Índice de Capítulo

    Dica para leitura: aspas simples são para pensamentos internos, que é esse símbolo: ’
    Aspas duplas para conversa mental: “
    Travessão para falas em voz alta: —

    Apesar da postura de Garrick ter absorvido a maior parte do impacto, a força da colisão fez a espada vibrar, ameaçando arrancar-lhe o braço. Sua empunhadura, no entanto, cedeu primeiro. A espada rúnica deslizou na mão dele, quase escapando, o que lhe quebrou o ritmo de avanço. Forçado a recuar para recuperar o controle, Garrick deu um passo cambaleante para trás, deslizando os calcanhares sobre as pedras soltas.

    O maldito cavaleiro de quatro braços possuía a força de um gigante. Garrick estava em uma batalha de força perdida. Era questão de segundos para a criatura usar sua outra espada e cortá-lo ao meio.

    Garrick já havia enfrentado inimigos maiores e mais fortes, mas eram monstros, não um ser humanóide. Mesmo assim, havia importância no seu formato. O campeão era bípede. Por mais forte que fosse, ele jamais faria movimentos que um corpo humanóide fosse incapaz, e precisava de equilíbrio para usar sua força bruta. Era a vantagem que Garrick precisava.

    Essa luta seria entre a força bruta contra a técnica e uma grande experiência de batalha.

    A tática era louca, suicida, mas era a única.  Se ele recuasse, a criatura a liberaria para iniciar o golpe duplo fatal.

    O seu movimento foi uma súbita torção do corpo, um deslize dos pés, a postura de um esgrimista treinado para a surpresa. Ele deixou o peso da criatura carregá-lo. No lugar de lutar contra a força que o empurrava, ele cedeu, mas em um ângulo lateral.

    Em um piscar de olhos, ele estava dentro da guarda do Cavaleiro de Quatro Braços, o corpo maciço do oponente a centímetros do seu.

    A primeira lâmina, ainda pressionada, deslizou inofensivamente sobre seu ombro. O golpe lateral da segunda espada do monstro encontrou apenas o ar.

    A troca de posições o tirou do alcance imediato das lâminas mais longas, mas o colocou em perigo de ser esmagado. Mas Garrick não estava ali para se defender. Ele estava ali para atacar o que o monstro não protegia.

    Sua mão livre cortou o ar em uma velocidade surpreendente e agarrou o bíceps  do braço que segurava o escudo. Sua mão direita, que ainda segurava a espada rúnica, executou um movimento que só o melhor espadachim de Tournand poderia fazer sob tamanha pressão: um corte ascendente de pouca amplitude, direto para a junta do braço esquerdo superior da criatura, o mais próximo dele.

    Não era um golpe para matar, mas para aleijar.

    A lâmina de Garrick cantou um som alto e penetrante, encontrando uma fina abertura na armadura da articulação. O Campeão soltou um berro rouco, um som de dor e fúria primordial.

    Garrick sentiu a pressão da espada que o esmagava diminuir drasticamente. Com o braço agarrado pelo bíceps, era impossível o cavaleiro usar o escudo para bater contra o mestre do aço encantado, tendo em vista que ele perdeu quase toda a mobilidade do braço. 

    O Cavaleiro de Quatro Braços cambaleou, querendo se colocar em uma distância que lhe era capaz de usar suas espadas longas. O gigantesco escudo baixou por um instante, expondo a vasta placa peitoral de sua armadura.

    A abertura era minúscula, fugaz, mas era tudo o que Garrick precisava.

    Sabendo que tinha apenas um instante antes que a fúria do monstro o esmagasse, Garrick deu um passo lateral com o pé esquerdo, deslizando ainda mais para debaixo da guarda. Seu corpo girou em um arco tenso, e a espada rúnica descreveu um novo e rápido arco, desta vez horizontal.

    Era um golpe de “meio-corpo”, executado com toda a massa do seu tronco e quadril. A ponta da lâmina, afiada pelas runas, mirou o ponto de encontro entre a armadura da coxa e a cintura, uma fresta crítica na junção.

    O metal guinchou alto. A ponta rúnica encontrou a fresta e penetrou, rasgando o acolchoamento interno e o couro grosso. A lâmina só foi detida pela placa de armadura da coxa oposta, mas o dano estava feito.

    O Cavaleiro soltou um guincho de pura agonia. A dor no ombro o impedia de girar seu corpo superior, e o ataque no quadril o impedia de manter o peso nas pernas. 

    O que o Cavaleiro queria que fosse um golpe duplo transformou-se em uma tentativa desajeitada de se afastar.

    Garrick sentiu o ponto de não retorno. Ele estava muito próximo para recuar. E precisava de outro golpe, um fatal.

    O campeão tentou empurrá-lo com o escudo, agora em pânico. Garrick usou o impulso do seu corte horizontal e se inclinou para trás, tirando a lâmina da articulação da coxa.

    A força do empurrão do escudo roçou seu braço esquerdo, brutal, mas não o atingiu em cheio. Garrick se curvou no ar, como um acrobata, e quando seus pés tocaram o chão novamente, ele estava a um metro e meio de distância, fora do alcance de qualquer uma das quatro espadas longas.

    Ele ofegava, mas a satisfação de ver o gigante cambalear era doce. O Cavaleiro de Quatro Braços estava de pé, mas sua postura impecável havia desaparecido. O braço esquerdo superior pendia em um ângulo estranho, enquanto ele pressionava a mão de outro braço contra a coxa ferida.

    Seu berro de fúria ecoou no cume, transformando-se em um rosnado baixo e gutural. O monstro, agora ferido e furioso, não lutaria mais com a frieza e a técnica que havia demonstrado no início. Ele lutaria com punição. E a punição era previsível.

    Garrick ergueu a espada, a ponta rúnica apontando para o inimigo, e sorriu com os lábios secos.

    — Agora sim, a luta começou! — Ele bradou, a confiança do maior espadachim de Tournand fluindo de volta para seus músculos cansados.

    A besta de quatro braços, despojado de sua técnica e movido pela dor e fúria, confirmou a aposta de Garrick. Ele não recuou para avaliar a nova desvantagem. Em vez disso, soltou um grito que rasgou a garganta e avançou em uma investida cega e brutal.

    O duelo já estava ganho. Seu plano tinha dado certo: a criatura estava se comportando como uma besta enlouquecida. Isso era bom, é claro, mas também tinha seus preços. Cego pela fúria, e sem qualquer vestígio de racionalidade, ele não teria medo da morte. Por isso, se tornava um perigo ainda maior.

    Seu avanço era o de alguém tomado pelo desespero, visando mutilar Garrick com suas três espadas. O braço que teve seu  ombro cortado era mais lento, e mais fraco, mas a velocidade e força que continha nos balanços dos outros dois, ofuscava a desvantagem que seu machucado lhe deu. 

    Eram rápidos, mas previsíveis. Esquivando com facilidade e redirecionando alguns dos golpes era só questão de tempo até o mestre do aço encantado encontrar uma brecha. 

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