Áurea seguia na sua rotina de sempre.

    O sol artificial já tinha passado de seu ponto mais alto, e a luz dourada começava a perder aquele brilho intenso de meio-dia, e entrava no início da tarde.

    Fazia algumas horas desde que Louie tinha sumido… ou melhor, desde que tinham sequestrado ele.

    Kael estava sentado em uma poltrona branca e macia da sala de espera da base de comando.

    Braço apoiado no encosto, perna esticada, batendo os dedos repetidamente no apoio da cadeira sem nem perceber.

    A cada minuto, sua ansiedade e nervosismo só piorava.

    Ele já tinha mandado avisar pra marcar uma reunião direta com os três comandantes — incluindo ele.

    No fim das contas, quem mandava e decidia tudo que acontecia ou deixava de acontecer em Áurea eram eles.

    A “Trion”.

    Áurea mantinha essa tradição antiga de ter três comandantes, que juntos comandavam a cidade subterrânea.

    Hoje, essas três cadeiras da Trion estavam ocupadas por:

    Kael Dragan, o pilar da força. Aquele que carrega o peso de ser o principal protetor de Áurea.

    Aura Silvani, a pilar da experiência. Ela já foi pilar da força, mas passou o título para Kael Dragan e hoje é quem leva o título da experiência.

    E, por fim…

    Veltor Dragan, o pilar da estratégia. Um estrategista genial, reconhecido como o maior gênio entre todas as gerações da Trion nesse quesito.

    E agora… só restava esperar.

    E pra Kael, essa era sempre a pior parte.

    Juntar os três assim, do nada era uma tarefa complicada.

    Mesmo sem tempo sobrando — teve que ficar esperando até que os outros dois estivessem disponíveis para participar da reunião.

    Mas enfim, a hora tinha chegado…

    A reunião dos comandantes de Áurea — a Trion — estava prestes a começar.

    Kael cruzava os corredores largos, iluminados por luzes artificiais frias e sem vida.

    Seus passos eram rápidos, cheios de pressa e preocupação.

    Ele ia direto pra sala de comando principal da Trion, com a cabeça lotada.

    Mas se mantinha firme…

    Estava decidido a propor algo considerado extremo, a um nível em que nem mesmo ele, um dos pilares de Áurea, podia decidir sozinho:

    ativar todos os membros da força de elite da cidade subterrânea.

    Um grupo que, segundo ele, tinha potencial até mesmo para se igualar ou superar os Decastellum — a lendária elite dos 10 Kaelums mais fortes da OPKM (Organização de Poderes Kaelums Mundial).

    Um grupo formado por cinco membros jovens, porém com um potencial evolutivo muito acima da média.

    Kael se referia aos… Vigilantes.

    Kael parou na frente de uma porta de metal, com linhas azuis brilhantes atravessando ela.

    Colocou a mão em um pequeno painel ao lado e, na mesma hora, a porta se abriu.

    Quando entrou, já viu os outros dois comandantes da cidade subterrânea esperando lá.

    No meio da sala, tinha um enorme mapa digital da cidade projetado no ar, mostrando as sete zonas e os últimos relatórios — coisas tipo índice de criminalidade, economia e movimento populacional.

    O clima dentro da sala estava pesado.

    Kael varreu a sala com os olhos, até chegar na mesa triangular à frente dos outros dois.

    Sem perder tempo, falou:

    — Bom dia a todos. Já vou direto ao ponto — falou Kael, meio impaciente. — Não tenho muito tempo pra ficar explicando tudo, mas a Emi, a Nina e o Louie foram sequestrados.

    Aura, que era uma das comandantes e chamada de pilar da experiência, ficou ali, olhando pro Kael com atenção.

    Ela parecia juntar as palavras dele como quem monta um quebra-cabeça.

    Tinha cabelos lisos, loiros puxando pro alaranjado, cortados na altura dos ombros.

    A pele clara dela contrastava com os olhos castanhos.

    Sua postura era perfeita, como o esperado de quem já viu muita coisa e aprendeu a lidar com decisões difíceis.

    — Kael… Com Louie, você fala de quem eu tô pensando?

    Kael assentiu, firme, sem desviar o olhar. A voz saiu carregada de convicção:

    — Sim. Estou falando do filho daquele homem… Louie Kaede.

    Aura arregalou os olhos na hora. Sem nem perceber, começou a bater as pontas dos dedos na mesa — um gesto simples, mas mostrava o nervosismo dela ao ouvir o nome, mesmo que seu rosto tentasse disfarçar.

    — E como é que você sabe que ele, a Emi e a Nina foram sequestrados? Onde eles estavam? — Aura apertou o tom. — Eles saíram de Áurea faz tanto tempo…

    — A Emi falou comigo há pouco tempo atrás. — Kael cruzou os braços, e continuou. — Me passou detalhes sobre a situação do Louie atualmente… que, pelo que parece, foi o único que sobreviveu direto ao massacre do Colégio Península.

    — Colégio península? — Aura bota a mão no queixo, tentando buscar no fundo de sua memória. — A, certo… Lembro de ter ouvido sobre isso a poucos meses atrás…

    O olhar de Aura tremeu no mesmo instante, suas pupilas se estreitaram, e sua respiração pesou.

    — Espera… — Aura franziu o rosto. — Não me diz que… os responsáveis por aquele incidente foram…

    — Sim. — cortou Kael sem nem pensar duas vezes. — É exatamente isso. Acho muito difícil ser só uma simples coincidência tudo isso.

    Ele respirou fundo e continuou:

    — Louie sofreu um ataque ontem à noite… e hoje de manhã foi sequestrado. Pra mim, isso já é mais do que suficiente pra dizer que ele é o alvo… Não, talvez a própria família Kaede esteja na mira deles, já que Louie não foi o único a ser sequestrado.

    Fez uma pausa rápida, tentando segurar a raiva e manter a voz firme.

    — Então, sim… eu acredito que aquela mesma organização de dez anos atrás voltou a ativa. E tudo indica que o massacre do Península está ligado a eles. Só não consigo entender uma coisa, por que focar tanto no Louie? E outra… por que não capturaram ele no próprio dia do massacre, três meses atrás? Isso é algo que ainda não faz sentido pra mim.

    Aura franziu o cenho, o rosto sério, sem desviar os olhos de Kael.

    — Certo… acho que entendi por cima a situação. Mas me diz, como vamos reagir em relação a isso? Quer montar uma equipe de busca? Porque se fosse só isso, tu não teria nem perdido tempo chamando essa reunião…

    Kael não hesitou, e falou com uma voz firme e cheia de convicção:

    — Quero mobilizar todos os cinco Vigilantes pra missão de resgate.

    O silêncio que veio após as palavras de Kael foi pesado. Até ser quebrado por Aura, que franzia levemente a testa, parecia preocupada com o que foi dito.

    — Se isso for verdade… e a mesma organização que estava envolvida no caso do Orfanato Aurora… e no desaparecimento daquele homem… — ela parou por um momento. — Você não acha arriscado demais mandar a nossa principal equipe interna, e tu juntos para essa missão? Áurea poderia ficar impotente a ataques de grupos externos ou até mesmo internos…

    Antes que Kael pudesse responder, Veltor — o pilar da estratégia — toma a frente da conversa.

    De pele escura, olhos firmes e uma cabeça completamente raspada, sua presença era imponente, sua voz era rígida.

    — Concordo com a Aura. E além disso, nem sabemos onde eles estão. Se nos expusermos sem saber com quem lidamos, colocamos Áurea inteira em risco por causa de uma família só. Não podemos sair às cegas contra inimigos que mal conhecemos, mas que sabemos o que estão em um alto patamar de poder.

    Kael manteve a postura firme, encarando Veltor diretamente, seu olhar era frio e um pouco… Decepcionado. Mas respondeu com firmeza:

    — Louie pode ser só o começo… Assim como foi naquela época, nós não sabemos quais são os verdadeiros objetivos por trás desses ataques. Se não fizermos nada agora para tentar impedir um problema maior futuro, viraremos meras peões em um jogo que nem começamos a entender. E quando eles atacarem de novo — porque vão atacar — pode ser tarde demais para reagirmos. A cidade… todos aqui… podem ser os próximos alvos, vendo que até infiltrados aqui estavam a dez anos atrás.

    Ele respirou fundo, levou a mão ao rosto, como se estivesse tentando acalmar seu coração que batia acelerado. Mas continuou, com a voz mais calma e sentimental:

    — E além disso tudo… vamos mesmo deixar algo tão importante para aquele homem, a quem todos de Áurea devem tanto se perder sem sequer tentar reagir? Sem mostrar resistência? Não podemos ignorar o potencial desse garoto. O sangue que corre nas veias dele… é o sangue de um Kaede afinal.

    — É por isso mesmo que a gente não devia se meter nesse resgate! Se nós trazermos esse garoto pra cá, vamos acabar virando alvo também.

    Ele bateu as mãos na mesa, firme, respirou fundo e continuou.

    — Já não tá fácil lidar com a Zona Leste… aquele lugar vive afundado numa crise que já vem de geração em geração. E pra piorar, o esgoto de Porto Alegre passa bem por cima de uma parte de lá. Muita gente tá ficando doente por causa disso, e o número só cresce, dia após dia.

    Fez uma pequena pausa, olhando em volta, como se quisesse ter certeza de que todos estavam ouvindo.

    — Sem falar desse novo grupo que vem causando bagunça por lá, a “Fracture”. Eles estão mais ativos esses tempos. E tu ainda quer gastar energia pra ir atrás de uma única criança que, pra falar bem a real, nem sabemos se ainda tá em Porto Alegre?

    Kael fez uma pausa. As palavras batem como um caminhão, como esperado do peso de verdades difíceis de aceitar.

    — Eu sei que é arriscado… Sei que Áurea tá começando a se ajeitar depois da ineficiência das antigas cadeiras da Trion… mas como é que podemos simplesmente fingir que não é com a gente? Simplesmente ignorar um jovem, com o potencial de superar qualquer um de nós aqui presentes?

    Ele respirou fundo, firme.

    — Eles não são um grupinho qualquer… tu tem noção do que pode acontecer se conseguirem concluir seja lá o que estão tramando? Se a gente cruzar os braços agora… o próximo ataque deles pode ser o último para Áurea.

    Fez uma pausa, encarando direto.

    — Não… pode ser uma ameaça de nível global. Nós precisa reagir enquanto ainda dá tempo.

    Seu olhar foi reto, sério, sem vacilar ou hesitar, de Aura para Veltor. Não era só um pedido de permissão — era o peso de uma promessa antiga, um juramento que não poderia ser quebrado.

    Aura e Veltor se entreolharam em silêncio.

    Dava pra sentir a intensidade do olhar — lembranças, riscos, obrigações… tudo com apenas um breve instante.

    Aura respirou fundo, e então falou, quebrando o silêncio.

    — Certo… Kael, tu tem meu apoio.

    Fez uma pausa, encarando os dois.

    — Vamos acionar os Vigilantes… e preparar uma equipe de busca pra trazer eles de volta.

    Quando Aura falou aquilo, Veltor parecia que ia explodir de raiva.

    Fechou os punhos, os dentes cerrados, tudo nele transbordava desgosto.

    Olhou pra Kael com ódio puro, mas a voz saiu calma, debochada:

    — Kael, Kael… parece que tu mudou mesmo, hein… “Irmãozinho”. Quem sabe se naquela época tu não fosse um completo covarde inútil, e tivesse tomado uma decisão dessas… Talvez a Li-

    — Chega, Veltor! — cortou Aura, os olhos afiados como uma faca.

    Veltor bufou, rangendo os dentes e encarando Kael com desdém:

    — Tsk… Se der qualquer merda agora… vai ser culpa de vocês.

    Veltor dá as costas e sai direto pela porta, sem nem olhar pra trás.

    Kael fica parado, em silêncio, encarando as próprias mãos, como se tentasse segurar alguma coisa que já tinha escapado.

    — Kael… — diz Aura, meio hesitante, pousando a mão no ombro dele. — Ele não entende o que tu estava passando…

    — Não. — corta Kael, firme. — Ele não tá errado… Mas agora não é hora de ficar remoendo arrependimentos. Não dá pra ficar preso em um passado que nem o tempo consegue mudar. O que importa agora é focar num futuro que valha a pena lutar.

    Na cabeça dele, um flash rápido: a imagem de Louie e Nina dominou sua mente naquele breve instante.

    Ele respirou fundo, o peito acelerado. Estava pronto.

    Pronto pra lutar por eles.

    Pronto pra trazê-los de volta… mesmo que sangue tivesse que ser derramado pra isso acontecer.

    Aura sorri, orgulhosa do seu antigo pupilo.

    E assim, a reunião da Trion… enfim chegou ao fim.

    Pouco depois, as equipes de busca foram acionadas, sob o comando da Lila, uma das Vigilantes.

    Se espalhando pela cidade inteira, cada esquina, cada rua de Porto Alegre.

    Todo mundo sabia que o tempo era o inimigo.

    E talvez… Louie já estivesse longe demais.


    Louie acordou numa sala fria e escura.

    O ar era pesado… cada vez que respirava parecia que a energia dele ia embora junto. O gosto metálico deixava tudo ainda pior.

    Sua cabeça latejava, como se tivessem jogado um tijolo nela.

    Tentou se mexer. Nada.

    As mãos e os pés estavam presos por correntes. E ainda tinha um pano encharcado amarrado na boca.

    — “M-mas… que merda…?” — tentou falar, mas só saiu abafado.

    Olhou em volta, tentando entender onde tava. A escuridão só respondia com silêncio.

    — “Onde caralhos eu tô? Por que… isso tá acontecendo comigo?”

    O coração acelerava. Cada som parecia mais alto, cada sombra mais escura.

    — “M-merda… minha cabeça… parece que vai explodir!” — pensou, apertando os olhos. — “Como eu vim parar aqui…? Só lembro de… de uma garota… e aquele cara estranho… Qual era mesmo o nome dele…?”

    Forçar a memória só fazia a dor piorar, como se alguém socasse sua mente de dentro pra fora.

    E foi assim, sozinho e sem respostas, que Louie sentiu o peso de estar totalmente à mercê de algo que ele nem entendia.

    A porta rangeu.

    Sethros entrou.

    Cabelos roxos com uma leve camada branca, manto pesado… A presença dele enchia a sala. Cada passo era lento, marcado, quase de propósito. E aquele sorriso cínico.

    — Olha só quem resolveu acordar… Tu sabe quanto tempo eu fiquei esperando? — se agachou do lado de Louie. — Deixar os outros esperando assim é uma puta falta de educação, sabia?

    Louie tentou se debater, mas era inútil. Suas forças estavam drenadas.

    — Você é bem imperativo em… Louie — disse num tom calmo, quase um sussurro. Mas estranho, intimidador. — Hahaha… erro meu… Você não é o Louie de verdade. Só um fragmento do que ele foi.

    Sethros abriu um sorriso debochado.

    — Eu sei mais de ti do que tu mesmo sabe… — diz, apoiando a bochecha na mão — Sei que tu botou uma máscara do que acha ser seu antigo eu… só pra ser aceito. Mas até quando acha que isso vai durar? Você realmente acha que tem alguma importância que seja pra alguém?? O único que eles queriam de volta era o Louie de antes do acidente. Não você.

    Deu uma risada seca, quase descontrolada, e continuou:

    — Tu não se pergunta por que foi o único a sobreviver no Colégio Península? Nunca cogitou não ser uma simples vítima?

    Louie tentou responder, mas não conseguiu. Não só pelo pano, mas porque no fundo, uma parte dele temia que fosse verdade.

    A dor de cabeça piorava. Como se algo quisesse forçar a mente dele a abrir portas que deveriam continuar fechadas.

    Sethros chegou ainda mais perto. O olhar frio, quase analisando cada detalhe do garoto.

    — Mas relaxa… o herói aqui, eu mesmo, o grande Sethros, vou resolver teu problema. — levantou a mão como se fosse dar um sermão, olhando Louie de cima. — Se eu matar todo mundo que tu ama, pronto, não vai precisar fingir ser ninguém. Simples assim.

    Ele lambeu os lábios, animado e eufórico.

    — Pensa comigo, moleque… se tu continuar bancando esse teatrinho de ser quem não é, uma hora essa máscara vai cair. E quando cair, eles vão te ver só como uma cópia mal feita, sem graça, sem sal. E sabe o que vai rolar? Vão enjoar de ti.

    — Agora… se eu meter a mão e matar todo mundo que tu ama, pronto. Além de não ter mais ninguém pra tu fingir ser quem não é, teus objetivos também vão pro saco. Sem rumo, sem nada… tu não vai ter nem motivo pra respirar… Não que eu ache que tu tenha atualmente hahaha!

    — Aí, adivinha? Tu pode simplesmente largar esse corpo… e deixar ele pra alguém muito mais… gracioso do que qualquer outro que já existiu! E o bom é que ele até já tá aí dentro de ti. Um ser acima de tudo, muito mais do que divino!

    Sethros abriu um sorriso largo, quase sarcástico.

    — Não é perfeito? Eu, no teu lugar, ia me sentir muito mais do que honrado em ceder meu corpo pro próprio dono da luz da ruína!

    Sethros abriu ainda mais seu sorriso dissimulado e debochado.

    — Viu? Dois coelhos com uma cajadada só. Tu perde o peso da mentira… e um ser absoluto ganha um corpo novinho em folha. É só tu abrir mão, Louie. Só isso.

    Louie fechou o olhar, a raiva queimando mesmo com o corpo fraco.

    — “Abrir mão do meu corpo…? Matar todo mundo que eu amo? Que porra esse maluco tá falando…?!”

    Sethros tirou o pano da boca dele.

    — E aí, Louie… que tal concordar com meu acordo? Não é incrível?

    Louie ergueu a cabeça devagar. Os olhos estreitos. A respiração pesada.

    E, sem pensar duas vezes, cuspiu bem na cara dele. que escorreu pelo rosto de Sethros como lágrimas.

    — Vai pro inferno! — Respondeu com um sorriso dolorido e desajeitado.

    — Para de ficar falando merda seu arrombado! — Louie cuspia as palavras com raiva pra cima de Sethros. — Quando eu acordei naquele mar de sangue, sem saber nem meu nome… sem saber nada… teve gente que não ligou pra isso. Emi e Nina só disseram que eu estar vivo era o que importava. Não se importaram se eu era o mesmo Louie de antes… ou um completo estranho. Elas só… Elas só me aceitaram com amor!

    Olhou fixo nos olhos de Sethros, com determinação.

    — Então eu decidi ser esse Louie, mesmo que fosse só uma máscara. Eu não tô nem aí pra tua tal ruína, ou o que tu acha que eu sou. Mas não ouse encostar um dedo se quer em quem me aceitou!

    Sethros ficou em silêncio por alguns segundos. Então sorriu, um sorriso que mais parecia um vindo de um demônio.

    — Hahahaha… incrível! Cuspe na minha cara e ainda faz discurso motivacional. Clássico e clichê! Então essa é tua resposta? Beleza. Vai ser muito mais divertido te ver quebrar aos poucos, após descobrir o que amar de verdade significa!

    Recolocou o pano na boca de Louie.

    — Tu vai ter bastante tempo pra pensar nisso.

    Virou as costas e caminhou até a porta. Antes de sair, olhou por cima do ombro.

    Os olhos brilharam em roxo intenso por menos de um segundo. E falou:

    — Tenha um bom soninho, Louie.

    A porta bateu. O som abafado de vozes do lado de fora ecoou:

    — Quando ele apagar… tirem as correntes.

    E ali ficou Louie, sozinho. Preso por fora. Preso por dentro.

    Sua cabeça ainda fervia, lotadas de perguntas sem resposta.

    Quem ele era, afinal?

    O que Sethros queria dizer com “ele vai tomar o controle”?

    Sera que tudo que ele disse era verdade? Ou ele só estava mentindo de novo? Não só para Sethros… Mas para si mesmo.

    As memórias esquecidas ainda doíam.

    Mas naquele instante… algo começou a se mover dentro dele.

    Como se uma pequena e breve faísca, envolta de dezenas de barris de gasolina… Começasse um enorme incêndio.

    Eram como fragmentos.

    Cacos de vidro.

    Pedaços de um espelho quebrado em milhões de fragmentos.

    Curtas imagens confusas do massacre estouraram na mente de Louie.

    Corpos no chão.

    Explosões tremendo o ar.

    Sangue espalhado, pintando o chão e as paredes do antigo colégio Península.

    Gritos que quebravam o silêncio com o mais profundo pavor e medo.

    Seu corpo tremia sem controle.

    Ofegava como se saísse de uma maratona.

    Os olhos ardiam como se jogassem pimenta neles.

    O esquerdo, azul, chorava sem parar. Como um céu sem uma chuva sem fim.

    ja o direito…

    O direito, vermelho, vibrava brilhante em um ritmo estranho.

    Sem lágrimas.

    Sem raiva.

    Sem… emoção.

    A pressão na cabeça era insuportável, como se sru cerebro sacudisse desenfreadamente.

    Louie tentou resistir.

    Forçou o corpo, mordeu forte o pano que tapava sua boca.

    Mas era inútil.

    O peso daquela pequena lembrança já o esmagava.

    E então… em um instante… ele apagou em um sono profundo.

    Sozinho.

    Afundando em águas deixadas para trás das próprias lembranças.

    Como um mar calmo.

    Silencioso.

    Gigantesco e… Desconhecido.

    Onde até a esperança parecia funda demais pra ser alcançada.

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