Capítulo 10: Silhueta mistériosa
O dia já havia começado em Porto Alegre.
Lá no fundo do céu, o sol brilhava com a manhã, pintando todo o país em dourado e rosa claro.
Enquanto a cidade de Porto Alegre seguia tranquila, Kael estava longe dessa tranquilidade — Encarando pequenos… Problemas na ida em busca de Emi e Nina.
— Passado, é…? — Ele deu uma risada irônica. — Veremos se tu dança tão bem quanto fala!
O encapuzado a sua frente não dava trégua. Partia pra cima com uma espada de energia vermelha, pulsando como uma gota de sangue caindo em água parada, assim, cortando o ar com um eco alto.
Um corte seco e direto na direção ao Kael.
Porém, Kael nem mesmo se mexeu. Só ficou parado, encarando a espada vindo contra seu rosto.
— Previsível demais — murmurou, ajeitando a postura.
Kael não precisou de esforço. Seu corpo se moveu num giro rápido, os pés quase flutuando no chão. Ele desviou por centímetros e, no mesmo embalo, transformou a esquiva em um contra-ataque perfeito — um chute certeiro, direto no estômago do oponente.
O encapuzado voou pra trás igual boneco quebrado, bateu na barreira azul com força e caiu no chão, sem ao menos entender o caminhão que o atropelou.
— Lento demais… — murmurou Kael, ajeitando a postura sem demonstrar qualquer mínimo traço de esforço.
O segundo encapuzado arregalou os olhos. Ficou paralisado, sem saber se corria ou gritava. Só o que sentia era aquele medo, como se seu coração fosse sair pela garganta.
Tremendo de medo, ele rapidamente puxou de dentro do manto uma pistola roxa. Parecia uma arma moderna, só que cheia de tecnológica e muito mais.
Kael só continuou andando bem devagar em direção ao oponentes. Tranquilo. Sem pressa alguma.
— Vocês são bem inocentes hein… — disse, com a voz firme olhando o terreno a volta. — Nem mesmo sabem o básico e acham que conseguem encarar alguém como eu?
Deu mais um passo, agora com os olhos fixos no homem armado.
— O corpo de quem despertou um poder Kaelum… não funciona mais como o de um humano comum. Tudo muda. Velocidade, força, raciocínio… tudo sobe pra outro nível. Vocês acharam mesmo que com uma espadinha pisca pisca do camelo e uma arminha colorida iam dar conta?
E então… sumiu.
Num estalo seco, reapareceu atrás do cara da arma. A presença dele era tão forte que parecia que o ar tinha ficado mais pesado. O encapuzado travou cada musculo de seu corpo. Nem mesmo teve tempo de pensar ou ver o movimento.
Kael estava ali. Já nas costas dele.
— Hm… esse manto aí… — disse Kael, com a mão no queixo, como quem observa uma pintura de arte olhando pro manto cinza. — Não é o mesmo que o daquele cara lá na Bahia… faz uns dez anos já, mas eu não me esqueceria disso.
Deu uma leve inclinada na cabeça, ainda analisando o mant.
— Mas por algum motivo… eu tenho a sensação de já ter visto isso em algum lugar. Só não lembro onde.
O sangue do encapuzado congelou por completo. Sabia que tentar correr era inútil. O cara que agora estava em suas costas, mesmo calmo… Tinha uma pressão que por si só faziam suas pernas tremerem.
Kael o encarou de lado. O olhar ficou sério. Por um instante, parecia ter visto alguma coisa bem desagradável — como um flash rápido, de um tempo que preferia nunca ter vivido, ou até… Esquecido.
— Ah… lembrei de onde eu conheço isso ai.
Deu um leve suspiro.
— Não sei se é só coincidência ou se tem algo por trás… mas agora, foda-se também… só vai me dar mais dor de cabeça pensar nisso.
Sem mudar o tom ou abalar sua tranquilidade, Kael desferiu um golpe tão veloz que foi quase imperceptível na nuca do homem. Um golpe direto, limpo e certeiro.
O encapuzado cuspiu saliva na mesma hora. Apagando e caindo feito um saco de batatas jogado no chão.
Kael vasculhou por dentro dos mantos dos dois encapuzados até encontrar alguma coisa.
Puxou um dispositivo meio estranho, cheio de botões coloridos e símbolos esquisitos.
— E agora… qual eu aperto? — comentou, girando o controle na mão, confuso. — Se chegou nesse ponto… acho que só tem um jeito de resolver isso…
Sem pensar muito, Kael abriu um leve sorriso entusiasmado e pressionou sua palma da mão direita lentamente por cima de todos os botões ao mesmo tempo.
Por alguns segundos… Um silêncio total ecoava no ar.
Chegava a ser agoniante a falta de qualquer som que fosse.
Porém, rompendo esse breve momento de silêncio… Sem ao menos um aviso—
BOOOM!
O controle explodiu bem na frente do rosto dele. Kael cambaleou meio pra trás, com o rosto coberto de fuligem e cinzas.
— Cofh… cofhh… — tossiu, limpando os olhos com as costas da mão. — Tá… talvez não tenha sido a melhor ideia que eu já tive…
Fez uma pausa, ainda tossindo.
— MAS TAMBÉM… quem é o imbecil que cria um troço que explode só porque aperta todos os botões dele?! Isso nem faz sentido!
Enquanto ainda resmungava e jogava a culpa de suas burrices pros braços de outro, começou a perceber algo mudando no ambiente a volta.
A barreira azul que cercava o campo começou a vibrar bem de leve…
Foi ficando cada vez mais instável… até que começou a encolher.
Kael parou onde estava.
Só ficou olhando aquela barreira azulada desaparecer.
E aí, no meio daquele momento solene…
— “Poxa… eu queria tanto ter estudado ela…” — pensou, fazendo bico e piscando mais forte, como se estivesse segurando o choro.
— “Snif snif…”
Ficou ali, com aquela cara de quem acabou de perder um brinquedo novo.
E no momento em que a barreira finalmente desapareceu…
O rosto dele mudou.
De um segundo pro outro.
Como água pro vinho.
Na frente de Kael, dezenas de encapuzados começaram a sair das sombras dos becos a volta do local. Um a um, surgindo como se já estivessem ali o tempo todo. Cercaram ele num semicírculo.
Todos armados. Todos prontos.
Kael só estalou o pescoço com um meio sorriso no canto da boca.
— Vocês são tipo rato… Quanto mais esmaga, mais aparece…
Ou era barata? — dá de ombros, rindo sozinho. — Tanto faz.
Ele ergue o olhar.
— Estão esperando convite? Bora dançar, então.
O primeiro veio correndo. Trazia uma lança de plasma nas mãos.
Kael avançou sem pressa, desviando como se fosse natural. Num movimento seco, acertou um soco direto no estômago do cara, seguido de uma descarga elétrica que explodiu dos dedos.
O encapuzado caiu no mesmo instante, se contorcendo no chão.
Outro já veio logo atrás, empunhando uma foice de energia que deixava um rastro oscilante no ar.
Kael se abaixou no tempo exato, girou no chão e acertou um chute nas pernas do sujeito, derrubando ele por completo.
Assim que levantou, já veio com o punho carregado.
Um raio azul cortou o ar e acertou o peito do inimigo em cheio.
O impacto veio abafado, mas fez o chão vibrar.
Outro encapuzado avançou logo depois — dessa vez com uma luva metálica, puxando o braço pra trás antes de disparar o soco.
Kael levantou só um dedo.
Parou o golpe com o indicador.
Entrelaçou os dedos com os dele e puxou o sujeito pra perto, encostando a boca em seu ouvido.
— Esse passo de dança eu aprendi no Caprichoso lá no Amazonas. — sussurrou com um sorriso debochado no rosto.
Num giro rápido, firmou as mãos e fez o cara girar por cima da própria cabeça como se fosse um peão humano.
Girou uma, duas, três vezes como uma hélice de helicóptero — até cravar o corpo do sujeito no chão com força.
E nem deu tempo de respirar.
Kael segurou de novo e arremessou o encapuzado longe — o corpo voou e bateu em vários outros, derrubando todos em uma pancada só.
Logo em seguida, mais um veio.
E mais outro.
E outro.
Um de cada vez. Sempre espaçados.
Mesmo vendo os outros caindo feito dominó, continuavam vindo sozinhos, como se nada tivesse acontecido.
Kael parou por um instante.
Ficou ali, em pé no meio do campo, com os olhos semicerrados.
Olhou pra frente. Depois pros lados.
— Hm… estranho. — murmurou, franzindo o cenho. — Por que tão vindo assim? Um de cada vez?
Ficou em silêncio por um segundo.
Os olhos semicerrados. O corpo relaxado… mas firme.
Dois encapuzados vieram em sua direção — mas não ao mesmo tempo, e sim em um ritmo que tentava parecer coordenado. Um à frente, o outro segundos depois.
Kael avançou no primeiro antes mesmo que ele erguesse sua arma para atacar.
Seu corpo desapareceu em um único passo — como se o chão tivesse impulsionando ele para frente como um raio invisível — e quando reapareceu, foi com o punho já envolto em faíscas brilhantes, pronto pra descarga.
Acertou bem no centro do peito.
O impacto afundou o tronco do inimigo pra trás e o som do trovão ecoou por entre os prédios e edifícios da volta.
A onda de choque espalhou poeira no chão. O encapuzado voou como se tivesse sido arremessado por uma explosão invisível, batendo numa parede com um som seco de cimento rachando.
Kael girou no mesmo instante, sem nem ao menos olhar para trás.
O segundo já vinha com um bastão elétrico em mãos, pulando pra atacar de cima.
Kael ergueu o braço esquerdo.
O bastão desceu com tudo… e parou no meio do caminho, preso nos dedos dele.
Uma faísca riscou o ar como uma agulha custurando um pano.
Ele puxou o inimigo pela arma, girando o corpo junto. Aproveitou o impulso do adversário pra lançá-lo por cima do ombro, numa fusão precisa entre um Seoi Nage e um Kata Guruma do judô — só que, antes mesmo que ele tocasse o chão, Kael já o agarrava pela perna.
Com um movimento seco, girou o corpo do sujeito em alta velocidade e o arremessou contra os outros encapuzados que ainda se aproximavam.
— Se quisessem me derrotar… viriam todos de uma vez.
Soltou o ar devagar, ajeitando sua postura. Um estalo de raio percorreu seus ombros.
— Sem dar chances de eu respirar ou tentar ao menos revidar.
Seu olhar ficou mais sério. O jeito despreocupado sumia, surgindo no lugar algo mais atento, mais instintivo e sério.
— Mas vocês estão ganhando tempo. Sabem muito bem que mesmo todos juntos vocês só seriam derrotados mais rápido… Então é assim que covardes como vocês jogam… Eu já devia ter imaginado.
Ele olhou pros lados, atento aos passos nas sombras dos becos a volta, e aos ecos ao redor.
O olhar dele agora era intenso e ameaçador.
— Isso aqui é só uma mera encenação de merda. O que vocês querem de verdade… É ganhar tempo.
A próxima figura chegou devagar, imponente.
O corpo começou a brilhar, reflexos metálicos por toda parte. Pele, olhos, músculos — tudo parecia feito de aço vivo.
— Interessante… Até um usuário Kaelum vocês trouxeram… — Diz Kael, enquanto observa o homem brilhar em prata — Vamos acabar logo com isso então.
O homem retirou seu capuz, revelando olhos dourados e uma expressão fria.
♦ Metal vivo (síntese do Elemento figurado “Metal” + Elemento atômico “Níquel”)
› O corpo do usuário se torna um composto biomecânico metálico, que mantém a mobilidade através de estruturas internas de contração eletromagnética (como músculos artificiais). ‹
Ele correu em direção a Kael sem falar nada, nem sequer uma única palavra, mas seus passos faziam o chão tremer com pura força.
Os pés batiam forte, pesados, como martelos de puro aço.
Sem aviso ou alarde, mandou um soco direito em alta velocidade pra cima de Kael, o ar estourando por onde o soco passava.
PSSSHHHH!
O barulho foi seco, parecia que o ar estava quebrando.
O vento que o golpe levantou foi tão forte que rachou as colunas perto deles.
Pedaços de pedra voavam da estruturas a volta.
Kael desviou na hora, leve, sem demonstrar muita dificuldade ou esforço pra isso.
Os olhos dele brilhavam, cheios de eletricidade, como se enxergasse tudo em câmera lenta.
O outro soco veio, com a mão esquerda, um golpe metálico que rasgou o ar e rompeu a barreira do som novamente.
Mas Kael foi mais rápido, passando fácil por ele, e contra atacando com um girou leve, como se dançasse no ar, desferindo um soco certeiro no peito do adversário.
CRAACK!
O punho bateu no peito do oponente com força, fazendo um som agudo, como uma porta de aço rangendo.
Kael nem deu tempo pra respirar. Já lançou um segundo soco, rápido, certeiro, perfeitamente na lateral do corpo do homem de aço vivo.
O homem gemeu baixo, sentindo a força do golpe, mas sem perder o equilíbrio.
Na sequência, Kael manda um terceiro golpe, um soco giratório coberto por raios.
O braço cortou o ar como um raio cruzando os céus em uma noite de tempestades.
Acertando em cheio o centro do peito do adversário.
O impacto foi tão forte que o chão sob eles se rachou, crateras se espalharam, destroços voando para todos os lados.
O som reverberou como um trovão acertando uma placa rígida de aço, e o ar fugiu do impacto.
Mesmo assim, o adversário só recuou alguns passos para trás, sem mostrar muita dor, mas sentido o peso dos socos de Kael.
— Nada mal, Áureano… — falou ele, ofegante, mas com um sorriso desafiador — Mas isso não vai me derrubar. Eu diria que sou… Bem resistente.
Kael girou a mão como se estivesse alongando o punho direito, nisso, um estalo elétrico se espalhou entre os dedos.
E uma pequena luva de raio se formou nela.
— É… eu estava com um pouco de medo de te matar sem querer — riu Kael, debochando do inimigo — Mas acho que peguei leve demais também, vou pegar um pouco mais pesado agora… Vamos ver se você vai conseguir continuar acompanhando o rutimo da dança.
Kael disparou pra cima dele num piscar de olhos, rápido como um raio.
O cara mal viu de onde veio o golpe.
O soco cortou o ar e bateu com tudo nos braços cruzados, cobertos de metal vivo do oponente.
Os pés do homem cravaram no solo como uma estaca, o vento do golpe fugia cortante do impacto.
Porém, mesmo com a imensa força do golpe, o oponente se mantinha firme em pé, segurando os punhos de Kael, quase como se fosse inquebrável.
Mas aí… Segundos após o impacto, pequenas rachaduras brilhantes começaram a abrir na pele metálica do homem.
E como um ato tardio, o metal começa a pingar gotas incandescentes, como se fosse cera quente.
Ambos os braços desabaram em líquido.
O homem caiu de joelhos, completamente derrotado.
— Teu poder é bom… — Kael falou, dando um meio sorriso, e desviando o olhar do homem. — Mas tu confiou demais nele. Esqueceu que, qualquer metal pode derreter se receber calor o suficiente.
Ele deu uma risada baixa.
— Olha só como eu sou caridoso… — falou, rindo sozinho. — Dei até uma aulinha de física básica de graça pra vocês, hahaha…
Kael passou o olhar pelos outros, franzindo o cenho, mas ainda com aquele sorriso debochado.
— Então… que tal retribuírem a minha bondade e me contarem qual é o objetivo de vocês tentando ganhar tempo aqui, em? Me parece uma troca bem justa…
O silêncio que veio depois foi pesado.
Um por um, cada encapuzados trocaram olhares entre si, nervosos, como se estivessem encurralados.
Era medo de Kael, com certeza eles estavam… mas, dava pra sentir que o medo deles, sobre o que aconteceria caso abrissem a boca, era ainda maior.
— Entendi… não vão falar nada, né? Bando de ingrato fudido. — disse Kael, como se entendesse o medo deles só pelo olhar desesperado de todos.
No instante seguinte, o corpo dele começou a se encher de energia. Faíscas dançavam pelos seus ombros, estalando como fogos de artifícios no ar. A atmosfera ficou densa, eletrizante.
— Beleza… se a mãe de vocês não ensinou a vocês sobre devolver favores ou pagar dívidas… o Papai aqui ensina com prazer gurizada!
Ele ergueu o punho. Uma luva feita completamente de raios se formou a partir de seus dedos, cobrindo todo o braço. O sorriso debochado continuava em seu rosto.
Então, Kael socou o chão a sua frente.
BOOOOOOOOM!
Uma onda de choque elétrica explodiu em todas as direções, rachando o solo por dezenas de metros ao redor. As paredes vibraram, o ar estremeceu e uma cratera enorme se abriu sob seus pés.
Mesmo em Áurea, a mais de dez quilômetros dali, era possível sentir o tremor — como se a terra virasse um palco de dança pros raios.
Os encapuzados que cercavam Kael tropeçaram, cambalearam… alguns já caíram só com o impacto do soco no chão.
Mas, no instante seguinte, Kael sumiu em um clarão azul brilhante.
Em menos tempo do que um piscar de olhos, um rastro de faíscas azuis riscou o chão em zigzag, passando por cada um dos dezenas de encapuzados no mesmo instante.
Kael parou, de costas para todos.
O silêncio dominou o local, até a voz de Kael romper ele:
— Fim da dança… O que acharam do show?
Um a um, eles tombaram como peças de dominó, todos fulminados como uma lareira.
Quando o último corpo caiu atrás de si, Kael olhou por cima do ombro e sorriu.
— Foi de desmaiar, né? Hahaha. — Riu alto, andando no meio dos corpos até a cratera aberta pelo seu soco anterior.
Ali, encontrou o homem de metal caído, os braços dele se tornaram poças de ferro líquido. Envolveu ele com uma barreira roxa, usando sua “defesa mental” pra movê-lo.
— Vamos ter uma conversinha melhor quando chegarmos em Áurea…
Porto Alegre vivia o auge da manhã.
E la embaixo, no subterrâneo, Áurea brilhava com seu sol artificial, copiando quase perfeitamente a posição do sol na superfície.
Louie andava sem pressa, mas com a cabeça cheia.
Era muita loucura acontecendo sem parar. Sua cabeça estava repleta de pensamentos e dúvidas.
As ruas da cidade futurista estavam tranquilas, só o som dos passos e conversas jogadas no ar por desconhecidos ao longo da rua.
A luz dourada refletia nos prédios, até às ruas, passando cada vez mais a sensação de irrealidade que aquela estranha cidade — porém pacífica — passava.
Kael tinha ido embora fazia pouco.
Deixando com Louie aquela estranha cara séria que fazia e mais dúvidas no peito — só de pensar no perigo que sua família passava, e na possível inserção deles nessa cidade maluca eram o suficiente para o deixar apreensivo sobre tudo isso.
E então, cortando seus pensamentos do mais absoluto nada… Uma estranha sensação fez ele parar.
Sentia algo estranho por um instante.
Um arrepio de estar sendo observado.
Começou varrer os arredores com os olhos — pra quem olhasse de fora, parecia um louco lunático — Mas nada disso importava, ele continuava procurando a fonte da estranha sensação.
Olhando das ruas cheias até o topo dos prédios mais altos e brilhantes dali.
Foi quando viu uma figura parada ao longe.
Parecia uma mulher, encapuzada com um estranho e suspeito manto roxo.
A pele clara aparecia um pouco, junto de poucos fios de um cabelo preto como o carvão.
Mas os olhos… os olhos eram muito bem claros na visão de Louie.
Roxos, vivos, brilhantes, encarando diretamente ele.
Ela tinha um jeito leve de ficar ali, parecia até mesmo um… Anjo, era firme mas suave, como se cada micro movimento fosse parte de um show.
Louie não sabia como explicar essa sensação, mas sentia que conhecia aquela garota.
Não lembrava dela, nunca tinha visto antes — mas tinha alguma coisa ali. Algo que o deixava inquieto.
A troca de olhares durou pouco.
E o que finalizou ela…
Foi o movimento da própria menina, que virou e saiu andando como se nada tivesse acontecido, em direção a uma parte mais escura e menos movimentada da cidade.
Becos estreitos, quase escondidos entre as estruturas brilhantes e gigantes da cidade.
Chegou na entrada de um deles… e, como um passo de mágica, sumiu na escuridão dele.
Louie nem pensou. Nem exitou. Saiu correndo sem olhar para trás.
Seguiu o rastro dela, atravessando o beco escuro e chegando novamente nas ruas iluminadas e movimentadas.
A cada curva, ela parecia se afastar mais de Louie, mas nunca o bastante pra desaparecer…
Algo dentro dele dizia que não podia parar.
Que ela tinha mais ligação com ele do que conseguia imaginar.
E que, de algum jeito, aquilo tudo tinha a ver com um possível passado interligado.
— Espera ai! — gritou Louie.
A figura não diminuiu o passo.
Seguiu rápida, como se nem tivesse ouvido.
— Porra! Ela não vai parar né? — Murmurou Louie, forçando um aumento de sua velocidade.
Com os reflexos afiados graças ao seu corpo Kaelum e o despertar dos seus poderes — seu corpo parecia extremamente mais leve e forte que o natural — ele avançou entre passarelas, cortou por entre prédios e se enfiou no meio da multidão.
Ela mantinha sempre um passo a frente, se movendo como se a gravidade não passasse de um simples brinquedinho para ela. — Novamente deixando as leis de Newton no chinelo.
Cada desvio, cada curva, cada movimento dela pareciam conduzi-lo para um local já definido.
Mesmo com o quão suspeito isso fosse, Louie seguia firme atrás dela, sentindo que precisava alcançá-la, entender quem era e o significava aquela sensação vindo dela.
Mas, como o mundo não é um morango, e a vida de Louie não seria tão fácil assim, o chão tremeu subtamente.
Um estrondo percorreu por toda Áurea, não, por quase todo Rio Grande do Sul.
Gritos se espalharam pelas ruas brilhantes. As estruturas tecnológicas vibraram levemente. Poeira subiu do chão da Cidade subterrânea. E Louie… perdeu o equilíbrio por um instante.
— Um terremoto? Do nada? Essa cidade é maluca só pode! — resmungou, tentando se firmar no chão novamente.
Ainda se recompondo do tremor, olhou na direção em que a garota de olhos de ametista estava poucos momentos antes.
Mas… Ela já havia desaparecido na escuridão de um beco estreito.
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