Capítulo 7: Poderes Kaelums
CAPÍTULO ANTERIOR:
O homem olhou pra Louie, com um olhar firme, mas tranquilo. Tinha algo nos olhos dele… uma mistura de compreensão e urgência.
— Sem mais enrolação… Vamos começar a parte divertida, Louie. — disse, ajeitando a postura. — Aqui, nesse refúgio, tu vai aprender o básico pra se virar. O suficiente para sobreviver.
A cidade de Áurea, com aquele brilho dourado e cheia de mistérios escondidos, agora era o novo palco da vida de Louie.
E lá no fundo, mesmo sentindo um certo alívio por estar seguro por enquanto… ele sabia.
Aquilo não ia durar pra sempre.
O homem de cabelos grisalhos desfaz a esfera dourada rodeada por correntes com um gesto tranquilo. Em seguida, se vira para Louie com um leve sorriso no canto da boca — meio enigmático, meio divertido.
— Eu sou Kael Dragan — disse, com a voz firme, mas serena, como quem tá revelando algo importante sem fazer alarde. — Um dos três comandantes de Áurea.
Deu um passo à frente, olhando nos olhos de Louie.
— E isso que te mostrei agora… é um dos meus poderes — completou, apontando com o queixo pro espaço onde antes estava a esfera. — A Manipulação do tempo.
Louie piscou algumas vezes, ainda tentando encaixar tudo aquilo na cabeça.
— Comandantes…? Manipulação do tempo…? — repetiu, meio no robótico, com a cara de quem acabou de levar um tapa da realidade.
Kael balançou a cabeça, confirmando, e então continuou:
— Sobre esse lance de ser comandante… não dá muita bola por enquanto, é só um mero título. — Ele deu um leve sorriso, e logo continuou: — Agora… sobre meu poder com o tempo — que deve ter te deixado curioso:
— Ele não é aquele tipo de habilidade de sair explodindo tudo e destruindo feito um doido. É mais voltada para suporte ou defesa. — disse, soltando uma risadinha de canto. — Mas… entretanto, todavia e consequentemente… Como qualquer habilidade, se souber usar direitinho, dá pra causar um estrago bonito também.
Kael deu alguns passos, parando bem na frente de Louie.
Com a mão direita, tocou de leve a testa dele — como se estivesse apontando para algo ali dentro.
— E isso é algo que tu precisa entender desde já… — disse, com o tom mais firme. — O que faz um poder ser forte ou fraco… não é o poder em si.
Deu uma pausa, encarando Louie.
— É quem está usando ele. Até onde o usuário consegue levar o potencial do próprio corpo e sua compatibilidade e habilidade com o poder.
Louie respondeu com um aceno de cabeça, o olhar mais sério agora.
Kael olhou direto pra ele e disse, com um leve sorriso no rosto:
— Tá bom, chega de papo por enquanto. Tu tem cara de quem aprende mais vendo do que só ouvindo… Então bora mostrar sua ativação na prática, depois eu dou uma breve explicação do teórico. — vou te mostrar um pouco do que esses poderes, que popularmente chamam de Kaelums, consegue fazer.
Kael então abaixou e pegou do chão uma garrafinha qualquer que estava ali por perto.
— O que tu vai fazer com isso? — perguntou Louie, franzindo a testa, curioso.
— Cala a boca e observa — respondeu Kael, direto, sem paciência.
Sem mais nem menos, ele jogou a garrafa pro alto, como se fosse algo inútil.
— Hã? Por que tu fez isso? — Louie perguntou, confuso, acompanhando o objeto subindo.
Kael não respondeu.
Apenas estendeu a mão na direção da garrafa.
E foi aí que aconteceu.
Uma esfera de luz dourada, com aquelas mesmas correntes flutuando em volta, se formou ao redor do objeto.
E no mesmo instante… a garrafa parou no ar.
Parada, sem um movimento se quer.
Imóvel, como se o próprio tempo tivesse travado ao redor dela.
E não era só a garrafa.
Até o ar em volta parecia congelado. As partículas de poeira paradas. A luz dourada e azulada que vinha da cidade lá embaixo… estatística também.
Tudo naquele pequeno espaço tinha simplesmente… congelado.
Louie olhou pra garrafa, boquiaberto, quase sem acreditar no que via.
— Isso… Porra, maneiro pra caralho! O Newton deve estar se revirando no túmulo agora…
Kael arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.
— Mas o Newton é o cara da gravidade… — Retruca, com certa decepção.
Louie deu de ombros, ainda encarando a garrafa parada no ar.
— Dá na mesma, não tá caindo, né?
Kael soltou um suspiro leve, meio derrotado, e pensou com um olhar perdido:
— “Filha duma… Pior que faz sentido.” — murmurou Kael, passando a mão pela cabeça, tentando disfarçar a indignação. — Enfim… Os poderes Kaelums são divididos em seis tipos diferentes, cada um com uma forma própria de surgimento.
— Como assim? Qualquer um pode conseguir um desses poderes? — perguntou Louie, curioso.
— Não é bem assim… — Kael deu um leve suspiro. — Normalmente eles aparecem em situações muito específicas. Só que… nem sempre duas pessoas passando pela mesma coisa vão despertar um poder, na verdade é extremamente raro alguém despertar esses poderes. É como se… o poder meio que escolhesse quem vai receber, entendeu? Tipo… acontece uma conexão ali no momento certo.
Fez uma breve pausa, coçou a barba e continuou:
— Isso aí é explicando de forma bem simples. — soltou outro suspiro, dando de ombros. — Mas beleza, voltando pro que importa…
Kael começou a explicar, com calma:
— A primeira categoria são os chamados “Elementos Naturais“. São os poderes ligados à manipulação de elementos da natureza mesmo — tipo terra, fogo, vento, madeira… essas coisas. Muita gente acredita que são a base da vida.
Fez uma pausa breve, pensando no que diria a seguir.
— Apesar de serem bem interessantes, esse tipo tem pouca variação… os poderes costumam ser parecidos entre si. Não passa muito das dezenas de variações conhecidas.
Louie, lembrando do que havia sentido antes, perguntou:
— Aquela energia estranha… que saiu do meu corpo como um raio… isso seria um desses?
Kael parou.
Ficou em silêncio por um momento.
Não parecia estar surpreso… mas sim pensando no que podia ou não dizer naquele instante.
Depois de alguns segundos, respirou fundo e respondeu, firme:
— Não…
— Entendi…
Louie ficou parado, olhando direto nos olhos de Kael, esperando que ele continuasse a explicação.
Kael respirou fundo, ajeitou a postura e voltou a falar:
— Aquilo que tu demonstrou mais cedo… assim como um dos meus poderes, vem de outra categoria.
Levantou a mão direita, com a palma virada pra cima.
Do nada, começaram a surgir umas faíscas azul esbranquiçadas, bem leves, como se o ar em volta da mão dele tivesse ganhado vida.
Então, num simples movimento, ele fechou a mão.
Na mesma hora, um brilho forte envolveu os dedos dele — e dali saíram pequenos raios, rodando em volta da mão como se estivessem presos ali.
— Isso aqui é minha Manipulação de Raio — disse, mostrando a mão energizada. — Ela vem da classificação chamada “Elemento Figurado”.
Fez uma pausa, olhando Louie com um leve sorriso.
— É uma das categorias com mais variações e potencial entre todas. E o teu poder, assim como esse aqui, também é Raio.
Louie levou a mão ao queixo, fazendo uma cara pensativa, meio brincando de jurado de reality show.
— Então dá pra duas pessoas terem o mesmo poder?
Kael respondeu de boa, como se já esperasse essa pergunta:
— Dá sim. Não tem nada que impeça isso de acontecer.
— Uma das únicas regras dos Kaelums é que ninguém consegue despertar mais de três poderes. Só que chegar nesse número já é bem raro… a maioria só desperta um, no máximo dois.
Fez uma pausa curta, depois continuou:
— Até porque nem todo poder vem por herança genética. Às vezes o despertar acontece em momentos extremos… traumas, situações bem específicas como já expliquei, e nem todo mundo chega lá.
Kael então deu um leve sorriso, quase de canto.
— E tem mais… Mesmo que duas pessoas tenham o mesmo tipo de poder, isso não quer dizer que vão ter a mesma força.
— Tem gente que nasce com mais afinidade… mais facilidade pra controlar ou desenvolver aquele tipo, porém a experiência com determinado poder é o que mais conta. Então o que vale mesmo… é o quanto tu consegue evoluir com o que tem.
Louie então acenou com a cabeça, tentando acompanhar o raciocínio.
— Acho que entendi… Pode ir falando aí.
Kael continuou, com um tom tranquilo:
— O poder chamado de Elemento Figurado é o que a gente costuma associar com algo mais simbólico, abstrato. Não é uma regra exata pra todos, mas é a forma mais fácil de explicar.
Ele fez um gesto com a mão, como quem tenta desenhar a ideia no ar.
— Já os Psíquicos… são poderes ligados à mente. Tipo o meu escudo mental, por exemplo.
Fez uma breve pausa, ajeitou a postura e continuou:
— E tem também os físicos, que têm mais a ver com o corpo mesmo. Força, resistência, velocidade… esse tipo de coisa.
— Agora vou te falar dos dois tipos de poder mais complexos e menos entendidos até hoje… — começou Kael, com um tom mais sério. — Os Místicos e os Elementais Atômicos.
Louie franziu a testa, tentando ligar os pontos, e acabou perguntando:
— Então… aquele teu poder de mexer com o tempo vem dos Místicos?
Kael deu um leve sorriso, satisfeito com a rapidez de raciocínio de Louie.
— Isso aí. — respondeu. — Os poderes Místicos nascem da fé… ou da vontade de alguém, quando essa vontade é reconhecida por alguma divindade. No meu caso, Chronos, o deus do tempo. Mas pode ser qualquer deus, de qualquer cultura ou religião. Tudo gira em torno da fé e da força de vontade.
Ele deu uma olhada direta em Louie, antes de seguir.
— Já os Elementos Atômicos… são um pouco mais “pé no chão”, digamos assim. Vêm da física moderna. Coisas como partículas, fusões, manipulação da matéria em nível microscópico. Algo mais técnico e complexo.
Kael então pegou um pequeno aparelho ali por perto, e, num movimento rápido, prendeu no braço de Louie — um tipo de medidor.
— Agora que tu já entendeu o básico de cada tipo… — disse, ajustando o aparelho — bora descobrir que tipo de poder tu pode ter.
Louie olhou meio desconfiado pro aparelho sendo preso no braço, se encolhendo um pouco, mas acabou deixando Kael encaixar o negócio no braço esquerdo.
— O que mais tu vai querer agora? Tirar sangue também? — resmungou em tom sarcástico, levantando uma sobrancelha.
Kael soltou um suspiro e respondeu seco:
— Se não parar quieto, vai ser o jeito.
Na hora, Louie travou. Ficou imóvel, quase pálido.
Kael notou o medo e deu uma risadinha de canto.
— Medo de agulha, é?
— Até parece. — resmungou Louie, tentando manter a pose.
O aparelho começou a apitar baixinho, e umas luzes acenderam. Kael olhou o visor, leu em silêncio por alguns segundos… e então arqueou uma sobrancelha.
— Hm… Interessante…
Louie o olhou, esperando alguma explicação.
Kael então falou, meio surpreso, mas com um leve sorriso no rosto:
— Três poderes. Parabéns, muleque. Tu faz parte dos 10% de pessoas que despertam os três Kaelums
Louie se adiantou, os olhos brilhando de curiosidade.
— Tá, e quais são?! Manda aí!
Kael sorriu de canto e começou:
— › Superforça (Físico)… “Permite ao usuário exercer força física em níveis muito acima do normal, possibilitando feitos como destruir montanhas com os punhos, levantar estruturas imensas ou saltar longas distâncias apenas com impulso muscular. Além de um potencial evolutivo muscular acelerado e infinito. ‹
— Que fodaaa… — soltou Louie, boquiaberto, os olhos acesos.
— E o segundo tu já sabe — manipulação de raio.
— Tá, tá… e o terceiro?! — perguntou Louie, quase pulando de empolgação.
Kael deu um passo pra trás, cruzando os braços.
— Manipulação de íons.
Louie piscou.
— Hein?
Kael riu um pouco e explicou:
— › Manipulação de Íons… “Permite ao usuário controlar átomos com carga elétrica (íons) — sejam cátions (íons positivos) ou ânions (íons negativos). Com esse poder, o personagem pode influenciar campos elétricos, criar impulsos energéticos, mover partículas, alterar estados físicos da matéria e até interferir em estruturas químicas e biológicas.” ‹
Louie arregalou os olhos.
— …
— É, moleque… tu tirou a sorte grande. Mas a parte difícil é aprender a controlar tudo isso aí. Tá muito cedo pra ficar surpreso assim…
Louie diz extremamente animado e raivoso.
— Deixa eu refletir pelo menos!
Kael tirou o aparelho do braço de Louie e guardou de lado.
— Agora vou te explicar um conceito importante… chama Síntese.
Louie franziu a testa, confuso.
— Síntese? Que que é isso?
Kael soltou um leve suspiro, já meio impaciente.
— Acabei de falar que vou explicar. Então só escuta e fica quieto.
Sem esperar resposta, ele levantou uma das mãos. E aí, do nada, uma pequena tempestade de raios dourados começou a se formar na palma dele — estalando no ar com um som agudo e vibrante.
Num movimento rápido, Kael lançou a energia pra frente.
Os raios atingiram algumas garrafas jogadas ali pelo terraço, e por alguns segundos… tudo ficou esquisito.
As garrafas rolaram, como se fossem cair… mas pararam no meio do movimento, congeladas no ar. Como se o tempo ao redor delas tivesse congelado.
Depois de um segundo, voltaram a se mexer normalmente, como se nada tivesse acontecido.
Louie só observava, boquiaberto.
Não era só eletricidade ou o poder de manipular o tempo.
é sim uma combinação perfeita entre os dois.
Era como se o tempo ali tivesse sido… dobrado com a velocidade de um raio, E controlado por Kael por alguns instantes
Kael olhou fundo nos olhos de Louie. Tinha seriedade no olhar… mas também um certo cuidado ali, como se soubesse exatamente o peso do que vinha a seguir.
— Isso tudo que tá rolando contigo… é só o começo. — disse com calma. — Tu vai ter que aprender a controlar esses poderes. E não só eles separados… mas também as combinações que nem imagina ainda que existem.
Louie sentiu um calafrio percorrer o corpo.
Kael deu um passo mais perto, e só a presença dele já fazia o ambiente parecer diferente, mais denso.
— O tempo não tá do nosso lado, Louie. E tudo que tu fizer a partir de agora… vai ficar marcado. Pra sempre. Seja coisa boa ou ruim… verdadeira ou não.
Naquele instante, Louie entendeu.
O que vinha pela frente não era só uma jornada pra se descobrir.
Era uma briga contra algo bem maior do que ele imaginava — até maior que o próprio tempo.
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