Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
Aspas duplas para conversa mental: “
Travessão para falas em voz alta: —
Capítulo 109 — A Tempestade Gélida
— Rrrhharr! — rugiu Borghen, balançando seu machado e derrubando mais um dos gigantes que o Lich possuía em seu exército. Ofegante, o anão gigante olhou ao redor, suor escorrendo pelo seu rosto. Ele procurava uma figura que se destacava entre os demais, o dono dessa figura era Flügel.
Já fazia um tempo que ele não o via correndo pelo campo de batalha, chamando atenção dos inimigos e ajudando seus aliados. Era incrível ver um garoto tão jovem ter tanto fôlego para correr para lá e pra cá, e se colocando em risco daquela forma sem hesitar, ainda mais após ser acertado por um dos gigantes e quase morrer, não era qualquer um capaz daquilo.
Esse era um dos porquês Borghen gostar tanto daquele garoto. Apesar de pequeno, ele tinha bravura. Com certeza se tornaria uma lenda em sua vida adulta, isso deixava o grande anão eufórico. Ele poderia ver uma lenda crescer.
O campo de batalha era um moedor de carne. O som constante de ossos se quebrando, metal rangendo e gritos de guerra era ensurdecedor. A ausência do garoto ágil, que conseguia distrair as maiores ameaças, estava sendo sentida por todos na linha de frente.
Borghen girou seu machado mais uma vez, defendendo-se de um golpe lento e previsível de outro gigante de ossos. Onde estaria Flügel? Ele havia desaparecido sem deixar rastros. Ele sabia que Flügel, com sua armadura nova e sua natureza imprudente, não se afastaria sem um bom motivo… ou talvez ele tenha fugido?
‘Não, ele não fugiria’ pensou Borghen, com uma pontada de preocupação que ele rapidamente reprimiu. Flügel era teimoso demais. ‘Deve ter se enfiado em alguma enrascada…’
— Continuem! Suas tropas estão diminuindo gradativamente, estamos ganhando! — gritou Dellia, levantando a espada para o céu em um gesto vitorioso, ela sabia como aumentar a moral de seu batalhão. Todos estavam acreditando em suas palavras, mesmo não vendo nenhuma diminuição nas hordas de inimigos.
Ela olhou para cima, vendo o príncipe Aleksander montado nas costas de Ophiornis, eles estavam prestes a soltar mais um de seu ataque. Já foram quantos? Quinze? Ela não sabia dizer, mas tinha certeza que já havia passado de uma dezena, então como que as tropas do Lich não diminuíram e nem a montanha não caía?
Ela tinha resposta para apenas uma das perguntas: Aleksander estava evitando atirar na montanha, o príncipe realmente estava seguindo o conselho de Gundal.
Mas isso não daria certo, essa estava sendo uma batalha que não andava para frente. Eles não estavam perdendo, mas se continuasse assim, eventualmente eles iriam perder. Os magos ficariam sem mana, os cavaleiros ficariam cansados demais para balançar suas espadas, levando assim a derrota do reino de Tournand.
— Avancem! Vamos entrar dentro daquela montanha e caçar a cabeça do Lich! — bradou Dellia, sua voz acendendo chamas de esperança e vontade nos corações de todos. A estratégia mudou. Antes era esperar o Lich sair para então matá-lo, agora, eles estavam indo caçar ele dentro de seu covil.
Flügel estava em escuridão total, enquanto mantinha o menor espaço que conseguia em seu pequeno túnel. O cheiro de poeira e a umidade do subsolo o envolviam.
Ele não sabia como funcionava a magia de teleporte do Lich. O medo era de que o inimigo pudesse aparecer a qualquer momento e terminar o que havia começado. Ele pensava que se não houvesse espaço para o Lich se materializar, talvez ele não conseguisse entrar. Ou, se tivesse sorte, o Lich ficasse preso dentro das pedras assim que tentasse o teleporte. A ideia de prender o Lich sob a montanha era mais tentadora do que real.
Ele injetava mana continuamente na rocha à frente e na de trás, transformando a pedra em pó e areia fina, enquanto usava da pedra em pó para recriar a parede a suas costas. A força do Feitiço de Terra usado para desintegração era exaustiva, mesmo que sua mana ainda fosse grande, fazer quatro coisas ao mesmo tempo exigia uma enorme capacidade de sua mente. Sua cura passiva trabalhava a todo vapor para mantê-lo lúcido sob a pressão.
De repente um som atingiu seus ouvidos. Era aquela gargalhada assustadora que Severus faz antes de cuspir o que quer seja aquele seu poder. Apesar de não ter boas memórias com ela, uma felicidade indescritível invadiu seu peito ao escutá-la. Estava perto de conseguir sair da montanha.
Ele conseguia sentir as vibrações causadas por causa do ataque de Ophiornis, mas não tão forte quanto o terremoto que causara dentro da montanha.
Empurrado pelo desejo de sair logo dali, ele parou com a cura e de alimentar Nytheris, para assim colocar o máximo de mana em sua escavação. Não demorou muito para que ele conseguisse chegar ao final, abrindo um buraco grande o suficiente para passar sem problema.
Vendo a claridade do dia depois de estar em completo breu, causou dor aos seus olhos, forçando ele a colocar o braço acima dos olhos e serrar eles, mas ele ainda foi capaz de ver a cena diante de si. A batalha parecia a mesma, não parecia que o exército de Tournand tinha avançado ou recuado, mas dava para ver que eles estavam perdendo a batalha a longo prazo.
O suporte dos magos tornava-se cada vez mais demorado. Era visível que estavam gerenciando cada gota de mana, pois sabiam que sem seu auxílio a batalha estaria perdida. Os magos eram a verdadeira força do exército: alguns valiam por dezenas de soldados, outros por centenas, e os melhores, por milhares. Sua exaustão era o relógio que marcava a derrota iminente.
Flügel conseguia perceber isso. Eles precisavam conseguir avançar, matar o máximo que conseguissem. Remexendo a mana dentro de si, e sentindo ela percorrer por todo seu corpo até chegar às pontas dos dedos, ele começou a pensar em uma magia que nunca chegou a usar em combate, mas era bastante poderosa ao juntar ela com outra magia.
Nuvens negras começaram a formar-se sobre o campo de batalha. Engrossaram, cheias de água, até que não aguentaram e a chuva começou a cair. Molhando os monstros e soldados.
‘Por favor, não venha para cá agora, Severus… Se não todas as nuvens serão dispersadas!’ Flügel implorou internamente.
O vento ficou tão forte ao ponto de chacoalhar as árvores. Raios começaram a passar de uma nuvem a outra, e então Flügel mudou sua mana para outra magia. Essa era a mais perigosa.
Se ele errasse o alcance da magia, ele causaria um enorme fogo amigo, prejudicando o exército de Tournand, mas era um risco a se correr.
Fechando os olhos, ele se forçou a se concentrar nas gotas que caíam das nuvens, nas poças de água que se formavam no chão.
No campo de batalha, a chuva intensa pegou os soldados de surpresa. Dellia rugia, sua espada correndo pelo ar e cortando um punhado de vultos esfarrapados. Ela olhou para o céu e tentou entender o que estava acontecendo, magias capazes de fazer mudanças climáticas não eram fáceis de fazer, e custavam muito para uma batalha de larga escala como essa.
Com a intenção de se drenar, Flügel ativou o feitiço. Ele drenou o calor do ambiente com uma velocidade brutal, diminuindo a temperatura das gotas de água abaixo do zero, e assim continuou até congelar tudo. A mana dele despencou como uma cascata, perder tanta mana de uma vez lhe fez ficar zonzo e quase perder as forças nas pernas.
Um som estrondoso e agudo de cristalização em massa cortou o ar.
Em um instante, a chuva parou, suspensa no ar por frações de segundo antes de se solidificar em granito fino. O chão estalou e uma fina camada de gelo se formou sobre ele. Cada poça virou uma virou uma pedra de gelo.
O mais importante foi o que aconteceu com os inimigos. Os monstros, agora cobertos por uma camada de gelo e com seus pés presos por gelo, perderam a coesão. Suas articulações, antes frouxas, ficaram rígidamente travadas pelo gelo que se formou em suas juntas. Muitos pararam em poses estranhas, presos com o gelo, outros ficaram tão lentos que seus ataques eram previsíveis.
Flügel abriu os olhos. Sua visão estava turva e sua mana estava muito abaixo do que o normal, as pontas de seus dedos estavam frios e ele estava suando por conta do esforço, mas o resultado era espetacular: parte do exército inimigo estava imobilizado, e o restante estava tendo problemas em lutar.
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