua artificial pendia lá no alto — Brilhante, robótica e estranhamente… Natural.

    Era como se alguém tivesse recriado o mundo real ali embaixo… mas melhorado.

    Mais limpo. Uma cópia do que chamariam de utopia perfeita.

    Mesmo sendo tarde, ainda dava pra ver algumas pessoas andando pelas ruas.

    Todas com um estilo próprio — roupas modernas, diferentes entre si, mas com aquele ar de quem se veste do jeito que gosta, com rostos… Felizes.

    E isso era o que mais chamava a atenção.

    O jeito de olhar o mundo em volta.

    Eles tinham um brilho tranquilo nos olhos, um sorriso leve no canto da boca.

    Pareciam… em paz.

    Como se, mesmo vivendo escondidos lá embaixo, longe de tudo e de todos, tivessem achado alguma coisa parecida com a verdadeira felicidade.

    Talvez até algo mais forte que isso…

    Algo raro. Algo que é quase impossível de ver nas pessoas lá em cima.

    O lugar era futurista — mas não de forma fria ou sufocante.

    As fachadas dos prédios brilhavam num tom dourado discreto, bonito de se ver.

    Tinham edifícios grandes e pequenos, complexos e simples.

    Era como se tudo ali tivesse sido feito pensando no equilíbrio, no jeito certo das coisas se encaixarem.

    Nem demais, nem de menos.

    O artificial e o natural vivendo lado a lado, sem brigar.

    A cidade era enorme — dividida em sete zonas, quase como um labirinto gigante.

    Louie e o homem de cabelos grisalhos tinham entrado por um túnel escondido, quase completamente desconhecido, ligando a beira de Porto Alegre com o Guaíba… levando ali, no que era considerado a divisão da zona leste e a central.

    E foi pra lá que eles seguiram — pra zona central.

    Louie andava sem saber para onde olhar primeiro.

    Era tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que a cabeça dele mal dava conta.

    Alguns carros passavam em silêncio pelas ruas suspensas, deslizando como se flutuassem alguns poucos centímetros do chão.

    Pontes ligavam os prédios enormes, formando caminhos no ar.

    E lá embaixo… bem abaixo do chão que eles pisavam, dava pra ouvir um som suave de água correndo — canalizações que pareciam dar vida à cidade inteira.

    Tudo parecia ao mesmo tempo estranho… e incrivelmente bonito e futurista.

    Bem no centro da cidade, tinha uma praça enorme.

    E no meio dela… uma estátua gigante.

    A figura era humanoide, mas tinha traços meio estranhos — sombrios, serenos… quase como se fosse feita de sombra viva.

    Ela ficava ali, parada, seu corpo parecia um manto sombrio em si, observava de braços cruzados os habitantes de Áurea.

    Como se os protegesse…

    Louie nunca tinha visto nada parecido com aquilo.

    Não sabia quem era… ou o que representava.

    Mas alguma coisa naquela escultura mexia com ele.

    Como se dentro dela… Segredos inimagináveis se escondessem.

    Louie não pode deixar de a encarar, tentando decifra-la, porém, falhando miseravelmente.

    O homem de cabelos grisalhos então o questiona com um leve sorriso.

    — Se interessou pela estátua?

    Louie tira o olhar da estátua, rapidamente voltando-se pro homem de cabelos grisalhos.

    — Só estava tentando o reconhecer…

    O homem de cabelos grisalhos deu uma risada baixa, meio nascida no canto da boca, enquanto olhava pra estátua.

    — Duvido muito que consiga, nem mesmo nos sabemos quem realmente é esse ser.

    Louie olha surpreso, o questionando.

    — Sério?! — Louie se vira de novo pra estátua, franzindo a testa. — Então por que deixaram aqui uma estátua de alguém que nem sabem quem é?

    O homem respondeu, com a voz tranquila, quase como quem conta uma história antiga:

    — Pelo que aprendemos nas escolas daqui… essa estátua já estava aqui desde que Áurea foi fundada. Bem antes de tudo isso virar o que é hoje.

    Ele olhou de novo para a figura imponente no meio da praça, com um certo respeito no olhar.

    — Alguns teorizam que pode ter sido um rei… ou talvez algum deus do antigo povo que construiu essa cidade. Mas ninguém sabe ao certo.

    Deu de ombros, com um meio sorriso cansado.

    — Justamente por isso não mexemos nela. É o único registro que sobrou da origem desse lugar.

    — E quando se vive em um mundo como o nosso… A história e o tempo de vida humana nele não passam de meros grãos de areia pra real origem do universo.

    Louie balançou a cabeça, confuso, franzindo um pouco a testa:

    — Não sei se… entendi muito bem isso aí não…

    O homem soltou um leve suspiro, como quem já esperava aquela reação.

    — aahhh… Filho de peixe peixinho é no final…

    — Que?

    — Esquece isso por enquanto. — disse, com um meio sorriso no canto da boca.

    — Vem, tem um lugar que eu quero te mostrar…

    Virando de costas, o homem de cabelos grisalhos começou a andar, e Louie — depois de lançar um último olhar rápido pra estátua estranha — resolveu seguir.

    Eles caminharam por algumas ruas até pararem em frente a um prédio que se diferenciava do resto da cidade.

    Era diferente… mais antigo se comparado as estruturas no geral da cidade.

    Quase como se tivesse vindo de outra época.

    O homem parou na porta e, sem dizer nada, fez um leve gesto com a cabeça, indicando pra Louie entrar.

    Lá dentro, o clima era outro.

    As paredes estavam cheias de símbolos e desenhos que ele nunca tinha visto antes — nada fazia muito sentido.

    E ao mesmo tempo que parecia um lugar antigo, cheio de histórias e segredos…

    Tinha tecnologia espalhada por todo canto. Equipamentos estranhos, painéis luminosos, mesas cheias de fios, luzes e livros empilhados.

    Louie deu alguns passos pra dentro dela, com o olhar atento em cada canto, quase sem piscar.

    Era como se aquele lugar vivesse no limite entre o passado e o futuro. Perfeitamente equilibrado.

    E ele… no meio disso tudo.

    Curioso, Louie foi de canto em canto, olhando tudo com os olhos brilhando.

    Não conseguia se segurar.

    — Cara… que maneiro! — exclamou, pegando um pequeno objeto dourado, em forma de hexágono, que estava em cima de uma das mesas. — Pra que será que isso serve?

    Nem teve tempo de tentar entender.

    Já pulou pra outro canto.

    — E esse aqui?! E aquele ali???

    Parecia uma criança num museu de outro planeta.

    Mas antes que pudesse meter a mão em mais alguma coisa, o homem de cabelos grisalhos segurou Louie pelo colarinho, sem muita paciência.

    — Bora logo — disse, arrastando ele escada acima.

    — Ai! Tá me machucando! — reclamou Louie, tentando se soltar.

    E assim subiram até o terraço do prédio.

    Quando chegaram lá em cima, o homem soltou Louie com um empurrão leve e apontou pra frente.

    A cidade inteira com suas dezenas de mulheres de quilometros quadrados se estendia abaixo deles, iluminada em uma luz dourada azulada.

    Era gigante, viva… surreal e belíssima.

    O homem então falou, com a voz firme, mas num tom mais calmo:

    — Bem-vindo a Áurea, Louie.

    Deu uma pausa e continuou, os olhos ainda fixos na vista.

    — Por enquanto, aqui tu tá seguro.

    Mas o motivo de estarem atrás de ti ainda é um mistério.

    Olhou de canto para Louie, sério.

    — Então até descobrirmos, vou te ensinar o básico do básico pra tu conseguir pelo menos não morrer se algum imprevisto acontecer. — E vai ser aqui… que a gente vai descobrir do que tu realmente é capaz.

    Os dois observavam em silêncio a calma que reinava na zona central de Áurea — uma paz quase irreal, que contrastava com tudo o que Louie tinha vivido até ali.

    — Mesmo essa paz aqui… Está por um fio, Louie — disse o homem, sem tirar os olhos da cidade. — Aqueles que estão atrás de ti… não apareceram agora. Essa organização já existe faz tempo. O problema é que, mesmo com todo nosso sistema, nós não sabemos quase nada sobre eles.

    Louie virou o rosto, atento, tentando acompanhar as palavras do homem.

    — E tem mais… os outros que sobreviveram ao Massacre da Península… parece que tão na mesma. — continuou ele, sério. — Sumiram. Porém seus registros não foram alternados. Como se alguém tivesse limpado tudo. Isso não é normal… e eu duvido muito que seja coincidência.

    Louie franziu a testa, confuso.

    — Tá… mas o que eu posso fazer com isso? Eu nem sei como controlar ou pelo menos ativar esse poder que tenho comigo … — falou, frustrado, os ombros tensos. — Não sei nem por onde começar.

    Antes que ele pudesse continuar, o homem apenas estendeu a mão.

    Uma esfera de luz dourada e correntes orbitando seu arredor surgiu, brilhando na palma dele — viva, pulsante.

    Louie se calou na hora. E apenas observando a esfera dourada.

    Manipulação temporal (Místico – Fé em Chronos)

    A manipulação do tempo é um poder raríssimo e profundo, oriundo da fé em Chronos,o deus do tempo, ou da vontade vinda do usuário sobre tal poder. Ao invocar essa habilidade, o usuário pode desacelerar, acelerar ou até mesmo congelar o fluxo do tempo por períodos limitados. Quanto mais forte a fé ou vontade do usuário, maior o controle sobre essa habilidade, podendo, em casos excepcionais, alterar o próprio curso do tempo. No entanto, manipulações excessivas do tempo podem levar a sérias consequências, como desequilíbrios temporais ou falhas no corpo do usuário.

    O homem olhou pra Louie, com um olhar firme, mas tranquilo. Tinha algo nos olhos dele… uma mistura de compreensão e urgência.

    — Sem mais enrolação… Vamos começar a parte divertida, Louie. — disse, ajeitando a postura. — Aqui, nesse refúgio, tu vai aprender o básico pra se virar. O suficiente para sobreviver.

    A cidade de Áurea, com aquele brilho dourado e cheia de mistérios escondidos, agora era o novo palco da vida de Louie.

    E lá no fundo, mesmo sentindo um certo alívio por estar seguro por enquanto… ele sabia.

    Aquilo não ia durar pra sempre.

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