Índice de Capítulo

    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    — Bom, se não quer conversar… vamos logo acabar com isso. Te apresentarei minhas novas invenções.

    Flügel apertou os molares e cerrou os punhos, amaldiçoando o seu azar. Com a fúria em ebulição, ele forçou a mana a se reunir em sua mão, formando uma bela, mas rústica, espada negra. Era perceptivelmente de qualidade inferior à que Nytheris fazia, mas teria que servir. Sua fonte de armas e melhor companheiro estava fora da batalha.

    Com um gesto calculado, o Lich levantou a mão direita. Tochas se acenderam, uma após a outra, iluminando o local circular de pedra. Perto das paredes, três figuras esguias e silenciosas se revelaram. Eles pouco se pareciam com os Vultos Esfarrapados. 

    Suas máscaras eram de ébano negro, sem feições. Os trapos que cobriam os corpos brilhavam levemente, como asas de besouro, e em suas mãos longas e esqueléticas eles seguravam foices pretas.

    — Diga olá para os Ossiarcos.

    — Apenas três deles? Não acha que eu consigo lidar com eles? Pensei que usaria algumas centenas de vultos para me matar, mas você deu uma atenção especial para mim, hum? — Sua voz tentava soar corajosa e cheia de confiança, mas ele não conseguia esconder o seu crescente desespero.

    Ele estava no pior dos cenários: preso em algum lugar com o Lich e seus monstros o rodeando. Ele era um rato encurralado na toca de uma víbora.

    — Não seja tolo, Flügel. Esses três não são a estrela de hoje. — A voz do Lich ecoou na caverna, carregada de desdém. — Eles servem apenas para uma coisa: garantir que o meu campeão reine em seu campo de batalha perfeito.

    Flügel sentiu um arrepio na espinha quando o ar ficou mais gelado. As tochas recém-acesas lançavam sombras dançantes, e uma silhueta ainda mais imponente emergiu da escuridão profunda atrás do Lich. Era uma criatura colossal, com mais de dois metros de altura, uma figura que dominava o local como um monstro saído de lendas esquecidas.

    Sua armadura não era forjada em metal, mas esculpida em ossos negros entrelaçados, retorcidos como galhos de uma árvore morta que se fundiram em uma couraça grotesca e impenetrável. Linhas roxas translúcidas corriam através dela, pulsando dos pés à cabeça como veias de um coração corrompido, e cada batida sutil liberava uma onda de mana corrupta que fazia o ar vibrar de forma sinistra.

    Sobre seus ombros largos, um manto negro ondulava, mais escuro que os olhos de Nytheris, absorvendo a pouca luz que ousava tocá-lo e deixando apenas sombras em seu rastro. Na cabeça, um elmo liso, com apenas um corte do queixo subindo até onde seria o nariz e dois buracos para os olhos. 

    Dentro, dois pontos vermelhos ardiam como brasas de uma forja maldita, fixos em Flügel com uma intensidade que parecia atravessar sua alma. Um som rouco, quase um sussurro de respiração pesada, escapava do elmo, misturando-se ao rangido sutil de sua armadura a cada movimento.

    Mas o que realmente o tornava aterrorizante eram seus quatro braços — uma aberração que o elevava além de qualquer cavaleiro comum. Três deles seguravam espadas longas, afiadas e letais. Tão finas que pareciam ser capazes de cortar qualquer coisa. Em seu quarto braço, segurava um escudo para aparar todos os ataques.

    Ele era, em todos os sentidos, um cavaleiro perfeito, mas retorcido pela escuridão em algo profano. Sua aura era uma promessa de morte inevitável.

    Flügel apertou os dentes e o cabo da espada, ele definitivamente não queria se aproximar daquela criatura. Sua armadura, que estava servindo como uma fonte de esperança para seu pensamento bobo de que ele ainda poderia estar em uma luta equilibrada, agora virou uma nascente de dúvidas. Ela seria capaz de parar aquelas espadas?

    O Lich fez um gesto lento, e os Ossiarcos menores se moveram, deslizando pelo chão de pedra com uma velocidade fantasmagórica. Eles ficaram espaçados, formando um triângulo, com Flügel no centro. 

    Em um único movimento fluido, uma das criaturas balançou sua foice preta. Um som de vidro se estilhaçando preencheu a caverna. A espada de mana de Flügel se desfez em milhares de fragmentos cintilantes, que desapareceram em um piscar de olhos.

    A foice do monstro não o havia tocado, mas sua arma havia sido destruída. Um zumbido constante começou a ser emitido das três foices, era um zumbido baixo, mas irritante.

    O campeão Ossiarco deu um passo à frente, e as três espadas em seus braços balançaram em um arco preguiçoso, cortando o ar de forma bizarra. Ele estava pronto para a batalha.

    — Não pretendo te matar de forma rápida, Flügel. Porém, não carrego ódio pessoal por você, a culpa não é sua e nem minha. Caso queira culpar alguém, culpe o destino ou seu próprio azar por ser uma alma amaldiçoada. — A voz do Lich ecoou pela caverna, carregada de frieza. — Você está do lado daqueles que mais odeio. Sua existência desafia a minha. É por isso que você deve morrer. Seu fim me dará algumas das respostas que procuro.

    Com um último olhar fixo em Flügel, o Lich se virou e, sem fazer qualquer ruído, se afastou, desaparecendo na escuridão de onde seu campeão havia surgido. O barulho de pedra se arrastando ecoou na caverna e a porta se fechou. Flügel e seu executor estavam sozinhos.

    — Estou do lado de quem?! Não tenho a mínima ideia de quem você odeia! Você apenas me perturba sem motivo algum! — Flügel gritou cheio de raiva, enquanto tentava contornar a interrupção que estava surgindo assim que tentava materializar a mana.

    — Não sabe mesmo? — As vozes do Lich pararam de ecoar de uma única fonte, e agora pareciam vir de todos os lados, um sussurro assustador que preenchia a caverna. — Você não viu uma entidade quando reencarnou? Ou quando foi revivido? Não tenho certeza de como isso aconteceu, mas tenho certeza que você foi trazido aqui de forma forçada. Nenhuma alma é como a sua. Você possui uma aparência diferente da sua alma, e ela está aprisionada por algo. Dediquei minha existência em adquirir poder para exterminar aqueles adorados, sei do que estou falando. Tive que me aventurar para o mundo além do mortal.

    Flügel sentiu o suor frio escorrer pelo seu rosto enquanto as vozes do Lich pareciam sair de dentro das paredes. Ele se concentrou, forçando a mana a fluir, tentando ignorar o zumbido irritante das foices que pareciam roubar sua concentração. Ele estendeu a mão, e um fio tênue de mana começou a se manifestar, tomando a forma de uma lâmina. A espada negra, embora ainda frágil, começou a se materializar em seu punho.

    Mas antes que pudesse se firmar, um dos Ossiarcos menores, que estava posicionado à sua direita, moveu-se. Com um balanço rápido e quase imperceptível da sua foice preta, a criatura cortou o ar bem à sua frente. Um estalo agudo ecoou, e a espada de mana, que mal havia se formado, se desfez novamente em faíscas que se dissolveram no ar.

    A raiva borbulhou no peito de Flügel, uma fúria que ofuscava o medo por um breve momento. A sensação do seu esforço sendo facilmente desfeito foi um golpe mais duro do que qualquer espada. Ele gritou, a voz estrangulada pelo ódio:

    — Sim, eu a vi! Mas isso não quer dizer que eu esteja aliado a essa entidade, nem mesmo sei quem eles são! Que maneira suja de lutar é essa?!

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