Índice de Capítulo

    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    O ar da manhã pesava com uma tensão silenciosa, abafando o calor do sol e o barulho da marcha. O som de cascos, armaduras e rodas de carruagens mal podia ser ouvido nas estradas irregulares de terra. A Floresta de Tournand, outrora um labirinto de mistérios, agora parecia um túnel sombrio, engolindo soldados, magos e cavaleiros que avançavam em direção às montanhas.

    Dentro de uma das carruagens, o espaço parecia menor do que realmente era, espremido pela presença de todos. Flügel sentia um peso crescente nos ombros, uma vulnerabilidade que o fazia se sentir incompleto. O motivo era a ausência de seu companheiro, Nytheris, a nova armadura impedia a união dos dois. Sua arrogância de batalhas anteriores havia se dissipado, dando lugar a um respeito cauteloso pela escuridão que se aproximava.

    Ele imaginava que o contingente no acampamento teria, no mínimo, o dobro do que estavam levando. Afinal, o Lich devia ter pelo menos uma dúzia daquele “tank” que o havia arremessado sem que pudesse reagir. A lembrança do impacto violento contra a árvore fez seu corpo estremecer sob a armadura.

    Com os olhos escondidos pelo elmo, ele observou os rostos ao redor. A ansiedade se escondia por trás de sorrisos tensos, enquanto a esperança brilhava nos olhos que buscavam algo a que se agarrar. Era um mosaico de emoções, onde a coragem e o terror coexistiam. Cada um tinha sua própria razão para estar ali, mas o desejo de sobreviver era a única bússola que guiava o coração de todos.

    A carruagem parou com um tranco e o cocheiro sinalizou a chegada. Em um movimento sincronizado, todos se levantaram com suas armas em punho, descendo prontos para qualquer ameaça. Flügel seguiu Nytheris para fora, olhando ao redor. O acampamento era simples, mas brilhantemente camuflado por magia da terra. As construções pareciam brotar do solo, com a própria terra moldada para esconder o local, mesmo estando tão perto da suposta base do Lich.

    O acampamento fervilhava de vozes. Magos, cavaleiros e arqueiros conversavam entre si, aguardando orientações de um superior. Flügel, no entanto, varria a multidão com os olhos, procurando uma face em particular. Ele precisava conversar com o portador de Severus para saber como a besta lendária seria utilizada. As memórias da última batalha ainda estavam frescas em sua mente, e ele não queria ser morto por um dos ataques avassaladores daquela besta guardiã.

    A busca não durou muito. Os olhos de Flügel varreram o acampamento, fixando-se em um grupo de magos e soldados próximos a uma tenda de comando. Lá estava ele, a figura imponente de Aleksander Oblivayne, um brilho radiante de poder misturado à sua juventude. O príncipe parecia um garoto comum, não fosse pela aura de autoridade que exalava e pela maneira respeitosa com que os outros o tratavam.

    Flügel se aproximou, Nytheris logo atrás. A sombra de sua armadura prateada movia-se com uma leveza antinatural, os olhos fixos em Aleksander. A presença de seu familiar irradiava uma possessividade silenciosa, uma raiva contida que tornava a tensão no ar quase palpável. Mas ele estava fazendo o seu melhor para manter isso para si. 

    — Príncipe Aleksander — começou Flügel, sua voz firme apesar da inquietação.

    O olhar de Aleksander se voltou para ele, um sorriso de genuína alegria iluminando seu rosto. Aquele garoto de quinze anos parecia mais animado por encontrá-lo do que preocupado com a iminência da guerra.

    — Flügel! Você chegou! Por que não veio falar comigo antes? — exclamou com uma empolgação quase infantil.

    A conversa foi subitamente interrompida.

    — É você mesmo, Flügel? Humph, parece que você decidiu trocar de armadura, hein? Não te reconheci sem o príncipe dizer seu nome. — Dellia o saudou com um olhar pesado, mantendo sua fachada dura e mandona. Seu rosto estava livre da tensão que consumia o semblante da maioria no acampamento.

    Retirando o elmo, Flügel passou a mão pelo cabelo antes de responder à pergunta de ambos:

    — Cheguei agora, tive um imprevisto e acabei me atrasando. E sim, adquiri uma nova armadura. Afinal, não dá para manter o escorpião no bolso contra um Lich, certo?

    Flügel soltou um sorriso de canto de boca. Dellia, por sua vez, ergueu uma das sobrancelhas, seu olhar pesado e analítico, fixando-se na nova armadura de Flügel. Ela, que dedicou sua vida ao combate, sabia reconhecer uma peça de valor.

    — Não é uma armadura comum. — Ela murmurou, mais para si mesma do que para ele.

    — Onde a conseguiu? — perguntou Koto, com um tom cético, juntando-se à conversa.

    — Em uma loja comum, ela estava no porão, completamente destruída. Consegui comprá-la por três moedas de ouro e pedi para um ferreiro mágico na Torre dos Magos repará-la para mim. — Flügel respondeu, a voz carregada de um orgulho discreto.

    — E ela é realmente boa assim? Acha que ela aguentaria um ataque daquele gigante que o Lich tem? — Koto persistiu, sua dúvida clara no olhar.

    — Um ataque daqueles certamente seria difícil para qualquer armadura comum aguentar, mas tenho certeza de que ela absorverá boa parte do dano. Timur me contou que há metal dracônico derretido misturado a outro material nela. É uma verdadeira relíquia! — Flügel bateu com orgulho no próprio peito, exibindo sua conquista: uma peça que, apesar de ter custado pouco, valia centenas, talvez milhares de moedas de ouro.

    Aleksander começou a abrir a boca, mas Garrick o interrompeu com um gesto brusco, erguendo a mão.

    — Não temos tempo para falar sobre os nossos equipamentos. Daqui a algumas horas, estaremos atacando a base do Lich. Já que a última carruagem chegou, vamos logo dividir as unidades e decidir quem será o líder de cada uma.

    Garrick não perdeu tempo. Com um gesto firme, ele fez um sinal para o pequeno grupo de Flügel, Dellia, Kptp e Aleksander, que se juntaram a ele, seguindo-o em direção a uma cabana maior, no centro do acampamento. A cabana, feita de tábuas de madeira esculpidas na própria terra, era o ponto de controle.

    Dentro, o ar era pesado com a poeira e o cheiro de papel antigo. Uma mesa grande, coberta por um mapa detalhado do território, ocupava o centro do espaço. Lanternas de óleo projetavam sombras longas nas paredes, iluminando pilhas de pergaminhos. Em volta da mesa, já esperavam Borghen, descendente de Durgan, uma figura imponente em sua armadura, e Gundal, o explorador que havia retornado da missão de reconhecimento, e Thalion, um mestre em magia e um membro de alto escalão da Torre dos Magos.

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