Louie caminhava em círculos pela cela escura,

    seus passos ecoando nas paredes frias e sombrias da grande cela escura.

    A escuridão total tornava o ambiente quase impossível de ver, e a sensação de fraqueza e impotência diante do grande metal tomava a mente de Louie.

    Seus olhos analisavam cada centímetro das paredes à sua volta, procurando alguma brecha, mas tudo que encontrava era aquele estranho material rígido e espesso.

    Ele parou por um instante e inspirou fundo. O ar denso e metálico adentrava seus pulmões.

    — Preciso sair daqui de alguma forma, o quanto antes… — murmurou para si mesmo. — Considerando que não há nenhuma janela ou algo do tipo, provavelmente o ponto mais frágil da cela seria a porta; por mais que também seja daquele metal, ela tem dobradiças. Então, se eu mirar um soco forte nela, posso tirá-la sem ter que exatamente quebrar o metal, correto?

    Levantou o olhar, tentando manter a mente focada em seu plano, mas parecia cada vez mais ansioso.

    — Pensa, Louie… pensa.

    — Não posso ficar esperando por ajuda. Eu não sei o quão forte eles imaginam que eu seja, mas para me colocarem aqui não devem esperar que eu consiga quebrar, certo? — Ele levantou a palma da mão para cima, apertando-a. — Mas… até que ponto eu mesmo sei o que posso fazer?

    Ele olhou para a cela.

    — Será que… eu conseguiria derrubar essa porta com a superforça? — murmurou Louie, encarando a porta espessa à sua frente.

    Franziu a testa, pensativo.

    — Nunca testei o limite real da força que consigo gerar, mas sei que é superior ao de um Kaelum sem treinamento, graças à superforça. No treino com o Kael eu estava focado em controlá-la o máximo possível, e não em explorar até onde ela pode ir. Pelo que Kael disse, a superforça funciona, principalmente, como um gráfico exponencial: ela se auto-multiplica ao longo do tempo e dos treinos.

    Fez uma pausa, levando a mão ao próprio braço.

    — Mas tem outro problema…

    Seu olhar ficou mais sério enquanto encarava a grande muralha a sua frente.

    — Se eu socar essa porta com força total, será que meu corpo aguenta o recuo? Eu nem sei direito o quão resistente eu sou…

    — Os limites humanos mudam completamente quando o poder Kaelum entra no corpo… mas até onde vai minha resistência depois de receber esses poderes? Até onde meu braço aguenta antes de quebrar?

    Louie fechou os punhos. A frustração e a dúvida já se misturavam nele.

    — Ahhhhh que merda! — gritou, batendo as duas mãos no próprio rosto. As bochechas ficaram vermelhas na hora. — Eu não sei porcaria nenhuma sobre mim, e muito menos sobre eles! Tudo que eu faço é ficar aqui me lamentando!

    Ele tirou as mãos do rosto devagar, relaxando os dedos até os braços caírem ao lado do corpo.

    — Calma, Louie… respira — sussurrou, enchendo os pulmões de ar antes de soltar devagar. — Não posso agir no impulso. Tenho que testar com calma pra entender do que eu sou capaz… senão vou acabar me machucando de verdade.

    Ficou em silêncio por alguns segundos, organizando os pensamentos. Então assentiu para si mesmo, como se aprovasse a ideia.

    — Certo… vou começar com um soco fraco. Só pra ver o quão forte eu sou e o quanto eu aguento — murmurou, tentando convencer a si mesmo de que aquilo fazia sentido.

    Eleé respirou e se posicionou diante da porta metálica.

    Os olhos ficaram fixos no ponto onde planejava acertar. Tentou se concentrar ao máximo, ajustando a força, tentando controlar cada músculo como se pudesse dosar tudo na medida certa.

    Com o cotovelo levemente flexionado, levou o braço para frente. O movimento foi leve, mas descuidado — mais instintivo do que calculado.

    Um soco simples. Fraco, mas completamente mal executado.

    Louie mal sabia dar um soco direito, imagina usando tanta força de uma só vez.

    Então Louie só entenderia o quanto subestimou a própria força quando visse, na própria carne, o resultado daquele golpe simples golpe leve.

    No exato instante em que a pele dos dedos tocou o metal…

    BOOOOM! … CRACK!

    O estrondo foi absurdo, seguido de estalos horríveis — como ossos e ligamentos cedendo no impacto.

    — AAAAARRGH! — o grito estorou na sua garganta antes mesmo que ele percebesse a dor chegando de verdade.

    A porta afundou com o impacto, criando rachaduras que se espalharam pelo metal grosso da cela inteira.

    O barulho foi absurdo, e por um segundo parecia que ela ia abrir de vez.

    Mas qualquer sensação de vitória evaporou na hora.

    O preço veio rápido e sem piedade.

    O braço de Louie simplesmente quebrou em vários pontos.

    O som da carne rasgando e dos ossos estourando quase competiu com o estrondo do soco.

    O ombro tinha saído do lugar, os tendões arrebentaram, e dava pra ver fraturas expostas. Grande parte dos ossos se esmigalharam em pedaços quase microscópio, e o que antes era um braço virou uma massa de carne, sangrando sem parar.

    O direito agora só pendia pro lado, inútil, pingando sangue como uma tempestade vermelha, onde gotas de sangue saiam da pura carne viva.

    Louie sentiu o corpo inteiro tremer, e a dor veio, era a pior que já havia sentido em toda sua vida.

    — M-mas que… merda! Por que… caralhos esse soco saiu forte assim?! — Gritou Louie, entre os dentes cerrados tentando segurar a dor, e olhos saltados pela infeliz surpresa.

    Ele cambaleou alguns passos pra trás, respirando pesado.

    O braço latejava sem parar. Não era só a falta de movimento, parecia que todo seu membro tinha deixado de existir.

    A dor era brutal, sua visão estava turva, mas mesmo diante a isso, ele sabia que não dava pra ficar parado só se lamentando da dor.

    Mesmo quase desmaiando, precisava pensar em alguma saída.

    A porta e parte da parede a sua volta quase cederam com o impacto, tendo diversas rachaduras nelas.

    Mas de que adiantava aquilo, se ele não fazia ideia de como controlar a própria força?

    Sem isso, qualquer tentativa só causaria mais um machucado brutal.

    Ele olhou para o próprio braço, ou pelo menos o que sobrou dele.

    Estava completamente destruído.

    Seu rosto estava pálido, sem cor alguma.

    Lágrimas escorriam de seu olho esquerdo, tão azul quanto o marz agora atingido por uma dolorosa chuva.

    Naquele ponto, ofuscado pela dor, fugir parecia o menor de seus problemas. O foco de Louie naquele momento, era apenas… não desmaiar.

    — E-e… agora…?

    Tentou falar, mas sua voz saia tremula por causa do ferimento.

    — “E se… e se eu usar o esquerdo pra tentar quebrar a porta…? não… não vai adiantar… ele só vai quebrar também…”

    A cabeça dele parecia rodar sem parar, como se até mesmo os mais básicos dos pensamentos, fossem impedidos de aparecer por uma grande muralha.

    — “E se isso acontecer…? Como eu vou encarar aqueles capangas fora da cela? E principalmente… como vou enfrentar o Seprus…?”

    Louie apertou a mandíbula, tentando abafar a dor.

    — “Preciso de outra saída… ou pelo menos de… um jeito… um jeito de parar essa dor…” — pensou, antes de enfim ceder e cair de joelhos no chão.

    — AHHHHHH! QUE MERDA! — Louie grita, o som dele agonizando de dor e, sem nenhum meio de sair disso, ecoa por toda a cela.

    Ele arfava no chão, seu braço pendendo inutilmente do lado do corpo.

    O sangue escorria rápido, formando grandes poças no chão, pintando de vermelho o estranho metal da cela.

    A dor era insuportável.

    Sem saída, em um movimento lento, porém dolorido, levou a mão esquerda até o braço direito, que caía em pedaços.

    Com um movimento suave, mas ao mesmo tempo travado pela dor, fechou os dedos, buscando pelo próprio braço e tentando agarrá-lo.

    Uma ação inútil…

    Era como tentar segurar o próprio vácuo.

    A ausência da carne, do sangue e dos ossos ali… chegava a ser cruel. Era como se o braço de Louie tivesse se esvaído até a pura inexistência.

    — Se eu… se eu pelo menos tivesse alguma forma de me curar… — diz, enquanto uma gota de sangue escorre do lábio onde ele mordia com força.

    Mas então… em meio ao desespero e a desistência, algo dentro de Louie mudou.

    E, na mesma hora, como se uma engrenagem tivesse rodado dentro da cabeça dele e, com um único clique, empurrasse milhares de outras junto. Uma luz acendeu.

    E, junto dela… a solidão simplesmente… sumiu.

    O que apareceu ali não foi só a esperança de ser salvo, mas sim uma lembrança.

    Uma memória tão viva que quase tomava forma dentro da cela.

    Mas não era igual àquela do massacre que ele tinha revivido antes, onde tudo ao redor parecia distorcer, como se a realidade mudasse com ele.

    Essa era diferente.

    Essa parecia estar ali de verdade, junto com ele naquela prisão escura e silenciosa.

    E, como se o mundo ali tomasse vida, palavras ecoaram, batendo nas paredes da grande cela.

    — Não é só sobre o quanto você pode forçar um poder, Louie…

    A voz saía como se estivesse presente ali.

    — E sim sobre como você faz um poder alimentar o outro.

    Era Kael, no treino que tiveram há pouco tempo.

    Louie lembrava nitidamente da rara expressão séria no rosto dele enquanto explicava como funcionava a Síntese.

    Pra Louie, com tudo ainda extremamente novo — e sem controle nem dos próprios poderes isolados — aquilo parecia complexo demais. Resultado: falhou completamente na tentativa de fazer a síntese.

    Mas, naquele momento, por mais impossível que parecesse, aquela era sua única chance.

    E algo dentro dele dizia que ali, agora… ele conseguiria o que, há poucos instantes, parecia inalcançável.

    — Não é sobre somar um poder com o outro. É sobre usar a fusão deles pra multiplicar milhares de vezes as formas e jeitos de usar.

    Continuava Kael, na memória, quase como uma projeção ao lado de Louie.

    — Tudo o que tu precisa fazer é… acreditar.

    Diz Kael, quase materializado, se aproximando ainda mais de Louie. Mesmo com o rosto marcado pela dor e pelo medo, ele tentava se concentrar.

    — Confiar que cada célula… cada micromolécula do teu corpo… é um pedaço teu.

    Kael se agacha na frente de Louie. O corpo musculoso, os cabelos brancos — que naquele momento pareciam azulados, como a de um holograma — e dá um leve toque no peito de Louie, que ainda estava ajoelhado, com o olho esquerdo lacrimejando.

    — Um pedacinho de um universo gigante, onde tu… é quem comanda.

    Louie fechou os olhos, rangendo os dentes com força, concentrado em tudo aquilo que Kael havia dito.

    Super-força… não era só o poder de ser forte. Era controle sobre cada músculo, sobre o próprio corpo, sobre a circulação.

    Assim como o raio… não era só uma descarga de energia sem sentido. Era energia, correntes eletromagnéticas, aceleração e estímulo.

    Naquele momento… Louie entendeu.

    A síntese que antes parecia impossível agora se revelava pra ele como um raio de luz trazendo esperança em meio às trevas cobertas por sangue e dor.

    Ele fechou o punho esquerdo, movendo cada parte do corpo.

    — Pra ativar a síntese… eu preciso controlar cada músculo, cada fibra, cada microveia do meu corpo.

    O olhar de Louie começou a mudar — da dor e do medo para a confiança.

    — E usar o raio pra acelerar o sangue, os nervos e as células do meu corpo.

    Concentrado, ele começou a canalizar a eletricidade pra dentro de si.

    — Não é pra atacar… — faíscas saltavam dos olhos de Louie — é pra guiar a eletricidade pelas artérias que a super-força abre… e forçar meu corpo a se regenerar.

    — E o resultado disso…

    A voz de Louie e Kael saíram em uníssono.

    — É a síntese.

    E acompanhando a voz de ambos, como um trovão rasgando o céu chuvoso e noturno—

    ZzzzzzZZT!

    Uma descarga correu por suas veias e, como se estivesse reconstruindo a própria matéria…

    Craaack! Craack!

    As fraturas começaram a se alinhar, osso por osso, veia por… veia.

    ZAAAP!

    O sangue parou de jorrar com o último estalo interno. O braço voltou pro lugar, sem nenhum vestígio de que tinha sido dilacerado.

    Louie respirou fundo, suado, tremendo pela dor recente e agoniante.

    Mas agora… inteiro.

    — Q-que loucura… eu não pensei que me curaria por completo assim… — sussurrou, com um leve sorriso.

    Mexia o ombro, antes deslocado, observando atentamente cada movimento do braço agora curado, desde o cotovelo até as pontas dos dedos, sentindo o sangue circular.

    — Na minha cabeça, ele apenas aceleraria meu metabolismo e a regeneração natural, mas remendar todos os ossos e tendões rompidos… — murmurou, ainda ofegante.

    Em um movimento simples, virou a palma da mão para cima, à frente do corpo ainda de joelhos, observou-a por um tempo e a fechou com força.

    — Isso é um nível de cura que eu nunca imaginei que poderia existir… os poderes Kaelums são muito fodas mesmo…

    E, ao se levantar, o olhar dele já não era de dor, mas de confiança, agora sabendo que tinha o poder para completar o que desejava.

    Sair dali e espancar Sethros e seus capangas na porrada.

    — Acho que te devo uma e tu nem sabe disso… — diz Louie, soltando uma breve risada. — Mas obrigado pela ajuda, Kael.

    ♦ Reconstrução Electrocinética (Raio + Super-força + Íons)

    » A “Reconstrução Electrocinética” é a Síntese dos poderes de Íons, Raio e Super-força. Permite reescrever ferimentos em nível molecular, reconstruindo músculos, nervos e órgãos inteiros — até mesmo coração e cérebro. Cada impulso elétrico reorganiza os íons do corpo, acelerando a regeneração e fortalecendo as novas estruturas com energia e densidade superiores. «

    Louie novamente fixou o olhar na grande porta de material desconhecido e rígido à sua frente.

    Ainda amassada, marcada pelo soco anterior, parecia desafiar sua força.

    Um sorriso confiante e determinado surgiu no rosto dele.

    — Hora do segundo round, portinha!

    Ele encurtou o braço direito recém-curado, dobrando o cotovelo, sentindo cada músculo se tensionar enquanto se preparava.

    E, num movimento rápido e preciso, como uma serpente dando seu bote, Louie lançou o soco com tudo.

    BOOOM!!!

    O impacto levantou uma rajada de ar tão forte que fez toda a cela tremer, rachando o chão e as paredes ao redor.

    A porta voou contra a parede de concreto atrás dela, que cedeu em linha reta, abrindo caminho para fora do grande edifício.

    E o braço de Louie… mais uma vez, estava estraçalhado.

    Mas, em menos de um piscar de olhos, a dor e os ferimentos desapareceram por completo, deixando-o inteiro novamente.

    À sua frente, uma passagem aberta para a rua brilhava com a luz da liberdade, vista de um dos andares altos do prédio.

    — É bom ver a luz depois de tanto tempo… — murmurou Louie, observando a abertura no cimento. — Me desculpem, mãe, mana e Kael, mas eu ainda tenho algo pra fazer antes de voltar pra casa…

    Seus olhos percorreram o corredor escuro, levemente iluminado pela claridade que vinha da abertura do prédio.

    — Tem alguém… que eu preciso encontrar — disse, com uma breve lembrança da menina de olhos roxos. — E não importa quem esteja no meu caminho, eu vou esmagar tudo o que me impeça de alcançar meus objetivos!

    Com a determinação renovada, Louie avançou pelo corredor — antes escuro, agora banhado pelo sol que entrava pela passagem — pronto pra encarar qualquer desafio que surgisse.


    Enquanto isso, Sethros observava Louie através das câmeras, em uma sala de controle de outro prédio.

    Seus olhos brilhavam com uma obsessão nojenta, completamente fora de controle, enquanto assistia Louie destruir a grande cela criada pelo Tecnicista.

    — Eu entendi… — murmurava repetidamente, a voz cheia de delírio e tensão. — Eu entendi! Eu entendi!…

    Os olhos de Sethros tremiam e se reviravam, carregados de um fanatismo que dava calafrios.

    Sethros, o Apóstolo de Samael, um dos Apóstolos caídos da Sacrificium Sanguínis, era também um dos responsáveis por recolher as “cascas” deixadas pelo sacrifício sangrento no colégio Península.

    — Eu finalmente entendo! Foi um enorme erro ter duvidado, mesmo que por um segundo, da decisão de um ser tão divino e extraordinário! — ele grita, ainda com o olhar excitado e grotesco. — Estou extremamente envergonhado! Isso… eu mereço… eu mereço uma punição pelo meu erro!

    Sethros, num movimento rápido e sem jeito, bate a própria testa repetidamente contra a mesa da sala de controle.

    O sangue respinga nas paredes quanto mais ele bate, escorre pela madeira e pinga no chão como uma pequena cachoeira.

    Um sorriso frio se forma em seus lábios, manchados pelo sangue que desce da testa. Os olhos dele brilham com um fanatismo doentio; a respiração sai curta, quase histérica.

    — Logo, logo… o mundo receberá a justiça verdadeira e voltará ao seu rumo precursor! — diz, parando de bater a testa e abrindo os braços para a câmera que observa Louie. — E para isso… basta quebrar Louie em pedaços tão pequenos que deixará de existir. Restará apenas o rei profano!

    Seu corpo todo tremia, e o rosto queimava de loucura e excitação.

    — Todos vão se ajoelhar perante a ti… O grande Soberano da Ruína!

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